Episódio Nº 108
Peres Cativo e Paio Guterres, ambos valiosos combatentes, contestaram-no prontamente. Na guerra, o objectivo era matar os inimigos, destruir as suas forças, as suas gentes, as suas cidades!
Aqueles territórios haviam
sido cristãos séculos antes, os usurpadores mouros tinham de ser afastados!
Para que a vitória dure,
temos de seduzir as populações a nosso favor e depois convertê-las! – insistiu
Ermígio Moniz.
Uma campanha bélica que se
limitasse a exibições gratuitas de violência a nada acrescentava. Para que
aqueles territórios não voltassem a ser retomados pelos mouros, era necessário mais
do que um fossado breve, eram necessários castelos.
Uma linha inteira deles era
a única forma de empurrar para Sul e fixar as populações debaixo do domínio
portucalense.
Quereis construir castelos
neste ermo? – interrogou-se Paio Guterres espantado.
O acampamento portucalense
fora erguido junto à antiga estrada romana que ligava Coimbra a Santarém, perto
do rio Lis. Não se via vivalma por ali, nenhuma aldeia existia por perto.
Contudo, Ermígio Moniz examinou os campos à volta e depois pediu:
- Vinde comigo.
O príncipe, o alferes e o
cavaleiro-vilão de Coimbra acompanharam o mordomo. Estava um fim de tarde
sereno e os quatro subiram um pequeno monte. Quando chegaram ao topo, Ermígio
Moniz disse:
- Olhai à vossa volta.
Surpreendidos, os outros
examinaram o horizonte. Do alto daquela elevação podia ver-se a longa estrada
romana nas duas direcções, acompanhando os vales para sul, mas também para o
norte.
Estavam num ponto
privilegiado de observação e Ermígio Moniz defendeu que ali se devia construir
um castelo, chamado de Leiria.
Do alto da sua torre de
menagem, veremos o inimigo muito antes de cá chegarem.
Ninguém podia negar aquela
evidência. Curioso, o príncipe de Portugal perguntou ao seu mordomo:
- Como haveis sabido deste local?
Meu tio explicou-lhe que os templários
de Soure conheciam bem a região e haviam-lhe chamado a atenção para aquele
sítio.
Foi o Ramiro? – questionou
Afonso Henriques.
O príncipe talvez procurasse
descobrir novos méritos no bastardo de Paio Soares, que tanto o desiludira, mas
ao ouvi-lo Peres Cativo protestou de pronto, pois implicava com Ramiro.
O uranista? Raios, este chão
está amaldiçoado!
Paio Guterres deu uma
gargalhada, mas o mordomo logo esclareceu que o autor da sugestão fora o
próprio mestre dos templários de Soure, Jean Raymond. E para surpresa do
príncipe, acrescentou:
- O Ramiro abandonou a Ordem do Templo.
Afonso Henriques franziu a
testa:
- Porquê?
Ermígio Moniz suspirou,
olhando para Peres Cativo e dando a entender que a malícia anterior do alferes
fora certeira.
Para não desonrar os
templários, foi-se embora.
Levemente inqui eto, pois sabia dos antigos enamoramentos de
Ramiro por Chamoa, o príncipe de Portugal perguntou de pronto:
- Para o Norte?
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