segunda-feira, outubro 24, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


 Episódio Nº 102



















Vários archotes iluminavam a pequena alcáçova, onde se encontravam, talvez, vinte soldados, cercando Chamoa e seu pai.

A zangada mãe, Elvira Peres de Trava, foi incapaz de conter um berro:

 - Porque haveis traído a nossa família?

Irritada, Elvira Peres de Trava, apontou o dedo a Chamoa:

 - Colocais o futuro de Toronho nas mãos de uma desvairada que não sabe fechar as pernas? Irada, acusou também o marido.

 - E vós, não tendes juízo? Haveis esquecido o que vos fez Afonso Henriques? Sois mais burro que os nossos jumentos todos juntos!

Enquanto a mãe vociferava contra ela, Chamoa mantivera-se calada, mas ao ouvir insultar o pai daquela maneira abrasiva, a minha cunhada indignou-se e ripostou.

 - Eis como fala a mais pura mulher da Galiza, a minha mãe, que me aconselhou a chifrar o meu marido, Paio Soares!

A progenitora lançou-lhe um olhar furioso, mas Chamoa não se atemorizou e acrescentou, apontando para o velho:

 - Se vós trepais um velho, porque não pode o meu pai trepar a padeira?

Furibunda, Elvira deu um passo em frente e pregou um valente estalo na cara de Chamoa, surpreendendo-a tal foi a rapidez.

Quando a filha se preparava para ripostar, o Trava mandou calar todos e impôs as ordens:

 - Velho, metei-a nas masmorras!

Apesar dos protestos de seu pai, Chamoa foi arrastada para a prisão de Tui, o buraco onde há meses estava preso Gonçalo de Sousa.

Furibundo, Fernão Peres quis também encarcerar  Gomes Nunes, mas a irmã, Elvira, pediu-lhe que não o fizesse, era o seu marido e homem de idade.

Então, o Trava ordenou que o senhor de Toronho fosse guardado por soldados nos seus aposentos.

Algumas horas depois, já o velho partia para o sul, Fernão Peres dirigiu-se à masmorra onde encontrou Chamoa a um canto chorosa, enquanto Gonçalo de Sousa se mantinha calado e encostado à parede, com os pés e as mãos acorrentados.

Depois de pousar um jarro de vinho, sibilino, o Trava avisou o prisioneiro:

 - Mal Afonso Henriques meta um pé em Tui, sereis degolado – e volteando no ar o punhal de Paio Soares, acrescentou. – E quanto a vós, bela sobrinha, ficai sabendo que espetarei este punhal no vosso coração traidor!

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