Episódio Nº 97
Onde posso encontrar o demónio branco?
A mulher abanou a cabeça.
- Não
tenteis matá-lo. Não sois forte como ele. Nem eu o consigo, mesmo com as minhas
artes.
Mem duvidou dela e disse:
- Todos
os homens podem ser mortos, mesmo os mais perigosos.
A mulher abanou a cabeça outra vez,
contrariando-o e declarou:
- Este só pode ser morto pelo califa. Ou por
um rei.
Mem, espantado, perguntou:
- O califa vai voltar?
A mulher confirmou que outro Califa
voltaria, mas só dali a muitos anos. E adiantou que, não havendo ainda rei
naquelas terras, talvez fosse por enquanto impossível matar o homem que cortara
a cabeça ao pai de Mem Ramires.
Depois acrescentou.
-
Mas outros virão à minha procura, sou a única que conhece o segredo do homem
velho das barbas.
O almocreve estava cada vez mais baralhado
e suspirou desolado.
- Não
compreendo o que dizeis.
Ela olhou para o céu onde uma leve luz
clareava no já longínquo horizonte a leste e resmungou:
- Um
dia ireis compreender.
Depois, como se estivesse a falar consigo
mesma, murmurou.
- Eram
três, o que já morreu e mais dois, mas outro morrerá em breve. O último não me
pode ver senão vai recordar-se.
Calou-se, espevitou a fogueira e foi
buscar um vaso de água, por onde bebeu. Só depois voltou a falar, olhando para
Mem, como se lhe confidenciasse um segredo.
Se perguntarem por mim, dizei que sou
louca.
Mem estava espantado. Aquela mulher sabia
muito sobre ele e, no entanto, pedia-lhe ajuda, mostrando-se vulnerável, quase
assustada.
Curioso, interrogou-a.
- O
homem que degolou o meu pai quer matar-vos?
A mulher suspirou, mas não respondeu à
pergunta dele, como se a não tivesse escutado, pois disse:
-
Por uma razão ou por outra, todos vão querer matar-me, cristãos e mouros. Mas só
um rei saberá a minha verdade, se as mouras não partirem daqui antes desse dia.
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