(Domingos do Amaral)
Episódio Nº 190
Surpreendido, Afonso Henriques
perguntou-lhe de pronto:
-
Então porque haveis atacado Límia, Tui e Guimarães?
O rei defendeu que só poderia haver um
imperador cristão e que todos os nobres teriam de submeter-se e prestar-lhe
vassalagem. Só assim se uniriam os cinco reinos – Castela, Leão, Galiza,
Navarra e Aragão e só assim os sarracenos voltariam para África.
O príncipe portucalense perguntou-lhe se
ambicionava ser esse imperador, e Afonso VII, endireitando-se, afirmou:
-
Sou o neto mais velho de nosso avô, é meu direito suceder-lhe. Roma pensa o
mesmo. Só Afonso de Aragão o recusa, mas combatê-lo-ei até aceitar. E o mesmo
farei na Galiza ou no condado que me enfrentar.
Mesmo perante aquela declaração ameaçadora
que justificava a invasão do Condado de Portucalense, Afonso Henriques não se
calou.
Dizeis querer unir os cinco reinos como
imperador, mas aceitais que Aragão e Navarra tenham cada um o seu rei, desde
que vos prestem vassalagem. Porque não aceitais o mesmo na Galiza?
Afonso VII abanou a cabeça, incrédulo.
- Vossa mãe ainda é viva e quer ser a
rainha da Galiza! É isso que desejais, que ela e o Trava reinem?
Afonso Henriques negou-o: a mãe não sabia
reinar, havia fome em Vise e Coimbra e a única coisa em que ela e o Trava
pensavam era num filho varão!
Com desprezo, o rei considerou tais
intenções um mero delírio de Fernão Peres de Trava.
Mesmo com um varão no berço, teriam de
matar-vos primeiro!
Afonso Henriques fixou os olhos nos dele,
enervado.
Armaram-me uma cilada em Guimarães... Era
isso que queriam!
Porém Afonso VII deu uma risada e
comentou:
-
Sois tão dramático! Porque havia eu de vos matar? Se o Trava e vossa mãe
esperavam tal coisa, é porque não me conhecem! Avisei-os de que vinha mas não
para vos matar.
Ali estava, cristalina, a prova da
traição. Dona Teresa e o Trava tinham armadilhado o príncipe que, com a
seriedade que a situação impunha declarou:
-
Minha mãe e o Trava são agora meus inimigos.
Para sua surpresa, o rei disse:
-
Afonso Henriques, na verdade pouco me interessa quem rege o Condado
Portucalense. O que não aceito é que não me prestem vassalagem.
Vós, a vossa mãe ou qualquer outro nobre.
Sem o dizer, o rei prometia não interferir
numa guerra entre Afonso Henriques e Dona Teresa. Encolhendo os ombros,
concluiu:
-
Entendam-se uns com os outros. Mas até ao próximo Pentecostes, todos os que não
me prestarem vassalagem em Ricobayo terão de o fazer, caso contrário atacarei
de novo, e não será apenas para vir rezar a Compostela, por mais agradável que
isso seja!
Afonso VII fez menção de se levantar, mas
Afonso Henriques lançou-lhe um último pedido, para que não apoiasse as
intenções do Arcebispo Gelmires, pois Braga era mais antiga, como arcebispado e
não merecia ser tratada com desrespeito.
Porém, o rei, torceu o nariz dizendo que esse
era um assunto de Roma.
- A não ser que...
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