quinta-feira, julho 14, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 41




















Como conhecia as ruínas por ter passado lá perto várias vezes nas suas viagens comerciais, Mem podia juntar-se ao cordovês na velha povoação, à procura da relíquia do conde Henrique.

- Para quê perder tempo? – ripostara Zaida – Se Sohba onde está o tesouro é mais fácil descobri-la em Lisboa e levá-la a Sellium.

E estaria Sohba em Lisboa? Ao falar dela Mem sentiu saudades. Nutria um verdadeiro sentimento de gratidão para com aquela misteriosa e idosa senhora de negro.

Depois do que haviam passado juntos, mantivera-se vivo um elo de forte cumplicidade entre eles. Mem era o único que não lhe chamava bruxa nem a temia.

- Sohba gosta de vós – reconhecera Zaida com um sorriso meigo e já prometedor, acrescentando – como todas as mulheres...

Porém, o almocreve temia os riscos da aventura. Equilibrar-se naqueles tempos duvidosos era uma arte difícil.

- Há guerras na Andaluzia. Afonso VII combate os mouros e estes lutam entre si. Irem para Córdova agora é arriscado – recordara.

Sem qualquer sinal de desânimo, Zaida contrapusera o argumento de que Zakharia era um grande combatente, seria capaz de as levar até lá sãs e salvas.

Além disso, o governador de Córdova, chamado Ismar, um árabe andaluz que odiava os berberes e o califa Ali Yusuf, certamente as iria receber de braços abertos no Azzahrat.

Tudo é frágil nestes tempos – murmura Mem, preocupado.

Sentindo-o hesitante, Zaida encostara-se a ele, o seu peito tocando-lhe no antebraço. Mem escutara o coração a acelerar. Recordava os seios cheios dela, pressionados contra as costas dele e relembrara-se da primeira vez que os tinha beijado.

Fora ali mesmo, naqueles banhos públicos à porta dos quais estavam agora.

Memória quente anima a gente.

Como fazia muito calor, Mem sugerira que entrassem no local que em breve seria destruído devido à construção do mosteiro de santa Cruz.

Porém, ao verem várias pessoas lá dentro, Zaida deduzira que os cristãos não iriam aceitar tais liberdades em público.

- É melhor voltarmos à noite – dissera ela.

Mem prometera então descobrir quem roubara o punhal de casa das irmãs e dirigira-se às portas da cidade, à Sé e à alcáçova fazendo aqui e ali discretas perguntas, ficando a saber que no dia do assalto á casa das mouras, Ramiro havia chegado de manhã a Coimbra, trazendo à pendura o Velho, que, no entanto, já não acompanhara o jovem templário de regresso a Soure.

Ao princípio da noite, Zaida regressara e depois de Mem revelar que o autor devia ter sido o Velho, os dois dirigiram-se de novo aos banhos públicos e haviam, entrado, avançando até próximo da piscina onde, anos antes, ambos se tinham banhado com Zulmira.

Nesse momento, a nostalgia invadira Mem, que suspirara.

 - Que foi? – perguntou Zaida.

O almocreve murmurara:

 - Todos os dias me lembro de vossa mãe.

Zaida comovera-se e chorara durante algum tempo, encostada ao ombro dele.

Por fim, limpara as lágrimas ao lenço e desabafara:

 - Não aguento mais esta cidade.

A sua vontade de regressar a Córdova, uma de onde tinha saído em criança, era suplantada pelo irresistível desejo de fuga de Coimbra, onde as recordações da mãe lhe eram insuportáveis.

- Tirai-me daqui, Mem, por favor! - pedira

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