sexta-feira, junho 20, 2014

Reivindicações salariais das trabalhadoras do têxtil na Ásia
A revolta dos

mais mal pagos











No Sudoeste da Ásia a competitividade da indústria têxtil tem por base salários de absoluta miséria e condições de trabalho deploráveis mas com a luta dos trabalhadores os governos e as empresas têm sido obrigadas a fazer algumas concessões.

No Cambodja, por exemplo, qualquer aumento dos salários reveste-se de grande importância para o sector da confecção.

No início de Janeiro, quando o governo anunciou o aumento do salário mínimo mensal para 72 euros (100 dólares) menos 60 do que era o reivindicado os trabalhadores manifestaram-se e 5 deles foram mortos a tiro e 40 presos.

Os produtos fabricados para as grandes marcas como Adidas, Nike, Puma, Walmart etc... representam 83% das exportações do reino no montante de 5.000 milhões de dólares por ano.

A questão dos salários está envolta em contradições. Se eles aumentam, os lucros dos empresários baixam e o governo sente-se entre dois fogos porque baixando os lucros de um dia para o outro acontecem deslocalizações das fábricas e aumenta o desemprego.

Por outro lado, se as reivindicações não são atendidas temos o risco de motins e o Bangladesh está ali mesmo ao lado com salários inferiores... e não é apenas este, na Birmânia e na Etiópia ainda se paga menos.

Mas este problema dos salários representa um falso problema porque eles são apenas uma percentagem muito reduzida do preço final de uma peça de vestuário.

E quais são esses outros factores que pesam no custo final do produto?

 - Número de fábricas de confecções existentes no país;

 - Nível de qualificação da mão – de – obra;

 - Segurança das rotas de abastecimento.

A China é um exemplo e uma prova disto. Já tem custos salariais mais elevados mas continua a ser um grande país exportador em comparação com outros países do Sudeste Asiático.

Para as trabalhadoras, a maior parte jovens mulheres saídas das suas aldeias, a única maneira de enviarem alguma coisa para a família e, ao mesmo tempo, pagarem a alimentação e estadia, é fazerem horas extraordinárias.

Privam-se de tudo e já se deu o caso de 250 mulheres perderem os sentidos numa fábrica. Na base destes desmaios pode estar um pouco de tudo para além dos “espíritos maus”: má ventilação, histeria colectiva, intoxicação por produtos químicos utilizados nas linhas de produção, desnutrição...

Na realidade, um pouco de tudo isto.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos e as Convenções da Organização Internacional do Trabalho permitem definir salários mínimos que correspondam à satisfação das necessidades básicas dos trabalhadores e suas famílias mas estes conceitos no Sudeste Asiático são heterogéneos e abrangem várias políticas e práticas.

Em alguns países, a legislação garante um limiar. A Malásia, no início de 2013, fixou o salário mínimo em 290 dólares (210 euros).

Noutros países, são mesmo as autoridades locais que fixam esses mínimos, como na Indonésia.

Noutros casos, as condições do mercado face à produtividade, levam a pagar salários mais elevados aos melhores trabalhadores tornando menos relevante o salário mínimo. Nos casos em que o mercado de trabalho está mais fechado o salário mínimo ajuda a garantir que os trabalhadores possam suprir as suas necessidades básicas.

Lembram-se, certamente, do desabamento daquele prédio nos arredores de Daca, cidade do Bangladesh, que alojava 5 fábricas de confecções e que ruiu em Abril de 2013 causando a morte a 1135 pessoas.

Em Dezembro desse mesmo ano, o salário mínimo aumentou de 76%, para 5.300 takas por mês, ou seja 50 euros. Não obstante, as exportações aumentaram 15% proporcionando uma receita de 13.000 milhões de euros, 81% das exportações do Bangladesh.

A China tem uma estratégia que é apontada muitas vezes como exemplo.

Aqui, as disposições do direito do trabalho são mais rigorosas e o salário mínimo é aumentado todos os anos entre 15 a 20% tendo em vista criar uma classe média com meios para consumir ou seja, um mercado interno que não deixe o país tão dependente das exportações, e esta é a nova estratégia.*

Numa formulação muito simples, os países asiáticos, excepção feita à Coreia do Norte, chegaram à conclusão de que criar riqueza para a poder distribuir é a melhor estratégia. ( A estratégia do bom-senso!)

A quem já ouvi isto no meu país?...


( *Na opinião de especialistas como Chris Devonshire – Ellis)

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