sexta-feira, agosto 05, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)





Episódio Nº 55



















A ausência de companhia feminina desconsolava-o e lamentava ser a povoação um ermo tão solitário que nem as soldadeiras lá iam.

- Terei de convencer algumas para voltarem comigo – afirmou.

Ao ouvi-lo, Teresa de Celanova insurgiu-se contra aquele permanente recurso dos homens, um pecado aos olhos de Deus.

- Gonçalo, não amais a princesa Zaida? – Melhor seria levá-la convosco!

O visado olhou para Afonso Henriques e resmungou:

 - Este mafarrico não deixa... É como o avô, quer tudo para ele.

Irritado, Gonçalo acusou o príncipe de Portugal de açambarcar as mulheres por quem ele se enamorara. Primeiro, Elvira Gualter, que Gonçalo descobrira e agora dera uma filha a Afonso Henriques e depois Zaida que, obviamente, o príncipe também cobiçava, razão pela qual o enviara para o exílio de Celmes.

No seu canto, Elvira prontamente negou aquela narrativa.

- Jamais vos quis, Sousinha! Meu coração foi sempre do príncipe!

Exaltado o alcaide de Celmes, considerou-a uma interesseira, ao que a serena e imponente normanda respondeu:

- Descansai, sei bem o meu lugar.

Sempre simples e honesta, Elvira Gualter, recordou-nos que apesar de ser mãe da primeira filha do príncipe de Portugal, mais nenhuma honraria desejava.

Sem ponta de ciúme e fiel à sua antiga crença de que aqueles dois deviam ficar juntos, a bondosa normanda virou-se para Afonso Henriques e incentivou-o:

 - Ide ter com Chamoa, livrai-a das garras do Trava!

Enervado, o meu melhor amigo, resmungou:

 - Parai com esses disparates! Não quero Chamoa, nunca mais!

Perante aquela reveladora rejeição, Gonçalo de Sousa concluiu:

 - É evidente, desejais a minha Zaida!

O príncipe tranquilizou-o, tal não passava de um tonto receio.

Estou bem com quem estou.

Depois levantou-se, foi ao canto da sala, erguendo do berço uma criança com poucos meses, que exibiu a todos.

Eis a primeira filha de Afonso Henriques,! Será a próxima rainha portucalense!

Muitos sorriram, mas a mãe da menina duvidou de tal futuro e lançou mais uma das suas famosas profecias:

 - Os meus deuses do Norte revelaram-me que, daqui a muitos invernos, casareis com uma princesa estrangeira, que vos dará herdeiros legítimos. Um deles será rei!

O príncipe sorriu à mulher que lhe aquecia os pés à noite e sugeriu:

 - Posso sempre casar-me convosco...

A determinada recusa de Elvira Gualter evitou que alguém se tivesse de declarar em público contrário àquele matrimónio.

Comigo não ireis casar! Onde já se viu? Um príncipe, neto do imperador da Hispânias, desposar uma taberneira, ainda por cima descendente de bandidos normandos?

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