segunda-feira, março 07, 2011

TEREZA

BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA

Episódio Nº 48



Não vai chegar para o bico do Joventino, ah! e nem para o de Rosalvo, o capitão, finalmente acaba de contar e recontar o conto e quinhentos mil-réis , muito dinheiro, dona Filipa.

- Pegue o cobre, conte de novo se quiser enquanto faço o vale. Arranca uma folha de pequeno caderno de notas, com um lápis rabisca a cifra, assina – assinatura complicada da qual muito se orgulha.

Tome o vale para as compras no armazém. Pode comprara de uma vez ou ir tirando aos poucos. Cem mil-réis, nem mais um tostão.

Rosalvo levanta a vista para o dinheiro. Filipa dobra as cédulas, envolve-as no papel onde o capitão garatujou a ordem, guarda o pacotinho no cós da saia. Estende a mão, Justiniano Duarte da Rosa pergunta:

- O quê?

- O anel, vosmicê disse que ia dar o anel.

- Disse que ia dar à moça, é o dote dela, - Riu: Justiniano Duarte Rosa não deixa ninguém ao desamparo.

- Guardo comigo, capitão, moça dessa idade não sabe o valor das coisas, perde, larga em qualquer lugar. Guardo para ela. É minha sobrinha. Não tem pai nem mãe.

O capitão fitou a mulher à sua frente, cigana terrível.

- Entrou no acordo, capitão, não foi mesmo?

Trouxera o anel para dar à menina, para ganhar-lhe a simpatia, não tem valor nenhum, vidro de cor, dourado latão. Retira-o do dedo, ouro falso, falsa esmeralda, vistosa pedra verde. Afinal já não tem motivos para agradar à menina, pagou o preço combinado, é o dono.

Filipa limpa a pedra na barra do vestido, coloca o anel no dedo, admira-o contra o sol, satisfeita. De nada no mundo gosta tanto como de colares, pulseiras, anéis. Todas as míseras sobras de dinheiro, gasta-as em quinquilharias nos mascates.

O capitão Justo estira as pernas, levanta-se, tilinta em seu pescoço o colar de argolas de ouro, chocalho de virgens. Amanhã uma nova argola, de ouro dezoito.

- Agora chame a moça, vou embora.


6


Ainda no embevecimento do anel, Filipa elevou a voz:

- Tereza! Tereza! Depressa.

Vieram a menina e o cachorro, permaneceram na porta à espera:

- Chamou, tia?

Ah! se Rosalvo não estivesse acorrentado ao chão, se uma centelha se lhe acendesse no coração e o pusesse de pé, amo e senhor como deve ser um marido, de pé diante de Filipa! Rosalvo tranca a boca, prende no peito pragas e maldições a sufocá-lo. Filipa, peste ruim, mulher sem coração, sem entranhas, mãe desnaturada! Um dia tu vai pagar tamanho pecado, Filipa; Deus há de pedir contas, não se vende uma sobrinha órfã, uma filha de criação, nossa filha, Filipa, vendida igual a um bicho, tu é uma peste, peste ruim
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