sábado, janeiro 30, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 177




















Soure, Julho de 1127


Na vila templária, ainda ninguém sabia da fuga das mouras de Coimbra na manhã seguinte, e a principal preocupação de Ramiro era um novo aviso do cónego Martinho sobre os estranhos acontecimentos que se haviam repetido nessa noite., nos quais o Rato era o protagonista principal.

Desagradado, Ramiro prometeu ao religioso repreender o companheiro.

Dirigiu-se ao pátio e chamou-o, afastando-se dos outros cavaleiros, enquanto o Velho os olhava intrigado.

 - Rato, tendes de vos comportar – disse Ramiro.

Explicou-lhe os temores do cónego, o receio de uma denúncia ao bispo de Coimbra, o sarilho em que se colocaria a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo estando Gondomar ausente.

Contudo, o Rato riu-se em desafio.

O bispo só saberá se alguém bufar.

Ramiro murmurou:

- É esse o perigo.

O outro revirou os olhos e lamentou-se:

 - Pensava que vos agradava, lindinho.

O filho de Paio Soares colocou-lhe a mão no ombro.

 - Sois um valente cavaleiro, não vos quero perder.

O Rato riu-se e disse que também gostava dele. Talvez incomodado com aquela expressão de afecto, Ramiro retirou-lhe a mão do ombro.

Tendes de ter mais cuidado – disse.

O outro voltou a rir-se com desdém.

 - Temos todos.

Parecia uma ameaça e Ramiro cerrou os dentes. O rato mirou-o de soslaio, enquanto o ouvia dizer:

 - O meu pai está em Coimbra. É Mordomo de Dona Teresa. O Rato encolheu os ombros, lembrava-se que ele fugira do pai. Certamente se lembrará de um criado que, em Viseu, na Páscoa do ano passado, chocou com ele à entrada da tenda – disparou Ramiro.

O Rato semicerrou os olhos e já não sorria. E certamente se lembrará de um punhal que lhe roubaram e que por mero acaso está no vosso cinto.

Sem saber bem explicar porquê, o Rato tinha a certeza de que Ramiro o denunciaria. Por isso, murmurou vencido:

 - Serei mais discreto.

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