Ao Sacerdócio feminino a Igreja disse Não |
Sacerdócio Feminino
Até ao séc. V foi prática habitual na cristandade ordenar as
mulheres como diaconisas (mulheres de conduta irrepreensível chamadas a
participar dos serviços da igreja), um grau inferior ao dos sacerdotes com
algumas funções na liturgia e na vida da igreja, embora estas funções fossem
mais limitadas que as dos diáconos. A partir deste século esta prática
desapareceu.
Em várias igrejas protestantes
(luterana, anglicana, morava, episcopaliana, etc.) as mulheres começaram
recentemente a ascender ao sacerdócio. A igreja católica é mais relutante nesta
mudança.
A questão da ordenação das mulheres
na igreja católica ganhou força nos meados do século XX pelo decréscimo das
vocações sacerdotais. A igreja católica nos E.U. reflectiu pioneiramente sobre
a conveniência do sacerdócio feminino.
As primeiras ordenações de mulheres
na igreja anglicana, em Março de 1994, em Inglaterra, deram mais força ao
debate. Em Carta
Apostólica de Maio de 1994, o Papa João Paulo II qui s deixar encerrado
este assunto ao afirmar textualmente:“Declaro que a
Igreja não tem de modo algum a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às
mulheres e que este ditame deve ser considerado como definitivo para todos os
fiéis”.
Em 1995, a Congregação para a
Doutrina de Fé ratificou esta posição na Carta Apostólica “Ordenato
Sacerdotalis” para tirar todas as dúvidas sobre uma questão de
grande importância respeitante mesmo à constituição divina da Igreja.
Neste documento diz-se que a exclusão
das mulheres do sacerdócio deve ser sempre respeitado, em todo o lado e por
todos os fiéis na medida em que se trata de uma “questão de fé”. É uma recusa
contundente já que, a expressão “questão de fé” representa o grau máximo da
certeza teológica anterior á declaração oficial de um “dogma católico”. De
facto, indica que essa doutrina se considera infalível e, por isso, garante que
nenhum outro Papa a pode anular.
Por todos estes indícios doutrinais,
deve entender-se que o sacerdócio das mulheres é um assunto arrumado entre os
católicos.
Perante “este cerrar de portas”, a
pergunta é: vale a pena lutar
pelo sacerdócio feminino na igreja católica? Se as mulheres acederem hoje ao
sacerdócio católico, tal como o conhecemos, transformá-lo-iam ou seria elas as transformadas?Contribuiriam as mulheres
para a mudança ou simplesmente serviriam para alimentar com nova seiva um
modelo contrário à mensagem de Jesus e do seu Movimento por separar o sagrado
do profano e estabelecer uma hierarqui a
poderosa que Jesus recusou e o seu Movimento desconheceu?
O que está claro é que Jesus estava
contra qualquer sacerdócio.
- Em todas as culturas – ocidentais,
orientais, africanas, indo-americanas – em que existem sacerdotes considera-se
que eles são os intermediários entre os humanos e a divindade a quem os
sacerdotes aplacam ou satisfazem com determinados ritos, orações ou
sacrifícios.
Em torno da cultura helenística, o
sacerdote designava-se pela palavra “hiereus” que significa “santo”, “sagrado”
e, por isso, “separado”, “segregado”, pertencente ao âmbito do divino. Em todas
as culturas, o sacerdote é aquele que “sabe” das coisas de Deus e que tem o
“poder” sobre o divino. Esse saber e esse poder dão-lhe direito a muitos
privilégios sociais, políticos, económicos e culturais.
Uma Casta Poderosa
- No tempo de Jesus, a classe com
mais influência social era a dos sacerdotes de Jerusalém, que serviam no Templo
em cujo “santuário” o judaísmo localizava “a presença de Deus”. Nesse espaço só
podiam entrar os sacerdotes. Ali realizavam-se os sacrifícios: queimando
perfumes e matando animais. Como em todas as religiões, os sacerdotes eram
considerados homens eleitos para estarem em contacto directo com o sagrado, o
intermediário ante Deus, separados dos restantes e superiores. Ocupavam o cume
de uma sociedade hierarqui zada que
descriminava a maioria. No tempo de Jesus os sacerdotes estavam divididos em 24
classes ou secções e em cada uma delas haviam 300 sacerdotes.
Os relatos dos Evangelhos mostra
Jesus confrontando-se muitas vezes com sacerdotes, discutindo com eles,
contrariando-os, discordando, recusando os seus argumentos religiosos. Também
vemos nos Evangelhos sacerdotes afirmando que Jesus está Endemoniado, que não
tinha autoridade para falar como fala, recusando a sua mensagem e as suas
atitudes e, finalmente, denunciando-o e condenando-o à morte.
Jesus Não Foi Sacerdote
- Jesus não foi sacerdote, foi um
laico. No tempo de Jesus só eram sacerdotes os homens da tribo de Lei,
considerados herdeiros de Aaron, o irmão de Moisés. Jesus não foi sacerdote mas
opôs-se à casta sacerdotal e foi vilipendiado pelos sacerdotes do seu tempo.
Jesus foi um laico (do grego “laicos” que significa “alguém do povo”)
Só na Carta aos Hebreus, que se
atribui a Paulo – ainda que não tenha sido escrita por ele mas por algum dos
seus discípulos – se nomeia Jesus como sacerdote da “Nova Aliança” abolindo,
assim, a “Antiga Aliança” e o sacerdócio levítico fosse ele masculino ou feminino.
As
Viúvas, Sacerdotizas Cristãs
Nas
primeiras comunidades cristãs falava-se de presbíteros mais do que de
sacerdotes. “Presbítero” significa “ancião” e num mundo onde as pessoas não
viviam tantos anos como hoje e a sabedoria era recebida da própria vida e
transmitida pelos mais velhos, a velhice chegava muito rapidamente e estava
relacionada, precisamente, com sabedoria (no tempo dos meus avós dizia-se que o
diabo sabia muito não por ser inteligente mas por ser velho).
O teólogo José Maria Marin explica:
- A mulher viúva correspondia ao
presbítero masculino. O ministério das viúvas correspondia, provavelmente, a
uma forma autónoma de um certo presbiterado feminino que perduraria até ao Séc.
IV. Falava-se da viuvez como de um grupo apostólico reconhecido pela comunidade
distinto. Estas viúvas eram denominadas anciãs ou presbíteras, nomes que se
davam aos dirigentes das primeiras comunidades cristãs.
Desempenhavam várias funções:
pastoral domiciliária entre mulheres, juntamente com serviços caritativos próprios
dos diáconos (palavra que vem do grego e significa “servo” ou “ministro”), o
ministério da oração, administração do bapt ismo
e a celebração da eucaristia. A Igreja do Ocidente no Concílio de Leodicea no
ano 343, acabou com o papel das viúvas nas comunidades cristãs.
E acrescentou ainda o teólogo:
- Se Jesus não tivesse posto as
mulheres ao mesmo nível, em todas as ordens, com os homens não se poderia
explicar como as primeiras comunidades cristãs tivessem dado às mulheres este
protagonismo ministerial. Até Paulo, que se mostra tão intransigentemente
misógino quando afirma que “não tolera que as
mulheres falem no Templo” nem permite que “orem de cabeça descoberta”, não tem outro
remédio que não seja citá-las como apóstolos e ministros dizendo que é “um preceito de Jesus”.
José Maria Marin
Este teólogo laico e ex-sacerdote
católico expressa no seu texto “Sacerdócio Cristão ou Ministério da
Comunidade”, de uma forma consistente que Jesus não foi sacerdote e que,
seguindo Jesus, nas primeiras comunidades cristãs, não havia sacerdotes e que o
sacerdócio provem de uma tradição alheia aos evangelhos.
Explica Marin:
- A chamada “ordenação” sacerdotal ou
ministerial é um costume assumido do Império Romano, no qual “ordo” significava
acesso a uma classe social determinada… Para os ministros religiosos
estabeleceu-se a “Ordem dos Clérigos” que não passava de uma “casta” a que se
chegava por uma “carreira”. O “ordo”, os filhos poderosos, notáveis, situados
numa burocracia estável que se passou
chamar “clero” que se considerava “sagrada” e que devia viver separada do resto, d0s laicos, do resto
do povo.
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