terça-feira, agosto 28, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 178

Casando-se, já não teria mais medo, que coisa maior poderia alguém jamais lhe oferecer? E com ela dona do bar, à frente de uma cozinha de três ou quatro cozinheiras, dirigindo apenas os temperos, poderia Nacib realizar um projecto que vinha alimentando há tempo: fundar um restaurante.

Fazia falta na cidade, Mundinho Falcão já dissera e repetira: Ilhéus estava a reclamar um bom restaurante, a comida nos hotéis era ruim, os homens solteiros tinham que se sujeitar às pensões vagabundas, marmitas frias. Quando chegavam os navios, os visitantes não encontravam onde comer bem.

Onde oferecer um jantar de cerimónia, de comemoração, grande, extralimitando das salas das casa de família? Ele próprio, Mundinho, seria capaz de entrar com parte do capital. Corria que o casal de gregos pensava nisso, buscava local. Com a certeza de ter Gabriela dirigindo a cozinha, Nacib montaria o restaurante.

Mas que certeza podia ter? Pensava na espreguiçadeira, na hora da sesta, hora de seu pior martírio, o charuto apagado e amargo, um travo na boca, os bigodes murchos. Ainda há pouco tempo, Dª Arminda, Cassandra Sarará, deixara-o num alarme medonho. Pela primeira vez, Gabriela sentira-se seduzida por uma proposta. Dª Arminda descrevera em detalhes, num prazer quase sádico, as vacilações da rapariga ao receber a oferta do coronel Manuel das Onças. Uma roça de cacau, de duzentas arrobas, não era para menos, quem não vacilaria?

De Clemente nada sabiam, nem ele nem dona Arminda, de Gabriela pouco sabiam…

Andara uns dias feito louco, por mais de uma vez ia abrindo a boca para lhe falar em casamento. Mas a própria Dª Arminda afirmava ter Gabriela recusado a proposta:

 - Nunca vi nada igual… Merece aliança, lá isso merece.

Aquele não fora ainda o seu limite. «Toda a mulher, por mais fiel, tem seu limite», a voz fanhosa de Nhô-Galo. Não fora seu limite, seu preço, mas bem perto estava, não ficara ela tentada a aceitar? E se aos pés de cacau o coronel Manuel das Onças juntasse uma casa de rua de canto, com escritura passada? Nada influi tanto as mulheres como ter casa própria.

Bastava ver as irmãs Dos Reis a recusar um dinheirão por suas casas, a de moradia, as de aluguer. E Manuel das Onças bem podia fazê-lo. Dinheiro era cama de gato em sua fazenda, e com a safra desse ano – um despropósito! – enriquecera ainda mais.

Estava construindo em Ilhéus um verdadeiro palácio para a família, tinha até uma torre de onde se podia avistar a cidade inteira, os navios no porto, a Estrada de Ferro. E doido por Gabriela, chamego de velho, chegaria a seu preço, por mais alto que fosse.

Dª Arminda a apertá-lo na ladeira, Tonico a perguntar-lhe cada dia, no princípio da tarde, no bar:

 - E o casório, árabe? Já decidiu?

No fundo já decidira, estava resolvido. Adiava com medo do que iriam dizer. Poderiam eles, seus amigos, compreender?

Seu tio, sua tia, a irmã, o cunhado, os parentes ricos de Itabuna, esses Aschear orgulhosos? Afinal que lhe importava? Os parentes de Itabuna nem ligavam para ele, montados em seu cacau.
(click na imagem. Com a raiva que ando a todos os nossos políticos, ainda sou capaz de aderir a esta camarada...)

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