(Domingos Amaral)
Episódio Nº 42
Zaida desejava regressar
para junto de sua mãe e de seu pai ambos enterrados no pequeno mausoléu onde
estavam também depositados os restos mortais do avô das raparigas, Hixam III, o
último califa de Córdova.
- Levai-me para lá Mem querido – insistira
Zaida.
Fora aquele segundo, Mem querido que precipitara o momento.
Zaida tirara o vestido e entrara na água nua. O almocreve fizera o mesmo e, já
dentro da piscina, enlaçara o corpo dela, enquanto fechava os olhos e se
recordava de Zulmira. As mãos que o tocavam agora pareciam as dela.
- Sois tão bela como a vossa
mãe – murmurou ele.
Zaida sorrira-lhe e dissera:
- Eu sou a minha mãe.
O almocreve permaneceu de
olhos fechados imaginando o que era mesmo que era mesmo Zulmira que estava ali,
já longínquo, encostada à borda da piscina, de costas para ele.
- Eu sou a minha mãe - repetira Zaida.
Mem encaixara-se nela e de
repente recordava-se de que da outra vez tinham sido interrompidos pelo berro
de Fátima, vindo da rua.
Agora, não havia ninguém a
gritar, mas a lembrança perturbou-o.
Coração alarmado, coito parado...
Se Zaida era Zulmira, não
podiam continuar na piscina, pois ali nada mais acontecera a não ser uma
interrupção desagradável das carícias.
- Vamos – dissera então Zaida sentindo o mal
- estar dele.
A rapariga dirigira-se ao
corredor e Mem ouvira-a nos seus afazeres íntimos, enquanto se secava. Avançara
depois até uma pequena salinha onde existia um colchão e Zaida viera ter com
ele, sorrindo e já pronta.
Mem abraçara-a de novo e
beijara-a na boca e fechara os olhos e vira a mãe dela.
Mãe amorosa, filha dengosa...
Fora ali que Zaida o tentara
enganar, gemendo de dor e mostrando os vestígios da quebra da virgindade no
colchão. Mem sorrira e agradecera-lhe ter cumprido a jura que um dia lhe
fizera.
Mesmo sabendo que ela o
enganara, não valia a pena estragar o momento e mostrara-se encantado.
Tal como um dia fizera a
Zulmira, prometera a Zaida ser seu criado, o seu anjo da guarda, o seu soldado
mais feroz que a poria a salvo de qualquer demónio, com uma lealdade cega que
não exigia qualquer contrapartida.
Infinitamente grata, Zaida
comovera-se com tanta dedicação e entregara-se novamente com doçura e
atrevimento, levantando para ele as nádegas.
Rabo arqueado, menino
consolado...
Mais tarde, Mem a deixou em
casa, sabia que por causa daquela bela moura iria a Lisboa, a Córdova, ao fim
do mundo, se fosse preciso, mas nunca esqueceria o seu estatuto menor.
Podia tomá-la como um dia fizera
a Zulmira, mas nunca seria mais do que um leal amigo, pois, tal como a mãe,
Zaida era uma princesa e as princesas não casavam com almocreves.
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