segunda-feira, julho 18, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio nº 44




















No final da missa, Fernão Peres de Trava veio ter com ele. O alto e bem parecido galego continuava sombrio e Afonso VII concluiu que ele nunca recuperara totalmente da morte da sua grande paixão, Dona Teresa de Portugal, a mãe de Afonso Henriques.

- O meu homem de Soure já chegou. Trouxe-me isto...

O Trava entregou ao rei de Leão um bonito punhal, com uma pérola no topo do cabo e a palavra Sellium gravada de lado. A sua companhia de galegos morrera junto ao rio Nabão e a arma fora roubada pelo seu fiel espião, que vivera vários anos integrado, em segredo, na Ordem do Templário de Salomão, em Soure.

- E a relíquia? – perguntou Afonso VII.

O Trava abanou a cabeça desconsolado. Os seus homens não tinham encontrado o sagrado artefacto do conde Henrique.

- Não há maneira! – irritou-se Afonso VII.

Fora por não ter conseguido extrair ao conde Henrique o esconderijo da famosa relíquia que Dona Urraca o mandara envenenar, coisa que Afonso Henriques jamais esquecera.

- De quem era este punhal? – perguntou o monarca.

A arma pertencera ao já falecido Paio Soares, antigo alferes do conde Henrique, que o acompanhou até ao esconderijo do tesouro.

- Paio Soares – suspirou Afonso VII – Minha mãe estimava-o mas ele nunca lhe revelou esse segredo.

Dito isto, o rei de Leão quis saber quais seriam os próximos passos do Trava. Desejava fortemente a relíquia, pois queria oferecê-la ao antipapa Anacleto, para que este o apoiasse no desejo de se coroar imperador das Hispânias, sucedendo ao seu avô Afonso VII.

Enviarei o meu homem sozinho. Dará menos nas vistas. Mas antes devíamos atacar Celmes! – Propôs Fernão Peres.

Afonso VII reflectiu em silêncio. As lutas mais ferozes contra Afonso I de Aragão, travam-se sempre no verão, tal como as que o opunham aos almorávidas. Talvez fosse possível cercar Celmes um pouco antes do final do próximo inverno. Porém, não podia dispensar demasiadas tropas para essa aventura.

Só há quinhentos portucalenses por lá, serão fáceis de derrotar – garantiu Fernão Peres de Trava.

Afonso Henriques, perdido o castelo de Celmes, certamente atacaria Tui ou Límia em retaliação. Como o príncipe de Portugal não tinha vastas tropas, teria de trazer as que se encontravam em Coimbra ou mais a sul no fossado liderado por Peres Cativo.


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