mais mal pagos
No Sudoeste da Ásia a competitividade da indústria têxtil tem por base salários de absoluta miséria e condições de trabalho deploráveis mas com a luta dos trabalhadores os governos e as empresas têm sido obrigadas a fazer algumas concessões.
No Cambodja, por exemplo, qualquer
aumento dos salários reveste-se de grande importância para o sector da confecção.
No início de Janeiro, quando o governo
anunciou o aumento do salário mínimo mensal para 72 euros (100 dólares) menos
60 do que era o reivindicado os trabalhadores manifestaram-se e 5 deles foram
mortos a tiro e 40 presos.
Os produtos fabricados para as grandes
marcas como Adidas, Nike, Puma, Walmart etc... representam 83% das exportações
do reino no montante de 5.000 milhões de dólares por ano.
A questão dos salários está envolta em contradições. Se
eles aumentam, os lucros dos empresários baixam e o governo sente-se entre dois
fogos porque baixando os lucros de um dia para o outro acontecem
deslocalizações das fábricas e aumenta o desemprego.
Por outro lado, se as reivindicações não
são atendidas temos o risco de motins e o Bangladesh está ali mesmo ao lado com salários inferiores... e não é apenas este, na Birmânia e na Etiópia ainda se
paga menos.
Mas este problema dos salários representa um falso problema porque eles são apenas uma percentagem muito
reduzida do preço final de uma peça de vestuário.
E quais são esses outros factores que
pesam no custo final do produto?
-
Número de fábricas de confecções existentes no país;
-
Nível de qualificação da mão – de – obra;
-
Segurança das rotas de abastecimento.
A China é um exemplo e uma prova disto. Já
tem custos salariais mais elevados mas continua a ser um grande país exportador
em comparação com outros países do Sudeste Asiático.
Para as trabalhadoras, a maior parte
jovens mulheres saídas das suas aldeias, a única maneira de enviarem alguma
coisa para a família e, ao mesmo tempo, pagarem a alimentação e estadia, é
fazerem horas extraordinárias.
Privam-se de tudo e já se deu o caso de
250 mulheres perderem os sentidos numa fábrica. Na base destes desmaios pode
estar um pouco de tudo para além dos “espíritos maus”: má ventilação, histeria
colectiva, intoxicação por produtos químicos utilizados nas linhas de produção,
desnutrição...
Na realidade, um pouco de tudo isto.
A Declaração Universal dos Direitos
Humanos e as Convenções da Organização Internacional do Trabalho permitem definir
salários mínimos que correspondam à satisfação das necessidades básicas dos
trabalhadores e suas famílias mas estes conceitos no Sudeste Asiático são
heterogéneos e abrangem várias políticas e práticas.
Em alguns países, a legislação garante
um limiar. A Malásia, no início de 2013, fixou o salário mínimo em 290 dólares
(210 euros).
Noutros países, são mesmo as autoridades
locais que fixam esses mínimos, como na Indonésia.
Noutros casos, as condições do mercado
face à produtividade, levam a pagar salários mais elevados aos melhores
trabalhadores tornando menos relevante o salário mínimo. Nos casos em que o mercado de trabalho
está mais fechado o salário mínimo ajuda a garantir que os trabalhadores possam
suprir as suas necessidades básicas.
Lembram-se, certamente, do desabamento
daquele prédio nos arredores de Daca, cidade do Bangladesh, que alojava 5 fábricas
de confecções e que ruiu em Abril de 2013 causando a morte a 1135 pessoas.
Em Dezembro desse mesmo ano, o salário mínimo
aumentou de 76%, para 5.300 takas por mês, ou seja 50 euros. Não obstante, as exportações aumentaram
15% proporcionando uma receita de 13.000 milhões de euros, 81%
das exportações do Bangladesh.
A China tem uma estratégia que é
apontada muitas vezes como exemplo.
Aqui ,
as disposições do direito do trabalho são mais rigorosas e o salário mínimo é
aumentado todos os anos entre 15
a 20% tendo em vista criar uma classe média com
meios para consumir ou seja, um mercado interno que não deixe o país tão
dependente das exportações, e esta é a nova estratégia.*
Numa formulação muito simples, os países
asiáticos, excepção feita à Coreia do Norte, chegaram à conclusão de que criar
riqueza para a poder distribuir é a melhor estratégia. ( A estratégia do bom-senso!)
A quem já ouvi isto no meu país?...
A quem já ouvi isto no meu país?...
( *Na opinião de especialistas como Chris
Devonshire – Ellis)
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