Não há palavras para descrever o sucesso de seu Carlinhos |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 295
Aliás, naquele domingo, a população de
putas duplicou: acorriam das redondezas, algumas de bem longe, atraídas pelo
anúncio da pagodeira que ressoava nos cafundós do rio das Cobras.
Não há palavras para descrever o sucesso
de seu Carlinhos Silva, nos números de prestidigitação com que brindou os
presentes provocando frouxos de riso de mistura com exclamações de incredulidade
na assistência boqui aberta, levando
a meninada a extremos de exultação e de assombro.
Sucesso estrondoso e não vai exagero no
adjetivo: a quase totalidade dos espectadores jamais assistira a representação
teatral qualquer que fosse, nada sabia sobre ilusionismo, truques de mágica,
passes de baralho.
As
mulheres se benziam - t’esconjuro! - os homens, pasmados, não sabiam o que
pensar.
Seu Carlinhos Silva suspendeu as mangas do
paletó e da camisa e os prodígios começaram a acontecer, todos viram, não era
lambança de pouso de tropeiro.
Sem usar as mãos, com a força do
pensamento, o empregado de Koifman & Cia transferiu moedas de tostão do
bolso de Guido para a orelha de Edu; das ventas de Zé Luiz extraiu cinco grãos
de cacau seco.
Repetindo palavras cabalísticas, hokos
pokos, sinsalabin, presto, abracadabra e outras conjuras medonhosas, com a
ponta dos dedos retirou do decote entre os seios da senhora Valentina o lenço
de bolso que, na vista de todos, deixara guardado no embornal de Aurélio e de lá
sumira sem ninguém nele tocar: não dava para entender.
Fez misérias com um baralho, as cartas
circulavam entre seus dedos, apareciam, sumiam, reapareciam, o ás de copas
virava o rei de paus, o dois de espada se transformava em dez de ouro e a dama dos
corações ele foi buscá-la nos cabelos soltos de Bernarda.
Manipulava os naipes diante de um público
estupefato, comprimido em sua frente, querendo ver de perto, vendo e não
acreditando.
- Jogar com vosmicê, Deus me livre e
guarde! Mais melhor é jogar com o Cão! - Avisou o tropeiro Zé Raimundo apesar
de habituado a trapaceiros.
Fadul Abdala puxava as palmas, a
assistência acompanhava.
Muitos queriam explicações - ele encandeia
os olhos da gente ou como é? - outros juravam que seu Carlinhos tinha parte com
o diabo. Quem mais se extasiou e aplaudiu foi a moça Sacramento.
Estivera até então de olhos baixos, postos
no chão, sentada em silêncio ao lado de Zilda num banco de madeira. Até o
coronel
Boaventura Andrade bateu palmas e não
regateou encômios a seu Carlinhos Silva: sim, senhor, meus parabéns!
Se o amigo qui sesse
podia ganhar a vida fazendo mágica nos teatros da capital.
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