Condenados a arder
CONDENADOS A ARDER…
Este é o tema de que se fala no Verão e eu não me referiria a ele se o meu sobrinho Rui Pedro não tivesse passado por uma experiência vivida no meio do fogo aquando de umas pequenas férias em Vilarinho de Valadares, no Concelho de Viseu e que descreve muito bem no seu Macroscópio num texto intitulado Imagine…da passada 6ªfª, 11 de Agosto.
Quando no ano passado regressei de um passeio ao Rio Douro, também por esta altura do ano, recordo que aquilo que me impressionou tanto ou mais que a beleza do rio e da paisagem foi a omnipresença dos fogos.
Desta vez foi a experiência vivida do meu sobrinho num encontro de 3º grau com o fogo quando, às 3 horas da manhã, foi acordado em sobressalto pelos sinos da aldeia que tocavam a rebate.
É que uma coisa é ver os fogos na televisão em imagens que quase se vão tornando corriqueiras e outra, muito diferente, é sentir próximo o bramir das labaredas e o desespero das pessoas em perigo.
Por isso, meu querido sobrinho, desculpa a brincadeira da mangueira - ainda não tinha lido o Imagine… - e recebe as minhas congratulações por tudo não ter passado de uns maus momentos que terminaram sem nada de maior a lamentar.
Mas, brincadeiras à parte, nós estamos, efectivamente, condenados a arder e basta viver neste país para perceber isso.
Não fora a experiência de um contacto mais forte com esta realidade, como aconteceu agora com o Rui ou, pior ainda, daqueles que são directamente atingidos pagando com a vida e os bens o preço desta calamidade e já iríamos passando por ela com alguma naturalidade, resignados, como acontecia quando a água corria livremente pelos rios e o Ribatejo era regularmente inundado para deleite da televisão que registava, então a preto e branco, os telhados das casas submersas e os ribatejanos navegando por cima das vinhas que se viam, aqui e ali, a despontarem das águas.
Somos um país de vocação florestal e nada se pode fazer contra as vocações para além de que é mesmo uma sorte que elas existam.
O que já não constitui sorte nenhuma é esta nossa incapacidade de olhar para um problema, vê-lo em toda a sua dimensão e resolveu-lo no seu todo… e isto, ano após ano para desespero das populações, que não colaboram, pelo menos cumprindo a lei limpando os terrenos 50 metros à volta das suas casas, dos proprietários que se desinteressaram porque o rendimento não compensa as despesas e além disso a vida deles já é outra e dos Presidentes das Câmaras impotentes vendo os seus Concelhos a arder.
Os fogos em Portugal são um caso gritante dessa incapacidade porque percebemos o esforço dos bombeiros, percebemos os investimentos em equipamento e no melhor aproveitamento dos recursos humanos que agora foram feitos pelo ministro António Costa, mas não compreendemos por que é que não conseguimos ir mais longe no tratamento da nossa floresta, alguma da responsabilidade do próprio Estado e que chega a esta altura do ano transformada em autênticos barris de pólvora tal é a concentração de mato seco que preenche o espaço entre as árvores como é perfeitamente visível nas imagens da televisão.
O Ordenamento e a Limpeza da nossa floresta é o ponto de partida para a resolução deste problema e daí a circunstância do Ministro que manda nos Bombeiros se ter indisposto com o da Agricultura de quem, nesta altura, nem sequer se fala, embora esse sector seja o mais responsável por esta situação.
A luta contra os fogos não pode deixar de ser feita, há que defender vidas e bens mas, nem por isso, deixa de ser a luta errada.
A luta correcta, a que seria verdadeiramente importante travar, seria contra a floresta que continuamos a ter e que, naturalmente, com a ajuda dos incendiários, arderá todos os anos quando o calor aperta.
É uma inevitabilidade por mais carros de bombeiros que se comprem, por mais aviões que lá em cima despejam água.
Veja-se o seguinte:
-Na década de 50/60 ardiam, em média, por ano, 5.000 hectares de floresta;
- 1965/75----------------------------------- 10.000 hect.
Este é o tema de que se fala no Verão e eu não me referiria a ele se o meu sobrinho Rui Pedro não tivesse passado por uma experiência vivida no meio do fogo aquando de umas pequenas férias em Vilarinho de Valadares, no Concelho de Viseu e que descreve muito bem no seu Macroscópio num texto intitulado Imagine…da passada 6ªfª, 11 de Agosto.
Quando no ano passado regressei de um passeio ao Rio Douro, também por esta altura do ano, recordo que aquilo que me impressionou tanto ou mais que a beleza do rio e da paisagem foi a omnipresença dos fogos.
Desta vez foi a experiência vivida do meu sobrinho num encontro de 3º grau com o fogo quando, às 3 horas da manhã, foi acordado em sobressalto pelos sinos da aldeia que tocavam a rebate.
É que uma coisa é ver os fogos na televisão em imagens que quase se vão tornando corriqueiras e outra, muito diferente, é sentir próximo o bramir das labaredas e o desespero das pessoas em perigo.
Por isso, meu querido sobrinho, desculpa a brincadeira da mangueira - ainda não tinha lido o Imagine… - e recebe as minhas congratulações por tudo não ter passado de uns maus momentos que terminaram sem nada de maior a lamentar.
Mas, brincadeiras à parte, nós estamos, efectivamente, condenados a arder e basta viver neste país para perceber isso.
Não fora a experiência de um contacto mais forte com esta realidade, como aconteceu agora com o Rui ou, pior ainda, daqueles que são directamente atingidos pagando com a vida e os bens o preço desta calamidade e já iríamos passando por ela com alguma naturalidade, resignados, como acontecia quando a água corria livremente pelos rios e o Ribatejo era regularmente inundado para deleite da televisão que registava, então a preto e branco, os telhados das casas submersas e os ribatejanos navegando por cima das vinhas que se viam, aqui e ali, a despontarem das águas.
Somos um país de vocação florestal e nada se pode fazer contra as vocações para além de que é mesmo uma sorte que elas existam.
O que já não constitui sorte nenhuma é esta nossa incapacidade de olhar para um problema, vê-lo em toda a sua dimensão e resolveu-lo no seu todo… e isto, ano após ano para desespero das populações, que não colaboram, pelo menos cumprindo a lei limpando os terrenos 50 metros à volta das suas casas, dos proprietários que se desinteressaram porque o rendimento não compensa as despesas e além disso a vida deles já é outra e dos Presidentes das Câmaras impotentes vendo os seus Concelhos a arder.
Os fogos em Portugal são um caso gritante dessa incapacidade porque percebemos o esforço dos bombeiros, percebemos os investimentos em equipamento e no melhor aproveitamento dos recursos humanos que agora foram feitos pelo ministro António Costa, mas não compreendemos por que é que não conseguimos ir mais longe no tratamento da nossa floresta, alguma da responsabilidade do próprio Estado e que chega a esta altura do ano transformada em autênticos barris de pólvora tal é a concentração de mato seco que preenche o espaço entre as árvores como é perfeitamente visível nas imagens da televisão.
O Ordenamento e a Limpeza da nossa floresta é o ponto de partida para a resolução deste problema e daí a circunstância do Ministro que manda nos Bombeiros se ter indisposto com o da Agricultura de quem, nesta altura, nem sequer se fala, embora esse sector seja o mais responsável por esta situação.
A luta contra os fogos não pode deixar de ser feita, há que defender vidas e bens mas, nem por isso, deixa de ser a luta errada.
A luta correcta, a que seria verdadeiramente importante travar, seria contra a floresta que continuamos a ter e que, naturalmente, com a ajuda dos incendiários, arderá todos os anos quando o calor aperta.
É uma inevitabilidade por mais carros de bombeiros que se comprem, por mais aviões que lá em cima despejam água.
Veja-se o seguinte:
-Na década de 50/60 ardiam, em média, por ano, 5.000 hectares de floresta;
- 1965/75----------------------------------- 10.000 hect.
- 1975 /85 ---------------------------------- 50.000 "
- 1991/95 ---------------------------------- 100.000 "
E no periodo de 2000 a 2005 arderam 1.245.081 hectares à média de 260.000 por ano.
Esta evolução dos números não deixa dúvidas de que vivemos numa espiral de fogo imparável até à data e que começa a ser suspeita à volta de interesses entretanto instalados à volta dos fogos, quando sabemos que a maioria esmagadora deles ocorrem apenas durante 7 dias por ano e a TV nos mostra um cigarro armadilhado com fósforos, posto na floresta e que, por acaso, aquele não tinha pegado fogo.
Claro que toda a gente também já percebeu que o grau de dificuldade entre comprar um avião ou mais um carro de bombeiros e limpar as florestas, ordená-las, redimensioná-las, revê-las nas espécies arbóreas que as constituem é muito… muito diferente.
Será que a determinação do Eng. Sócrates com o apoio do inteligente e influente Ministro António Costa vai ser capaz de travar e ganhar a luta certa?
A recente reacção de “mau estar” do ministro de A. Interna relativamente ao da Agricultura e ao do Ambiente é um bom sinal…
Entretanto, leia-se o Relatório Final da Proposta Técnica do PNDFCI (Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios). Está lá tudo e é de fácil acesso na Internet, além de que o assunto interessa a todos, mesmo àqueles que, como eu, não têm de seu uma arvorezinha que seja mas que, ao longo da vida, aprenderam a respeitá-las, a elas e aos interesses do país.
Esta evolução dos números não deixa dúvidas de que vivemos numa espiral de fogo imparável até à data e que começa a ser suspeita à volta de interesses entretanto instalados à volta dos fogos, quando sabemos que a maioria esmagadora deles ocorrem apenas durante 7 dias por ano e a TV nos mostra um cigarro armadilhado com fósforos, posto na floresta e que, por acaso, aquele não tinha pegado fogo.
Claro que toda a gente também já percebeu que o grau de dificuldade entre comprar um avião ou mais um carro de bombeiros e limpar as florestas, ordená-las, redimensioná-las, revê-las nas espécies arbóreas que as constituem é muito… muito diferente.
Será que a determinação do Eng. Sócrates com o apoio do inteligente e influente Ministro António Costa vai ser capaz de travar e ganhar a luta certa?
A recente reacção de “mau estar” do ministro de A. Interna relativamente ao da Agricultura e ao do Ambiente é um bom sinal…
Entretanto, leia-se o Relatório Final da Proposta Técnica do PNDFCI (Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios). Está lá tudo e é de fácil acesso na Internet, além de que o assunto interessa a todos, mesmo àqueles que, como eu, não têm de seu uma arvorezinha que seja mas que, ao longo da vida, aprenderam a respeitá-las, a elas e aos interesses do país.
- PS: Já agora, por cortesia, o Macroscópio cedeu algumas dessas fotos, mostrando as casas ameaçadas em Vilarinho de Valadares (em S. Pedro do Sul, distr. de Viseu), quer a soberba do incêndio panicou a população - feita de gente humilde que acordou ameaçada ecoando por inúmeros "ai-jesus"... Os bombeiros foram, de novo, os heróis do momento - e o Alfredo - proprietário da casas (uma casa mais dois anexos/contíguos inscritos na encosta) - onde o meu sobrinho e familiares dormiam - manteve a calma aparente desde as 3 da madrugada até às 7/8 da manhã - hora em que os bombeiros controlaram totalmente a situação naquela aldeia verdejante que rápido ficou negra... À esquerda a casa do Alfredo - em vésperas de altas temperaturas; abaixo, o inferno que apareceu sem convite e ficou a meia dúzia de metros da casa e das pessoas. Se não fossem os bombeiros hoje estavaria lá só o lugar das casas, ardidas. É nestas circunstâncias que o cheiro da morte se mistura com o sufoco da impotência e realizamos a ideia que somos uns pobres coitados que para aqui andamos, a toque de caixa: ora pelas marés altas que afogam aquando das cheias, ora pelos incêndios que matam...
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