(Domingos Amaral)
Episódio Nº 178
Satisfeito, Ramiro, deu meia volta e foi
nesse momento que no alto da torre, uma voz avisou que mais de trinta
cavaleiros cristãos, vindos de Coimbra, se aproximavam de Soure.
Pouco depois, Paio Soares, entrou pela
porta do castelo. Ramiro sentiu o coração apertar-se ao ver o pai desmontar,
enquanto o pároco Martinho de Soure se juntava a ele e ao Rato, e o Velho ia
chamar os outros.
Paio Soares olhou para o filho, não
revelando qualquer emoção. Não parecia zangado por o ver, nem contente, quando
perguntou:
-
Sois vós que mandais em Soure? Disseram-me, mas não acreditei.
Ramiro engoliu em seco e a sua má
disposição cresceu.
O nosso mestre partiu e deixou-me no
comando – explicou.
Intrigado, Paio Soares franziu a testa.
-
Como é possível se nem sabeis pegar numa espada?
O filho apesar de se sentir cada vez pior,
murmurou:
-
Sou bom com o arco, fui treinado por vós.
Paio Soares sorriu agradado consigo
próprio, e comentou:
-
Deve ter sido a única coisa de jeito que tereis aprendido...
Vendo que Ramiro parecia cada vez mais
enjoado e tossia para limpar a garganta, Martinho perguntou-lhe se estava bem,
enquanto Paio Soares se exasperava:
-
Ides desmaiar?
O jovem templário, cada vez mais pálido,
fez um esforço para se acalmar, enquanto o pai se dedicava a observar com mais
atenção os outros cavaleiros da Ordem.
O velho Gondomar deve pensar que os
serracenos são pouco aguerridos. Quantos cavaleiros tendes, quatro ou cinco?
Martinho deu um passo em frente e
defendeu-os: o castelo fora reconstruído por eles e haviam-se batido bem numa
escaramuça o ano passado! O povo já lavrava os campos, instalara-se à volta de
Soure, estava a renascer!
O Mordomo-Mor examinou a muralha e a torre
do castelo, e pareceu agradado com o que viu, pois mudou de assunto.
Olhou de novo para o seu filho bastardo,
declarou:
-
Depois de acabar o que vim cá fazer, vireis comigo a Coimbra. Meu filho e
Chamoa estão lá.
Ao ouvir falar da rapariga, Ramiro perdeu
as forças nos joelhos e cambaleou. Martinho amparou-o mas nem isso o impediu de
desmaiar.
Quando acordou encontrava-se na torre de
menagem, deitado numa esteira. Viu o pai e Martinho a conversarem. Tossiu,
levantou a cabeça e o pároco perguntou se estava melhor, ouvindo o seu pai
comentar:
- É
bom que esteja.
Martinho deu-lhe água e depois Paio Soares
revelou-lhe a razão da sua visita.
As três mouras tinham fugido de Coimbra
durante a noite anterior, e Dona Teresa estava furiosa. Os soldados haviam-nas
procurado sem sucesso e só de manhã alguém descobrira a história dos leprosos
que atravessaram o rio.
- Suspeitamos que três deles fossem as
mouras, disfarçadas como se estivessem com lepra.
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