terça-feira, fevereiro 20, 2007

Um processo de auto-flagelação




UM PROCESSO DE AUTO-FLAGELAÇÃO (Link)

João César da Neves publica no Diário de Notícias de 19 de Fevereiro, um texto intitulado “A Enorme Derrota da Igreja” que mais parece um autêntico processo de auto-flagelação.

Com o espírito de um autêntico Cruzado ele olha para os resultados do Referendo exactamente como para um campo de batalha pejado de cadáveres de cristãos trespassados pelas lanças dos infiéis no fim de uma luta de vida ou de morte pela conquista da terra santa.

Resignado e com um estado de alma perfeitamente derrotista não alimenta qualquer esperança numa vitória futura e por isso afirma:

…“ A Igreja está habituada a perder. Aliás, a vitória de há oito anos é que foi uma extraordinária excepção numa longa sequência de importantes baixas. São tantas as derrotas históricas que surpreende como a Igreja consegue sobreviver e manter tanta influência”.

…” O cristianismo é uma religião da cruz e dos mártires. O seu Deus foi flagelado, coroado de espinhos, pendurado no madeiro até morrer. A fé cristã é o reino dos pobres e dos humildes.”

Quase me dá vontade de dizer, à laia de consolação, a João César das Neves que, talvez, um dia, quem sabe, não teremos de volta a Inquisição e uma fogueira bem grande para queimar todos quantos, agora, votaram no Sim para que uma religião que deveria ser de Esperança e Amor continue a ser, para JCN, da Cruz e dos Mártires.

E a grande preocupação de JCN é revelada mais à frente quando escreve:

-“Certamente haverá menos crianças abandonadas, menos deficientes, menos criminosos. Só mais cadáveres pequeninos”;

-“Haverá menos crianças a correr nos bairros de lata; menos crianças nos infantários. Haverá menos crianças em todo o lado. Haverá menos portugueses”.

João C. das Neves tem uma concepção masoquista da sociedade e da vida porque olha com condescendência os bairros de lata, com crianças abandonadas, deficientes e potenciais criminosos e todo o aborto feito nas condições do Sim do Referendo que possa obviar ao nascimento dessas crianças é, para ele, um crime.

Eu gostava de dizer a JCN que dentro de cada um de nós há um espaço que só pode ser preenchido pelo amor a uma criança e, sendo uma criança, não importa que seja linda ou feia, saudável ou doente, perfeita ou imperfeita.

Sobre isto estaremos de acordo, julgo eu, mas onde não estamos de certeza é no direito e na responsabilidade que assiste a cada mulher de decidir, nas condições do Sim do Referendo, por uma maternidade em que a criança seja, à partida, o mais possível saudável, perfeita e que comece a ser amada e desejada a partir do momento em que é concebida.

Eu quase que duvido que o senhor JCN tenha amado uma criança porque a sua preocupação está de tal forma concentrada em fetos e embriões e nos pecados que levam ao inferno as mulheres que abortam, que não lhe deve sobrar muito tempo para saber amar verdadeiramente uma criança.


Até porque, para ele, crianças, são números, quantidades, tantos quantos os óvulos fecundados, bairros de latas cheios delas, ranhosas, descalças, abandonadas, futuros delinquentes mas, acima de tudo, muitas para que Portugal venha a ser, na Europa, o campeão da taxa de natalidade e os portugueses os grandes eleitos a um lugar no céu.


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