sábado, fevereiro 16, 2013

Coitadinha da criança... oxalá não saia ao pai!

IMAGEM

Generais da Coreia do Norte. A fotografia do ridículo... Dedicada ao presidente do grupo parlamentar do PCP, Bernardino Soares, admirador confesso deste país e deste regime.



SAUDADES

Dedicado ao meu sobrinho, Victor José, falecido em Junho de 2009


Quase quatro anos depois de nos ter deixado permitam-me que relembre aqui, com muitas saudades à mistura, a minha carta de despedida ao meu querido sobrinho Victor José.

Adeus, meu querido… 
Que posso fazer quando me apercebo que não voltarei a receber mais uma das tuas chamadas de telemóvel em que, invariavelmente, perguntavas: “então meu querido?”, que não seja tentar reter lágrimas de saudade?


Foi anteontem, era mais uma das sardinhadas que organizavas em tua casa, pretexto para reunires os teus amigos, especialmente aqueles de quem gostavas como se fossem teus irmãos.


Tínhamos começado a almoçar quando o teu “amigo-irmão”, Rui Silvério, recebeu um toque no telemóvel que lhe enviaste depois de te teres levantado da mesa sem nos apercebermos.

Pressentindo que se aproximava mais um “surto” da esclerose múltipla de que sofrias, ausentaste-te para uma outra parte da casa sem que depois conseguisses evitar um mudo pedido de SOS.

Foram minutos de pânico, desespero, em que cada um de nós procurou agarrar a vida que se escoava de ti. Os apelos eram dramáticos: “vá, companheiro, reage, abre os olhos, vive…” mas neste último “surto” já não haveria retorno.

Com os teus amigos de quem tanto gostavas à tua volta, em desespero, perfeitamente atordoados, tinhas adormecido para sempre em paz e sem sofrimento.

Ao longo de cerca de vinte anos, até aos quarenta e cinco, carregaste uma sentença de morte denominada esclerose múltipla mas durante esses anos em que o “copo foi enchendo até à gota que o fez transbordar”, na expressão do Zé Manel, médico, amigo,“irmão”, tu viveste… caramba, se viveste, como qualquer outro mortal dificilmente conseguirá viver em cem anos que cá esteja.

Durante anos exploraste estufas na nossa aldeia da Concavada produzindo principalmente feijão verde e meloa com os elogios dos técnicos da especialidade mas, lutando contra um micro clima que era adverso, foste obrigado a desistir.

Montaste uma empresa de serviços na área das limpezas industriais e na Central Eléctrica do Pego, competindo com outras bem mais poderosas, foste sempre ganhando todos os concursos periódicos para a renovação do contrato de prestação dos serviços, pelas tuas imensas capacidades de trabalho, inteligência e qualidade das relações humanas que desenvolvias.

Em colaboração com o teu pai, meu único irmão, do qual, em muitos aspectos, eras uma continuação, montaste com total sucesso uma actividade de comércio de móveis que exigia permanentes deslocações à Holanda.

Construíste e exploraste um empreendimento turístico em Pipa, no Brasil e mantiveste negócios no imobiliário em João Pessoa e Natal.

Em incursões prolongadas a Cuba, percorrendo o seu interior, conseguiste trazer a Portugal músicos daquele país que actuaram e ganharam dinheiro melhorando as condições de vida na sua terra e abrindo-lhes as perspectivas do mundo deixando atrás de ti, por essas terras e essas gentes, um rasto de humanidade.


Tudo isto fizeste com respeito pelos outros, sem amachucar ninguém, ajudando, estendendo a mão, semeando amigos, deixando por todo o lado por onde passaste pessoas que te adoraram.

Foi assim porque o coração que finalmente se recusou a manter-te vivo por mais não poder, era grande, enorme... e bom.

Na minha qualidade de homem orgulho-me que tenhas sido meu sobrinho e se me é permitido este desabafo, dizer que aquilo que aconteceu contigo só não constitui a maior injustiça deste mundo porque não há critérios ou preocupações de justiça nestas coisas.

Às cegas, ao acaso, as escleroses múltiplas e muitos outros males são por esse mundo distribuídos pelas pessoas sem cuidar de nada, de forma totalmente aleatória e eu próprio me sentia incomodado por ter a saúde que tu não tinhas, sentia-me "injustiçado" porque tu eras melhor, mais humano e corajoso que eu e a maioria de nós.

Sei que relativamente a estas coisas da vida e da morte pensavas como eu: desligado o interruptor da vida regressamos ao mesmo local onde sempre estivemos até nascer. Tal como então, nada nem ninguém jamais te incomodará mas atrevo-me a dizer, que mesmo com esclerose múltipla, pelas muitas pessoas que te amaram nesta vida, foi um feliz acaso teres vindo a este mundo.

Adeus, meu querido.




Tio Jaquim.

Junho de 2009


João XXIII
DUAS SURPRESAS



Bento XVI
Hannah Arendt, filósofa política alemã de origem judaica, falecida nos E.U. em 1975 e uma das pessoas mais influentes do seu tempo, prestou uma arguta homenagem a um dos mais extraordinários Papas da história da Igreja Católica, João XXIII (ver Homens em Tempos Difíceis, Relógio d’Água, 1991).

A surpresa de Giuseppe Roncalli reside no inesperado da sua eleição. Ele não fazia parte, nem remotamente, do grupo de cardeais, que se esperava poderem ser eleitos.

Hannah Arendt coloca na boca de uma criada romana a pergunta que subjaz à maior reforma da Igreja em mais de mil anos:

 «Minha senhora, este Papa era um verdadeiro cristão».

“Mas, como foi isso possível? Como pôde um verdadeiro cristão sentar-se no trono de S. Pedro? Pois não teve ele primeiro de ser nomeado bispo, arcebispo e cardeal para, finalmente, ser eleito Papa? Ninguém se terá apercebido de quem ele era?”

Para Arentd, a força de João XXIII residia na pureza elementar da sua fé, e na unidade desta com um infalível juízo moral. Não se enganava nunca na distinção entre o bem e o mal. Poucos se poderão orgulhar de, no leito de morte, afirmarem:

“Todos os dias são bons para nascer, todos os dias são bons para morrer”.

Ao contrário de monsenhor Roncalli, o cardeal Ratzinger surpreende na sua saída e não pela sua eleição. Há muito que ele se encontrava na lista de sucessão de João Paulo II, um soldado do aparelho mais íntimo da Igreja. Uma mistura complexa de professor, inquisidor e burocrata.

Surpreendeu por ser o primeiro Papa a renunciar desde 1415. Estamos apenas no início de perceber a vastidão de consequências, não só para a Igreja, do gesto de um Papa que reconhece publicamente os limites da condição humana.

Numa era de barbárie crescente, de super-homens e outros aprendizes de feiticeiro, um acto que assume a grandeza da fragilidade só pode ser visto como um bem público.

Para já, na hora da despedida, o desabafo sentido:

- «Os javalis entraram na vinha do Senhor»

Viriato Soromenho Marques
(Prof. Universitário)


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 24

No único quarto da casa havia um a única cama. Julie deitou-se. Rigger achou que seria desaforo passar a noite em claro por causa de uma rameira. E deitou-se também.

Ela, no canto encolhida, deixava transparecer, de propósito, o seio. Ele sentiu que o seu pé tocava no de Julie. Um arrepio correu-lhe o corpo. Quis levantar-se, mas não pôde. Ela virou-se na cama e encostou-se a ele. Paulo acariciou-a. Abraçaram-se. Possuíram-se.

E, no grande momento, ela pediu:

- Perdoe-me…

 - Não!

Empurrou-a. Apertou-lhe a garganta. Ela gritou. Soltou. Soltou-a. Tinha uma vontade louca de esmagá-la. Disse-lhe nomes feios. Ela sorriu. Ele deu-lhe um soco. Julie gritou:

 - Covarde!

E ele bateu-lhe até cansar-se. Depois, deixou-a chorando na cama. Saiu. Aspirou com força o ar da noite. A lua, no alto, escondeu-se atrás de uma nuvem.

E o vento parecia cantar-lhe nos ouvidos a marcha carnavalesca.

Dá nela…
Dá nela…

VI

Meses de intenso trabalho. O “Estado da Bahia” tirava-lhe todo o tempo. Deveria aparecer por aqueles dias. Paulo Rigger e José Lopes não saíam da redacção, em longas conversas.

Aqueles dois homens extremamente diferentes se entendiam. Ambos não estavam satisfeitos com a própria vida. Ambos sentiam a necessidade de algo que não sabiam o que fosse., algo que lhes faltava.

Eles chegaram à conclusão de que se vive para qualquer coisa superior. Qual seria ela? Ricardo Braz afirmava que a finalidade da vida, isto é, a Felicidade, só se encontra no amor.

 Jerónimo Soares insinuava a medo que talvez a religião satisfizesse essa ânsia de finalidade de todos os homens.

Paulo Rigger inclinava-se para o que dizia Ricardo. José Lopes não duvidava que Jerónimo tivesse razão, mas não chegavam nunca àquela certeza a que os outros tinham chegado. Entre eles, Pedro Ticiano, agora com uma terrível doença nos olhos que lhe ia roubando a vista, jurava sobre a experiência dos seus sessenta e cinco anos, que o homem superior não tem finalidade. Vive por viver…

- Mas Ricardo Braz é superior e entretanto garante que o amor, o casamento, a vida burguesa trazem a Felicidade.

 - Mas ele já amou? Já casou? Quando amar, quando se casar, se decepcionará…

José Lopes estava com Ticiano. O amor não podia dar a Felicidade…

E, vitorioso:

 - E a saciedade? E a tragédia da saciedade?

Agora podia ser que o sobrenatural – Deus, a religião – consolasse.

sexta-feira, fevereiro 15, 2013

ANTÓNIO GEDEÃO

UMA CANJA PARA MERKEL...

DECLARAÇÃO DE GUERRA



A situação não se alterou de Janeiro de 2011 para cá mas eles que não nos provoquem  porque com a crise que por aqui vai  facilmente podemos perder a cabeça... "perdidos por um, perdidos por mil". A salvação deles está na EDP. Sendo agora os donos cortam-nos a luz e sem energia não há guerra... 

IMAGEM
Dois monumentos: um atrás do outro. Pena o da frente auto-destruir-se tão rapidamente...



Há 40 anos atrás com a música ligeira italiana em alta esta era uma das minhas favoritas... Lembram-se dela?

ILHA PARADISÍACA

CADA QUAL À SUA 

MANEIRA...



Numa ilha maravilhosa e deserta no meio do imenso oceano, após um terrível naufrágio, encontram-se as seguintes pessoas:

- Dois italianos e uma italiana;

- Dois franceses e uma francesa;

- Dois alemães e uma alemã;

- Dois gregos e uma grega;

- Dois ingleses e uma inglesa;

- Dois búlgaros e uma búlgara;

- Dois japoneses e uma japonesa;

- Dois chineses e uma chinesa;

- Dois americanos e uma americana

- Dois irlandeses e uma irlandesa;

- Dois portugueses e uma portuguesa;


Passado um mês, nesta ilha absolutamente paradisíaca, no meio do nada, a situação era a seguinte:

- Um dos italianos matou o outro por causa da italiana;

- Os dois franceses e a francesa vivem felizes juntos num ménage-a-trois;

- Os dois alemães marcaram um horário rigoroso de visitas alternadas à alemã;

- Os dois gregos dormem um com o outro e a grega limpa e cozinha para eles;

- Os dois ingleses aguardam que alguém os apresente à inglesa;

- Os dois búlgaros olharam longamente para o oceano, depois olharam longamente para a búlgara e começaram a nadar;

- Os dois japoneses enviaram um fax para Tóquio e aguardam instruções;

-Os dois chineses abriram uma farmácia/bar/restaurante/lavandaria e engravidaram a chinesa para lhes fornecer empregados para a loja.

- Os dois americanos estão a equacionar as vantagens do suicídio porque a americana só se queixa do seu corpo, da verdadeira natureza do feminismo, de como ela é capaz de fazer tudo o que eles fazem, da necessidade de realização, da divisão de tarefas domésticas, das palmeiras e da areia que a fazem parecer gorda, de como o seu último namorado respeitava a opinião dela e a tratava melhor do que eles, de como a sua relação com a mãe tinha melhorado e de que, pelo menos, os impostos baixaram e também não chove na ilha...

- Os dois irlandeses dividiram a ilha em Norte e Sul e abriram uma destilaria. Não se lembram se o sexo está no programa por ficar tudo um bocado embaciado depois de alguns litros de whisky de coco. Mas estão satisfeitos porque, pelo menos, os ingleses não se estão a divertir...

- Quanto aos dois portugueses e a portuguesa que também se encontram na ilha, até agora não se passou nada porque resolveram constituir uma comissão encarregada de decidir qual dos dois homens seria autorizado a requerer por escrito o estabelecimento de contactos íntimos com a mulher. 

Acontece que a comissão já vai na 17ª reunião e até agora ainda nada se decidiu, até porque falta ainda aprovar as actas das 5 últimas reuniões, sem o que o processo não poderá andar para a frente. Vale ainda a pena referir que, de todas as reuniões, 3 foram dedicadas a eleger o presidente da comissão e respectivo assessor, 4 ficaram sem efeito dado ter-se chegado a conclusão que tinham sido violados alguns princípios do Código de Procedimento Administrativo, 8 foram dedicadas a discutir e elaborar o regulamento de funcionamento da comissão e 2 foram dedicadas a aprovar esse mesmo regulamento.

É ainda notável que muitas das reuniões não puderam ser realizadas ou concluídas, já que duas não continuaram por falta de quórum, uma ficou a meio em sinal de protesto pelo agravamento das condições de vida e 5 coincidiram com feriados ou dias de ponte...


O Gonçalves

- Posso saber porque é que tu estás chateada desde que eu cheguei ?
Irritada, a mulher responde:
- Hoje fazemos 25 anos de casados e estamos aqui, sentados à frente desta televisão...
- Ora bolas !.. Eu estava tão atarefado que me esqueci
completamente !..
Perdoa-me, minha querida. Vai pôr o teu melhor vestido de noite, que vamos sair? Vais ter uma noite inesquecível !..

- Ah... amooooor, eu sabia que tu não eras um monstro insensível.

À entrada do restaurante, o gerente, todo solícito:
- Prepare a mesa do senhor Gonçalves.
Diz a mulher:
-Parece que eles te conhecem bem por aqui, querido!
- Ah é !... Acho que já cá vim para almoçar com alguns clientes.

Eles acabam de jantar e o marido propõe de irem a uma boite. À entrada há uma fila enorme. O marido diz à mulher que vai tratar do assunto e dirige-se ao porteiro:
- Oi meu..., como tás matulão ???
E o porteiro:
- Está tudo bem, Sr. Gonçalves. Pode entrar!

Dentro da boite, o dono vem falar com eles:
- Boa noite, Sr. Gonçalves!
E diz, logo em seguida:
- Toca a vagar de imediato a mesa do senhor Gonçalves !..
A mulher, desconfiada:
- Tu vens sempre aqui?
- Ah, não !.. O dono é um cliente da firma...
Uma vez na mesa, a empregada vem e diz:
- O mesmo de sempre, Sr. Gonçalves ?
Nesse instante, uma mulher que terminava um strip-tease em cima do palco grita:
- E a cuequinha..., é para quem ?!..
A boite, em peso, grita:
- Gonçalves... Gonçalves... Gonçalves...

A esposa, furiosa, sai da boite, e o marido vai atrás... e ambos entram num táxi. O marido tentando apaziguar as coisas:
- Querida, não vamos estragar esta noite maravilhosa, com certeza eles confundiram-me com outro Gonçalves...
- Mas tu estás a pensar que eu sou alguma idiota ?!.. Canalha !.. Não me toque mais !.. Blá, blá, blá... eu sou mesmo uma otária... blá, blá, blá...seu grande filho-da-puta, blá, blá, blá...

Nisso, o motorista de táxi vira-se e diz:
- Ó Gonçalves... queres que eu ponha a puta pra fora do carro?...


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 23


Havia dez dias que estavam na roça. Paulo Rigger sentia-se feliz. Tinha a certeza que Julie lhe pertencia inteiramente. E quem teria a coragem de deitar os olhos para a amante do patrão. Também, Julie não iria dar ousadia a nenhum daqueles brutos, mais animais que homens.

Toda a manhã, Rigger montava e dava um pulo ao povoado. Trazia jornais e revistas que lia à noite, à luz do candeeiro, antes de deitar-se. Julie nunca o acompanhava. Pretextava não gostar de andar a cavalo.

Naquela sexta-feira, Rigger saíra cedo. O céu, um pouco nublado, ameaçava chuva. Assim mesmo, ele seguiu. Pôs o burro a trote. No meio da estrada, porém, as nuvens se faziam mais carregadas. Paulo resolveu voltar.

Quando chegou não encontrou Julie em casa. Saiu a procurá-la pela roça. Que teria ela ido fazer? Talvez colher tangerinas…

Rigger ia descendo despreocupadamente o atalho que levava à fonte quando, olhando por acaso para um lado, empalideceu.

Debaixo de uma jaqueira, Julie e Honório, abraçados, sorriam. Ela tinha as saias suspensas, deixando à mostra as coxas alvas.

Rigger não fez escândalos. Voltou para casa 3e esperou…
Julie chegou ao meio-dia. Notou a cara zangado de Rigger. Temeu que ele houvesse descoberto tudo mas, treinadíssima naquelas situações, não se embaraçou:

 - Chegou há muito tempo, meu amor?

 - Há muito já.

- Eu andava passeando por aí, pela roça.

- Já sei. Prepare as malas. Nós viajaremos amanhã.

Ela não discutiu. Entrou para o quarto. Ele saíu a procurar Algemiro.

Encontrou-o junto a uma “barcaça” vendo secar o cacau.

 - Algemiro, despeça Honório.

 - Mas, patrão, ele deve 600$000 à casa!

 - Arranje um meio de ele pagar e despeça-o. Se ele não tiver dinheiro mande prendê-lo.

Ele tem uma casa no povoado. Com o aluguel sustenta uma filha no colégio. Em Ilhéus.

 - Quanto vale a casa?

 - Uns 500$000.

 - Tome a casa.

 - E foi saindo.

Algemiro acompanhou-o. Falou baixinho:

 - Patrão, se quiser pode liquidar-se o homem… Ou dar uma surra. Afinal, ele não devia olhar para o “jirau” do patrão…

 - Não, tome a casa, somente.


quinta-feira, fevereiro 14, 2013

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Esqueceu-se do vestido mas não do casaco de peles...


E por que não regressar a este tema tão estimulante. Adoro ouvi-lo. Comove-me, imaginem!...

Partida para uma caçada

A conversa de um bosquímano


Vale a pena contar uma pequena história relatada por um bosquímano, membro da tribo !Kung San ( o ponto de exclamação indica um estalido produzido com a língua e que não tem equivalente em línguas europeias).

Os bosquímanos, juntamente com os pigmeus, são o povo mais antigo do mundo, aquele que está mais próximo dos nossos antepassados remotos.

 Numa entrevista ao antropólogo Richard Lee, na década de setenta, o bosquímano explica os costumes do seu povo:



- «Imagine um homem que andou a caçar. Ele não pode voltar para casa e anunciar como um fanfarrão: “Matei uma coisa grande no mato”.

Não, primeiro tem de se sentar em silêncio até eu ou outra pessoa qualquer chegar ao pé da fogueira dele e perguntar: “Que viste hoje?”

Então ele responde calmamente: “Ah, eu não sou nada bom a caçar. Não vi nada de nada…talvez só uma coisinha pequena”. Depois, eu sorrio de mim para comigo porque fiquei a saber que ele matou qualquer coisa grande».



A conversa brincalhona continua enquanto vão buscar o animal morto:


 - “Quer dizer que nos arrastaste a todos até aqui para nos obrigares a levar para casa o teu monte de ossos? Ah, se eu soubesse que era assim tão magro não teria vindo. E pensar que abdiquei de um belo dia à sombra para isto…Em casa podemos ter fome, mas pelo menos temos água fresca para beber.”

Qual o objectivo desta conversa? - O entrevistado explica:

- “Quando um jovem caça e consegue muita carne, passa a ver-se como um chefe ou um homem importante e pensa em nós como seus servos ou inferiores. Não podemos aceitar isso. Recusamos quem é fanfarrão, pois um dia o seu orgulho levá-lo-á a matar alguém. Por isso falamos sempre dos animais que ele caça como se fossem uma coisa insignificante. Desta maneira, esfriamos-lhe o coração e tornamo-lo simpático.”

Os bosquímanos estavam conscientes do desejo de afirmação do jovem através do animal que conseguira abater para alcançar uma posição de superioridade na sociedade, e sabiam que isso poderia torná-lo perigoso para os restantes membros do grupo.

A “receita” foi uma lição de humildade com o objectivo de garantir uma sociedade onde todos eram iguais independentemente dos animais que cada um conseguia matar.

Entre nós, fazemos o contrário... estimulamos o brio, o orgulho, a vaidade pessoal, o espírito competitivo e, à partida, como o entrevistado reconhece, esses "ingredientes" estavam no espírito do jovem caçador mas, a sociedade é sábia e precavida. Não o fora e há muito ter-se-ia auto-destruído.

Num deserto, onde aparentemente nada existe, este povo não só conseguiu sobreviver como, ainda por cima, ser a gente mais feliz e bem disposta do mundo.

Reveion do Rio de Janeiro

O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 22


 - Hein?

 - Um Jornal?

 - O que é que o Gomes diz?

 - Sim, um jornal diário… O “Estado da Bahia”…

 A grande aspiração deles era possuir um diário. Tomariam conta da Bahia. Ninguém poderia com eles. Ganhariam uma fortuna. E agora Gomes gritava que eles teriam um diário.

Mas Ricardo duvidou:

 - Ora, isso é apenas uma ideia!...

 - Umas ideia que já está se transformando em facto.

 - Explique esse negócio, Gomes – suplicou Lopes.

 - Lá vai. O prefeito de uma dessas cidades do interior quer que nós fundemos um jornal. Jornal dos Municípios… Será uma sociedade anónima. Cada prefeito entra com um tanto. Nós entramos com a pena. Compraremos as máquinas e o jornal defenderá os actuais prefeitos e as suas administrações. Que tal?

Pedro Ticiano seria o director, José Lopes o redactor-chefe. Rigger, Ricardo e Jerónimo comporiam a redacção. Ele, Gomes, director comercial, cavaria os negócios. Nas horas vagas faria reportagens. Uma negociata. De primeira…

 - De facto…

 - Esmagaremos a canalha, esmagaremos a canalha – gozava o Ricardo. A canalha era o apelido que ele dava aos mulatos seus inimigos, que lhe invejavam a “pose de deputado”. Você é um génio, Gomes, quero dizer, esse prefeito é um génio…

Ticiano propôs se bebesse em honra do prefeito.

Ticiano pediu cigarros. Por conta do “Estado da Bahia” explicou.

Saíram a arquitectar planos, sonhadores. Já pensavam em ter a Bahia nas mãos. A princípio trabalhariam sem ambições de lucro. Depois, então…

Talvez enriquecessem. E ficassem conhecidos no País. Publicariam livros. Viveriam, enfim.

José Lopes pensou:

 - Não acredito. Naturalmente, teremos desilusões, aborrecimentos…

Ricardo Braz também achava aquilo pouco para uma vida. “O trabalho não basta. É preciso amor…”

Só o Gomes, satisfeito, ria muito mostrando os maus dentes. O seu vulto alteava-se e ele marchava a passos largos. Estava a caminho da vitória…



quarta-feira, fevereiro 13, 2013

IMAGEM



Foi Almoçar a Casa


Numa galeria de arte, uma mulher está parada em frente de um quadro
muito estranho, cujo nome era: "Foi almoçar a casa".

Nele, estão representados três negros, nus, sentados num banco de jardim, com os seus pénis em primeiro plano mas, curiosamente, o homem do meio tem o pénis cor de rosa...

- Desculpe-me - diz a mulher ao funcionário da galeria:


- Eu estou curiosa a respeito desses negros. Porque é que o homem do meio tem o pénis cor de rosa?

O funcionário responde:


-Receio que a senhora não tenha interpretado bem o quadro. Esses homens não são negros; eles trabalham numa mina de carvão, e o homem que está sentado no meio foi almoçar a casa.


Os Pobres e os Ricos
A Pobreza e a Riqueza

Mais do que os ricos e os pobres, que sempre os houve, falemos da Pobreza e da Riqueza à escala dos países, dos povos, dos continentes para chegar à conclusão que nunca, até agora, qualquer um dos muitos especialistas nestas matérias conseguiu apresentar uma razão ou conjunto de razões que, de uma vez, nos explique porque há nações ricas e outras pobres ou, de outra maneira, porque é que os países ricos continuam ricos e os pobres continuam pobres chegando ao ponto de brincar com a situação dizendo que, “quando chove sopa as pessoas nos países pobres são sempre surpreendidas com garfos na mão”.

Este tema devia pôr toda a gente a pensar porque é intrigante, porque se trata de uma realidade tão persistente que se corre o risco de a aceitar como algo de inelutável, daquelas coisas que fazem parte da natureza, que são hoje assim porque sempre o foram e sempre o serão.

Há duas escolas de pensamento segundo as quais a riqueza não era mais que o triunfo do Bem sobre o Mal ou, vice-versa, do Mal sobre o Bem.

Para uma dessas escolas, os europeus eram mais inteligentes, estavam melhor organizados, eram trabalhadores mais conscienciosos; Os outros, eram ignorantes, arrogantes, indolentes, retrógrados, supersticiosos.

Para a outra escola, invertem-se as categorias: os europeus eram agressivos, cruéis, gananciosos, hipócritas e sem escrúpulos; Os outros, as suas vítimas, eram infelizes, fracas e inocentes.

A primeira corrente de pensamento deve ter feito as delícias dos nazis para quem este tipo de argumentos vinha mesmo ao encontro da supremacia da dita raça ariana…

Mas, brincadeiras à parte, às vezes dou comigo a pensar duas coisas:

-A primeira é, se para alguns, não foi reposta a luta pela sobrevivência dos primórdios da humanidade em que todos os nossos antepassados até ao “homo sapiens sapiens” pura e simplesmente não conseguiram sobreviver e desapareceram da face da terra.

É que, se não é assim parece… milhões de pessoas do continente africano já teriam desaparecido se os alimentos não lhes fossem atirados de avião ou levado em camiões, porque a imagem recolhida por um observador externo, chegado ali de repente e desconhecedor de tudo o resto, era a de uma população que se extingue.

E, no entanto, estes mesmos milhões de pessoas, são “homo sapiens sapiens” como nós, que passaram o grande teste inicial da sobrevivência e correm hoje o risco, não de desaparecer geneticamente, mas de verem os seus efectivos populacionais reduzidos drasticamente pela guerra, fome e doença.

-Em segundo lugar, a pergunta que apetece fazer é: então, em que espécie de armadilha caíram eles para, depois de um tão longo percurso terem voltado ao ponto zero das suas existências, quando a população mundial é hoje de sete biliões de pessoas comparadas com as dezenas de milhar ao tempo em que a sobrevivência da nossa espécie se colocou efectivamente?

Entretanto, uma outra espécie de pobreza, provavelmente respeitante ainda a um maior número de pessoas é aquela que encontramos nos subúrbios das grandes cidades por todo o mundo, que se traduz numa miséria material e, acima de tudo, moral que, não eliminando fisicamente, degrada e desvirtua as pessoas constituindo o mais grave problema social de todos os países quer sejam eles do grupo dos Ricos ou dos Pobres.

Mas, a Riqueza que persiste, em contraposição com a Pobreza que não despega, faz-me lembrar uma espécie de comboio que passou: quem o apanhou, apanhou, os outros ficaram a vê-lo ou então não estavam na Estação onde ele se formou e de onde partiu.

Nós, portugueses, tivemos imensa responsabilidade na formação deste comboio quando abrimos as vias marítimas ao comércio do mundo e proporcionamos a imensa gente que ganhasse dinheiro com esse comércio.

De seguida, toda essa movimentação comercial preparou as condições para que, juntamente com as descobertas científicas e tecnológicas dos séculos XVIII e XIX, o comboio da Riqueza fosse posto em marcha puxado pela máquina do Capitalismo e os europeus, por razões históricas, culturais e geo-estratégicas, estavam lá.

As sociedades Rurais deram lugar à sociedade Industrial, a que esteve na origem dos países Ricos e Pobres, da exploração das matérias primas, da produção em série, da educação em massa e, finalmente, chegamos agora à sociedade do Conhecimento, a do Click, a do ensino diversificado e especializado, aquela em que os filhos, porque nasceram nela, ensinam os pais.

Será que esta nova sociedade do Conhecimento irá contribuir, com a ajuda dos fenómenos da Globalização a mais oportunidades para todos em todo o mundo, ao esbater progressivamente esta realidade do mundo Rico e do mundo Pobre mesmo à custa de algumas convulsões temporárias na sociedade dos ricos?

Eu tenho muitas dúvidas, pois a sociedade do Conhecimento parece-me ser um mundo de Grupos, uma vez que o conhecimento muito especializado e diversificado, mesmo quando se nasce no tempo dele, não se nasce com ele, e se o mesmo não for acessível à generalidade das pessoas teremos ainda mais desigualdades.

Assim, um mundo especializado poderá ser um mundo cada vez mais difícil para a generalidade das pessoas que se confrontarão com dificuldades crescentes numa sociedade de elites.

Por esta razão, qualquer avanço na resolução deste mistério dos Países Ricos que continuam Ricos e dos Países Pobres que continuam Pobres, terá de resultar de políticas.

Exige-se a intervenção de pessoas, determinadas, convictas, suficientemente influentes e poderosas na vida política internacional que consigam desencadear um movimento que tenha a ousadia de ir aos alicerces desta questão.

Aquilo a que estamos a assistir na actual política de Barack Obama, nos EUA - reparemos no seu discurso proferido esta madrugada propondo, entre outras coisas, um aumento de mais de 24% no salário mínimo -  dá-me esperanças de que alguma coisa deste género possa vir a acontecer no futuro.

Não teve já a humanidade líderes políticos que ficaram na história pela coragem de fazerem a guerra para imporem religiões, ideologias políticas e para construírem impérios, então, por que não há-de haver um líder que fique na história por declarar guerra à injustiça e desigualdade que vai no mundo, porque é disto que se trata?

Obama está no início do segundo mandato, em guerra aberta com o Congresso dominado pelos Republicanos defensores e protectores dos ricos e poderosos.

Até que ponto é que ele, descomprometido relativamente a uma próxima eleição a que já não pode concorrer, não vai procurar ficar, por mérito próprio, na história dos Presidentes dos E.U.A?


Não vai ser fácil. A correlação de forças políticas não é linear. O sistema protege os ricos e a democracia pode acrescentar votos mas não poder ou riqueza.
Realisticamente, a batalha dos Pobres é uma batalha perdida. Mesmo agora, na resignação do Papa, será que não lhe pesa na consciência não ter conseguido varrer os vendilhões do Vaticano?
Olhemos à nossa volta… onde vemos nós o triunfo dos pobres? Já o foi no Estado Social, avanço enorme da Europa do pós guerra mas que agora parece estar a atravessar dificuldades porque os ricos não estão com vontade de contribuir para o seu fortalecimento.
Tudo o que se conseguir neste campo vai resultar de uma luta, de uma confrontação que se vai arrastar no tempo, sociedade por sociedade.
Ponhamos os olhos nas sociedades dos Países Nórdicos. Imitemo-los em tudo o que eles fizerem de melhor que nós a começar pelas leis. É aqui que tudo começa…

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