segunda-feira, julho 27, 2015

Não há palavras para descrever o sucesso de seu Carlinhos
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)

Episódio Nº 295





















Aliás, naquele domingo, a população de putas duplicou: acorriam das redondezas, algumas de bem longe, atraídas pelo anúncio da pagodeira que ressoava nos cafundós do rio das Cobras.

Não há palavras para descrever o sucesso de seu Carlinhos Silva, nos números de prestidigitação com que brindou os presentes provocando frouxos de riso de mistura com exclamações de incredulidade na assistência boquiaberta, levando a meninada a extremos de exultação e de assombro.

Sucesso estrondoso e não vai exagero no adjetivo: a quase totalidade dos espectadores jamais assistira a representação teatral qualquer que fosse, nada sabia sobre ilusionismo, truques de mágica, passes de baralho.

 As mulheres se benziam - t’esconjuro! - os homens, pasmados, não sabiam o que pensar.

Seu Carlinhos Silva suspendeu as mangas do paletó e da camisa e os prodígios começaram a acontecer, todos viram, não era lambança de pouso de tropeiro.

Sem usar as mãos, com a força do pensamento, o empregado de Koifman & Cia transferiu moedas de tostão do bolso de Guido para a orelha de Edu; das ventas de Zé Luiz extraiu cinco grãos de cacau seco.

Repetindo palavras cabalísticas, hokos pokos, sinsalabin, presto, abracadabra e outras conjuras medonhosas, com a ponta dos dedos retirou do decote entre os seios da senhora Valentina o lenço de bolso que, na vista de todos, deixara guardado no embornal de Aurélio e de lá sumira sem ninguém nele tocar: não dava para entender.

Fez misérias com um baralho, as cartas circulavam entre seus dedos, apareciam, sumiam, reapareciam, o ás de copas virava o rei de paus, o dois de espada se transformava em dez de ouro e a dama dos corações ele foi buscá-la nos cabelos soltos de Bernarda.

Manipulava os naipes diante de um público estupefato, comprimido em sua frente, querendo ver de perto, vendo e não acreditando.

- Jogar com vosmicê, Deus me livre e guarde! Mais melhor é jogar com o Cão! - Avisou o tropeiro Zé Raimundo apesar de habituado a trapaceiros.

Fadul Abdala puxava as palmas, a assistência acompanhava.

Muitos queriam explicações - ele encandeia os olhos da gente ou como é? - outros juravam que seu Carlinhos tinha parte com o diabo. Quem mais se extasiou e aplaudiu foi a moça Sacramento.

Estivera até então de olhos baixos, postos no chão, sentada em silêncio ao lado de Zilda num banco de madeira. Até o coronel
Boaventura Andrade bateu palmas e não regateou encômios a seu Carlinhos Silva: sim, senhor, meus parabéns!

Se o amigo quisesse podia ganhar a vida fazendo mágica nos teatros da capital.

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