terça-feira, agosto 30, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 73

















Celmes, Abril de 1133


A fraqueza dos espiões portucalenses, praticamente inexistentes nessa época, ficou demonstrada de forma trágica no ataque a Celmes, totalmente imprevisto para nós.

Vigiada pelo Velho em permanência, Chamoa foi incapaz de nos informar e assim, cinco mil galegos, leoneses e castelhanos avançaram para Celmes em segredo comandados pelo próprio rei de Leão, Afonso VII, primo direito de Afonso Henriques.

O mais importante monarca cristão de Hispânia, cujos domínios iam do Atlântico aos Pirenéus, tinha no antigo sogro, Afonso I de Aragão, o seu mais feroz inimigo.

Ambos desejavam ser imperadores de Hispânia e só os invernos suspendiam os combates entre os respectivos exércitos, que duravam há sete longos anos.

Por isso, Afonso VII, teve finalmente tempo para se dedicar ao energético primo portucalense, que erguera Celmes em plena Galiza.

Situada perto de Límia e a norte do rio Minho, a nova fortificação que Gonçalo de Sousa liderava pretendia demonstrar as aspirações galegas de Afonso Henriques.

O filho do conde Henrique e de Dona Teresa, mantinha vivas as antigas pretensões dos pais, considerando que eram seus vários condados a norte do rio Minho como Toronho, Celanova, Límia, Astorga e Zamora.

Esta velha ambição dos condes portucalenses nunca fora reconhecida pelos familiares leoneses. Nem pelo falecido imperador, o avô Afonso VI, nem por Dona Urraca, que lhe sucedeu, nem finalmente pelo filho desta, Afonso VII.

Para estes, o Condado portucalense terminava no Minho e os territórios a norte do rio eram parte essencial de uma Galiza indivisível, onde Afonso VII exigia reinar.

Construir Celmes nessa zona era uma provocação e a hora da retaliação tinha por fim chegado. O cerco foi rápido. Os cinco mil homens que Afonso VII trazia não encontraram réplica até às muralhas de Celmes.

Os terrenos à volta da fortificação encheram-se de tropas, tendas, máquinas de guerra e cavalos, e aos portucalenses foram apresentadas duas hipóteses: ou a rendição imediata, abandonando o castelo, ou um combate desigual até à morte, destino proposto aos quinhentos portucalenses ali estacionados, divididos em cavaleiros-vilões, escudeiros e besteiro,

Na tenda do rei leonês quando regressou a resposta, estranhou-se a ousadia dos sitiados que se julgou absurda.

_ Gonçalo de Sousa assinou a sua sentença de morte! - rugiu o Trava.

Há pelo menos três anos, desde o falecimento de sua amada, Dona Teresa, que o nobre galego esperava com ansiedade o momento da desforra de São Mamede.

Prometera uma guerra sem tréguas a Afonso Henriques mas convencer Afonso VII fora um árduo trabalho.

Chegara o momento da primeira estocada e os Celmes seriam as vítimas iniciais da sua fúria. Fernão Peres ainda recordava, com uma cólera que não se extinguia os comentários jocosos com que o brindara Gonçalo de Sousa, depois da batalha de São Mamede.

Agora o descarado ia engoli-los uma um.


Só que Afonso VII hesitava. 

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