sexta-feira, julho 15, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 42





















Zaida desejava regressar para junto de sua mãe e de seu pai ambos enterrados no pequeno mausoléu onde estavam também depositados os restos mortais do avô das raparigas, Hixam III, o último califa de Córdova.

 - Levai-me para lá Mem querido – insistira Zaida.

Fora aquele segundo, Mem querido que precipitara o momento. Zaida tirara o vestido e entrara na água nua. O almocreve fizera o mesmo e, já dentro da piscina, enlaçara o corpo dela, enquanto fechava os olhos e se recordava de Zulmira. As mãos que o tocavam agora pareciam as dela.

- Sois tão bela como a vossa mãe – murmurou ele.

Zaida sorrira-lhe e dissera:

 - Eu sou a minha mãe.

O almocreve permaneceu de olhos fechados imaginando o que era mesmo que era mesmo Zulmira que estava ali, já longínquo, encostada à borda da piscina, de costas para ele.

- Eu sou a minha mãe -  repetira Zaida.

Mem encaixara-se nela e de repente recordava-se de que da outra vez tinham sido interrompidos pelo berro de Fátima, vindo da rua.

Agora, não havia ninguém a gritar, mas a lembrança perturbou-o.

Coração alarmado, coito parado...

Se Zaida era Zulmira, não podiam continuar na piscina, pois ali nada mais acontecera a não ser uma interrupção desagradável das carícias.

 - Vamos – dissera então Zaida sentindo o mal -  estar dele.

A rapariga dirigira-se ao corredor e Mem ouvira-a nos seus afazeres íntimos, enquanto se secava. Avançara depois até uma pequena salinha onde existia um colchão e Zaida viera ter com ele, sorrindo e já pronta.

Mem abraçara-a de novo e beijara-a na boca e fechara os olhos e vira a mãe dela.

Mãe amorosa, filha dengosa...

Fora ali que Zaida o tentara enganar, gemendo de dor e mostrando os vestígios da quebra da virgindade no colchão. Mem sorrira e agradecera-lhe ter cumprido a jura que um dia lhe fizera.

Mesmo sabendo que ela o enganara, não valia a pena estragar o momento e mostrara-se encantado.

Tal como um dia fizera a Zulmira, prometera a Zaida ser seu criado, o seu anjo da guarda, o seu soldado mais feroz que a poria a salvo de qualquer demónio, com uma lealdade cega que não exigia qualquer contrapartida.

Infinitamente grata, Zaida comovera-se com tanta dedicação e entregara-se novamente com doçura e atrevimento, levantando para ele as nádegas.

Rabo arqueado, menino consolado...


Mais tarde, Mem a deixou em casa, sabia que por causa daquela bela moura iria a Lisboa, a Córdova, ao fim do mundo, se fosse preciso, mas nunca esqueceria o seu estatuto menor.

Podia tomá-la como um dia fizera a Zulmira, mas nunca seria mais do que um leal amigo, pois, tal como a mãe, Zaida era uma princesa e as princesas não casavam com almocreves.

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