sábado, janeiro 25, 2014

IMAGEM



Ricardo A. Pereira e Gato Fedorento

A VELHICE


O médico atende o paciente idoso e milionário, que estava a usar um revolucionário aparelho de audição, e pergunta:
- E então, Sr. Almeida, está a gostar do aparelho?
- É muito bom! Respondeu o velhinho.
- E a família gostou? ? Pergunta o médico.
- Não contei a ninguém ainda... Mas já mudei o meu testamento três vezes!


Mais de 35%

de eficiência…




Almada Negreiros dizia que “um povo completo tem todas as qualidades e todos os defeitos.

 - Coragem, portugueses, já só vos faltam as qualidades!”

Esta imagem corresponde bastante ao que pensamos de nós mesmos. Alimentamos, de resto, o gosto da auto-crítica, temos prazer em dizer mal do nosso país e dos seus habitantes. Não há nada que mais entusiasme um português que dizer mal do seu vizinho.

A auto-estima dos portugueses é baixa e isso afecta-os na confiança, dificulta-lhes o futuro. Na verdade, colectivamente, somos pró fracalhote por falta de uma tradição de bons exemplos da parte das classes nobres, mandantes e poderosas deste país, desde sempre.

Educa-se pela palavra mas sem exemplo adianta pouco… O trabalho como método de enriquecimento é fundamental em substituição da “esperteza saloia” tão caracteristicamente nacional.

As energias e as vitalidades têm que ser educadas ou, se quiserem, encaminhadas por quem tem responsabilidades na condução do país aos mais variados níveis, para servirem correctamente os interesses dos próprios e os da comunidade em reciprocidade. Casos isolados de coragem, confiança, espírito vencedor são, isso mesmo, sucessos individuais que tanto jeito tem dado ao país nestes últimos anos.

Mas senão cultivarmos valores de ética, cidadania e de respeito pelo colectivo, a tendência irá noutro sentido e tornar-se-á padrão na sociedade: o “chico espertismo”, a técnica do desenrascanço.

Não basta ficarmo-nos pelo que é legal. Os maiores crimes contra os interesses do país cometeram-se em aparentes legalidades e daí a dificuldade da justiça condenar os prevaricadores e, também por isso, os processos se arrastam e raramente resultam em condenações em conformidade com os delitos, muitas vezes multas ridículas.

A Justiça é a pedra basilar de uma sociedade porque prevaricadores sempre os houve e há-de haver em todas as sociedades e as pessoas sabem que é assim. A diferença de umas para outras está na eficiência e celeridade com que a justiça actua.

Os cidadãos aguardam esses sinais e se eles não aparecem sobra a descrença, o desalento e a sociedade, o colectivo, começa a pensar mal de si próprio.

O Estado português conseguiu no ano passado cobrar receitas mais de 35% superiores às do ano anterior, coisa nunca atingida em nenhum outro país, autêntico recorde, sendo que, cobrança de impostos é, efectivamente, uma das obrigações dos Estados, desde sempre.

Parece que pelo meio houve um perdão fiscal… mas recordes são recordes.

Suponham agora que o mesmo Estado, que foi 35% mais eficiente na cobrança de impostos, era também 35% mais eficiente na aplicação da justiça?

Eu, como português, ter-me-ia sentido muito orgulhoso por essa eficiência acrescida de 35%. Agora, na cobrança de impostos, mesmo que em parte tenha a ver com aqueles que deviam pagar e não pagavam, caloteiros que andavam fugidos, tresmalhados, mesmo assim só significa que o Estado enlouqueceu em ir-nos aos bolsos.

Eu e os meus colegas reformados e funcionário do Estado somos vítimas predilectas porque nem temos, sequer, oportunidade de os pagar. É tudo descontado no recibo de pagamento, umas vezes explicado, outras esquecido.

Mas não há surpresa. O ministro das Finanças, o que se foi embora escrevendo uma carta em que reconhecia ter falhado, ameaçou logo na entrada em funções, que íamos ser sujeitos a um enorme aumento de impostos.

Vejamos um caso concreto, o meu. Em 2000, quando me reformei, foi-me atribuída uma pensão anual de 36.786.73. Reparem que eu digo atribuída e não dada porque, se falamos em dar depois falamos em tirar e daí a roubar é um pequeno passo como se demonstra nas manifestações.

Pois bem, fazendo fé na importância do que me foi entregue neste 1ª mês de Janeiro e multiplicando por 12 meses,  verifico que mais de 45% já lá vai… mas, sabendo nós, que vamos descontar mais 1,5% para o sistema de Saúde começamos a aproximarmo-nos da metade para eles, metade para mim..

Chegados aqui, uma pergunta se pode fazer:

 - O meu país alguma vez produziu riqueza que lhe permitisse pagar no futuro a pensão que me foi atribuída no Ano 2000?

- Não terá sido tudo isto uma ficção, um desejo de voar alto, o alimentar de um sonho bom com muita má gestão, demagogia e alguma roubalheira à mistura?

Pessoalmente não me queixo. Seria injusto para com tantos concidadãos meus, da minha geração, que também trabalharam uma vida inteira para o Estado e sobrevivem com muito menos.

Para se queixar, de resto, temos o nosso Presidente da República que trocou o seu ordenado pela reforma de 10.000 euros, que lhe é superior, e em Janeiro de 2012 dizia no Porto numa entrevista:

 - “Tudo somado, quase de certeza que não vai chegar para pagar as minhas despesas porque, como sabe, eu não recebo salário como PR.”  

Com governos como estes, que nos trouxeram aonde estamos e Presidentes “solidários” como Cavaco, os portugueses, ordeiros, que não incendeiam carros nas ruas nem partem montras, podem gabar-se de ser um povo maduro, uma verdadeira pátria a merecer o respeito e a confiança dos credores.

Quincas estava sorrido para ele...
A MORTE
E A MORTE
DE QUINCAS
BERRO
DÁGUA

Episódio Nº 21



Caçava ratos e sapos para vendê-los aos laboratórios de exames médicos e experiências científicas – o que tornava Pé-de-Vento figura admirada, opinião das mais acatadas.

Não era ele um pouco cientista, não conversava com doutores, não sabia palavras difíceis?

Só após muito caminho e vários tragos deram com ele, embrulhado em seu vasto paletó, como se sentisse frio, resmungando sozinho.

Soubera da notícia por outras vias e também ele buscava os amigos. Ao encontrá-los, meteu a mão num dos bolsos. Para retirar um lenço com que enxugar as lágrimas, pensou Curió.

Mas, das profundezas do bolso, Pé-de-Vento, extraiu uma pequena jóia verde, polida esmeralda.

Tinha guardado para Quincas, nunca encontrei uma tão bonita.


IX


Quando surgiram na porta do quarto, Pé-de-Vento adiantou a mão em cuja palma estendida estava pousada a jóia de olhos saltados.

Ficaram parados na porta, uns por detrás dos outros. Negro Pastinha avançava a cabeçorra para ver, Pé-de-Vento, envergonhado, guardou o animal no bolso.

A família suspendeu a animada conversa, quatro pares de olhos hostis fitaram o grupo escabroso.

Só faltava aquilo, pensou Vanda. Cabo Martim, que em matéria de educação só perdia para o próprio Quincas, retirou da cabeça o surrado chapéu, cumprimentou os presentes:

 - Boa tarde, damas e cavaleiros. A gente queria ver ele…

Deu um passo para dentro, os outros o acompanharam. A família afastou-se, eles rodearam o caixão. Curió chegou a pensar num engano, aquele morto não era Quincas Berro Dágua.

Só o reconheceu pelo sorriso. Estavam surpreendidos os quatro, nunca poderiam imaginar Quincas tão limpo e elegante, tão bem vestido.

Perderam num instante a segurança, diluiu-se como por encanto a bebedeira. A presença da família – sobretudo das mulheres – deixava-os amedrontados e tímidos, sem saber como agir, onde pousar as mãos, como comportar-se ante o morto.

Curió fitou os outros três, ridículo com seu rosto pintado de vermelhão e seu fraque roçado, a pedir que fossem dali o mais depressa possível.

Cabo Martim vacilava, como um general em vésperas de batalha enxergando o poderio inimigo. Pé-de-Vento chegou a dar um passo em direcção à porta.

Só Negro Pastinha, sempre por detrás dos outros, a cabeçorra estirada para a frente, não vacilou sequer um segundo.


Quincas estava sorrindo para ele, o negro sorriu também. Não havia força humana capaz de arrancá-lo dali, de perto do paizinho Quincas.

sexta-feira, janeiro 24, 2014

IMAGEM 

Puro equilíbrio a preto e branco e à beira-mar.



Desta vez sem imagens para nos podermos concentrar melhor no prodígio desta voz e na beleza desta canção.


Aquele jacaré tinha bruxedo...


AS MULHERES

DE HOJE




Cada um de nós é o produto da época e da sociedade em que nasce e em 1939 a sociedade portuguesa era dominada pelos homens, pelo menos na aparência, porque na intimidade dos lares, muitas vezes, eram as mulheres que decidiam e organizavam tudo ainda que de forma oculta e sub-reptícia para salvaguardar as aparências de uma sociedade machista e patriarcal.

Na família onde nasci o”homem” da casa era a minha mãe. Era ela que educava os filhos para além, já se vê, de tratar deles na saúde e na doença. Comandava, igualmente, o exército das criadas que chegaram a ser três: a cozinheira, a de “fora” e a dos “meninos” e organizava tudo desde os “assaltos” lá em casa (17 assoalhadas) pelo Carnaval, enquanto que o meu pai passava discreto por aquele autentico turbilhão de energia que era a minha mãe.

Quando, no pós guerra, o meu pai comprou o Vauxhall,  ela tirou a carta de condução em pouco mais de 20 lições e sujeitou-se a ouvir toda a espécie de piropos quando conduzia na baixa lisboeta desde o clássico “vai cozer meias” que era, por excelência, a tarefa que os homens reservavam às mulheres para as humilhar e castigar pelo atrevimento e ousadia em desempenharem funções que as promoviam socialmente, que era, ao fim e ao cabo, o grande pecado.

Não seria este o panorama geral dos lares e das mulheres portuguesas na década de 40 e esta é mais uma razão para uma palavra de elogio à minha mãe pela coragem e arrojo necessários para escandalizar a sociedade da sua época com comportamentos que incluíam também o de fumar e que, de há muito, fazem parte do dia a dia de todas as portuguesas.

Mas estamos agora a assistir a um autêntico volte-face desta situação que se prolongou demasiado no nosso país com resultado de uma moral e costumes impostos pelo medo e à força por um regime bolorento que só terminou em 25 de Abril.

E foi pena que assim tivesse acontecido porque a marcha de uma sociedade não deve ser retida artificialmente, barrada no seu percurso natural determinado pelas influências normais que se desencadeiam no seu seio permitindo que a adaptação a novos comportamentos possam ser feitos de uma forma crítica, gradual e sem traumas.

Não foi assim que aconteceu. Registaram-se quebras abruptas de princípios e valores arrastados na enxurrada da revolução dos cravos comprovando que os malefícios dos regimes de força constituem uma chaga social que dura enquanto eles existem e perduram ainda durante muitos anos depois de terminarem.

Mas, esquecendo agora a minha mãe que talvez não sirva de exemplo, sempre me pareceu injusto, face à responsabilidade e ao volume de trabalho que recaíam sobre a mulher, o papel subalterno que o homem lhe reservava.

Hoje, quando vejo as Universidades, maioritariamente preenchidas por alunos do sexo feminino, quando entro num Serviço Público e me apercebo que a maioria esmagadora dos funcionários, incluindo as chefias, são mulheres e quando, nos ecrãs da TV, me aparece uma jovem loura a falar na qualidade de responsável máxima da PSP de Lisboa, vem-me à memória o que era a sociedade portuguesa nos tempos idos da minha meninice e compreendo, então, que os privilégios que os homens, ciosamente, reservavam para si, tinham a ver com a percepção sentida de que, em termos de competição pura, seriam facilmente ultrapassados.

Ana Paula Vitorino, engenheira civil, Secretária de Estado dos Transportes em Março de 2005, foi a primeira mulher escolhida para ditar as políticas públicas nos sectores marítimo-portuários, logístico, ferroviário, transportes urbanos e ferroviários.

Reuniu-se, a propósito do Dia Internacional da Mulher, com as suas 14 líderes de primeira linha e a sua preocupação é de ainda não existirem mulheres nos Conselhos de Administração da CP, da Refer, do Metro de Lisboa e do Porto o que, provavelmente, em breve poderá acontecer.

Kjell Nordstrom, Guru do ano 2000 e que há quase uma década teoriza sobre a vantagem competitiva das mulheres explica-nos a razão desta evolução:

-“As mulheres adequam-se melhor às características das sociedades modernas, urbanas, democráticas e igualitárias onde as pessoas são reconhecidas pelo mérito do seu desempenho”.

E acrescenta:

-Mas agora entrámos verdadeiramente noutra fase, em que as aptidões e os perfis procurados são muito mais femininos, privilegiando a maior capacidade de gerir tensões e coligações de forma pacífica e eficaz, sem transformar o mínimo atrito numa competição agressiva”.

-Um bom exemplo é dado pela Chanceler alemã Ângela Merkl e pelo seu hercúleo trabalho a gerir a coligação política que governa a Alemanha.

Lembram-se do papel pacificador que as mulheres desenvolviam com toda a diplomacia e descrição no seio das grandes famílias patriarcais do século XIX?

Sem esquecermos a nossa 1º Ministro, Maria de Lurdes Pintassilgo que muito honrou a nossa classe política de governantes, o nosso país não pode equiparar-se, neste aspecto, aos nórdicos onde, por exemplo, na Noruega, o governo tem 50% de mulheres.

Tradicionalmente, os homens latinos desempenharam um papel muito apagado na criação dos filhos e esta realidade reduziu-os na sua dimensão humana, na sua capacidade de decisão a todos os níveis e tornou-os menos responsáveis.

Quem hoje é avô depois de ter sido pai há 40 anos atrás compreende melhor este ponto de vista.

São, pois, profundas as alterações que estão a acontecer na estrutura da sociedade contemporânea e o homem se quiser desenvolver características que nas mulheres são natas e que hoje as tornam importantes para liderar a gestão moderna há que começar a treinar, como hoje já fazem muitos jovens pais, na criação e educação dos seus filhos desde o nascimento em paralelo com as mães.

Caso contrário, estaremos a evoluir para uma sociedade de cotas para homens, na melhor das hipóteses. Na pior vejam só qual é o papel dos machos na sociedade das hienas…

Problemas...
Problemas conjugais...



Um grupo de senhoras atravessando dificuldades conjugais resolveram frequentar um curso na procura de soluções para os seus problemas.

A coordenadora sugeriu que cada uma delas enviasse ao respectivo marido uma mensagem dizendo simplesmente:  - "Amo-te".

Seguidamente trocaram os telemóveis e encontraram respostas como estas:

 - "O que é que te deu?"

 - "Diz logo, quanto dinheiro é que queres?"

 - "Já sei, bateste com o carro"

 - "O que é que aconteceu?"

E a mais grave:

 - "Quem és tu?"  

A VELHICE...






DOIS VELHOTES, JÁ COM OS PÉS PARA A COVA, UMA NOITE, DECIDEM IR DAR UMA VOLTA PELA CIDADE.

DEPOIS DE ALGUMAS BEBIDAS ELES ACABAM NUM BORDEL.

A DONA DO BORDEL DEPOIS DE OLHAR PARA OS DOIS SUSSURROU PARA A EMPREGADA:

- VAI LÁ ACIMA AOS DOIS PRIMEIROS QUARTOS E PÕE UMA BONECA INSUFLÁVEL EM CADA CAMA. ELES SÃO TÃO VELHOS E ESTÃO TÃO BÊBADOS QUE NÃO VÃO DAR PELA DIFERENÇA.

A EMPREGADA PREPAROU TUDO E LEVOU OS VELHOS PARA CIMA.


NO REGRESSO A CASA UM VELHOTE DIZ PARA O OUTRO:

- ACHO QUE A FULANA COM QUEM FIZ AMOR, ESTAVA MORTA...

- MORTA? PERGUNTA O AMIGO, PORQUE DIZES ISSO?

- BEM, ELA NÃO SE MOVEU TODA A NOITE NEM EMITIU NENHUM SOM ENQUANTO EU FAZIA AMOR COM ELA...

O AMIGO RESPONDEU:

- PODIA-TE TER CALHADO PIOR, COMO A MIM: EU ACHO QUE A MINHA ERA UMA BRUXA!


- UMA BRUXA? PORQUE RAZÃO DIZES ISSO?


- BEM, EU ESTAVA A FAZER AMOR COM ELA, BEIJEI-A NO PESCOÇO E DEI-LHE UMA DENTADINHA NO BICO DA MAMA. ELA PEIDOU-SE, VOOU PELA JANELA FORA E AINDA POR CIMA LEVOU A MINHA DENTADURA.






 MORREU O PAI DA GENTE....
A MORTE
E A MORTE
DE
QUINCAS
BERRO
DÁGUA

Episódio Nº 20


Cabo Martim fitou-os com olho competente, demorando-se na garrafa em cálculos precisos, comentou para a roda:

 - Aconteceu alguma coisa importante para eles já terem bebido uma garrafa. Ou bem Negro Pastinha ganhou no Bicho ou Curió ficou noivo.

Porque sendo Curió um incurável romântico, noivava frequentes vezes vítima de paixões fulminantes. Cada noivado era devidamente comemorado, com alegria ao iniciar-se, com tristeza e filosofia ao encerrar-se, pouco tempo depois.

- Alguém morreu… - disse um chauffeur.

Cabo Martim estende o ouvido.

 - Morreu! Morreu!

Vinham os dois curvados ao peso da notícia. Das Sete Portas à Água dos Meninos, passando pela rampa dos saveiros e pela casa de Carmela, haviam dado a triste nova a muita gente.

Porque cada um, ao saber do passamento de Quincas, logo destapava uma garrafa? Não era culpa deles, arautos da dor e do luto, se havia tanta gente pelo caminho, se Quincas tinha tantos conhecidos e amigos.

Naquele dia começou-se a beber na Baía muito antes da hora habitual. Não era para menos, não é todos os dias que morre um Quincas Berro Dágua.

Cabo Martim esquecido da briga, o baralho suspenso na mão, observava-os cada vez mais curioso. Estavam chorando, já não tinham dúvidas. A voz do Negro Pastinha chegava estrangulada:

 - Morreu o pai da gente…

- Jesus Cristo ou o governador? – perguntou um dos moleques com vocação de piadista. A mão do negro o suspendeu no ar, atirou-o ao chão.

Todos compreenderam que o assunto era sério. Curió levantou a garrafa e disse.

 - Berro Dágua morreu!

Caiu o baralho da mão de Martim. O feirante malicioso viu confirmar-se suas piores suspeitas: ases e damas, cartas de banqueiro, espalharam-se em quantidade.

Mas também até ele chegou o nome de Quincas, resolveu não discutir. Cabo Martim requisitava a garrafa de Curió, acabou de esvaziá-la, atirou-a fora com desprezo.

Olhou longamente a feira, os caminhões, as marinetes na rua, as canoas no mar, a gente indo e vindo. Teve a sensação de um vazio súbito, não ouvia sequer os pássaros nas gaiolas próximas da barraca de um feirante.

Não era homem de chorar, um militar não chora mesmo após ter deixado a farda. Mas seus olhos ficaram miúdos, sua voz mudou, perdeu toda a fanfarronada.

Era quase uma voz de criança a perguntar:

 - Como pôde acontecer?

Juntou-se aos outros após recolher o baralho, faltava ainda encontrar Pé-de-Vento.

Esse não tinha pouso certo, a não ser às quintas e domingos à tarde, quando invariavelmente brincava na roda de capoeira de Valdemar na Estrada da Liberdade.


quinta-feira, janeiro 23, 2014

CIRQUE DU SOLEI - ÓSCAR  2012



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Para matar saudades da já muito distante guerra de Angola e do Unimog a gasóleo que era bem mais perigoso a curvar em estradas alcatroadas do que a atravessar rios...


Rod Stewart & Amy Belle  - I Dont Want To Talk About It

Delícia de canção na voz única de Rod Stewart muito bem acompanhado Amy Belle.


Ah! estes profissionais...


O Orgasmo

Feminino






O orgasmo feminino é uma coisa da qual as mulheres percebem muito pouco, e os homens ainda menos. Pelo facto de ser uma reacção endócrina, que se dá sem expelir nada, não se apresenta nenhuma prova evidente de que aconteceu, ou de que foi simulado.

Diante deste mistério, investigações continuam, pesquisas são feitas, centenas de livros são escritos, tudo para tentar esclarecer este assunto.

A acompanhar este tema, deu no outro dia uma entrevista na TV com uma conhecida sexóloga, que apresentou uma pesquisa feita nos Estados Unidos na qual se mediu a descarga eléctrica emitida pela periquita no instante do orgasmo. Os resultados mostram que, na hora H, a pardaleca dispara uma carga de 250.000 micro volts. Ou seja, 5 passarinhas juntas, ligadas em série na hora do ‘ai meu Deus’, são suficientes para acender uma lâmpada. E uma dúzia é capaz de provocar a ignição no motor de um Carocha com a bateria em baixo. Já há até mulheres a treinar para carregar a bateria do telemóvel: dizem que é só ter o orgasmo e, tchan…carregar.

Portanto, é preciso ter muito cuidado porque aquilo, afinal, não é uma rata: é uma torradeira eléctrica!!! E se der curto-circuito na hora de ‘virar os olhos’ além de cego, fica-se com a doença de Parkinson e com a salsicha assada.

Preservativo agora é pouco: tem de se mandar encamisar na Michelin. E, no momento da descarga, é recomendado usar sapatos de borracha, não os descalçar e não pisar o chão molhado. É também aconselhável que, antes de se começar a molhar o biscoito, se pergunte à parceira se ela é de 110 ou de 220 volts, não se vá esturricar a alheira…

VELHICE



Um casal idoso estava num cruzeiro e o tempo estava tempestuoso. Eles estavam sentados na traseira do navio, a olhar a lua, quando uma onda veio e levou a velha senhora. Procuraram por ela durante dias, mas não conseguiram encontrá-la.

O capitão enviou o velho senhor para terra, com a promessa de que o notificaria assim que encontrasse alguma coisa.

Três semanas passaram-se e finalmente ele recebeu um fax do navio. Ele leu:

-  "Senhor: lamento informar que encontramos o corpo da sua esposa no fundo do mar. Nós a içamos para o barco e, presa a ela, tinha uma ostra. Dentro da ostra havia uma pérola que deve valer 50.000 euros. Por favor, diga-nos o que fazer."

O velho homem respondeu:

- "Mande-me a pérola e atire de novo a isca."

... o pai da gente.... - repetia o coro
A MORTE

E A MORTE

DE QUINCAS

BERRO

DÁGUA

Episódio Nº 19




A morte de Quincas aumentava, onde ia chegando, a consumação de cachaça. De longe, Curió, observava a cena. A notícia andara mais depressa do que ele. Também o negro o viu, soltou um urro espantoso, levantou os braços para o céu, levantou-se.

 - Curió, irmãozinho, morreu o pai da gente.

 - … o pai da gente… - repetiu o coro.

 - Cala a boca, pestes. Deixa eu abraçar irmãozinho Curió.

Cumpriam-se os ritos de gentileza do povo da Baía, o mais pobre e o mais civilizado. Calaram-se as bocas. As abas do fraque de Curió elevavam-se ao vento, sobre sua cara pintada começaram a correr as lágrimas.

Três vezes abraçaram-se, ele e o negro Pastinha, confundindo seus soluços. Curió tomou da nova garrafa, buscou nela a consolação. Negro Pastinha não encontrava consolação:

 - Acabou a luz da noite…

 - … a luz da noite…

Curió propôs.

 - Vamos buscar os outros para ir visitar ele.

Cabo Martim podia estar em três ou quatro lugartes. Ou dormindo em casa de Carmela, cansado ainda da noite da véspera, ou conversando na rampa do Mercado, ou jogando na Feira de Água dos Meninos.

Só a essas três ocupações dedicava-se Martim desde que dera baixa do Exército, uns quinze anos antes: o amor, a conversação e o jogo. Jamais tivera outro ofício conhecido, as mulheres e os tolos davam-lhe suficiente com que viver.

Trabalhar depois de ter envergado a farda gloriosa, parecia a Cabo Martim, uma evidente humilhação. Sua altivez de mulato boa pinta e a agilidade de suas mãos no baralho faziam-no respeitado. Sem falar em sua capacidade ao violão.

Estava ele exercendo suas habilidades na Feira de Água dos Meninos, ao baralho. Ao fazê-lo com tanta simplicidade, concorria para a alegria espiritual de alguns “chauffeurs” de marinete e caminhão, colaborava na educação de dois molecotes que iniciavam seu aprendizado prático da vida e ajudava uns quantos feirantes a gastar os lucros obtidos nas vendas do dia.

Realizava assim obra das mais louváveis. Não se explica, por consequência, que um dos feirantes não parecesse entusiasta do seu virtuosismo ao bancar, rosnando entre dentes que “tanta sorte fedia a bandalheira”.

Cabo Martim levantou para o apressado seus olhos de azul inocência, ofereceu-lhe o baralho para que ele bancasse, se ele quisesse e para tanto possuísse a necessária competência. Quanto a ele, Cabo Martim, preferia apostar contra a banca, quebrá-la rapidamente, reduzir o banqueiro à mais negra miséria.

E não admitia insinuações sobre a sua honestidade. Como antigo militar, era especialmente sensível a qualquer murmúrio que envolvesse a sua honradez. Tão sensível que a uma nova provocação seria obrigado a quebrar a cara de alguém.

Cresceu o entusiasmo dos rapazolas, os chauffeurs esfregavam as mãos, excitados. Nada mais deleitável que uma boa briga, assim gratuita e inesperada.

Nesse momento, quando tudo podia se passar, surgiram Curió e Negro Pastinha carregando a notícia trágica e a garrafa de cachaça com um restinho no fundo.

Ainda de longe gritaram para o Cabo.

 - Morreu! Morreu!                                                                     

quarta-feira, janeiro 22, 2014


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 Um belo enquadramento do velho cacilheiro que liga as duas margens do Tejo em Lisboa.



MIDDLE OF THE ROAD - YELLOW BOOMERANG

Continuamos a recordar os Middle of the Road  dos princípios dos anos 70 quando se ouvia música e muito menos televisão. Nenhuma na Beira, em Moçambique.

A Velhice 



Uma velhota, durante a missa, inclina-se e diz ao ouvido do seu marido:

- Acabo de soltar um pum silencioso. 

Que achas que devo fazer?


O velho responde?


- Agora nada. Mas quando sairmos vamos comprar pilhas novas para o teu aparelho auditivo.

A Lenda do
Santo Graal


Tradicionalmente conhecido como o Santo Graal o cálice que Jesus teria usado na sua última refeição antes de ser morto e com o qual José de Arimatéia teria recolhido o sangue de Jesus quando Ele estava pregado na cruz. Não é plausível pensar que alguém mantenha a taça e ela se tenha preservado durante séculos. No entanto, a busca do "sagrado objecto" está cheio de lendas na Idade Média.

A religiosidade daqueles tempos estava obcecada pela busca e adoração de relíquias. A principal dessas lendas, transmitidas oralmente no início, e depois registada por escrito, é a dos Cavaleiros do mítico rei Arthur que procuraram o Santo Graal em Albion, ilha mitológica identificada com a Grã-Bretanha, onde, como rico comerciante, José de Arimatéia tinha chegado levando essa taça.
Houve outras lendas em torno do Santo Graal por toda a Europa. Com o tempo, o Graal não era mais uma taça específica para se tornar num objecto espiritual que assegurava saúde. Foi sendo equiparada à pedra filosofal, a um objecto secreto dos Cavaleiros da Ordem dos Templários ou outros objectos misteriosos.

Mais recentemente, e para reforçar a ideia da linhagem real de Jesus Cristo, o Santo Graal tornou-se equivalente ao Sangue Real ou "Sangreal". Numa interpretação ainda mais simbólica é proposto para o Graal, o cálice, como uma alegoria da matriz feminina, tal como o expressa no romance "O Código Da Vinci" de Dan Brown.

A lenda do Santo Graal tem sido uma fonte de inspiração para muitas obras de arte: a ópera "Parsifal", de Richard Wagner, o filme "Excalibur", de John Boorman, o romance "O Pêndulo de Foucault" de Umberto Eco.

Morreu o pai da gente...
A MORTE
E A MORTE
DE QUINCAS
BERRO
DÁGUA

Episódio Nº 18


Durante anos e anos haviam-se encontrado todos os dias, haviam estado juntos todas as noites, com dinheiro ou sem dinheiro, fartos de bem comer ou morrendo de fome, dividindo a bebida, juntos na alegria e na tristeza.

Curió sòmente agora percebia como eram ligados entre si, a morte de Quincas parecia-lhe uma amputação, como se lhe houvessem roubado um braço, uma perna, como se lhe tivessem arrancado um olho.

Aquele olho do coração do qual falava a mãe-de-santo Senhora, dona de toda a sabedoria. Juntos, pensou Curió, deviam chegar ante o corpo de Quincas.

Saiu em busca do negro Pastinha, àquela hora certamente no Largo das Sete Portas, ajudando bicheiros conhecidos, arranjando uns cobres para a cachaça da noite.

Negro Pastinha media quase dois metros, quando estufafa o peito parecia assemelhava um monumento, tão grande e forte era.

Ninguém podia com o negro quando lhe dava a raiva. Felizmente coisa difícil de acontecer, pois negro Pastinha era de natural alegre e bonacheirão.

Encontrou-o no Largo das Sete Portas, como calculara. Lá estava ele sentado na calçada do pequeno mercado, debulhado em lágrimas, segurando uma garrafa quase vazia.

Ao seu lado, solidários na dor e na cachaça, vagabundos diversos faziam coro às suas lamentações e suspiros. Já tivera conhecimento da notícia, compreendeu Curió ao ver a cena.

Negro Pastinha virava um trago, enxugava uma lágrima, urrava em desespero:

 - … Morreu o pai da gente…

 - … pai da gente… - gemiam os outros.

Circulava a garrafa consoladora, cresciam lágrimas nos olhos do negro, crescia seu agudo sofrer:

 - Morreu o homem bom…

 - … homem bom…

De quando em quando um novo elemento incorporava-se à roda, por vezes sem saber do que se tratava. Negro Pastinha estendia-lhe a garrafa, soltava seu grito de apunhalado:

 - Ele era bom…

 - … era bom… - repetiam os demais, menos o novato à espera de uma explicação para os tristes lamentos e a cachaça grátis.

 - Fala também, desgraçado… - Negro Pastinha, sem se levantar, espichava o poderoso braço, sacudia o recém-chegado, um brilho mau nos olhos – Ou tu acha que ele era ruim?

Alguém se apressava a explicar, antes que as coisas se tornassem mal paradas:

 - Foi Quincas Berro Dágua quem morreu.

 - Quincas?... Era bom… - dizia o novo membro do coro, convicto e aterrorizado.

 - Outra garrafa! – reclamava entre soluços, Negro Pastinha.

Um molecote levantava-se ágil, dirigia-se à venda vizinha:

 - Pastinha quer outra garrafa.

terça-feira, janeiro 21, 2014

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E esta, hein?...


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Duas mulheres representantes de uma sociedade que tem vergonha delas...


Middle Of the Road - Chirpy Chirpy Cheep Cheep

Mas que música bem disposta, esta, que já tem tem 40 anos na nossa memória...


A Força da Lógica


Duas freiras regressam ao convento já de noite e apercebem-se, a dado momento, que são seguidas por um homem.

Uma delas pergunta à outra:

 - Ó irmã, o que quererá o homem de nós?

- É lógico, irmã, que o homem nos quer apanhar para nos violar…

- Então, irmã, é melhor corrermos para o convento. Mas o homem começou também a correr e a aproximar-se o que não era difícil atendendo às longas vestes das freiras.

- Irmã, diz a da lógica: se temos que ser apanhadas, separemo-nos e sigamos caminhos diferentes. Assim, pela lógica, só uma de nós será sacrificada.

E assim fizeram.

A irmã da lógica que continuou a ser perseguida chegou mais tarde ao convento enquanto que a outra a esperava ansiosa e preocupada.

- Então, irmã, o que aconteceu?...

- Ora, irmã, como era lógico o homem apanhou-me.

 - E depois, irmã, e depois…

 - Ora, como era lógico, eu levantei as vestes e o homem baixou as calças até aos pés…

 - E depois, irmã… e depois?...

 - Depois, irmã, eu fugi porque, como é lógico, uma freira com as saias levantadas corre muito mais do que um homem com as calças abaixadas.

A GRANDE

REVOLUÇÃO

(continuação)




No próximo Oriente, desde o norte do Mar Vermelho até ao alto do Vale do Eufrates o aparecimento de um clima quente e húmido provocou uma considerável expansão de cereais selvagens e os povos do Mesolítico, que é um período entre o Paleolítico e o Neolítico que se iniciou há 10.000 anos, particularmente por responsabilidade das mulheres, sempre atentas a tudo quanto pudesse constituir alimento para a família, souberam imediatamente tirar proveito desse recurso colhendo a maior quantidade possível de espigas maduras de trigo, centeio ou de cevada.

Os grãos dessas espigas eram leves, muitas vezes guarnecidos de barbas e na maturidade separavam-se facilmente das espigas para que o vento pudesse facilmente proceder à sua disseminação no interesse da propagação da planta.



Ao procederem à apanha, as mulheres, fizeram contudo, uma selecção involuntária dessas sementes porque acabavam por levar consigo espigas mutantes cujos grãos eram mais pesados e estavam mais fortemente agarrados às espigas não se separando facilmente, enquanto os grãos normais, digamos assim, não mutantes, pelas suas características, dificilmente chegavam aos acampamentos.


Uma vez aqui, muitos deles caem para o chão, germinam e dão origem a campos em que a variedade mutante, que era mais útil ao homem, estava largamente representada.

Este processo repetido durante algumas dezenas de anos em locais onde as pequenas comunidades humanas voltam regularmente para instalar os seus acampamentos sazonais, deu início à “domesticação” de novas variedades de cereais mais proveitosas para o homem.

Mais tarde, com a fixação permanente num determinado local, estavam criadas as condições para o aperfeiçoamento de técnicas elaboradas de preparação do solo, colheita e sementeira.

A agricultura nasceu verdadeiramente há cerca de 10.000 anos numa região do “Crescente Fértil”, que se estende desde a Turquia até Oeste do Irão e foi na Turquia, numa zona minúscula de 20x20 Km, situada a 1000 metros de altitude, nas vertentes bem expostas dos montes vulcânicos do Karacadag, que Jack Harlan, da Universidade do Oklahoma, localizou em 1966, aquele que foi sem dúvida o primeiro campo de trigo cultivado.

Na aldeia de Jarno, a nordeste do Iraque, foi encontrada cevada doméstica com 9.000 anos mas não só cereais também várias leguminosas tais como o grão, as favas e as lentilhas e um pouco mais tarde, há 6.000 anos, a pistácia , a oliveira e a vinha.

Os métodos de cultura e as espécies vegetais domesticadas logo foram levadas, primeiro para o norte da Turquia, depois para os Balcãs, Danúbio e finalmente para a Europa ocidental, onde espécies não indígenas são aclimatadas a partir do VII milénio.

As abóboras, pimentos e feijão desenvolvem-se largamente no México entre 9 e 6.000 anos atrás, enquanto que o milho começa a ser cultivado pelo homem no vale de Tehuacan, a partir de há 7.000 anos e os progressos registados nesta cultura são medidos pelo aumento considerável e progressivo do tamanho das espigas.

Tubérculos como a batata e a mandioca foram alvo de uma exploração precoce que não deixou vestígios formais.

Na Ásia, dois tipos principais de cereais, o milho miúdo aos cachos e o arroz foram alvo de uma primeira domesticação precoce entre os 8.000 e 6.000 anos.

Uma leguminosa, a soja, foi domesticada na China Setentrional a partir de há 5.000 anos e vários núcleos humanos no Sudoeste da Ásia desenvolvem economias agrícolas baseadas no tubérculo inhame e em árvores de fruto como a árvore-do-pão, o coqueiro e a bananeira.

Em África, a agricultura desenvolve-se principalmente no Magrebe, bastante tardiamente, 6.000 anos, e numa orla costeira muito limitada.

No Sara os dados utilizáveis são pouco numerosos mas é possível que tenha havido grupos semi-nómadas que tenham explorado cereais, milho miúdo e palmeiras em locais de agrupamento sazonal há cerca de 7.000 anos.

O sedentarismo e a prática regular da agricultura acontece de uma forma gradual, progressiva e em épocas diferentes conforme as regiões.

Tudo começa por acampamentos mais ou menos permanentes com cabanas provisórias de forma arredondada que são feitas para durarem cada vez mais graças a um reforço das armações.

Depois, os grupos sedentarizados aprenderam a substituir os ramos entrançados e os painéis de couro dos grupos nómadas por muros de sustentação de pedra, de tijolos crus secos ao sol ou de adobe (terra misturada com palha) suportando um teto feito de colmo ou de pequenos ramos cobertos com uma espessa camada de argila.

Para economizar espaço passa-se de instalações circulares disseminadas e distantes umas das outras para planos arquitecturais rectangulares, mais compactos.

Por fim, os grupos formados por cada vez mais indivíduos têm tendência para se associarem em locais favoráveis dando origem às primeiras aglomerações que reúnem algumas dezenas de habitações e abrigam trezentas ou quatrocentas pessoas.

No próximo Oriente, aldeias como estas cujos vestígios foram encontrados, desenvolveram-se há 9.000 anos nas actuais Jordânia, Turquia e Iraque.

As maiores são rodeadas por uma muralha acompanhada de um fosso evoluindo para cidades-mercado, situadas no centro de uma rede de várias dezenas de aglomerações de agricultores.

A presença de um templo relativamente imponente que serve também de entreposto e de local de reunião, o tamanho das habitações mais ou menos imponentes e bem arranjadas, assim como a natureza variada dos objectos encontrados, revelam nitidamente que está a desaparecer a tradição igualitária nestas cidades de 2 a 3.000 habitantes e que se está a instalar, pela primeira vez, um sistema social hierarquizado dominado por uma casta religiosa.

Mais tarde, ao lado desta casta religiosa e em cidades que se estendem agora já por várias dezenas de hectares abrigando cerca de 40.000 habitantes, aparece uma aristocracia militar e os negociantes passam a ter primazia relativamente aos artesãos e agricultores, isto na região da Suméria e com algum tempo de atraso fenómenos similares surgem em outras regiões do mundo especialmente no norte da China, no vale do rio Amarelo.

A população mundial, que não atingia os 10 milhões no início do Neolítico, há 10.000 anos, com uma taxa de crescimento da ordem dos 0,001%, 6.000 mais tarde era de 100 milhões com uma taxa de crescimento de 0,1% ou seja, cem vezes mais.

É que durante o Neolítico os homens vivem de maneira diferente e sobretudo melhor do que jamais tinham vivido.

São relativamente bem alimentados, estão muito menos expostos a acidentes mortais, vivem durante mais tempo e mudam mesmo de aspecto físico uma vez que são mais pequenos que os seus antepassados do Paleolítico Superior e o dimorfismo sexual entre homens e mulheres voltou a diminuir, característica que poderia facilmente explicar as mudanças psíquicas e sociológicas que afectam as sociedades humanas.

Na base destas mudanças, há o sentimento de poder dominar a natureza e a descoberta da individualidade.

O Homem “antigo” o de Cro-Magnon, vivia num mundo de sensações e de intuições e identificava-se espontaneamente com a sua tribo.

O Homem do Neolítico descobre que é um indivíduo capaz de influenciar o curso dos acontecimentos. mudança é vertiginosa e leva, com algum optimismo, o etnólogo Claude Levi-Strauss a afirmar que após mais de 2 milhões de anos muito difíceis, tendo chegado mesmo à beira da extinção, a humanidade encontrou finalmente os Jardins de Éden e a esse estado feliz, o cândido Rousseau, chamava “justo meio entre a indolência do estado primitivo e a petulante actividade do nosso amor próprio”.

Mas o género humano não era feito para viver “no justo meio” e essa “idade de ouro” que poderia ser representada pelo começo do Neolítico não durou muito tempo se é que esse período alguma vez mereceu essa denominação.

Nas grandes cidades-Estado e nas aldeias que elas governam organiza-se, manifestamente, a exploração do homem pelo homem e só de uma forma aparentemente paradoxal é que esta revolução social coincide com a descoberta da escrita cujo papel principal foi estabelecer inventários, recenseamentos e leis.

Acabou a pré-história, começou a história e o homem foi o único ser vivo capaz de acrescentar uma história à sua evolução biológica e é por isso que o podemos considerar verdadeiramente excepcional.

Mas é uma história de ambição, de desequilíbrios, de desigualdades…

O Homem, “homo” que se tinha, talvez, tornado sábio, “sapiens” quis além disso, tornar-se sapiente, “sapiens sapiens”. Por vezes para as coisas boas, mas muito mais vezes para as más.

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