terça-feira, outubro 31, 2006


POR QUE MENTEM OS POLÍTICOS

O Governo de Sócrates tem, ultimamente, sido acusado com insistência de faltar ao cumprimento das promessas efectuadas durante a campanha eleitoral e o 1º Ministro apontado como mentiroso por tudo quanto é oposição e manifestações de rua.

Se recuarmos no tempo iremos encontrar o mesmo tipo de acusações relativamente aos governos e 1ºs Ministros do pós 25 de Abril excepção feita, talvez, ao da Engª. Lurdes Pintassilgo pelas suas características especiais.

No último processo eleitoral, depois do descalabro que tinha sido a passagem pelo governo de Santana Lopes, fui assistir à reunião de campanha do PS que teve lugar no edifício do CNEMA, aqui, em Santarém.

Esperava-se e desejava-se uma vitória por maioria absoluta do Partido Socialista para que o Eng. Sócrates, político que já tinha dado provas de grande determinação e pragmatismo, pudesse executar o seu programa com estabilidade porque os males eram graves, profundos, como se diz, estruturais e consequentemente iriam necessitar de uma acção continuada por toda uma legislatura para que o muito que havia a ser feito o pudesse ser ou pelo menos iniciado de forma irreversível.

Todas as pessoas sensatas percebiam que havia no país um grave desequilíbrio entre aquilo que o Estado recebia e o que gastava e como não há milagres, pelo menos nesta área, eram inevitáveis sacrifícios que iriam recair sobre toda a população e serem sentidos de forma mais dolorosa pelos mais pobres porque essa dos “ricos que paguem a crise” é demagogia barata do PCP.

Em uma qualquer situação de dificuldades os mais frágeis são sempre, inevitavelmente, os que mais sofrem.

Esperava eu, portanto, no início do Comício, que iria ouvir o presumível futuro 1º Ministro alertar os portugueses para a necessidade de arregaçarmos as mangas para trabalharmos melhor, de forma mais eficiente e contermo-nos todos nos gastos porque se a produção da riqueza não aumenta facilmente de um dia para o outro já a redução das despesas se poderia começar a fazer de imediato.

Mas a minha expectativa saiu completamente lograda pois tudo quanto ouvi foram palavras cor-de-rosa, promessas de um futuro melhor, sem um apelo à nossa capacidade de sacrifício ao, esforço e ao rigor.

Ao contrário, a riqueza iria aumentar, não haveria necessidade de subir impostos ou fazer despedimentos na Função Pública.

Fiz nessa altura um texto para o meu blog queixando-me que aquele discurso não era sincero, mobilizador, politicamente honesto, era apenas mais uma intervenção de campanha eleitoral para atrair votos ou, pelo menos, não os afastar.

Sabendo, todos nós, como estava o país esta era a única leitura possível.

Todos os partidos políticos para alcançarem ou manterem o poder em democracia, mais ou menos, mentem, ocultam ou distorcem a realidade. Haja em vista aquela cassete que recentemente veio a público do 1º Ministro Húngaro em que claramente o admitia.

A Democracia é um Regime Político exigente e de responsabilidade para todos, implica cultura cívica e um razoável nível geral de informação e isto é impossível de atingir quando em Portugal o nível de literacia dos nossos alunos em leitura, matemática e ciências é dos mais baixos da OCDE, de acordo com um estudo relativamente recente de uma Agencia Internacional, É o bê-á-bá e pouco mais.

Se não entendemos o que lemos, não entendemos o que ouvimos e não percebemos o que se passa à nossa volta, no nosso país, no mundo e não conseguiremos integrarmo-nos num processo de produção que nós não ditamos mas que temos de acompanhar para não ficarmos à margem, excluídos.

E, sendo assim, os nossos políticos vão ter que continuar a mentir para nos convencerem a entregarmos-lhe os nossos votos.

Passámos definitivamente aquela fase em que o poder se alcançava pelo recurso à violência e se mantinha com a ajuda das forças militares ou militarizadas, da censura e privação das liberdades e isto constituiu um enorme avanço das nossas sociedades mas ainda não conseguimos dispensar a mentira, as verdades enviesadas e as subtilezas dos discursos como estratégia de conquista e manutenção do poder.

Vai ter que passar ainda mais tempo e investir em força numa educação que nos torne mais aptos para vivermos num mundo cada vez mais exigente.




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