quinta-feira, agosto 18, 2011

TEREZA


BATISTA


CANSADA


DE


GUERRA






Episódio Nº 182



Um dos quartos fora dividido e transformado em dois banheiros, ligado um ao grande quarto de casal, o outro ao quarto de hóspedes ocupado por Lulu Santos quando vinha de Aracaju em companhia ou a chamado do doutor. A sala de visitas perdeu o ar solene e bolorento de peça a ser aberta apenas em dia de festa ou para receber visita de cerimónia; nela o doutor instalara estantes de livros, mesa de leitura e de trabalho, eletrola, discos e um pequeno bar. A alcova, junto à sala passou a gabinete de costura.

Preocupado em encher o tempo de Tereza, vazio durante as prolongadas e sucessivas ausências do amásio, ele lhe comprara máquina de costura, agulhas de tricô:

- Sabe cozer, Tereza?

- Saber mesmo não sei, mas na roça remendei muita roupa na máquina da falecida.

- Não quer aprender? Assim terá que fazer durante a minha ausência.

A Escola de Corte e Costura Nossa Senhora das Graças ficava numa pequena rua por trás do Parque Triste e, para lá chegar Tereza atravessava o centro da cidade. A professora, senhorita Salvalena (Salva do pai, lena da mãe Helena), mocetona de largas ancas e peito de bronze, potranca de trote largo, de muito pó-de-arroz, baton e ruge, arranjara horário no meio da tarde exclusivo para Tereza e recebera adiantado o pagamento do curso completo, quinze aulas. Na terceira Tereza desistiu, largou tesoura e metro, agulha e dedal pois a emérita professora desde a aula inicial insinuara a possibilidade de Tereza ganhar uns extras facilitando para alguns senhores ricos, da mesma laia do doutor, sócios das fábricas de tecidos, senhores todos grados e discretos, insinuações a se transformarem em proposta directas.

Local não era problema, podiam os encontros realizarem-se ali mesmo, na Escola, no quarto dos fundos, seguro e confortável ninho, cama óptima, colchão de molas, minha cara. O doutor Bráulio, sócio de uma das fábricas, tinha visto Tereza passar na rua e se dispunha…

Tereza tomou da bolsa e, sem se despedir, virou as costas e saiu. Salvalena, surpresa e insultada, pôs-se a resmungar com seus botões:

- Orgulhosa de merda… Quero ver no dia em que o doutor lhe der um pontapé na bunda… Aí vai vir atrás de mim para eu lhe arranjar freguês… - Um pensamento incómodo interrompeu o xingamento: teria de devolver o dinheiro das doze aulas ainda por leccionar? – Não devolvo nada, não é culpa minha se a tribufu metida a honesta largou o curso…

Ao regressar o doutor quis saber dos progressos obtidos por Tereza na Escola de Corte e Costura. Ah! largara as aulas; não levava jeito nem gosto, aprendera o suficiente para as necessidades e pronto. O doutor tinha o dom de adivinhar, quem podia sustentar o confronto daqueles olhos límpidos de verruma?

- Tereza, eu não gosto de mentiras, porque você está mentindo? Eu já lhe menti alguma vez? Conte a verdade, o que se passou.

- Ela veio me propor homem…

- O doutor Bráulio, eu sei. Ele apostou em Aracaju que havia de dormir com você e me pôr os chifres. Ouça, Tereza: não vai lhe faltar proposta, e se um dia por qualquer motivo se sentir na disposição de aceitar, me diga antes. Será melhor para mim e sobretudo para você. (clik na imagem
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