(Domingos Amaral)
Episódio Nº 177
Soure, Julho de 1127
Na vila templária, ainda ninguém sabia da
fuga das mouras de Coimbra na manhã seguinte, e a principal preocupação de Ramiro
era um novo aviso do cónego Martinho sobre os estranhos acontecimentos que se
haviam repetido nessa noite., nos quais o Rato era o protagonista principal.
Desagradado, Ramiro prometeu ao religioso
repreender o companheiro.
Dirigiu-se ao pátio e chamou-o,
afastando-se dos outros cavaleiros, enquanto o Velho os olhava intrigado.
-
Rato, tendes de vos comportar – disse Ramiro.
Explicou-lhe os temores do cónego, o
receio de uma denúncia ao bispo de Coimbra, o sarilho em que se colocaria a
Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo estando Gondomar ausente.
Contudo, o Rato riu-se em desafio.
O bispo só saberá se alguém bufar.
Ramiro murmurou:
- É esse o perigo.
O outro revirou os olhos e lamentou-se:
-
Pensava que vos agradava, lindinho.
O filho de Paio Soares colocou-lhe a mão
no ombro.
-
Sois um valente cavaleiro, não vos quero perder.
O Rato riu-se e disse que também gostava
dele. Talvez incomodado com aquela expressão de afecto, Ramiro retirou-lhe a
mão do ombro.
Tendes de ter mais cuidado – disse.
O outro voltou a rir-se com desdém.
- Temos
todos.
Parecia uma ameaça e Ramiro cerrou os
dentes. O rato mirou-o de soslaio, enquanto o ouvia dizer:
- O
meu pai está em Coimbra. É Mordomo de Dona Teresa. O Rato encolheu os ombros,
lembrava-se que ele fugira do pai. Certamente se lembrará de um criado que, em
Viseu, na Páscoa do ano passado, chocou com ele à entrada da tenda – disparou
Ramiro.
O Rato semicerrou os olhos e já não
sorria. E certamente se lembrará de um punhal que lhe roubaram e que por mero
acaso está no vosso cinto.
Sem saber bem explicar porquê, o Rato
tinha a certeza de que Ramiro o denunciaria. Por isso, murmurou vencido:
-
Serei mais discreto.
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