domingo, novembro 27, 2005

Ainda o sexo, mentiras e vídeo..

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Renovo, por escrito, os parabéns que te dei pelo telefone sobre o texto que lançaste no Macroscópio com data de 24 último, sob o título de "Sexo, Mentiras e Vídeo" no qual a tua justa sanha denunciadora me fez lembrar, que os católicos me perdoem a comparação, a coragem e a convicção com que Cristo terá corrido para fora do Templo os judeus que o utilizavam para fazerem negócio e ganharem dinheiro oportunistamente com aqueles que ali se dirigiam para tratar dos assuntos da fé.

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Mas, para mim, o que é verdadeiramente importante são os valores morais, praticamente comuns, aceites e reconhecidos como bons por toda a humanidade, de uma forma ou de outra defendidos por todas as religiões e na prática sempre esquecidos e desprezados e que têm a ver com o respeito, a compreensão e o sentido de justiça que devem estar presentes nas relações entre nós, no seio da família, no local de trabalho, nas relações com os nossos vizinhos próximos e afastados.

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Não sei se a religião (ou é a verdade!?), seja ela qual for, constitui “um erro a aguardar vez”, como diz Virgílio Ferreira ou seja, algo em vias de extinção, na opinião dele, mas daquilo que eu me apercebo, pelo menos na nossa sociedade, é que ela, a religião, está a dar lugar apenas a uma crença interior, que foi sempre a essência de qualquer religião, aligeirando-se de qualquer culto. Como tu dizes: “eu dispenso intermediário”, é como se estilisticamente reduzisses a jarra a uma simples linha vertical, vai-se a religião fica a fé para o nosso conforto e refúgio, para satisfazer uma necessidade de carácter interior sempre que ela aconteça.

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A religião é um “negócio” de padres, a fé é uma questão dos homens, aqueles que a têm não se devem sentir privilegiados, eleitos ou tocados por uma qualquer graça divina mas apenas vivê-la como uma realidade de si próprios, aceitando-a com naturalidade, respeitando aqueles que não a possuem e, fundamentalmente, nunca colocando o problema em termos de razão. Ateus, agnósticos ou crentes, todos têm “ a sua razão” o que significa que não é uma questão de razão, de superioridade, de avanço, de perfeição de uns e imperfeição de outros e muito menos factor de descriminação ou de desigualdade de tratamento.

Nestas coisas, como em tudo, é indispensável ser-se intelectualmente honesto e eu não tenho nada que me diga que esteja certo como não crente e que os outros estão errados como crentes. Há que ser verdadeiro connosco próprio e viver a nossa vida de acordo com a nossa verdade e se estivermos confusos acerca dessa verdade não devemos tentar ser qualquer coisa apenas para dizermos que somos essa coisa.

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Nem sempre é possível ter uma verdade definida dentro de nós e isso não deve ser motivo de angústia, sejamos acima de tudo honestos e verdadeiros e não queiramos “arrumar” dentro de nós o que, pelo menos num determinado momento, não tem arrumação.

Eu sou de opinião de que, todos nós, na vida devemos ser “agricultores” na medida em que devemos cultivar o “bem”e com religião ou sem ela, crentes ou não crentes, todos nós sabemos o que é o “bem” com excepção dos inimputáveis. Os valores do”bem” estão dentro de todos nós, muitos deles até estão na lei, herdámo-los, ninguém pode alegar que não os conhece mas basta olhar para o mundo à nossa volta para ver que ele está longe de ser em grande parte um produto desse “bem” e a responsabilidade desta situação é de todos nós: religiosos, simples crentes, agnósticos e ateus.

Há que reconhecer que hoje, a humanidade, vive de acordo com padrões de justiça e de respeito pelos direitos do homem já definidos e consagrados para produzirem efeitos à escala de toda a humanidade, o que representa avanços tremendos na qualidade das relações dos homens entre si relativamente há uns anos atrás, não muitos, no que diz respeito ao Apartheid ou até mesmo à Escravatura, abolida oficialmente já na 2ª metade do século XIX, mas o racismo, a xenofobia, o tráfico de pessoas e crianças, a fome, a guerra, recentemente o terrorismo em grande escala, continuam para nos atormentar e a pergunta que se pode fazer é esta:

- O que é que os religiosos, os crentes, os agnósticos e os ateus, em todo o mundo, podem ou querem fazer para melhorar este panorama que sendo muito melhor do que aquele que já foi no passado é, no entanto, ainda deveras preocupante?

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Eu sugiro que deixemos em paz os religiosos, crentes, agnósticos e ateus e interpelemos antes o homem consciente das suas responsabilidades de cidadão deste mundo e muito especialmente daqueles que detêm o Poder, maior ou menor, em qualquer lado que ele seja exercido e percebamos que eles têm que ser pressionados, de todas as maneiras legais e legítimas, para que coloquem cá fora políticas que contribuam decisivamente para a melhoria da qualidade de vida dos seus cidadãos porque esta questão agora diz respeito a todos nós porque já ninguém está só, todos sabem uns dos outros e ninguém pode viver em paz quando a revolta e o ódio minam o espírito de milhões de pessoas aqui, nesta pequena aldeia global.

Coube-nos a nós, povos da Europa ocidental, a maior responsabilidade na descoberta dos trilhos da ciência, da tecnologia e da organização da sociedade que nos trouxe até à comodidade das nossas vidas de hoje mas já não será possível mantê-las assim por muito mais tempo senão tivermos um papel decisivo no contributo para que estas mesmas condições sejam extensivas progressivamente, dentro das especificidades de cada povo, aos restantes habitantes da aldeia global.

Atentemos no que se passa nos países do norte de África e Médio Oriente separados de nós por este pequeno lago que é o Mar Mediterrâneo, reparemos na pressão migratória de jovens africanos que se sujeitam a uma viagem de meses com risco sério de perderem a vida para tentarem a oportunidade de entrarem em Espanha ou na Itália e os outros, do longínquo Oriente, que morrem dentro de contentores na esperança de viverem na democrática Inglaterra.

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Não, definitivamente, as políticas erradas dos países do terceiro mundo, muitas delas com a conivência de interesses ocidentais, deixaram de ser um problema apenas desses países.

Os países mais ricos, mais poderosos, mais decisivos quanto aos destinos da humanidade têm que pensar a sério no futuro, não do seu mas do futuro dos outros que passou a ser o deles próprio. O “barco” começa a ser o mesmo, estamos todos lá dentro e temos que ter consciência disso e o que se pede agora aos políticos que gerem os destinos desses grandes e poderosos países é que percebam que ao governá-los estão a governar o mundo pela especial importância das decisões que tomam e que vão comprometer o futuro da humanidade.

A nós, que somos cidadãos de países democráticos, instruídos e informados, um especial cuidado em quem votamos e uma permanente vigilância sobre as decisões dos nossos políticos para não sermos vítimas das legítimas ambições dos deserdados da fortuna, dos que só aparentemente estão lá fora e dos outros que estão cá dentro, esquecidos dos políticos e que como não têm que atravessar fronteiras começam logo a queimar os milhares de automóveis estacionados à porta das nossas casas.

A Aldeia é Global e os problemas são globais, não de natureza religiosa desta vez mas de carácter social, problemas que sempre existiram mas que têm hoje um impacto que nunca tiveram, é como se as pessoas em todo o mundo começassem a despertar de um sono letárgico para uma realidade que não aceitam e estremunhados ainda, começassem a barafustar por todo o lado.

Não nos podemos pôr em comum no desporto, na música, na arte, nos avanços da ciência e das novas tecnologias, vermo-nos e ouvirmo-mo-nos todos uns aos outros, todos os dias, o que uns fazem e os outros não podem fazer e deixar continuar as terríveis desigualdades que existem e que retiram a milhões de pessoas em todo o mundo a oportunidade de viver com um mínimo de dignidade humana e a muitos deles a própria oportunidade de viverem.

Inevitavelmente esta situação vai deixar de ser suportável no futuro e cabe aos políticos e a todos nós antecipá-la e preveni-la. Ao contrário do passado já não se trata de gerir pequenos desequilíbrios aqui e ali que lá se iam concertando para voltarem a desconcertarem-se, agora o desequilíbrio pode ter uma amplitude em que o concerto acarrete alterações que tenham a ver com o modo de vida de todos nós “os bem instalados”.

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E eu, que não tenho o refúgio da fé, se perder a esperança na humanidade vou acreditar em quê?

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