terça-feira, agosto 28, 2012


As Raízes da Religião (continuação. Parte III)
Richard Dawkins


Tampouco, os seguidores do Darwinismo, se dão por satisfeitos com explicações de natureza política do género «a religião é uma ferramenta usada pela classe dirigente para subjugar as classes inferiores».

É verdade que se consolava os escravos negros da América com promessas de outra vida, o que lhes embotava o descontentamento com a vida neste mundo e beneficiava, assim, os seus donos.

Se as religiões são deliberadamente criadas por sacerdotes cínicos ou por governantes, é uma questão interessante à qual os historiadores deverão prestar atenção mas nenhuma destas explicações servem o investigado darwiniano porque este, o que pretende saber, é porque razão as pessoas são «vulneráveis» aos encantos da religião, expondo-se, desse modo, à exploração por parte dos sacerdotes, políticos e reis.

Um manipulador cínico pode fazer uso do desejo sexual como instrumento de poder político, mas mesmo aí precisamos da explicação darwiniana para compreender porque motivo ele funciona. No caso do desejo sexual a resposta é fácil: os nossos cérebros estão talhados para gostar de sexo porque o sexo, em estado natural produz filhos.

Um manipulador político pode usar a tortura para atingir os seus objectivos. Uma vez mais o estudioso darwiniano tem de suprir a explicação para o facto de a tortura ser eficaz e fazermos quase tudo para evitar a dor intensa.

Poderá, enfim, ser óbvio a ponto de soar a banalidade, mas o darwiniano precisa de repeti-lo com a maior clareza: «a selecção natural armou a percepção da dor de maneira a ser apercebida como um sinal de perigo físico mortal e programou-nos para a evitar. As raras pessoas que não sentem a dor ou que a minimizam, normalmente morrem jovens, vítimas de lesões ou de feridas que os restantes de nós teriam o cuidado de evitar.

Quer ele seja cinicamente explorado, quer se manifeste espontaneamente, o que explica, em última análise, o apelo dos deuses?

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