segunda-feira, setembro 14, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)



Episódio Nº 58


















Ao ver o alferes bloqueado, Afonso Henriques avançou em passada larga na direcção da jovem com os cabelos cor de mel e saudou-a com galanteria.

Chamoa corou enquanto dobrava ligeiramente o joelho direito, com as mãos na dalmática, executando a habitual vénia.

 - Chamoa? Perguntou o príncipe.

Ela voltou a corar e ele aproximou-se um pouco mais e disse.

 - Posso convidar-vos para um passeio a cavalo?

A rapariga sorriu e perguntou:

 - Agora? Julgo que iremos recolher-nos...

Afonso Henriques, de cara séria, apressou-se a explicar:

- Hoje não, é Sexta-Feira Santa. Amanhã durante a tarde! Conheço um rio lindo, aqui perto, onde poderemos passear. Chama-se o rio da Loba.

Ela ria-se divertida;

 - Que medo! Há lobos por lá? E se me atacam?

Afonso Henriques olhou-a nos olhos e murmurou:

 - É só um nome que lhe deram, não há lobos por lá.

Chamoa reabriu o sorriso:

 - Um nome emocionante. Será perigoso ir passear convosco?

O príncipe sorriu ligeiramente e acrescentou:

 - Será para mim, pois será fácil enamorar-me de uma mulher tão bela.

A rapariga galega voltou a corar e voltou a olhar para a irmã Maria, talvez à procura de aprovação. Um príncipe estava a falar com ela, era o seu sonho de infância que se concretizava!

Sorrindo, baixou os olhos, bateu as pestanas e murmurou:

 - De certo, dizeis isso a todas.

Afonso Henriques abanou a cabeça e declarou com solenidade:

 - Sois a primeira a ouvi-lo e a única a merecê-lo.

Depois repetiu:

 - Aceitais passear comigo amanhã à tarde?

Chamoa confirmou-o com um aceno de cabeça, enquanto próximo dela, o seu primo Mem Tougues parecia enervado.

Todavia todos se espantaram de repente, pois ouviu-se um grito bem alto. Junto ao segundo banco, do lado direito, Sancha Henriques erguia o braço, com o punho fechado e berrava:

 - Quem pensais que sou, uma das vossas bezerras?

A irmã, Urraca Henriques afastou-a do alvo da sua súbita ira, o senhor de Bragança que, divertido, se ria como um alarve, enquanto pousava a mão nas costas do banco, para não se desequilibrar.



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