sábado, julho 09, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 38






















Se voltarmos a Córdova, toda a Andaluzia se levanta contra o maldito califa berbere! – garantiu Fátima.

A legitimidade dos sonhos de grandeza das duas princesas alimentava-se do sangue real que lhes corria nas veias, fosse do lado paterno, pois eram netas de Hixam III, último califa de Córdova, fosse do lado materno, pois sua mãe Zulmira, também era neta do antigo rei de Sevilha Al – Mutamid.

As duas princesas desejavam regressar pela porta grande a Azzarhat, o palácio real de Córdova, acreditando que as taifas muçulmanas da Andaluzia, os pequenos reinos mouros que no presente se submetiam a Ali Yusuf, se revoltariam contra aquele estrangeiro africano e correriam a agrupar-se em redor das herdeiras legítimas dos Benu Ummeya.

No entanto, ambas sabiam que aquele glorioso desfecho só seria possível se fosse dado o primeiro passo.

Para se libertarem daquele longo cativeiro em Coimbra, precisavam da relíquia e para chegarem a ela precisavam de alguém que as ajudasse!

Por onde andará o Mem? – perguntou Zaida.

Fátima torceu o nariz, desconfiava daquele almocreve, que considerava um interesseiro.

Anda sempre atrás das cristãs... – comentou.

Zaida sorriu com uma ponta de orgulho. Mem era um galanteador amável com as mulheres e muito bonito. A mãe das raparigas apaixonara-se por ele, mesmo sendo muito mais velha, e Zaida também o beijara várias vezes.

Mas a morte de Zulmira ensombrara o coração do almocreve e nos últimos anos este afastara-se delas, cumprindo o triste luto por Zulmira.

Mem é a nossa única esperança! – insistiu Zaida.

Descontente, Fátima colocou-lhe uma pertinente questão.

O Abu vai vasculhar nas ruínas? Demorará semanas!

De nada valia mandar uma mensagem a Abu Zakaria, dirigindo-o a Sellium, se ele não soubesse exactamente onde procurar a relíquia.

O perímetro da busca ainda era largo e as ruínas obrigariam a escavações demoradas. Tinham de ser mais exactas, caso contrário Abu arriscaria a vida em vão.

Enervada, Fátima concedeu:

 - Só a bruxa, a tal Sohba, que dizem ser nossa tia, é que sabe onde enterraram a coisa! Por onde andará essa louca?

Zaida partilhou com a irmã uma hipótese que há muito lhe pairava no espírito. A mãe Zulmira escondera-se uns tempos em Lisboa onde conhecera o pai delas Hixam de Hisn Abi Cherif, um homem bom, culto e rico, por quem se apaixonara.

Sohba pode ter fugido para lá – admitiu Zaida.

Duvido, resmungou Fátima.

Uma coisa era Mem ir a Santarém dar um recado a Abu Zhakaria. Outra era pedir-lhe que se dirigisse a Lisboa, à procura de uma misteriosa bruxa.


Não temos outra solução, rematou Zaida – Terei de o convencer.

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