quinta-feira, maio 11, 2006

O (meu) Open do Estoril e a tenda dos VIPs




Finalmente, por amável convite e à boleia do Miguel, que não gosta de ténis mas gosta de Vips e me levou, a mim, que não gosto de Vips mas gosto de Ténis, ao Open do Estoril.

Todos os jogos começam por ser formas de entretenimento adquirindo mais tarde a dignidade de quem com eles se entretém, e porque assim é alguns passam a ser procurados como forma de promoção social porque sempre fica bem brincarmos da mesma forma que as pessoas ricas e importantes brincam para nos parecermos e confundirmo-nos com elas.

O ténis, jogado inicialmente nos campos que os ricos mandavam construir por entre os jardins das suas casas apalaçadas estava destinado, por esta razão, a desporto de elite e quando havia torneios era coisa para “inglês” ver porque também ninguém percebia um desporto em que os pontos em vez de se contarem normalmente: um, dois, três e por aí fora…começam em quinze, trinta e quarenta, vantagens para aqui, vantagens para ali, jogo, set, partida, mesmo coisa que só podia ser inventada por ricos para confundir a cabeça dos pobres.

Nunca vi nenhum vaidoso da minha cidade entrar no café numa manhã de sábado sobraçando um saco de berlindes ou uma simples bola de futebol, mas já lá os vi a passearem a raquete de ténis debaixo do braço.

Foi assim que nasceu a história dos Vips associada ao ténis.

Não fora o 25 de Abril e o poder Autárquico a construir campos de ténis por esse país fora e a tornar acessível a sua prática ao comum das pessoas, especialmente os jovens e ainda hoje os havíamos de ver a pavonearem-se com a raquete de ténis transformada em objecto de adorno as pessoas do costume armadas em “very important pearsons”.

De certa forma a democracia “estragou” o Ténis e agora pouco há fazer para além de terem que se refugiar no golfe ou no sky na Serra Nevada, na vizinha Espanha, para já não falar nos Alpes Suíços.

Salvou-se a Tenda dos Vips no Open de Ténis do Estoril, já sem as raquetes debaixo do braço mas com o mesmo ar de convencidos, puloveres de marca por cima dos ombros, displicentemente, taça de champanhe na mão, chegando-se “como quem não quer a coisa” para junto de algum “mediático” porque com tantos fotógrafos há sempre a hipótese de ficarem num “boneco”.

E eles lá estavam, os mediáticos: o incontornável, inefável e inevitável Scolari com o inseparável e pegajoso do Madaíl, mais os Vilarinhos e os Soares Francos e o Joaquim de Almeida, com o seu novo visual de barbas, enquanto decorria um desfile de moda da Massimo Dutti acompanhado por um grupo musical que abrilhantava ( vem de brilhantina) com música típica do sul de Itália com o nosso familiar e saudoso acordeão a fazer lembrar os bailes da minha aldeia nos anos cinquenta.

E os jovens, estilizados, ou eram marionetas, não reparei bem, lá iam desfilando como autómatos movidos a pilhas, antigamente teria sido a cordas, passavam a dois passos de mim, pensei eu que era ao vivo mas estavam tão mortos como quando os vejo na televisão, nos seus rostos não há expressão nem humanidade e eu pergunto a mim próprio se é preciso aquilo para vender umas camisolas ou umas calças.

À saída da Tenda (com letra maiúscula porque é dos Vips), num espaço reservado no lado direito, três senhores refastelados em três cadeirões tremiam tanto que mais pareciam acometidos de ataques epilépticos e logo uma jovem completamente industriada se aproximou para me elucidar das vantagens das massagens ao que lhe respondi que não estava interessado nos cadeirões apenas tinha parado porque me pareceu que as pessoas podiam estar a sentirem-se mal tal era a tremedeira…

No que respeita ao “desportivo” propriamente dito tive oportunidade de assistir à surpreendente vitória do nosso Gil que é o 200 e muitos do mundo com um russo, 2 metros de altura e serviços a velocidades entre os 200 e 220 de tal forma que o Gil tinha que o esperar mais de três metros atrás da linha da linha de fundo mas como os lugares do ranking não ganham jogos o “comprido” começou a enervar-se com o público, com o Gil que do outro lado se deslocava, entre os serviços, como se fosse uma lesma esgotando ao máximo os 20 segundos do regulamento e em vez de pontos começou a somar asneiras e o Gil aproveitou…mas o futuro dele ao mais alto nível vai ser apenas o de aproveitar…oxalá me engane.

A seguir tive oportunidade de ver o Carlos Moya com um argentino, bom jogador, que não conhecia, com uma esquerda muito bonita a uma mão mas que naturalmente não chegou para um Moya que já foi número um do mundo e que também ele surpreendeu, já lá vão uns anos, numa final do Open da Austrália batendo o então favoritíssimo Pete Sampras num jogo de que me recordo perfeitamente e por isso foi um prazer para mim vê-lo ao vivo depois de o ver na televisão durante tantas horas ao longo dos anos agora já em fim de carreira com 32 anos de idade e a quem os espanhóis apelidaram de “ el matador” mas que, apesar do título, teve sempre com um comportamento no corte perfeitamente irrepreensível.

Talvez para o ano vá lá outra vez se arranjar um GPS que de Santarém me leve lá direitinho. Dessa vez serás tu meu convidado não para o Pavilhão Vip mas para vermos em conjunto os jogos desse dia OK?

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