segunda-feira, fevereiro 15, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos do Amaral)

Episódio Nº 190



















Surpreendido, Afonso Henriques perguntou-lhe de pronto:

 - Então porque haveis atacado Límia, Tui e Guimarães?

O rei defendeu que só poderia haver um imperador cristão e que todos os nobres teriam de submeter-se e prestar-lhe vassalagem. Só assim se uniriam os cinco reinos – Castela, Leão, Galiza, Navarra e Aragão e só assim os sarracenos voltariam para África.

O príncipe portucalense perguntou-lhe se ambicionava ser esse imperador, e Afonso VII, endireitando-se, afirmou:

 - Sou o neto mais velho de nosso avô, é meu direito suceder-lhe. Roma pensa o mesmo. Só Afonso de Aragão o recusa, mas combatê-lo-ei até aceitar. E o mesmo farei na Galiza ou no condado que me enfrentar.

Mesmo perante aquela declaração ameaçadora que justificava a invasão do Condado de Portucalense, Afonso Henriques não se calou.

Dizeis querer unir os cinco reinos como imperador, mas aceitais que Aragão e Navarra tenham cada um o seu rei, desde que vos prestem vassalagem. Porque não aceitais o mesmo na Galiza?

Afonso VII abanou a cabeça, incrédulo.

- Vossa mãe ainda é viva e quer ser a rainha da Galiza! É isso que desejais, que ela e o Trava reinem?

Afonso Henriques negou-o: a mãe não sabia reinar, havia fome em Vise e Coimbra e a única coisa em que ela e o Trava pensavam era num filho varão!

Com desprezo, o rei considerou tais intenções um mero delírio de Fernão Peres de Trava.

Mesmo com um varão no berço, teriam de matar-vos primeiro!

Afonso Henriques fixou os olhos nos dele, enervado.

Armaram-me uma cilada em Guimarães... Era isso que queriam!

Porém Afonso VII deu uma risada e comentou:

 - Sois tão dramático! Porque havia eu de vos matar? Se o Trava e vossa mãe esperavam tal coisa, é porque não me conhecem! Avisei-os de que vinha mas não para vos matar.

Ali estava, cristalina, a prova da traição. Dona Teresa e o Trava tinham armadilhado o príncipe que, com a seriedade que a situação impunha declarou:

 - Minha mãe e o Trava são agora meus inimigos.

Para sua surpresa, o rei disse:

 - Afonso Henriques, na verdade pouco me interessa quem rege o Condado Portucalense. O que não aceito é que não me prestem vassalagem.

Vós, a vossa mãe ou qualquer outro nobre.

Sem o dizer, o rei prometia não interferir numa guerra entre Afonso Henriques e Dona Teresa. Encolhendo os ombros, concluiu:

 - Entendam-se uns com os outros. Mas até ao próximo Pentecostes, todos os que não me prestarem vassalagem em Ricobayo terão de o fazer, caso contrário atacarei de novo, e não será apenas para vir rezar a Compostela, por mais agradável que isso seja!

Afonso VII fez menção de se levantar, mas Afonso Henriques lançou-lhe um último pedido, para que não apoiasse as intenções do Arcebispo Gelmires, pois Braga era mais antiga, como arcebispado e não merecia ser tratada com desrespeito.

Porém, o rei, torceu o nariz dizendo que esse era um assunto de Roma.

- A não ser que...


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