NORDESTE BRASILEIRO
JOÃO PESSOA
A cidade mais saliente de toda a América do Sul, João Pessoa, do Estado da Paraíba, é mais uma do nordeste brasileiro que se prepara, com os seus 34 milhões de eleitores espalhados pelos seus nove Estados, para ter um papel determinante no desfecho das próximas eleições ao canalizar maciçamente, cerca de 65% de acordo com as intenções, os seus votos para o candidato Lula da Silva, também ele nordestino.
João Pessoa não tem ainda aeroporto internacional e por isso, para o bem e para o mal, está fora dos circuitos turísticos. A norte, Natal, está a cerca de 180 Km e a sul, o Recife, a pouco menos e a estrada que a serve, o grande eixo N/S, em quase perfeitas condições de circulação se atendermos às grandes distâncias e ao facto de não estarmos na Europa.
Coincidiu a minha presença de dez dias em João Pessoa com a campanha eleitoral para as próximas eleições de Outubro e o que me foi dado observar nas ruas e na televisão dizem muito sobre as características desta comunidade e da forma como vivem a sua democracia.
Carros com aparelhagens sonoras debitando decibéis suficientes para qualquer concerto ao ar livre, centenas, senão milhares, principalmente de jovens e mulheres envergando t-shirtes todas iguais e empunhando grandes bandeiras com as cores e os símbolos dos partidos que agitam calmamente enquanto desfilam com vagar e de forma apática pelas ruas e praças mais concorridas da cidade.
Parados, em locais estratégicos, gigantones com perucas exuberantes e trajes de cores vivas que parecem nada terem a ver com as acções de campanha política antes com uma qualquer festa tradicional.
Em momento algum vislumbrei, da parte de qualquer um destes personagens, sinais de entusiasmo, alegria ou interesse. Apenas figurantes passivos que deveriam receber qualquer coisa e a quem não se pedia nada para alem de estarem ali.
Nos momentos televisivos de campanha eleitoral vê-se de tudo incluindo o inacreditável:
-Um candidato, pessoa de idade, quase completamente desdentado, de tronco nu e de gravata ao pescoço;
-Outro que aparece vestido de super-homem;
-Outro ainda com um chapéu com cornos à semelhança dos adornos de cabeça dos vikingues:
-E finalmente um outro que prometia dar a cada criança e a cada mulher nordestina respectivamente, um computador e uma máquina de lavar roupa.
O voto no Brasil é obrigatório por lei e todos estes candidatos não só vão receber votos como alguns irão ser eleitos…
Em contacto com os estrangeiros onde nós, portugueses, nos incluímos, revelam um enorme défice de auto-estima chegando mesmo, nas relações patrão-empregado e nos escalões profissionais mais baixos, a colocarem o olhar no chão incapazes de olhar olhos nos olhos.
De uma maneira geral revelam dificuldades no relacionamento connosco percebendo-se um certo deslumbramento e insegurança perante o estrangeiro, europeu ou americano a que muitos, indistintamente, chamam de “gringos”.
Muitos perguntam-nos qual a nossa nacionalidade com a desculpa de que são “duros de sotaque”.Respondemos que somos portugueses mas se nos afirmássemos, por exemplo, noruegueses, também não levantaria qualquer objecção mesmo quando nos fazemos entender na língua de Camões…
Numa abordagem descomprometida ouvem-nos aparentemente com muito interesse, quase desvanecidos e se usarmos de poder de convicção acreditarão em tudo quanto dissermos.
Já num relacionamento de trabalho que naturalmente envolva compromissos, responsabilidades, obrigações, deveres, para já não falar de pontualidade, assiduidade e iniciativa, o “panorama” não é nada favorável e disso se há-de ressentir muito e ainda por muito tempo o desenvolvimento económico de toda esta região pois os investidores estrangeiros vão torcer o nariz quando se aperceberem de uma mão-de-obra que de competitiva não tem nada.
Os investimentos turísticos efectuados nos últimos 10, 15 anos em Pipa, por estrangeiros não despertaram qualquer interesse nos brasileiros e como passaram de moda para os portugueses, de 8 aviões chaters semanais temos agora 1, o que lá fomos encontrar é a frustração de quem não sabe quando nem de onde virão os próximos clientes.
Mas em contrapartida desfrutamos da simpatia e disponibilidade das pessoas, das temperaturas amenas com amplitudes térmicas de um e dois graus, das ostras fresquinhas que nos vendem nas esplanadas das praias a preços mais que acessíveis, das águas do mar que quando entramos estão tépidas e à saída estão quentes e de preços que em número de reais correspondem ao mesmo número em euros mas em que cada euro vale quase três reais o que, tudo somado, dá razões, mais que suficientes, para irmos de abalada até João Pessoa.
Deixei para o fim o pôr-do-sol na praia do Jacaré ao som do Bolero de Ravel, ponto alto de uma visita a João Pessoa.
Por coincidência, nessa tarde, ele escondeu-se envergonhado encoberto pelas nuvens mas mesmo deixando passar apenas alguns dos seus raios não deixou de ser comovedor ouvir, primeiro, o saxofonista que em pé, num pequeno barquinho nos vai dando os primeiros acordes enquanto, suavemente, se aproxima.
De seguida, sabendo escolher o momento, de trás de nós, que estamos virados para o braço de mar e para o pequeno barco que transporta o saxofonista, começamos a ouvir também o violinista que se encaminha lentamente na direcção do pequeno cais para se juntar ao outro músico enquanto o Bolero vai ganhando cada vez mais expressão musical também por força do acompanhamento da orquestra que se vai ouvindo pelas colunas do sistema de som existente.
Entretanto, lá ao fundo, na outra margem, já não há vestígios do sol na linha do horizonte
Em suma, são momentos bem conseguidos.
Há, por favor, não esqueça de provar o Açaí.
É o fruto de uma palmeira da Amazónia de seu nome Euterpe Precatória cujo consumo está agora a difundir-se e a procura a aumentar a ritmo acelerado.
A sua polpa é utilizada para sumo e fabrico de gelados mas o seu delicioso sabor só é comparável ao seu potencial energético cientificamente comprovado.
Veja só, comparando com o leite de vaca:
-4 x mais poder energético;
-3 x mais lípidos;
-7x mais carboidratos;
-118 x mais ferro;
-9 x mais Vitamina B1;
-Proteínas e Cálcio equivalentes;
- Combate o Colesterol e os Radicais Livres.
É servido em tigelas meio congelado pelo que deve aguardar que chegue à temperatura natural para que não se perca para o frio nenhum dos seus sabores.
Para mim constituiu uma das melhores recordações da gastronomia natural que tive oportunidade de comer em João Pessoa.
Se lá for, não esqueça, Açaí.
Voltarei a João Pessoa aqui, no meu blog e espero que lá também.
JOÃO PESSOA
A cidade mais saliente de toda a América do Sul, João Pessoa, do Estado da Paraíba, é mais uma do nordeste brasileiro que se prepara, com os seus 34 milhões de eleitores espalhados pelos seus nove Estados, para ter um papel determinante no desfecho das próximas eleições ao canalizar maciçamente, cerca de 65% de acordo com as intenções, os seus votos para o candidato Lula da Silva, também ele nordestino.
João Pessoa não tem ainda aeroporto internacional e por isso, para o bem e para o mal, está fora dos circuitos turísticos. A norte, Natal, está a cerca de 180 Km e a sul, o Recife, a pouco menos e a estrada que a serve, o grande eixo N/S, em quase perfeitas condições de circulação se atendermos às grandes distâncias e ao facto de não estarmos na Europa.
Coincidiu a minha presença de dez dias em João Pessoa com a campanha eleitoral para as próximas eleições de Outubro e o que me foi dado observar nas ruas e na televisão dizem muito sobre as características desta comunidade e da forma como vivem a sua democracia.
Carros com aparelhagens sonoras debitando decibéis suficientes para qualquer concerto ao ar livre, centenas, senão milhares, principalmente de jovens e mulheres envergando t-shirtes todas iguais e empunhando grandes bandeiras com as cores e os símbolos dos partidos que agitam calmamente enquanto desfilam com vagar e de forma apática pelas ruas e praças mais concorridas da cidade.
Parados, em locais estratégicos, gigantones com perucas exuberantes e trajes de cores vivas que parecem nada terem a ver com as acções de campanha política antes com uma qualquer festa tradicional.
Em momento algum vislumbrei, da parte de qualquer um destes personagens, sinais de entusiasmo, alegria ou interesse. Apenas figurantes passivos que deveriam receber qualquer coisa e a quem não se pedia nada para alem de estarem ali.
Nos momentos televisivos de campanha eleitoral vê-se de tudo incluindo o inacreditável:
-Um candidato, pessoa de idade, quase completamente desdentado, de tronco nu e de gravata ao pescoço;
-Outro que aparece vestido de super-homem;
-Outro ainda com um chapéu com cornos à semelhança dos adornos de cabeça dos vikingues:
-E finalmente um outro que prometia dar a cada criança e a cada mulher nordestina respectivamente, um computador e uma máquina de lavar roupa.
O voto no Brasil é obrigatório por lei e todos estes candidatos não só vão receber votos como alguns irão ser eleitos…
Em contacto com os estrangeiros onde nós, portugueses, nos incluímos, revelam um enorme défice de auto-estima chegando mesmo, nas relações patrão-empregado e nos escalões profissionais mais baixos, a colocarem o olhar no chão incapazes de olhar olhos nos olhos.
De uma maneira geral revelam dificuldades no relacionamento connosco percebendo-se um certo deslumbramento e insegurança perante o estrangeiro, europeu ou americano a que muitos, indistintamente, chamam de “gringos”.
Muitos perguntam-nos qual a nossa nacionalidade com a desculpa de que são “duros de sotaque”.Respondemos que somos portugueses mas se nos afirmássemos, por exemplo, noruegueses, também não levantaria qualquer objecção mesmo quando nos fazemos entender na língua de Camões…
Numa abordagem descomprometida ouvem-nos aparentemente com muito interesse, quase desvanecidos e se usarmos de poder de convicção acreditarão em tudo quanto dissermos.
Já num relacionamento de trabalho que naturalmente envolva compromissos, responsabilidades, obrigações, deveres, para já não falar de pontualidade, assiduidade e iniciativa, o “panorama” não é nada favorável e disso se há-de ressentir muito e ainda por muito tempo o desenvolvimento económico de toda esta região pois os investidores estrangeiros vão torcer o nariz quando se aperceberem de uma mão-de-obra que de competitiva não tem nada.
Os investimentos turísticos efectuados nos últimos 10, 15 anos em Pipa, por estrangeiros não despertaram qualquer interesse nos brasileiros e como passaram de moda para os portugueses, de 8 aviões chaters semanais temos agora 1, o que lá fomos encontrar é a frustração de quem não sabe quando nem de onde virão os próximos clientes.
Mas em contrapartida desfrutamos da simpatia e disponibilidade das pessoas, das temperaturas amenas com amplitudes térmicas de um e dois graus, das ostras fresquinhas que nos vendem nas esplanadas das praias a preços mais que acessíveis, das águas do mar que quando entramos estão tépidas e à saída estão quentes e de preços que em número de reais correspondem ao mesmo número em euros mas em que cada euro vale quase três reais o que, tudo somado, dá razões, mais que suficientes, para irmos de abalada até João Pessoa.
Deixei para o fim o pôr-do-sol na praia do Jacaré ao som do Bolero de Ravel, ponto alto de uma visita a João Pessoa.
Por coincidência, nessa tarde, ele escondeu-se envergonhado encoberto pelas nuvens mas mesmo deixando passar apenas alguns dos seus raios não deixou de ser comovedor ouvir, primeiro, o saxofonista que em pé, num pequeno barquinho nos vai dando os primeiros acordes enquanto, suavemente, se aproxima.
De seguida, sabendo escolher o momento, de trás de nós, que estamos virados para o braço de mar e para o pequeno barco que transporta o saxofonista, começamos a ouvir também o violinista que se encaminha lentamente na direcção do pequeno cais para se juntar ao outro músico enquanto o Bolero vai ganhando cada vez mais expressão musical também por força do acompanhamento da orquestra que se vai ouvindo pelas colunas do sistema de som existente.
Entretanto, lá ao fundo, na outra margem, já não há vestígios do sol na linha do horizonte
Em suma, são momentos bem conseguidos.
Há, por favor, não esqueça de provar o Açaí.
É o fruto de uma palmeira da Amazónia de seu nome Euterpe Precatória cujo consumo está agora a difundir-se e a procura a aumentar a ritmo acelerado.
A sua polpa é utilizada para sumo e fabrico de gelados mas o seu delicioso sabor só é comparável ao seu potencial energético cientificamente comprovado.
Veja só, comparando com o leite de vaca:
-4 x mais poder energético;
-3 x mais lípidos;
-7x mais carboidratos;
-118 x mais ferro;
-9 x mais Vitamina B1;
-Proteínas e Cálcio equivalentes;
- Combate o Colesterol e os Radicais Livres.
É servido em tigelas meio congelado pelo que deve aguardar que chegue à temperatura natural para que não se perca para o frio nenhum dos seus sabores.
Para mim constituiu uma das melhores recordações da gastronomia natural que tive oportunidade de comer em João Pessoa.
Se lá for, não esqueça, Açaí.
Voltarei a João Pessoa aqui, no meu blog e espero que lá também.
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