quinta-feira, junho 15, 2006

"Pieguices" e outras homenagens...




A propósito de Pieguices…



O Sr. Sidney Brenner que nasceu em 1927, na África do Sul, filho de judeus, entrou para a escola, como quase todos nós, aos 6 anos de idade, simplesmente, ele foi directamente para a 4ªclasse…

Foi ele que lançou as bases da biologia molecular e finalmente, aos 79 anos, lá recebeu o Prémio Nobel. É hoje um professor emérito e continua a investigar porque, com estes homens, “o bichinho” de aprender só morre quando eles morrerem.

Pois bem, de passagem pelo nosso país, afirmou que a questão mais importante da biologia é a forma como os genes se relacionam com aquilo que nós somos e eu achei esta afirmação muito interessante porque eu gostava de acabar os meus dias numa conversa descontraída, amena mas interessada com os meus genes mas não sei como o fazer, que raio de linguagem usar, mas como tu percebeste, o Sr. Prof. disse: a forma como os genes se relacionam connosco e não o contrário. Nós não temos acesso a eles. Eu, sou eles, nós, somos eles, mas não só e o que fica de fora é o segredo, o mistério da vida humana porque nos outros, os restantes seres vivos, não há mistério, neles, está tudo e só nos genes.

A minha mãe, a tua avó Mimi, que não conheceste, só ia ao cinema ver dramas e carregava na sua mala de senhora uma provisão de lencinhos para aparar as lágrimas durante o espectáculo e tu, com certeza, lembras-te bem da componente piegas da personalidade do teu pai?

Era o gene da pieguice a impor a sua lei ou a estabelecer a confusão? Serei eu piegas ou, em vez disso, um sentimental ou um romântico?

Quando Fernando Pessoa dizia que as cartas de amor eram ridículas porque se o não fossem não eram de amor estaria ele, por outras palavras, a chamar de piegas aos autores dessas cartas?

Quando, aos 14 anos, me enternecia a ler os romances “mentirosos” de Júlio Diniz, de leitura obrigatória pelo regime de Salazar, estava a ser piegas e, sendo assim, a pieguice terá sido uma arma utilizada pela ditadura para melhor controlar o povo?

Por que me enterneço? Porque sou piegas ou apenas um incorrigível sentimental?

A Pieguice será um gene indefinido, frágil, perigoso, armadilhado porque nos tolda o raciocínio e nos torna fracos, que nos retira a força porque nos faz comover, ou qualquer “coisa” que nos dá um toque de humanidade e desperta em nós comportamentos altruístas?

E hoje, fico-me por aqui, porque me apetece chorar de pieguice porque o Alexandre, meu colega e amigo da juventude, morreu roído pelo cancro depois de um lindo romance de amor que começou com a sua Maria Bela, ainda não tinha 14 anos, sua namorada de toda uma vida até ao momento em que exausto de sofrer, reduzido na sua expressão física que não na capacidade de a amar, lhe disse:

-“Agora, meu amor, vou ter que te deixar, vais ter que continuar sem mim
”…

Site Meter