Globalização, Hibridização...o que é Nacional nos Estados?
Globalização, Hibridização…O Que é Nacional nos Estados? [Link]
O meu estimado sobrinho Rui, do Macroscópio, é das pessoas mais habilitadas neste país para falar de Globalização, tema que ele estudou aprofundadamente e sobre o qual apresentou uma Tese de Doutoramento que valeu o apreço unânime do Júri que a avaliou.
Não é pois de estranhar que, de vez em quando, volte a ele quando o momento se proporciona e um desses momentos aconteceu numa grande superfície comercial.
Olhou para as prateleiras da fruta e reparou, (na maior parte das vezes limitamo-nos apenas a olhar e ver e por aí nos ficamos), que a quase totalidade da fruta exposta não era de origem nacional mas oriunda de vários países e que ao circular sofre um processo de hibridização como acontece com as papaias (e as pessoas..) que comidas no Brasil são muito mais saborosas que aquelas que comemos em Portugal, embora vindas do Brasil.
Será o resultado do processo de hibridizacão ou, simplesmente, o preço a pagar pela globalização?
Mas este processo de hibridização é especialmente importante se em vez de falarmos de papaias, nos referirmos a ideias e comportamentos, os quais, ao atravessarem fronteiras, mares e continentes perdem a pureza original a favor dessa tal componente híbrida.
As diferenças esbatem-se com a convivência que nos enriquece se soubermos preservar o que em nós e na nossa cultura é genuíno.
Um exemplo: nasci em Lisboa e o fado foi uma presença constante dos meus tempos de criança, jovem e adulto sem que, alguma vez, lhe tivesse dado grande importância, até que um dia viajei para outro continente, outra cultura que acrescentou em mim coisas novas e me permitiu sentir como, afinal, o fado era algo importante da minha pessoa…
Mas o actual processo de Globalização é especialmente sentido porque foram as mercadorias que, de repente “desataram” a viajar e a venderem-se mais ou menos por todo o lado, e isso começou a interferir fortemente nas nossas vidas porque não são produtos exóticos, coisas do artesanato, são produtos que produzíamos e consumíamos nas nossas fábricas, nas nossas lojas e nas nossas casas agora a preços muito inferiores para delícia de quem os compra e para desespero de quem os fabrica localmente.
Mas com as mercadorias vão e vêm as pessoas e qualquer dia, por exemplo, vamos passar a ter chineses a contar na China coisas de alentejanos presenciadas por eles ali para os lados de Beja, e isto porque aquilo que se aprende quando se comercializa e trabalha com pessoas de outras culturas, nada tem a ver com o que se aprende nos passeios turísticos de máquina fotográfica à tiracolo.
E este tipo de contactos vai obrigar a permutas importantes no campo das ideias dos comportamentos, dos processos e condições de trabalho e de fabrico a caminho de uma universalidade que, pensando bem, era inevitável e que se consubstancia, como muito bem assinala o meu sobrinho Rui, mais numa hibridização do que numa simples globalização.
Vivemos num espaço confinado que é o planeta Terra que, ao olhar dos astronautas, lá de cima, deve parecer mesmo “a nossa casa” e, portanto, mais cedo ou mais tarde e cada vez mais, as economias dos vário países, das várias regiões, dos vários continentes, vão-se internacionalizar e este é o caminho mais directo para esbater as enormes desigualdades económicas e sociais que se traduzem em situações de fome, doença e exclusão de milhões de pessoas em todo o mundo.
É um caminho de sobressaltos, de desafios, longe de ser pacífico mas que parece irreversível porque a Televisão e a Internet abriram o mundo e já nada se pode fazer às ocultas do vizinho, tudo se sabe, tudo se vê, nada passa despercebido.
As pressões são enormes e multidões de jovens em todo o mundo querem ter um futuro de trabalho e bem-estar, mesmo que para isso arrisquem a vida numa viagem por mar, numa espécie de barco, que os leve para outro mundo mesmo que ele seja, com fortes probabilidades, no fundo do Oceano ou, na melhor das hipóteses, no ponto de partida, frustrados e sem esperanças.
Nenhum responsável político ou económico pode, agora, dormir descansado. Nada está escrito quanto ao futuro da humanidade e ninguém tem o seu lugar assegurado no dia de amanhã.
A Globalização ou melhor, a Hibridização está a apressar os processos em que tudo caminha e o espaço de uma vida humana é cada vez mais curto para avaliarmos as transformações à nossa volta.
Começamos a viver tempos de vertigem em que aprender com os erros é cada vez mais perigoso.
A defesa cega de interesses particulares de um país ou de uma região, como está a acontecer com a política agressiva e belicista de Bush e dos Estados Unidos, constitui um erro estratégico que não prejudica só quem o pratica mas todo o mundo e, nos dias que correm, esses erros são inadmissíveis até porque já ninguém aceita a ignorância como desculpa, porque hoje todos os homens são possuidores de uma maior cultura universalista.
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