quinta-feira, novembro 10, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)




Episódio Nº 108

















Peres Cativo e Paio Guterres, ambos valiosos combatentes, contestaram-no prontamente. Na guerra, o objectivo era matar os inimigos, destruir as suas forças, as suas gentes, as suas cidades!

Aqueles territórios haviam sido cristãos séculos antes, os usurpadores mouros tinham de ser afastados!

Para que a vitória dure, temos de seduzir as populações a nosso favor e depois convertê-las! – insistiu Ermígio Moniz.

Uma campanha bélica que se limitasse a exibições gratuitas de violência a nada acrescentava. Para que aqueles territórios não voltassem a ser retomados pelos mouros, era necessário mais do que um fossado breve, eram necessários castelos.

Uma linha inteira deles era a única forma de empurrar para Sul e fixar as populações debaixo do domínio portucalense.

Quereis construir castelos neste ermo? – interrogou-se Paio Guterres espantado.

O acampamento portucalense fora erguido junto à antiga estrada romana que ligava Coimbra a Santarém, perto do rio Lis. Não se via vivalma por ali, nenhuma aldeia existia por perto. Contudo, Ermígio Moniz examinou os campos à volta e depois pediu:

 - Vinde comigo.

O príncipe, o alferes e o cavaleiro-vilão de Coimbra acompanharam o mordomo. Estava um fim de tarde sereno e os quatro subiram um pequeno monte. Quando chegaram ao topo, Ermígio Moniz disse:

 - Olhai à vossa volta.

Surpreendidos, os outros examinaram o horizonte. Do alto daquela elevação podia ver-se a longa estrada romana nas duas direcções, acompanhando os vales para sul, mas também para o norte.

Estavam num ponto privilegiado de observação e Ermígio Moniz defendeu que ali se devia construir um castelo, chamado de Leiria.

Do alto da sua torre de menagem, veremos o inimigo muito antes de cá chegarem.

Ninguém podia negar aquela evidência. Curioso, o príncipe de Portugal perguntou ao seu mordomo:

 - Como haveis sabido deste local?

Meu tio explicou-lhe que os templários de Soure conheciam bem a região e haviam-lhe chamado a atenção para aquele sítio.

Foi o Ramiro? – questionou Afonso Henriques.

O príncipe talvez procurasse descobrir novos méritos no bastardo de Paio Soares, que tanto o desiludira, mas ao ouvi-lo Peres Cativo protestou de pronto, pois implicava com Ramiro.

O uranista? Raios, este chão está amaldiçoado!

Paio Guterres deu uma gargalhada, mas o mordomo logo esclareceu que o autor da sugestão fora o próprio mestre dos templários de Soure, Jean Raymond. E para surpresa do príncipe, acrescentou:

 - O Ramiro abandonou a Ordem do Templo.

Afonso Henriques franziu a testa:

 - Porquê?

Ermígio Moniz suspirou, olhando para Peres Cativo e dando a entender que a malícia anterior do alferes fora certeira.

Para não desonrar os templários, foi-se embora.

Levemente inquieto, pois sabia dos antigos enamoramentos de Ramiro por Chamoa, o príncipe de Portugal perguntou de pronto:

 - Para o Norte?

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