sábado, novembro 18, 2006

Gato Fedorento - Paulo Bento

Danificar a camisola e o clube!

quarta-feira, novembro 15, 2006

O Economista que veio das Beiras


O ECONOMISTA QUE VEIO DAS BEIRAS

Sempre simpatizei com a pessoa do Dr. Silva Lopes por razões que têm a ver com a sua maneira particular de se relacionar com o Poder e de se expressar quando é chamado a dar a sua opinião sobre a matéria em que é especialista: a economia e muito especialmente, a economia deste país após o 25 de Abril.

Chamo-lhe “o Economista que veio das Beiras” porque a experiência de vida dos anos da sua infância e juventude nas terras remotas de uma aldeia, lá no Concelho de Seia, nos inícios dos anos 30, continuam de tal forma presentes que ontem, ao ouvi-lo, quase que o confundia com os velhos de excelência da minha aldeia, também na Beira mas Baixa, que quando falavam juntavam sempre pessoas à sua volta que em silencio e respeitosamente escutavam as palavras sábias que seriam sempre lembradas para o resto da vida.

…Já lá dizia um velhote da minha aldeia…

O seu discurso não é fluido, as palavras saem com dificuldade e às vezes não saem mesmo e ele vai procurar outras e depois temos a linguagem gestual dos braços, mãos e dedos que se movimentam em apoio às palavras, muito à boa maneira latina, porque a comunicação não tem apenas a ver com a palavra como todos sabemos.

Há quem não precise, há mesmo os que dizem que o gesto é feio mas eu aprecio as expressões do rosto e as mãos que falam e que emprestam ao discurso mais força e convicção.

A menos que o orador se chame António Vitorino ou mais ainda António Guterres que é como se nunca falassem de improviso pois tudo quanto dizem “foi previamente escrito” com todo o cuidado numa “folha” sempre disponível para o efeito dentro do seu cérebro.
Mas o Dr. Silva Lopes tem, para alem da sabedoria dos livros, a sabedoria dos muitos anos que já viveu, das muitas experiências de governação por que passou, das muitas pessoas importantes que conheceu e com quem conviveu e ainda a grande vantagem de ter podido olhar a vida da cidade, do país e do mundo com os olhos de um “miúdo” esperto que veio da aldeia onde se vivia ainda como no tempo do Afonso Henriques.

O seu currículo não o deslumbra porque se percebe que a sua humildade intelectual é autêntica.

O mundo que o esperava à nascença e que o rodeou na sua infância constituiu a amarra que o prendeu sempre à terra e o impediu de sonhar para alem da realidade.

Sonhar era bom para os meninos da cidade que nunca andaram descalços por ruas feitas de tojo misturado com o estrume do gado ou beberam a água da fonte que as raparigas carregavam em bilhas à cabeça pujantes de força e de esperança no rapaz com quem haveriam de casar.

O deslumbramento também não era para ele, que era da província, onde ninguém se deslumbrava por não haver com quê e por isso sempre se questionou com os grandes investimentos públicos, faraónicos, os chamados “elefantes brancos”, de rentabilidade duvidosa, que só se faziam por que era com o dinheiro do Estado e satisfaziam mais o ego de quem os promovia do que as necessidades prioritárias do país.

Também nunca entendeu a política de facilidades de certos pedagogos do pós 25 de Abril porque o país e o futuro ganham-se com trabalho, exigência, vencendo dificuldades e sem um ensino de qualidade não há portugueses de qualidade.

Olha para o passado como quem desfolha um álbum de fotografias e vai tecendo as suas considerações aqui e ali, assinalando os momentos mais difíceis e as fases em que até tudo correu bem, embora não saiba como nem porquê, e as outras, aquelas em que ele assistiu calado a decisões erradas porque nunca foi dono do Poder nem da Verdade e além disso…ele foi sempre o “miúdo” esperto que veio lá das Beiras para a Cidade para dar uma ajudinha aos senhores que cá estavam.

Continua activo, em funções de responsabilidade que foram sempre as suas mas, como bom provinciano, continua desconfiado sobre o futuro do país e a sua capacidade de pagar certas pensões tão elevadas que pesam já, maioritariamente, nos impostos de quem trabalha e, quanto a “direitos adquiridos”, estamos conversados… a Maria Antonieta também os tinha e, no entanto, cortaram-lhe a cabeça.

Por isso, está conformado quando tiver que abdicar de parte das suas chorudas reformas… de qualquer forma ele foi sempre um “miúdo esperto” lá da aldeia onde até mesmo aqueles que nada tinham conseguiam economizar para pagar ao Sr. Dr. quando doença mais grave os afligisse.






Música manual

The Four Squeezins Play Flinstones/Funiculi Funicula

terça-feira, novembro 14, 2006

O Mundo da Blogosfera


O MUNDO DA BLOGOSFERA


O JUMENTO, a quem aproveito para felicitar a propósito do seu recente 3º aniversário de existência, reproduziu na íntegra o texto que José Pacheco Pereira escreveu no Público no passado dia 9 sob o tema dos Blogs.

Não lhe teceu comentários para além de ter afirmado que concordava com umas coisas e discordava de outras, mas a natureza do tema constituiu, só por si, motivo suficiente para a referida transcrição.

E, naturalmente, veio à baila a reacção do Miguel S. Tavares ao blog anónimo que o acusou de plágio e mereceu a José P. Pereira uma crítica na linha de quase todas que lhe foram feitas mas com uma “nuance” especial, pois se ele não plagiou não se percebe porque utilizou o Semanário Expresso onde regularmente escreve para se defender de um blog anónimo e arrasar o Mundo da Blogosfera.

E se há jornalistas que incomodam pessoas que escrevem livros, porque um blog anónimo afirma que houve plágio, também haverá jornalistas não estão preparadas para o exercício da sua profissão. E nem por isso são denunciados pelos seus pares nas páginas do expresso ou doutro jornal dito de referência.

As acusações em blogs anónimos devem ter o mesmo destino das acusações em cartas anónimas: cesto dos papéis. Eles são incitáveis e inaceitáveis.

De acordo.

Mas JPP se não arrasou o mundo da blogosfera também não foi meigo para com ela considerando, de forma maniqueísta, que 90% dos blogs são lixo e 10% luxo e isto numa versão optimista.

Naturalmente, existem até menos de 10% de Blogs que são de excelência mas depois teremos os muito bons, os bons, os assim-assim e finalmente o lixo que num mundo de poucos escrúpulos e num universo de muitos milhares a escreverem na Rede serão, com certeza, ainda bastantes.

Mas num outro aspecto estou também de acordo com JPP - quando pergunta se essas pessoas quando falam têm alguma coisa a dizer, pois o que dizem é pobre e insignificante em termos culturais, estéticos e criadores.

E conclui que eles falam pela necessidade de dizerem que existem, que querem participar, dar a sua opinião, o seu testemunho, o seu desabafo, o seu protesto, em suma, querem intervir.

Não se vêm uns aos outros, não se conhecem, muitos nem sabem se são lidos mas comunicaram, disseram: estou aqui.

Num mundo em que as pessoas vivem cada vez mais isoladas em cidades de milhões em que ninguém se conhece, nem mesmo no próprio prédio em que se reside, resta o teclado do computador e a consulta dos outros blogs para romper a solidão.

Quando éramos poucos e vivíamos espalhados por todo o país em vez de empilhados em cidades em que pessoas e automóveis disputam os espaços para se deslocarem, encontrávamo-nos à noite, conhecíamo-nos, todos eram amigos, parentes ou conhecidos e a convivência acontecia com a normalidade do ar que se respirava.

Em pouco mais de meio século tudo levou um piparote que nos deixou pendurados em memórias de outros tempos que foram ontem, e este mundo da Blogosfera, prodígio de uma técnica que só não nos surpreende mais porque a utilizamos sem pensar muito nela, só nos vem provar aquilo que todos sabemos: mais que tudo somos animais sociais e a convivência e a participação na sociedade a que pertencemos constitui um imperativo essencial para o nosso equilíbrio.

…A propósito, vou navegar até outros blogs para ver o que dizem os meus amigos….

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