sábado, fevereiro 13, 2016

O adepto que sofre...

E o Benfica perdeu...
















A imprevisibilidade dos resultados é um dos grandes atractivos no futebol como, de resto, em qualquer outro jogo... por isso, se chama jogo. Não fosse essa incerteza e chamar-se-ia qualquer outra coisa, um concerto, por exemplo.

Ontem, mais de sessenta mil pessoas, numa noite desagradável, com chuva e vento, saíram do conforto das suas casas onde poderiam ver o espectáculo com direito a repetições e tudo e..., não foi pela beleza das jogadas, as estiradas dos guarda-redes, o inesperado das fintas...

Talvez tenha sido um pouco, mas fundamentalmente, a principal razão foi para vibrarem em directo, exultarem, sentirem a profunda felicidade da vitória, sim, porque não sendo eles os jogadores, é como se fossem.

Mais do que os seus representantes, são da sua família, clubista, é certo, mas tão importante como em tempos terá sido a sua tribo.

Mais que verem o espectáculo, eles querem sentir o ambiente, reconhecerem-se como companheiros irmanados na alegria da vitória que reconforta e faz esquecer a vida, chata, monótona, tristonha.

Ontem, mais do que em nenhum outro jogo, a vitória era o resultado esperado, cantado e anunciado de véspera, sobre um adversário com uma longa tradição de vitórias que era preciso vingar.

E assim começou por ser. Um quarto de hora passado do início do jogo e milhares de braços, num gesto coreografado, levantaram-se e outras tantas gargantas, em uníssono, gritaram: GOLO!...

E foi tudo. A partir daí, uma alegria que se esfuma, um entusiasmo que esmorece até morrer ao som do apito do árbitro para dar o jogo como terminado.

Os rostos fecham-se, as bocas calam-se, as mãos nos bolsos que a noite está fria, o capuz desce sobre a cabeça, aquela maldita chuva miudinha não passa, os olhos procuram o chão para fugir às poças de água... nada a fazer, é a tristeza da derrota. 

Uma vez em Pompeia




Somewere over the rainbows - Kamakawiwo



Mixórdia de Temáticas - Body Running



Viva Dona Antonieta
Tieta do Agreste
(Jorge Amado)

EPISÓDIO Nº 78
















Pirica vem em busca de Ascânio, trazendo recado do coronel Artur da Tapitanga e notícia sensacional: os engenheiros da Hidrelétrica de Paulo Afonso encontram-se em Agreste e querem falar com alguém responsável pela Prefeitura.

Foram à casa do perfeito, deu a maior confusão. Doutor Mauritônio não diz coisa com coisa, vive num mundo de fantasmas, agrediu o engenheiro chefe confundindo-o com o agrónomo Aristeu Regis responsável pela deserção de Amélia Doce Mel.


Insultados e expulsos foram parar na fazenda do coronel Artur de Figueiredo, Presidente da Câmara Municipal. O octogenário enviara Pirica com ordens de trazer Ascânio.

Há uma animação geral, querem saber mais, reclamam detalhes, mas Pirica, além do já contado, acrescenta apenas uma informação: o Coronel estava muito contente quando o encarregara do recado:

- Diga a Ascânio que os homens da luz estão aqui, não perca um minuto.

- Fidélio exclama:

- Vão instalar a luz, ganhei a aposta. Viva dona Antonieta!

O primeiro viva, seguido de outros ali mesmo, debaixo dos coqueiros. 


Prólogo às comemorações da cidade, Agreste vai vibrar com a notícia. Ascânio, empertigado, encaminha-se para Tieta:


- Permita, dona Antonieta, que eu lhe antecipe a gratidão do povo de agreste.

Tieta estende a mão a Ascânio para que ele a ajude a levantar-se:

- Ainda não Ascânio. Não arrote antes de comer. Atenda ao chamado do Coronel, tire o assunto a limpo, por hora não se sabe de nada certo. 


Eu aprendi a não soltar foguete antes do tempo para não queimar a mão. Se for verdade, quem mais merece parabéns é você que você que lutou tanto. Eu pouco fiz, só fiz pedir.


- As intenções, os gestos não valem nada quando não trazem resultados, foi a senhora mesmo que me disse – retruca Ascânio.

- Você brigou, se bateu, não ficou na intenção. Vá saber o que há e se for verdade comemoremos juntos.

- Nós e o povo todo, dona Antonieta. Vai ser a maior festa de Agreste.

O entusiasmo domina a alegre comitiva. Tieta, queira ou não é abraçada, beijada, felicitada.


Barbozinha ameaça discursar, fará um poema à luz de Paulo Afonso, luz nascida dos olhos de Tieta; Osnar propõe que a carreguem em triunfo – solte minha perna seu aproveitador!

Aminthas promete a Fidélio pagar a aposta assim a notícia se confirme. Afectuoso abraço do comandante; solenes felicitações de Modesto Pires, impressionadíssimo com o prestígio da conterrânea; nunca acreditara que os pedidos feitos por ela dessem resultado positivo; nem vão tomar conhecimento dos telegramas, jogam no lixo, garantira a dona Aída e a alguns amigos.

 Perpétua empina o peito: as relações da irmã na cúpula da política e do governo são um orgulho para a família, sua posição social eleva todos os parentes. 

Se não estivesse tão amuada, ao ouvir a palavra cúpula, Tieta abriria num frouxo de riso; ainda assim sorri nos braços de Perpétua. Elisa, emocionada não contem o choro, cobre a irmã de beijos.

 Dona Carmosina e dona Milu jamais duvidaram, contavam as horas na espera da resposta.


Agora, perante a presença dos engenheiros em Agreste, que dirão os incrédulos?




O Raio do mau tempo...














Sábado, como de costume, levantei-me cedo, vesti um agasalho, silenciosamente, bebi café e até fui dar um passeio com cão.


Em seguida, fui até à garagem e engatei o barco de pesca no meu Jeep.

De repente, começou a chover torrencialmente.

Havia até neve misturada com a chuva, ventos a mais de 80 km/h.

Liguei o rádio e ouvi que o tempo iria ser de frio e chuva durante todo aquele dia.

Voltei imediatamente para casa. Silenciosamente, despi-me e deslizei para baixo dos cobertores. Afaguei as costas da minha mulher e disse-lhe baixinho:

- O tempo lá fora está terrível.


Ela, ainda meio adormecida, respondeu:

-Acreditas que o cabrão do meu homem foi pescar com este tempo ?



Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 189




















Fugindo àquela tentativa de cumplicidade óbvia, o príncipe de Portugal recordou o que lhe interessava:

 - Se as nossas mães tivessem cumprido o pacto feito pelos nossos pais, não teriam existido tantas guerras.

Contudo, seu primo não estava de acordo. Não havia qualquer prova escrita da existência de qualquer arranjo entre primos burgonheses.

- Como sabeis, nosso avô não aceitou a ideia – defendeu Afonso VII.

Em Toledo, o antigo imperador expulsara o conde Henrique, decidindo que a Galiza se manteria nas mãos de Dona Urraca.

O rei soltou uma inesperada gargalhada:

 - Se nosso avô tivesse seguido a opinião de vosso pai, eu apenas seria rei de Leão e Castela, a Galiza seria vossa!

Sem compreender do que se ria o primo, Afonso Henriques ripostou:

 - Era o que devia ser. E é o meu direito.

Como se tudo não passasse de uma brincadeira, Afonso VII deu nova risada, ignorando ostensivamente as ambições do primo.

Nosso avô chegou a intitular-se: “Imperador de duas Religiões” e casou com uma moura! O nosso tio Sancho era filho dela, ele é que devia ter herdado o trono do imperador!

Afonso Henriques franziu a testa intrigado.

- Pensais casar-vos com uma moura?

O primo deu uma gargalhada:

 - Jesus, nem pensar! O califa de Marraquexe atravessava logo o mar!

Os temores cristãos eram sempre justificados, as tropas de Ali Yusuf continuavam a combater no Leste e no Sul da Península.

- Nisso, nosso avô também estava errado – afirmou o rei – Não devemos unir-nos aos infiéis, devemos é combatê-los! São eles o inimigo, nunca o podemos esquecer.

Não fazem sentido as guerras entre os cristãos. Já o disse a Afonso de Aragão e digo-o também a vós. É tempo perdido. Os mouros é que têm de ser expulsos da Península.

sexta-feira, fevereiro 12, 2016

Wolfgang Shauble
















Mas não há mesmo quem o empurre da cadeira abaixo? Podia ser que batesse com a cabeça em qualquer lado e ficasse a embirrar menos com Portugal, um desses países latinos, do Sul da Europa, preguiçosos, que não gostam de trabalhar e com pessoas que não são altas nem louras.

Vejam o que ele diz:

- Portugal deve estar ciente de que pode perturbar os mercados.

Se a Bolsa, em Itália, entra no vermelho profundo, se a solvência do Deutsche Bank oferece dúvidas, se as Acções da Societé General, francesa, mergulham, e as perdas do IBEX, em Espanha, este ano, são já de cem mil milhões... e nada disto perturba os mercados ou preocupa o Sr. Shauble, como é possível que o António Costa, nosso 1º Ministro, se limite a pedir flexibilidade na apreciação do Orçamento português, dizendo que vai cumprir o Deficit e tem mesmo já preparadas medidas adicionais caso sejam necessárias, e Schauble já não durma descansado e os mercados tremam por todo o lado?...

Como é que, afinal, um pequeno país como o nosso pode ser tão importante e ter tal repercussão nos mercados financeiros da Europa e no estado de espírito do ministro alemão?

E porque é que a taxa de juros da Dívida Pública portuguesa passou, em 5 deste mês, de 2,938% para 3, 945%, no dia de hoje?

- Será coincidência ou tem a ver, realmente, com o Orçamento expansionista que apresentámos, mas que já deixou de o ser, ou apenas é poucochinho, depois das correcções que lhe foram introduzidas em Bruxelas?

Não sabemos mas, neste mundo, nada acontece por acaso. O nosso governo, de esquerda, pretendeu melhorar um pouco a situação dos mais necessitados no país dando-lhes algum dinheiro a mais e anunciou-o, fez alarde das suas intenções, e os sinais logo apareceram na reacção do Sr. Schauble e dos credores:

- Alto lá, o que é isso? – Esse dinheiro a mais para os pobres é nosso, dos credores, eles podem esperar, nós, não!

Não se tivessem endividado dessa forma. Agora, todo o dinheirinho que arranjarem é para nos pagarem juros e dívida.

É esse o nosso entendimento e nós é que mandamos porque quem tem dívidas e é pequenino como vocês, não têm “querer”.

Este é o diálogo invisível que perpassa nos sinais dos dedos apontados, nas taxas de juro que sobem ou.... por outro lado, tudo isto acerca do Orçamento português, não passa de conversa de treta para o ano de 2016, o ano do cataclismo, de acordo com as previsões do Royal Bank of  Scotland?...

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Ao fundo, o Kilimanjaro




Vozes e Canções que nos fazem sentir pequeninos...


Mixórdia de Temáticas - Juvenal de alto - mar



O sobrinho estava fugindo dela
Tieta do Agreste
(Jorge Amado)

EPISÓDIO Nº 77


















DO RECADO URGENTE




No melhor da festa o recado urgente. Devorado o almoço, repetida a sobremesa, dona Laura, Elisa e Leonora servem o cafézinho. Rega-bofe grandioso, com variado fundo musical: o moderníssimo som do toca fitas competindo com a harmónica de Claudinor das Virgens.

O trovador possui extraordinário faro para detectar odores culinários, perfume de batida, aroma de cachaça. Sem esperar convite aparece de sanfona em punho, o sorriso aberto, caradura simpático e bem-vindo: com vossa permissão!


Enquanto Elisa, Aminthas, Fidélio, Seixas e Peto curtem o rock-and-roll, os demais aplaudem Claudinor e Elieser. O reportório do trovador dá preferência à música sertaneja enquanto o dono da lancha, habitualmente casmurro, de pouca conversa, animado pelos tragos, solta a voz agradável e atendendo às sugestões saudosistas de Tieta e de dona Carmosina, canta esquecidas melodias. Tieta, sentada numa esteira, enorme chapéu de palha a defender-lhe o rosto, pede:

- Toque aquela que Chico Alves cantava, Claudinor.

- Qual?

- Uma que começa: Adeus, adeus, adeus,, cinco letras que choram…

Elieser abre o peito, Claudinor acompanha na sanfona. Tieta deixa-se levar pela música, está distante, não participa das conversas. Leonora inquieta-se.

Conhece Mãezinha: quando está assim, calada, é porque algum problema a preocupa, uma chateação qualquer. O que será? Não se anima a perguntar, não vale a pena, melhor é deixá-la em paz até o riso voltar.

Quando estou de calundu me larguem de mão, não se metam, recomendava ela no Refúgio. Em silêncio senta-se a seu lado.

Tieta percebe a presença de Leonora, volta-se, acaricia-lhe a face. A moça toma-lhe da mão e a beija com ternura. Cabrita sem juízo, reflecte Tieta, corre o risco de se apaixonar, de perder a cabeça. Somente ela, de cabeça oca? Mais ninguém?

Que espécie de obrigação inapelável exigira a presença de Ricardo ao lado do padre na devoção de Rocinha? Obrigação, coisa nenhuma!

O sobrinho estava fugindo dela, isso sim; fora com o padre para não ir a Mangue Seco, não manchar os olhos castos – castos?, carolas! – na nudez da tia, soberba no reduzido biquini, bestalhão!

Nos últimos dias sentira a ausência do rapaz, no banho do rio, dos passeios. Até a hora da banca ele mudara, sem dúvida para não lhe fazer nova massagem.

E Tieta, burra velha, a sonhar com o sobrinho, a vê-lo noite e dia com asas de anjo e aquele pé de mesa. Jamais se interessara por jovens, muito menos por meninotes de dezassete anos, preferindo homens feitos sempre mais idosos do que ela.

Fizera-se necessário voltar a Agreste para desejar um rapazola, sentir frio na espinha ao pensar nele, ficar mal humorada, desagradável, vazia devido à sua ausência.

Triste, irritada em pleno calundu. Com essa não contava. Ainda por cima sobrinho e seminarista. Vendo-a tão longe, perdida em pensamentos, Leonora levanta-se, vai ao encontro de Ascânio. Tieta toca-lhe novamente a face, num afago.

- Sabe, “Foi tudo um sonho”, Elieser?

- Sei mais ou menos, dona Antonieta. Mete os peitos Claudinor!

Tieta veleja na música, conduz Ricardo pela mão. Osnar, encharcado de cerveja, acomodou-se na sombra, mamando um charuto. Barbozinha ressona debaixo de um coqueiro, esquecido dos projectos de declamação no alto dos cômoros.

O cansaço começa a se fazer sentir, no cair da tarde, após a maratona e pimenta, coco e gengibre, batidas, cachaça, cerveja.

A manhã fora fatigante: banho de mar no embate das ondas bravias, escalada das dunas sob o sol de verão. Ainda assim, Ascânio e Leonora projectam uma fuga para a praia. Quando calor diminua, antes da volta marcada para o pôr-do-sol.

Inesperado, o barulho de um motor na distância. Comandante Dário, aquém todos os ruídos do mar e do rio são familiares, decreta:

- É o barco de Pirica.



Perdoa-me, padre!
















Um homem entra na igreja e vai directo ao confessionário: 

 - "Perdoa-me, padre, porque eu pequei", diz ele.

- "Qual é o seu pecado, meu filho?", pergunta o padre.

- "Bem, há um mês atrás, eu estava na biblioteca até a hora de fechar, e quando eu quis ir embora, começou a chover muito forte, sem parar. Depois de algum tempo, a bibliotecária e eu fomos ficando mais confortáveis e... bem... fizemos festa a noite inteira, se é que o senhor me entende."

- "Não foi correto mas também não foi horrível, meu filho", disse o padre. "Se foi apenas um único deslize, Deus vai lhe perdoar."

- "Aí é que está", disse o homem. "Mais ou menos uma semana atrás, eu dei uma mão à minha vizinha e consertei as persianas pra ela, e quando eu ia pra casa, começou a chover muito, muito, sem parar, e... bem... o senhor sabe, foi festa a noite inteira."

O padre ficou em silêncio por alguns segundos.

O homem cobriu o rosto com as mãos e, em soluços, perguntou:

-  "O que eu devo fazer agora, padre?"

 - "O que você deve fazer?", berrou o padre: -  "Você deve é sair já daqui antes que comece a chover!"

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 188




















Santiago de Compostela, Outubro de 1127





Em frente ao monumento tumular onde há mais de trezentos anos repousavam as ossadas do apóstolo Santiago, Afonso Henriques e Afonso VII, ambos ajoelhados, rezam uma oração.

As comitivas tinham vindo juntas, desde Guimarães, atravessando o Rio Minho em Tui, e seguido a estrada que tantos peregrinos tomavam até àquela a que chamavam a Roma do Ocidente.

Na igreja, eu estava suficientemente perto para escutar a conversa entre primos que se seguiu. Terminada a reza, Afonso VII, recordou os tempos de infância, quando haviam brincado ali, em dias de festas religiosas.

Depois queixou-se da balbúrdia que herdara na Península, culpando Dona Urraca.

Não sei o que pensais de vossa mãe, mas a minha era impossível! Com os homens, então, que desatino! Era um atrás do outro, nobres e condes, e sei lá mais quantos! Até com o confessor se aviava!

Afonso Henriques, notando semelhanças, comentou:

 - Deve ser de família.

 - O que lhes corre nas veias? Vinho? – gozou Afonso VII.

Declarou-se de acordo com o arcebispo Gelmires: as mulheres não sabiam governar! Eram loucas e inconstantes, perdiam-se de amores e enciumavam-se, gerando conflitos inúteis e terríveis.

- Deus me perdoe mas desejei tantas as vezes a morte de minha mãe! Demorou, mas Ele ouviu-me! – congratulou-se o rei.

O príncipe olhou-o, satisfeito, pois o preconceito do primo servia-lhe na perfeição, e relembrou suspeitas antigas:

- Dizem que vossa mãe terá envenenado o meu pai com peçonha em Astorga. Por isso estava daquela cor quando o vi.

Espantado, o rei de Leão ripostou.

 - Não acrediteis nisso, são boatos maliciosos. Aquele rumor nunca fora totalmente confirmado. Olhando para o príncipe, Afonso VII acrescentou:

 - Também ouvi falar dessa relíquia que vosso pai teria escondido.

Afonso Henriques confirmou-lhe a lenda, à qual nunca dera muita importância.

Aparentemente, o conde Henrique não revelara a ninguém o segredo.

Ao ouvir o primo falar no pai, o rei ficou melancólico e suspirou:

 - Mal conheci o meu, Raimundo de Borgonha, e tenho pena. Era mais um traço comum aos dois.

Raimundo morrera quando Afonso Raimundes tinha dois anos, e seu primo Henrique de Borgonha falecera quando Afonso Henriques tinha três.

As mães haviam-nos entregado a ambos nas mãos de percetores.


 Afonso Henriques vivera com a família Moniz de Ribadouro, e Afonso Raimundes com Pedro Froilaz, conde de Trava.

quinta-feira, fevereiro 11, 2016

O mundo fugia com este tipo a Presidente dos EUA

Trump
























Não restam dúvidas que os bilionários gostam de brincar à política.

Este, cansado de modelos, casou com três: uma checa, outra americana e, finalmente, uma eslovena, casamentos que custaram muitos milhões que pouco significam para quem é o 278º homem mais rico do mundo, resolveu dedicar-se à política.

Pior do que tudo isso, que nem tem mal nenhum..., sãos os disparates que diz para conseguir ser o escolhido pelos republicanos com  base em ofensas a mexicanos.

No fundo, o homem é tão rico - a sua fortuna está calculada em 10 biliões de dólares – que pode ofender quem quiser porque ele não precisa do partido, bastante dividido por sua causa, da política, nem de ninguém...

Já tinha acontecido na Europa, em Itália, com Berlusconi, um dos homens mais ricos do país, sem dúvida com mais cabeça do que este Trump, que se serviu do poder político também para se divertir e servir os seus próprios interesses.

Trump está fora desses esquemas, não é poder e esperemos que nunca o venha a ser mas não se inibe de ofender quem venha à baila, o que até provoca admiração em algumas cabeças ocas, com a argumento de que ele é sincero e diz o que pensa, mesmo que sejam calinadas como a de construir um muro para isolar o México dos EUA...

McCain, também do Partido Republicano, que concorreu a Presidente e foi vencido por Obama, reconhecido herói da guerra do Vietnam, julgava ele e nós também, porque agora o Trump diz que ele não é herói nenhum porque foi capturado – seu avião foi abatido – e ele, Trump, não gosta de pessoas que sejam capturadas... prefere, com certeza, gente como ele que não se alistou porque apresentou um atestado médico comprovativo de que tinha um esporão no pé...

Para triunfar no mundo do dinheiro, eu, que não tenho o mínimo jeito, nem tive um pai como o do Trump que, à cabeça, lhe deu logo um milhão de dólares, insignificância comparado com o que ele agora tem, admito que para além da pura sorte no aproveitamento de oportunidades, exista algum mérito quanto a decisões tomadas em determinados momentos, dou isso de barato, mas não invejo nem admiro essas qualidades com uma ou outra excepção.

Os americanos, não todos, é evidente, caem de beicinho por estes fulanos e entregam-lhes votos porque os consideram homens de sucesso.

O Sr. Trump é ignorante. Não conhece a história do seu país feita de emigrantes, o seu próprio avô veio da Alemanha, e a América está longe de ser o país onde se pagam os impostos mais altos como ele afirma.

No entanto, estas baboseiras, parecem constituir música celestial para muitos ouvidos e não me admira nada que venha a ser ele o candidato escolhido pelos republicanos para futuro Presidente dos EUA.

Seria a América no seu pior...  apesar de tudo, não acredito. A Clinton deve chegar para ele à vontade!

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O irmão Torres professa. Vai-se oferecer em castidade, pobreza, obediência... Coitado do irmão Torres! 



Anne Murray - You Needed me



O Mundo Vai acabar


Para Felipe não mudei de nome. Fui Tieta até ao fim.
Tieta do Agreste
(Jorge Amado)


EPISÓDIO Nº 76

















Quando em São Paulo, Felipe mantinha-se assíduo ao corpo de agreste sabor, ao dengue, às carícias, quase sempre castas, ao cafuné, aos ingénuos acalantos.

Quando em viagem, tomava as medidas necessárias para que nada lhe faltasse, tivesse dinheiro para não esquecê-lo e para respeitá-lo.

- Não botava chifres nele, Mãezinha?

- Quem podia botar chifres nele era a esposa, dona Olívia, mas não me consta que pusesse. Eu era sua protegida. Nunca me proibiu nada, a não ser que eu fizesse a vida.

Dei a quem quis, por querer, assim como dava em Agreste, antes de ser mulher-dama, para satisfazer o fogo me queimando o rabo, nunca por dinheiro. Fui discreta nos meus casos, sempre o respeitei e jamais falamos disso.

E ele não tinha outras?

- Nunca quis saber, nunca perguntei pelas mulheres que ele comia mundo afora. Me contaram de uma que ele trouxe da Suécia.

Alta, escultural de trigo e neve, belíssima disseram a Tieta as intrigantes. Ela cerrara os dentes, não abrira a boca. Apenas recomeçou a frequentá-la e se viu nos dengues, rindo, adormecendo no cafuné, Felipe despediu a escandinava.

Despediu, não: a beldade foi cedida, em troca de charutos cubanos, a um amigo importador, maníaco de material estrangeiro. Mesmo de segunda mão, em bom estado – observou Felipe de bom humor, concluindo que, em matéria de rapariga, tinha tendências à monogamia.

- Penso que ele ficou comigo a vida inteira porque nunca liguei para a fortuna dele, para mim não fazia diferença que fosse rico ou não, o que me prendiam eram as atenções. 

Nunca pedi nada a Felipe, a não ser, por duas vezes, dinheiro emprestado. A primeira, no dia em que nos conhecemos, se não tivesse a quantia exacta perderia a ocasião de comprar um casaco de napa, argentino, um espectáculo, novo em folha.

Tudo mais o que ele me deu foi de livre e espontânea vontade.

Os apartamentos, um a um, em prédios cuja construção incorporara. Um dia chegou com a planta de um edifício, abriu na cama.

Estou construindo esse prédio, doze andares, na Alameda Santos.

- Puxa! Que colosso!

- Reservei um apartamento para você. São todos iguais: sala e dois quartos. Tem quatro em cada piso.

- Tu ficou doido? Para eu pagar com quê?

- Quem falou em pagar? É um presente, está completando três anos que nos conhecemos.

Com tanta coisa em que pensar, Felipe recordava datas, aniversários. Apegara-se a Tieta, mais ainda se apegara ela a esse homem que lhe dava tanto e tão pouco lhe pedia.

Aos pés do leito, os chinelos sob travesseiros, o pijama de Filipe. Os edifícios cresceram em andares, os apartamentos em tamanho. No último prédio, imenso, uma cidade, ganhou loja no andar térreo, ponto caríssimo.

Se ela lhe deu carinho, ele pagou em dinheiro – ou em bens, a mesma coisa: o melhor é pagar em dinheiro, fica mais barato e não dá aporrinhação.

- Um dia, Madame Georgette me chamou para conversar. Queria passar o negócio adiante, ia a voltar para França, me ofereceu a preferência.

Madame Georgette depositava na França economias e lucros, comprara casa na banlieue de Paris, sempre pensara no regresso e na aposentadoria.

Quando falou em Tieta, já adquirira a passagem de navio para daí a dois meses. Pela segunda vez, ela pediu a Felipe dinheiro emprestado.

- Você não me pagou o que tomou no dia em que conheci – pôs-se ele a rir – deixe comigo, acerto com Georgette, o Nid é seu.

- Faz mais de treze anos que assumi. Reformei tudo, modernizei, separei um apartamento para mim e Felipe, aquele luxo. Mudei o nome e aumentei os preços.

- Por que mudou o nome Mãezinha?

- Nid d’Amour cheirava muito a casa de puta. Refúgio dos Lordes é mais decente. São todos uns lordes, os meus fregueses. Em troca, tive de mudar meu nome. Conselho de Felipe.

- Um randevu de alto bordo e preços de esfolar tem de ser dirigido por francesa, ma belle. Madame Antoinette vai muito bem com o seu tipo – assim ele dissera.

- Nome francês com minha cor, meu bem? Não pode ser.

- Francesa da Martinica, como Josefina, a de Napoleão. Os fregueses fizeram-se amigos, o prestígio do rendevu cresceu, frequentar o Refúgio dos Lordes tornou-se privilégio mais disputado do que ser sócio do Jóquei Clube, da Sociedade Hípica, dos clubes mais fechados de São Paulo.

No apartamento reservado, com o máximo conforto, aos pés do leito, os chinelos de Felipe, sob o travesseiro, o pijama.

Envelhecera, enviuvara, o Papa agraciara-o com o título de comendador, viajava pouco, apenas super-entendia as múltiplas empresas, cada vez mais presente à cama e ao riso cálido de Tieta.

- Para Felipe não mudei de nome, fui Tieta do Agreste até ao fim.

Para os demais, Madame Antoinette, francesa nascida nas Antilhas do casamento de um General de La Republique com uma mestiça.

Educada em Paris, desperdiçando charme, mestra no ofício de escolher mulheres, especiarias para o gosto caro dos clientes, os mais ricos de São Paulo, Dieu Merci.

 Para as duas ou três raparigas que, como Leonora habitam permanentemente no Refúgio dos Lordes, é Mãezinha, exigente e generosa, temida e amada.


Subsídio para famílias

numerosas














O Governo anunciou que as famílias que tivessem cinco filhos teriam 15.000€ por mês de ajuda (abono de família) para sustentar a família.

Um homem, que tinha quatro filhos, vira-se para a mulher e diz:

- Amor, eu devo admitir… Eu tenho um filho com minha amante e vou trazê-lo agora mesmo!

Ela olhou para ele chocada, mas, como ele não podia esperar, saiu a correr para ir buscar o 5º filho.

Quando voltou, ficou surpreso ao ver apenas dois dos seus filhos e perguntou à sua esposa:

 - Amor, onde estão os outros dois filhos?

Ela respondeu:

- Tu não foste a única pessoa que ouviu o anúncio! O pai deles veio buscá-los.

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 187



















Teresa de Celanova olhou-o, transtornada:

 - Isso é uma injustiça! Salvei Guimarães e agora não me deixam ir?

Senti que era tempo de intervir e aproximei-me da esposa de meu pai. Tocando-lhe no braço amavelmente, disse.

 - A Maria está grávida e não tem passado bem, depois da cavalgada que fizemos a fugir de Braga. Gostava de vos pedir ajuda.

Num primeiro momento, em que o desejo de partir era ainda mais forte do que o sentimento de solidariedade com a nora, Teresa de Celanova continuou irritada, mas pouco depois cedeu perante minha insistência e sorriu, para nosso alívio.

Por fim, meu tio Ermígio Moniz, propôs:

 - Iremos os quatro. Afonso Henriques, Egas, Lourenço e eu.

Paio Mendes e João Peculiar regressam a Braga.

Do fundo da mesa, Gonçalo perguntou:

 - E eu?

Teresa de Celanova, fingindo-se zangada, repreendeu-o

- Ides para casa de vosso pai, para serdes educado outra vez!

Enquanto saíamos da sala a rir, notei que Gonçalo permanecia sentado e contrariado.

Afonso Henriques perguntou-lhe o que se passava e ele respondeu:

 - A Zaida está em Tui. Prometeu casar comigo, se a levasse a Córdova.

O príncipe, percebendo o desejo dele disse-lhe:

- Ide preparar-vos, vindes também.

No final do dia, a única pessoa que ficou furiosa por não peregrinar até Compostela foi Raimunda, que o príncipe não autorizou que nos acompanhasse.


O motivo era óbvio, sendo também o maior temor da minha prima. Afonso Henriques sabendo que Paio Soares estava para Coimbra, queria visitar Chamoa em Tui, no regresso de Compostela.

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