segunda-feira, julho 18, 2016

Praia de Carcavelos, grande e espaçosa que ela era.
Ir a banhos...






















Antigamente, quando eu era menino, não se ia de férias, ia-se a banhos. Férias, era uma palavra ainda estranha e desconhecida que havia de aparecer mais tarde, com as justas reivindicações dos trabalhadores mas, na década de quarenta, logo a seguir à 2ª GG, eram apenas os ricos e os burgueses que se permitiam esses novos hábitos.

O comboio da Linha do Estoril chegava, então, apenas à praia de Santo Amaro de Oeiras e o meu pai, um dos poucos felizardos que tinha automóvel, um Vauxhall, preto, já se vê, permitia-se o luxo de nos levar, ele não, a minha mãe que era a condutora por excelência lá de casa, à praia de Carcavelos, logo a seguir à de Santo Amaro, e que ainda não era servida de transporte público.

Era uma praia muito maior, desafogada, com um enorme areal, o dobro do que é hoje, de mar mais aberto e com ondas que a de Santo Amaro praticamente não tinha, e ondas era o que eu mais apreciava em miúdo.

Não sabia nadar porque, o que eu gostava mesmo, era de furar ondas, e nos dias em que não as havia o mar perdia o interesse para mim.

Retenho, pelos meus olhos de criança e como memória de infância, a praia de Carcavelos. Os homens com fato de banho de duas peças e as senhoras de saiote, e muito desafogo no areal, nada de congestionamentos.

Os veraneantes alugavam uma barraca, ainda longe da linha de água, onde se resguardavam do vento e do sol, pois então ainda ninguém se queria bronzear, modas que haviam de chegar muito mais tarde juntamente com o cancro da pele.

Pelo contrário, as pessoas evitavam o sol directo. Estavam lá pelos ares, pelo iodo, a receita dos médicos mais avançados.

Para além das ondas, para mim, o melhor da praia, eram as bolas de berlim e a bolacha americana. Afundava os dentes naquela massa deliciosa polvihada de açúcar sem cremes parvos, como hoje as vendem para compensar a falta de qualidade que tinha então.

A bolacha americana era uma atracção... os meninos eram tentados por uma rodinha que eles accionavam e que depois de parada indicava quantidade a que tinha direito pelo dinheiro que pagara. Era a “roleta da bolacha americana”.

Como estou grato aos meus pais por estas recordações que preencheram a minha infância tal como, mais tarde, na juventude, as férias na aldeia dos meus avós, hoje terras de fantasmas, enriqueceriam as minhas memórias.

Hoje, vou uns dias ao Algarve e gosto ainda, quando está maré baixa, de dar um passeio com a minha mulher, junto à linha de água. Nada de exposições ao sol, na areia, bem como banhos porque já não consigo vencer a resistência do meu corpo, quentinho, para entrar na água fria... 

Quanto ao resto, aprecio ler o jornal na mesa da esplanada do restaurante montado sobre a areia que é uma forma discreta de ir à praia...

Há setenta anos que vou a banhos, mas os de hoje estão ajustados à idade, que é algo que fazemos naturalmente e tem a ver com o curso da vida que é muito diferente da que era antigamente, nos meus tempos de menino.

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