sexta-feira, agosto 19, 2011

TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA



Episódio Nº 183





- O senhor mal me conhece, como pode fazer esse juízo de mim? – Tereza ergueu a voz com raiva, o queixo levantado, os olhos fulgurantes, mas logo baixou a cabeça e a voz e completou:

- Sei porque pensa assim, foi-me buscar na zona e sabe que, pertencendo ao capitão, andei com outro. – A voz fez-se um murmúrio:

- É verdade. Andei com outro mas eu não gostava do capitão, me pegou à força, nunca fui com ele por querer, só fui com o outro. – Voltou a voz crescer: - Se pensa assim de mim o melhor é eu ir embora agora mesmo, prefiro a zona do que viver debaixo da desconfiança, com medo do que possa suceder.

O doutor a tomou nos braços:

- Não seja tola. Eu não disse que duvido de você, que lhe creio capaz de falsidade, ao menos não foi isso que eu quis dizer. Disse que se você, um dia, cansar de mim, se interessar por outro, venha e me diga, assim procedem as pessoas correctas. Não pensei em lhe ofender nem tenho porquê. Só tenho motivos para achar você direita e estou contente.

Sem soltá-la dos braços, sorrindo, acrescentou:

- Também eu quero ser sincero, vou-lhe contar toda a verdade. Quando lhe perguntei o que tinha se passado, eu já sabia de tudo, não me pergunte como. Aqui tudo se sabe, Tereza, e tudo se comenta.

Naquela noite após o jantar, o doutor a convidou para sair com ele, acompanhá-la na caminhada até à ponte do rio Piauí, nunca o fizera antes.

Juntos na noite, o velho e a menina, mas nem o doutor parecia ter passado dos sessenta nem Tereza estar apenas chegando aos dezasseis, eram um homem e uma mulher enamorados de mãos dadas, dois amorosos sem pejo, vagando alegremente.

No caminho os raros passantes, gente do povo não reconheciam o doutor e a amásia, apenas um
casal apaixonado. Longe do centro e do movimento, não despertavam maior curiosidade. Ainda assim, uma velha parou para vê-los passar:

- Boa noite meus amores, vão com Deus!

De volta ao chalé, depois de terem visto o rio, a represa, o porto das barcas, o doutor a deixou no quarto a se despir e foi buscar na geladeira a garrafa de champanhe que lá pusera a esfriar. Ao ouvir o papoco da rolha e ao vê-la elevando-se no ar, Tereza riu e bateu palmas, num encantamento de menina.

Emiliano serviu na mesma taça para os dois, juntos beberam, Tereza descobrindo o sabor do champanhe, para ela inédito.

Como pensar em outro homem, rico ou pobre, jovem ou maduro, bonito ou feio, se possuía o amante mais perfeito, o mais ardente e sábio? Cada dia lhe ensinando algo, o valor da lealdade e o arroubo do champanhe, a medida mais longa do prazer e a mais profunda.

- Enquanto o senhor me quiser nunca serei de outro. Nem mesmo na tontura do champanhe lhe diz você ou tu, mas na hora final, em mel se derramando, tímida, a medo pronuncia: ai, meu amor.
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