sexta-feira, julho 17, 2009


QUEM FICA INDIFERENTE AO NOME DA TERRA QUE O VIU NASCDER?




De Miguel esteves Cardoso:

Um dos grandes problemas da nossa sociedade é o trauma da morada.

Por exemplo. Há uns anos, um grande amigo meu, que morava em Sete Rios, comprou um andar em Carnaxide.
Fica pertíssimo de Lisboa, é agradável, tem árvores e cafés. Só tinha um problema. Era em Carnaxide.
Nunca mais ninguém o viu.
Para quem vive em Lisboa, tinha emigrado para a Mauritânia!

Acontece o mesmo com todos os sítios acabados em -ide, como Carnide e
Moscavide. Rimam com Tide e com Pide e as pessoas não lhes ligam pevide.
Um palácio com sessenta quartos em Carnide é sempre mais traumático do que umas
águas-furtadas em Cascais. É a injustiça do endereço.

Está-se numa festa e as pessoas perguntam, por boa educação ou por curiosidade, onde é que vivemos.
O tamanho e a arquitectura da casa não interessam.
Mas morre imediatamente quem disser que mora em Massamá, Brandoa, Cumeada,
Agualva-Cacém, Abuxarda, Alformelos, Murtosa, Angeja...
ou em qualquer outro sítio que soe à toponímia de Angola.

Para não falar na Cova da Piedade, na Coina, no Fogueteiro e na Cruz de Pau. (...)
Ao ler os nomes de alguns sítios - Penedo, Magoito, Porrais, Venda das Raparigas,
compreende-se porque é que Portugal não está preparado para entrar na Europa.

De facto, com sítios chamados Finca Joelhos (concelho de Avis) e Deixa o Resto (Santiago do Cacém),
como é que a Europa nos vai querer integrar?
Compreende-se logo que o trauma de viver na Damaia ou na Reboleira não é nada comparado com certos nomes portugueses.
Imagine-se o impacte de dizer "Eu sou da Margalha" (Gavião) no meio de um jantar.
Veja-se a cena num chá dançante em que um rapaz pergunta delicadamente "E a menina de onde é?",
e a menina diz: "Eu sou da Fonte da Rata" (Espinho).
E suponhamos que, para aliviar, o senhor prossiga, perguntando "E onde mora, presentemente?",
Só para ouvir dizer que a senhora habita na Herdade da Chouriça (Estremoz).

É terrível. O que não será o choque psicológico da criança que acorda, logo depois do parto,
para verificar que acaba de nascer na localidade de Vergão Fundeiro?
Vergão Fundeiro, que fica no concelho de Proença-a-Nova, parece o nome de uma versão transmontana do Garganta Funda.
Aliás, que se pode dizer de um país que conta não com uma Vergadela (em Braga),
mas com duas, contando com a Vergadela de Santo Tirso?
Será ou não exagerado relatar a existência, no concelho de Arouca, de uma Vergadelas?
É evidente, na nossa cultura, que existe o trauma da "terra".
Ninguém é do Porto ou de Lisboa.

Toda a gente é de outra terra qualquer. Geralmente, como veremos, a nossa
terra tem um nome profundamente embaraçante, daqueles que fazem apetecer mentir.
Qualquer bilhete de identidade fica comprometido pela indicação de naturalidade que reze Fonte do Bebe e Vai-te (Oliveira do Bairro).

É absolutamente impossível explicar este acidente da natureza a amigos estrangeiros ("I am from the Fountain of Drink and Go Away...").

Apresente-se no aeroporto com o cartão de desembarque a denunciá-lo como sendo originário de Filha Boa.

Verá que não é bem atendido. (...) Não há limites. Há até um lugar chamado Cabrão, no concelho de Ponte de Lima !!!

Urge proceder à renomeação de todos estes apeadeiros.
Há que dar-lhes nomes civilizados e europeus, ou então parecidos com os nomes
dos restaurantes giraços, tipo : Não Sei, A Mousse é Caseira, Vai Mais um Rissol. (...)

Também deve ser difícil arranjar outro país onde se possa fazer um percurso que vá da Fome Aguda à Carne Assada (Sintra) passando pelo Corte Pão e Água (Mértola), sem passar por Poriço (Vila Verde),

e acabando a comprar rebuçados em Bombom do "Bogadouro"¹, (Amarante), depois de ter parado para fazer um chichi em Alçaperna (Lousã).

¹ - Bogadouro é o Mogadouro quando se está constipado!!!

VÍDEO
Uma história...

CANÇÕES BRASILEIRAS


LÁBIOS DE MEL - KATIA GUERREIRO E NEY MATOGROSSO

Letra e Música de Valdir Rocha (1955)



quinta-feira, julho 16, 2009

UN ETÉ DE PORCELENE





MARIE LAFORÊT - VIENS, VIENS


ROY ORBISON - IT'S OVER



TIETA DO AGRESTE


EPISÓDIO Nº 184




Por duas vezes, o tema poluição e da Brastânio aflorou aos lábios da agente dos Correios e do secretário da Prefeitura mas, ameaçando polémica, não obteve seguimento na conversa infensa a debates por ocorrer ao mesmo tempo em visita de pêsames e em noite festiva.

Quando a luz voltou, todos partiram para a Igreja. Cansada, Tieta preferiu ficar, desejosa de solidão, nunca pensara a morte do pai afectá-la tanto.

Sozinha em noite de Ano-Novo, numa casa vazia! Não acreditaria se lhe contassem. Enquanto dona Olívia viveu, antes de se reunir com ela e com os filhos para o reveion, Filipe vinha, infalível ver Tieta, trazendo-lhe um presente, quase sempre jóia de preço. Morta a esposa, rompia o ano em companhia da rapariga, em boate de luxo, onde às felicitações e aos votos de feliz Ano-Novo, sucedia-se alegre Carnaval. Na animação da champanhota e dos brindes, a renovada ternura.

Ainda há um ano, a noite começara de idêntica maneira, numa boate elegante. Discutiram finanças e recordaram os dias iniciais daquela irremediável (adjectivo de Filipe) ligação. De lembrança ele lhe ofertara a escritura de ampla loja no andar térreo do Edifício Monteiro Lobato – Homenagem do empresário ao escritor paulista com quem convivera – prédio monumental no centro da cidade, em rua de intenso comércio.

Como obter maior renda? Alugando a loja ou nela instalando butique grã-fina, de luxo? Com a butique, naturalmente, se pudesse ficar à frente do negócio. Melhor alugar, aconselhara Filipe, embolsando sem trabalho e preocupação, invejável bolada mensal.

Enternecida, Tieta lembrou o dia em que o conhecera, recém-chegado da Europa. Na véspera Madame Georgette lhe dissera: Demain tu connaitras le vrai patron du Nid, Monseigner Le Prince Filipe. Também Filipe se recordava. Madame Georgette informara: Une petite mulatress, comme vous les aimez; ancienne bergère de chèvres, fraiche, tender mais aussi sauvage comme un chevreau. Ficou a taquiná-la, enquanto dançavam, ameaçando-se casar-se ou amigar-se com menina bem moça, velho coroca necessita de broto novinho.

Velho coroca? Tão rijo ainda, ainda bom de cama, o aplomb de sempre, uma resistência de cavalo. Ao beijá-la, na hora da meia-noite, falou da irremediável, definitiva e maravilhosa aventura que era a ligação deles dois:

- E se eu te dissesse que tu foste a única mulher que eu amei em minha vida? A partir dessa frase mudara de sentido aquela convencional noite de Ano-Novo, para fazer-se inesquecível noite de amor. Apenas finda a gritaria, as felicitações e votos, ele a tomara pela mão levando-a embora. Apesar de dona Olívia estar morta e enterrada havia seis anos, pela primeira vez Filipe convidou Tieta a visitar o palacete na Avenida Paulista. De sala em sala a conduziu, sob o reflexo dos burilados lustres de cristal, pisando tapetes persas, encandeando os olhos nas alfaias de ouro e prata, nos objectos de arte, colocados sobre os móveis negros, nos quadros dos mestres modernos, Picasso, Chagal, Modigliani, cujos nomes ela aprendera ouvindo-os da boca dos ricaços, no Refúgio, seguidos sempre de cifra astronómica com a qual reduziam-lhes a beleza a investimento. Uma riqueza diferente, pesada, nobre, quase solene, desconhecida para Tieta. Habituada ao luxo, ao convívio dos grandes das finanças e da política, todavia se sentiu enleada. Ao vislumbrar a grandiosidade do outro lado da vida de Filipe, não entende por que ele se prendera a uma simples pastora de cabras.

Dispensada a criadagem para festejar a noite de augúrios, o palacete estava vazio como hoje está a casa de Perpétua, onde um dia Tieta dormiu com Lucas e agora dorme com Ricardo. Filipe exibiu-lhe a adega, as prateleiras de garrafas, os rótulos ilustres, escolheu a champanha – champanha, não, le mailler champagne du monde, ma belle – pondo a garrafa a gelar num balde de prata. Buscou as taças mais finas e raras da Boémia. Assim carregados, penetraram na alcova; deitados no leito do casal beberam e se amaram. Velha cepa, bom vinho, Felipe compensa com erudita sabedoria a diminuída violência. De começo intimidada, Tieta recupera-se lentamente,
numa estranha emoção: pela primeira e única vez na vida sente-se esposa.

De Miguel Sousa Tavares, no Expresso:


Segunda-feira passada, a meio da tarde, faço a A-6, em direcção a Espanha e na companhia de uma amiga estrangeira; quarta-feira de manhã, refaço o mesmo percurso, em sentido inverso, rumo a Lisboa. Tanto para lá como para cá, é uma auto-estrada luxuosa e fantasma. Em contrapartida, numa breve incursão pela estrada nacional, entre Arraiolos e Borba, vamos encontrar um trânsito cerrado, composto esmagadoramente por camiões de mercadorias espanhóis. Vinda de um país onde as auto-estradas estão sempre cheias, ela está espantada com o que vê:
- É sempre assim, esta auto-estrada?
- Assim, como?
- Deserta, magnífica, sem trânsito?
- É, é sempre assim.
- Todos os dias?
- Todos, menos ao domingo, que sempre tem mais gente.
- Mas, se não há trânsito, porque a fizeram?
- Porque havia dinheiro para gastar dos Fundos Europeus, e porque diziam que o desenvolvimento era isto.
- E têm mais auto-estradas destas?
- Várias e ainda temos outras em construção: só de Lisboa para o Porto, vamos ficar com três. Entre S. Paulo e o Rio de Janeiro, por exemplo, não há nenhuma: só uns quilómetros à saída de S. Paulo e outros à chegada ao Rio. Nós vamos ter três entre o Porto e Lisboa: é a aposta no automóvel, na poupança de energia, nos acordos de Quioto, etc. - respondi, rindo-me.
- E, já agora, porque é que a auto-estrada está deserta e a estrada nacional está cheia de camiões?
- Porque assim não pagam portagem.
- E porque são quase todos espanhóis?
- Vêm trazer-nos comida.
- Mas vocês não têm agricultura?
- Não: a Europa paga-nos para não ter. E os nossos agricultores dizem que produzir não é rentável.
- Mas para os espanhóis é?
- Pelos vistos...
Ela ficou a pensar um pouco e voltou à carga:
- Mas porque não investem antes no comboio?
- Investimos, mas não resultou.
- Não resultou, como?
- Houve aí uns experts que gastaram uma fortuna a modernizar a linha Lisboa-Porto, com comboios pendulares e tudo, mas não resultou.
- Mas porquê?
- Olha, é assim: a maior parte do tempo, o comboio não 'pendula'; e, quando 'pendula', enjoa de morte. Não há sinal de telemóvel nem Internet, não há restaurante, há apenas um bar infecto e, de facto, o único sinal de 'modernidade' foi proibirem de fumar em qualquer espaço do comboio. Por isso, as pessoas preferem ir de carro e a companhia ferroviária do Estado perde centenas de milhões todos os anos.
- E gastaram nisso uma fortuna?
- Gastámos. E a única coisa que se conseguiu foi tirar 25 minutos às três horas e meia que demorava a viagem há cinquenta anos...
- Estás a brincar comigo!
- Não, estou a falar a sério!
- E o que fizeram a esses incompetentes?
- Nada. Ou melhor, agora vão dar-lhes uma nova oportunidade, que é encherem o país de TGV: Porto-Lisboa, Porto-Vigo, Madrid-Lisboa... e ainda há umas ameaças de fazerem outro no Algarve e outro no Centro.
- Mas que tamanho tem Portugal, de cima a baixo?
- Do ponto mais a norte ao ponto mais a sul, 561 km.
Ela ficou a olhar para mim, sem saber se era para acreditar ou não.
- Mas, ao menos, o TGV vai directo de Lisboa ao Porto?
- Não, pára em várias estações: de cima para baixo e se a memória não me falha, pára em Aveiro, para os compensar por não arrancarmos já com o TGV deles para Salamanca; depois, pára em Coimbra para não ofender o prof. Vital Moreira, que é muito importante lá; a seguir, pára numa aldeia chamada Ota, para os compensar por não terem feito lá o novo aeroporto de Lisboa; depois, pára em Alcochete, a sul de Lisboa, onde ficará o futuro aeroporto; e, finalmente, pára em Lisboa, em duas estações.
- Como: então o TGV vem do Norte, ultrapassa Lisboa pelo sul, e depois volta para trás e entra em Lisboa?
- Isso mesmo.
- E como entra em Lisboa?
- Por uma nova ponte que vão fazer.
- Uma ponte ferroviária?
- E rodoviária também: vai trazer mais uns vinte ou trinta mil carros todos os dias para Lisboa.
- Mas isso é o caos, Lisboa já está congestionada de carros!
- Pois é.
- E, então?
- Então, nada. São os especialistas que decidiram assim.
Ela ficou pensativa outra vez. Manifestamente, o assunto estava a fasciná-la.
- E, desculpa lá, esse TGV para Madrid vai ter passageiros? Se a auto-estrada está deserta...
- Não, não vai ter.
- Não vai? Então, vai ser uma ruína!
- Não, é preciso distinguir: para as empresas que o vão construir e para os bancos que o vão capitalizar, vai ser um negócio fantástico! A exploração é que vai ser uma ruína - aliás, já admitida pelo Governo - porque, de facto, nem os especialistas conseguem encontrar passageiros que cheguem para o justificar.
- E quem paga os prejuízos da exploração: as empresas construtoras?
- Naaaão! Quem paga são os contribuintes! Aqui a regra é essa!
- E vocês não despedem o Governo?
- Talvez, mas não serve de muito: quem assinou os acordos para o TGV com Espanha foi a oposição, quando era governo...
- Que país o vosso! Mas qual é o argumento dos governos para fazerem um TGV que já sabem que vai perder dinheiro?
- Dizem que não podemos ficar fora da Rede Europeia de Alta Velocidade.
- O que é isso? Ir em TGV de Lisboa a Helsínquia?
- A Helsínquia, não, porque os países escandinavos não têm TGV.
- Como? Então, os países mais evoluídos da Europa não têm TGV e vocês têm de ter?
- É, dizem que assim entramos mais depressa na modernidade.
Fizemos mais uns quilómetros de deserto rodoviário de luxo, até que ela pareceu lembrar-se de qualquer coisa que tinha ficado para trás:
- E esse novo aeroporto de que falaste, é o quê?
- O novo aeroporto internacional de Lisboa, do lado de lá do rio e a uns 50 quilómetros de Lisboa.
- Mas vocês vão fechar este aeroporto que é um luxo, quase no centro da cidade, e fazer um novo?
- É isso mesmo. Dizem que este está saturado.
- Não me pareceu nada...
- Porque não está: cada vez tem menos voos e só este ano a TAP vai cancelar cerca de 20.000. O que está a crescer são os voos das low-cost, que, aliás, estão a liquidar a TAP.
- Mas, então, porque não fazem como se faz em todo o lado, que é deixar as companhias de linha no aeroporto principal e chutar as low-cost para um pequeno aeroporto de periferia? Não têm nenhum disponível?
- Temos vários. Mas os especialistas dizem que o novo aeroporto vai ser um hub ibérico, fazendo a trasfega de todos os voos da América do Sul para a Europa: um sucesso garantido.
- E tu acreditas nisso?
- Eu acredito em tudo e não acredito em nada. Olha ali ao fundo: sabes o que é aquilo?
- Um lago enorme! Extraordinário!
- Não: é a barragem de Alqueva, a maior da Europa.
- Ena! Deve produzir energia para meio país!
- Praticamente zero.
- A sério? Mas, ao menos, não vos faltará água para beber!
- A água não é potável: já vem contaminada de Espanha.
- Já não sei se estás a gozar comigo ou não, mas, se não serve para beber, serve para regar - ou nem isso?
- Servir, serve, mas vai demorar vinte ou mais anos até instalarem o perímetro de rega, porque, como te disse, aqui acredita-se que a agricultura não tem futuro: antes, porque não havia água; agora, porque há água a mais.
- Estás a dizer-me que fizeram a maior barragem da Europa e não serve para nada?
- Vai servir para regar campos de golfe e urbanizações turísticas, que é o que nós fazemos mais e melhor.
Apesar do sol de frente, impiedoso, ela tirou os óculos escuros e virou-se para me olhar bem de frente:
- Desculpa lá a última pergunta: vocês são doidos ou são ricos?
- Antes, éramos só doidos e fizemos algumas coisas notáveis por esse mundo fora; depois, disseram-nos que afinal éramos ricos e desatámos a fazer todas as asneiras possíveis cá dentro; em breve, voltaremos a ser pobres e enlouqueceremos de vez.
Ela voltou a colocar os óculos de sol e a recostar-se para trás no assento. E suspirou:
- Bem, uma coisa posso dizer: há poucos países tão agradáveis para viajar como Portugal! Olha-me só para esta auto-estrada sem ninguém!



Temos Que Melhorar Como Cidadãos

Miguel Sousa Tavares é um homem de gostos requintados, sensibilidade apurada e amante de um Portugal "selvagem" e eu, que ainda tive oportunidade de conhecer um bocadinho esse Portugal esquecido, do antigamente, das aldeias cheias de gente, da agricultura intensiva, das hortinhas já trabalhadas ao pôr do sol, depois de um dia de trabalho, quando os caminhos do campo eram percorridos intensamente a pé ou de bicicleta, quando o mato era roçado para a cama dos animais e os fogos passavam despercebidos na ausencia, ainda, das grandes extensões de eucaliptais, compreendo bem as críticas de MST que têm a ver com muitas das decisões políticas de hoje mas que refletem, igualmente, uma nostalgia pelo Portugal paisagístico de há meio século atrás.
Sem dúvida, que muitas coisas se fizeram neste país apenas porque havia dinheiro...dinheiro negociado em Bruxelas aos milhões e cujo objectivo era proporcionar aos portugueses mais desenvolvimento, melhor qualidade de vida, aproximá-los dos cidadãos dos restantes cidadãos dos países da europa central.
Habituados a "contar os tostões", de repente vimo-nos com a tarefa de gastar milhões, demasiados milhões para a nossa capacidade de os aplicar: por deficiências humanas da nossa máquina administrativa e de um sector privado que, pela primeira vez na vida do país, tinha um estado ávido de aplicar dinheiro dentro de determinados prazos sob o risco de ter que o devolver, e ele não se fez rogado. Gabinetes de contabilidade e projectos encarregaram-se, a troco de boas comissões, ensinar as pessoas a obter dinheiro do Estado. Estávamos ainda no primeiro governo de Cavaco Silva, tínhamos acabado de negociar o 1º Quadro Comunitario de Apoio e aconteceu um bocadinho daquilo que sucede quando "um pobresinho" recebe a taluda do euromilhões: grande parte dele não foi aplicado em benefício do destinatário, neste caso, o país.
Esta auto-estrada, a A6, referida por MST, parece realmente uma auto-estrada fantasma. Já o comprovei nas minhas idas a Espanha, quando vou de férias. No fundo, é um luxo que está ali, mas podíamos ter deixado de a fazer? Para quantas gerações se faz uma auto estrada? Como se teria aplicado o dinheiro que veio da Comunidade para a construir? Terão os Apoios sido bem negociados quanto aos seu objectivos? Em caso afirmativo terão sido depois bem utilizados?
Em última análise tinha Portugal alguma outra saída que não a de nos integrarmos na Comunidade Europeia com todas as vantagens e desvantagens daí decorrentes?
Todas estas questões são legítimas mas na opinião das pessoas mais responsáveis e entendidas, umas mais outras menos europeístas, a resposta é não. Muitos dos erros cometidos ao longo de todo este processo devem ser imputados a nós, portugueses, que enfermamos de todos aqueles vícios que MST tão bem conhece e denuncia.

quarta-feira, julho 15, 2009

O SOLE MIO - TRIO GINOBLE, BOSCHETO, BARONE


Tres jovens, 14 e 15 anos... na terra do belo canto. Bem lhe podem chamar: Trio maravilha!



CANÇÕES BRASILEIRAS


GAL COSTA - MEU BEM, MEU MAL

Do LP de Gal Costa "Fantasia" (1981). Letra e música de Caetano Veloso



THE BEATLES (V)


RINGO STARR



Richard Starkey Jr. mais conhecido pelo seu nome artístico Ringo Starr por causa dos anéis que gostava de usar (ring, anel em inglês). Para além disso, também era vegetariano e canhoto como Paul McCartney.

Em pequeno vivia com a mãe e o padrasto num bairro humilde de Liverpool e por causa de problemas de saúde esteve internado em hospitais durante três anos o que o levou a atrasos na sua educação pois aos 15 anos ainda mal sabia ler e escrever.

De todos os elementos do grupo, Ringo, era o que tinha a personalidade mais calma e um estilo mais tranquilo.

Ringo criou a sua própria Banda em 1957 e só anos mais tarde entrou para os Beatles quando os restantes elementos do grupo cansados do temperamento do seu baterista, Pete Best, foram chamar Ringo para o substituir, já em 1962.

Em 1968, ao perguntarem a Lennon se Ringo era o melhor baterista do mundo ele respondeu:

- “Ele nem é o melhor baterista dos Beatles” e isto porque Paul McCartney tinha gravado a bateria em duas canções do disco “Álbum Branco”.

Apesar do sucesso da Banda, ele era considerado por muitos músicos como um baterista medíocre ao que ele respondia com muito humor e sarcasmo:

- “Dizem que não toco muito bem, mas sou o baterista da melhor Banda do mundo… logo, sou o maior baterista do mundo.”

No entanto, como baterista, popularizou um modo de tocar bateria com igual força em ambas as mãos, em contraposição com o estilo vigente em que a mão esquerda segurava a baqueta como um palito chinês.

Ringo ajudou também a melhorar a qualidade da gravação de bateria e teve importância na elaboração nos arranjos com batidas simples mas inconfundíveis.

Os discos que lançou a solo após 1970 não tiveram grande êxito mas em 1973 lançou um álbum, “Ringo” que foi o seu maior sucesso comercial.

Após a morte de John Lennon, Ringo foi o único ex-beatle que procurou Yoko Ono para lhe oferecer apoio.

Em 1992, após um longo período sem gravar em estúdio, Ringo lançou “Time Takes Time”, álbum que foi considerado pela crítica e pelo público o melhor trabalho após 1973.

Ringo participou em filmes, “Candy”, com Charles Aznavour, Marlon Brando, Richard Burton, e com Peter Seller, numa comédia, “The Magic Christian”.

Ringo casou a primeira vez em 1965, com uma antiga namorada, Maureen Cox, que à data tinha apenas 18 anos e com ela teve três filhos.

Em 1975, por causa do crescente alcoolismo e as traições da mulher, Ringo separou-se de Maureen que viria a morrer de leucemia em 1994, não obstante o transplante de medula óssea cujo dador foi o seu filho.

Em 1980 casa-se pela segunda vez com uma ex-bond-girl que conhecera nas filmagens e três anos depois estavam ambos internados numa clínica para alcoólicos.

Em 2008 lançou o single Liverpool 8 e uma semana depois o álbum com o mesmo nome que entrou na lista dos mais vendidos tanto nos EUA como no Reino Unido.

Das suas músicas escolhemos:

- Do Album “Time Takes Time” (1992) – “Runaway” ;

- Do Album Bad Boy (1978) – “Hard Times”;

- Do Album Ringo, lançada também em single e composta em colaboração com G. Harrison, "Photograph", que atingiu o 1º lugar nos EUA .



RINGO STARR - RUNAWAY

Do Album "Time Takes Time" (1992)





RINGO STARR - HARD TIMES

Do Album "Bad Boy" (1974)






RINGO STARR - PHOTOGRAPH


Do Album "Ringo". Música composta em parceria com G. Harrison, atingiu o 1º lugar nos EUA (1973)



TIETA DO AGRESTE

EPISÓDIO Nº 183





DA IMAGEM DE TIETA REFLETIDA NO ESPELHO EM NOITE DE ANO NOVO



O enterro do velho Zé Esteves, a conversa com Perpétua sobre a herança, com o mesquinho complemento do relógio, a pungente cena com Elisa reflectem-se na face de Tieta, sentada diante do espelho, limpando a pele, sozinha no silêncio da casa e da rua. Partiram todos para o Te Deum na Matriz.

O mundo de Agreste, aparentemente simples e pacífico, revela-se mais difícil e confuso do que o mal afamado universo do meretrício onde ela se movimenta entre putas, rufiões, cáftens, gigolôs, patroas de rendevus, desde a partida na boleia do caminhão há vinte e seis anos.

Mais fácil defender-se e comandar no Refúgio dos Lordes. Lá, os sentimentos, como os corpos, estão expostos. Aqui, a cada passo, ela tropeça em simulação, engano e falsidade; ninguém diz tudo o que pensa e demonstra por inteiro seus desígnios; todos encobrem algo por interesse, medo ou pobreza. Mundo de fingimento e hipocrisia, em acirrada luta por ambições tacanhas, minguados interesses.

Às nove horas, ao toque do sino da igreja, toque de recolher para a maioria da população, a luz do motor extinguiu-se, voltando no entanto a funcionar às onze, iluminando a cidade para a passagem do ano, as comemorações da Igreja e da Prefeitura, o Te Deum e os fogos. Quando as filhas de Modesto Pires ainda eram solteiras, vindas em férias do colégio de freiras na Bahia, havia baile em casa do dono do curtume. Hoje, unicamente na pensão de mulheres de Zuleika Cinderela a festa se prolonga pela madrugada, iniciando-se após o Te Deum e o foguetório pois as raparigas, sendo filhas de Deus e cidadãs da comuna, comparecem à Igreja e à Praça para render graças ao senhor e aplaudir com entusiasmo o capenga Leôncio, coadjuvado pelo moleque Sabino, no fulgor do espectáculo pirotécnico, com rojões, morteiros e foguetes, encerrando-se aquela modesta maravilha com uma única porém sensacional chuva de prata.

Depois do jantar juntaram-se visitas na varanda: coronel Artur Tapitanga, dona Milú, dona Carmosina, o vate Barbozinha, além de Elisa e Astério, do inconformado Peto, de meias e sapatos, roupa limpa, e de Ascânio Trindade, cuja presença de tão constante perdera a condição de visita. À luz das placas conversaram sobre o Velho; o coronel e dona Milú recordaram acontecidos antigos, dona Carmosina bordou comentários inteligentes. Esgotado o assunto principal, falaram da chuva e do bom tempo ou seja: comentaram a prenhez de Sátima Farath, filha de seu Abdula e dona Soraia, levantinos de ferrenhos hábitos feudais, mantendo filha única e atractiva trancada a sete chaves e de repente descobrindo-a de barriga inchada de quase quatro meses, produto das últimas chuvas de Setembro, e se referiram ao seu próximo casamento com Licurgo de Deus, modesto e retinto empregado para todo o serviço do armarinho, sem outro dote além da escura beleza de homem, de riso claro, da doçura dos modos, sendo o inesperado matrimónio um jubiloso acontecimento do bom tempo de verão. Exercendo a arte subtil de comentar a vida alheia, esquadrinharam o armarinho procurando saber onde se dera o facto principal, se em cima ou embaixo do balcão, entre botões, agulhas, dedais e fitas, remexeram nas finanças dos Farah e saudaram com simpatia a sorte do moleque Licurgo, a comer quibe cru em prato de ouro, imagem de dona Carmosina encerrando a discussão sobre o local do feito.

terça-feira, julho 14, 2009

VÍDEOS
CASA BEM GUARDADA (OUTRA VERSÃO DO "SÓZINHOS EM CASA")

CANÇÕES QUE SEMPRE RECORDAREMOS


ERIC CLEPTON - WONDERFUL TONIGHT

Eric Clepton foi considerado o melhor guitarrista do mundo.




THE BEATLES (IV)

GEORGE HARRISON




Nasceu em Liverpool, em 1943 e faleceu, vítima de cancro, em 2001. Esta doença teve, de resto, uma presença permanente e fatal na sua família pois os seus pais e seus dois irmãos também morreram de cancro.

Famoso por ter sido músico britânico, compositor, guitarrista e cantor dos Beatles, George comprou a sua 1ª guitarra aos 12 anos e quando Paul McCartney o descobriu convidou-o para fazer parte da Banda que, nessa altura, 1958, ainda não eram os Beatles. De resto, eles moravam no mesmo bairro, estudavam na mesma escola e apanhavam o mesmo auto-carro. Apresentado a Lennon este também o aceitou.

Era de todos o mais novo, introvertido, pouco falador nas entrevistas e por isso chamavam-lhe “Quiet Beatle”, o Beatle quieto.

Profundo admirador e seguidor da cultura indiana ele próprio foi responsável pela popularização da sua música com a introdução de instrumentos musicais indianos como a “tabla” e o “sitar”.

Em 1966 ele e a mulher foram à Índia onde conheceram vários gurus, locais sagrados e teve a oportunidade de estudar o sitar.

George Harrison era um espiritualista muito ligado a Deus e de uma forma natural interessou-se pela religião hindu ao ler um livro sobre reincarnação. Desenvolveu a meditação transcendental e aderiu à seita Hare Krishna à qual doou uma mansão para a prática do culto. Arrastados por ele os Beatles foram à Índia em 1968 fazer meditação espiritual.

A partir de 1966 a qualidade das suas composições igualou a de Lennon e McCartney e nós iremos aqui recordar três das mais belas desse seu período de grande espiritualidade: “My Sweet Lord”; “All Things Must Pass”, este último considerado o melhor disco de um ex-beatle e um dos melhores discos da história, e ainda “Something” considerada por Frank Sinatra a maior canção de amor.

G. Harrison foi casado duas vezes: a primeira com Pattie Boyde, em 1966, que terminou em 1973 porque ela e Eric Clepton (considerado o melhor guitarrista do mundo) se apaixonaram a acabaram casando mais tarde. No entanto, a relação dele com G. Harrison foi sempre muito boa, chamando-se entre si “hasband in law”, uma espécie de “maridos cunhados”.

Em 1978 G. Harrison casou-se segunda vez com Olívia Trinidad Árias, mãe do seu único filho.

Faleceu em 29 de Novembro de 2001 em Los Angeles aos 58 anos. Seu corpo foi cremado e alguns afirmam que as cinzas lançadas no Rio Ganges.

Após a morte a família emitiu o seguinte comunicado:

- “Abandonou este mundo como viveu: consciente de Deus, sem medo da morte e em paz, rodeado de familiares e amigos”.


GEORGE HARRISON (BEATLES) - MY SWEET LORD




GEORGE HARRISON - ALMOST THINGS MUST PASS




GEORGE HARRISON- SOMETHING





TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 182




- Feliz de quem possui uma irmã como você, Tieta. Você é a maior. Coração de ouro igual ao seu, não existe – exalta-se dona Carmosina, comovida; a amiga cresce em seu conceito a cada dia.

Elisa, porém, guarda silêncio, os olhos fixos no chão. Certamente emocionada a ponto de não saber como expressar a sua gratidão. Num esforço começa a falar sem suspender a cabeça, nervosa, gaguejante:

- Carmosina tem razão, tu é boa demais, Tieta. Antes de te conhecer, em pensamento eu te imaginava uma fada e tu é mesmo – Levanta a vista e pousa em dona Carmosina a lhe pedir apoio para o que vai dizer: Agradeço muito o que tu quer fazer por mim e por Astério, a compra da roça e a casa para morar de graça – Uma pausa para tomar fôlego e coragem – Mas não aceito. O que eu quero te pedir é outra coisa, até tinha conversado com Carmosina para ela falar contigo…

Uma sombra cobre o rosto de Tieta, sabe de antemão o que Elisa deseja:

- Tu não precisa de intermediário para falar comigo. Diga o que é que quer – Faz-se distante e fria.

Elisa eleva os olhos medrosos para a irmã poderosa e rica. Decide-se, a voz vibra na sala:

- Só quero uma coisa: ir contigo para São Paulo. Quero que tu me leve, arranje emprego para Astério, me…

Não consegue concluir a frase, Tieta a interrompe, brusca:

- Tu quer ir para São Paulo. Fazer lá o que, me diga? Botar chifre em teu marido? Ser puta?

O soluço irrompe do peito de Elisa, as lágrimas saltam-lhe dos olhos. Estremece como se houvesse levado uma bofetada, cobre o rosto com as mãos. Esses soluços, essas lágrimas nada têm de comum com as choradas de há pouco, na obrigação do nojo, no ritual da morte. É um pranto sincero, verdadeiro, produto de duro e inesperado golpe, de um desgosto real, de um sonho roto. Arreia a cabeça sobre os braços, na mesa, geme baixinho num choro de criança, os cabelos se espalham.

Ergue-se Tieta, aproxima-se da irmã mais moça. Levanta-a toma-a nos braços e a consola. Beija-a nas faces, limpa-lhe as lágrimas, acaricia-lhe os cabelos, chama-a de Lisa, minha filha, a voz doce e terna, maternal:

- Não chore, Lisa, minha filha. Se nego, é para teu bem. Lá não ia prestar para vocês. Ruim para ti, pior para Astério. Um dia eu te prometo, quando for fazer uma viagem, me baldar de férias, mando buscar vocês para irem passear comigo. Tu sabe que quando eu prometo cumpro. Mas agora, o que tu vai fazer é ajudar teu marido na loja, que ele precisa tempo livre para o criatório. – Levanta a voz de novo: - E nunca mais me fale em ir para São Paulo. Nunca mais.

Dona Carmosina não pode conter a emoção, enxuga os olhos miúdos com um lencinho bordado. Tonha assiste, apalermada, sem conseguir entender aquela confusão. Tieta, deixando Elisa, vem abraça-la, repetindo ao despedir-se, a recomendação sobre o dinheiro:

- Guarde o seu dinheirinho com cuidado. Não empreste nem dê a ninguém. Nem Elisa, nem Astério, nem Perpétua, mesmo que lhe peçam. Eles não precisam. – Acena para dona Carmosina: - Vamos, Carmô?

Ainda afogada na decepção, Elisa volta a se abraçar com Tieta, no desejo, quem sabe, de arriscar uma última súplica apesar da proibição terminante. Não chega a fazê-lo. Passos ressoam no corredor, Astério entra na sala, estranha o desespero da esposa, crescendo em choro convulso, em altos soluços à sua aparição. Qual a causa desse pranto ardente, de ais tão sentidos? Pela morte do Velho não há-de ser.

- Aconteceu alguma coisa? – Já lhe arde o estômago.

Dona Carmosina explica:

- Elisa está chorando de contente e agradecida. Tieta vai comprar uma fazenda para vocês.

segunda-feira, julho 13, 2009

VÍDEOS
BEATLES - GET BACK "Preciosidade de uma Gravação de um Ensaio dos Jovens Beatles"

CANÇÕES BRASILEIRAS


JOANA - TÔ MORRENDO DE SAUDADE



THE BEATLES (III)

PAUL McCARTNEY





Nascido em 1942, James Paul McCartney, cantor, compositor, baixista, guitarrista, multi – instrumentista, empresário, produtor musical e cinematográfico e activista dos direitos dos animais britânicos.

É considerado um dos mais ricos músicos de todos os tempos, o seu património está avaliado em 670 milhões de libras, e em 1979, O Livro Guinness dos Recordes declarou-o o compositor musical de maior sucesso da história da música pop mundial de todos os tempos.

Em 1970, lançou-se, tal como Lennon, numa carreira a solo de sucessos, formando com a sua primeira mulher, Linda McCartney, os Wings.

Em 2008, foi eleito o 11º melhor cantor de todos os tempos pela Revista Rolling Stone.

McCartney teve 29 canções de sua autoria no 1º lugar nas paradas de sucesso norte americanas, 20 junto com o Beatles (compostas c/ John Lennon) e as restantes na carreira a solo.

A sua primeira mulher, Linda McCartney, morreu de cancro da mama em 1998. Em 2001 Paul casou-se com o modelo Hearther Mills numa cerimónia muito badalada no Castelo Leslie, na Irlanda, com 300 convidados. Em 2003 nasceu a filha do casal, Beatrice.

Hearther foi acusada de ter feito um casamento interesseiro o qual, de resto, terminou litigiosamente em Março de 2008 quando o juiz fixou uma indemnização de 24,3 milhões de libras à ex – mulher. Contudo, a imprensa tablóide, noticiou que o músico estaria disposto a pagar 55 milhões para evitar que a sua filha Beatrice passasse por uma longa batalha judicial.

Escolhemos três das suas canções de que mais gostamos:

- No More Lonely Nights;

- We All Stand Together;

- Hey Jude.

PAUL McCARTNEY - HEY JUDE





PAUL McCARTNEY - WE ALL STAND TOGETHER





PAUL McCARTNEY - NO MORE LONELY NIGHTS




TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 181







- Agora prestem atenção, vamos conversar uns assuntos. – Deposita em cima da mesa o maço de dinheiro recebido de Josafá, reduzido da parte de Perpétua e do pagamento das despesas feitas e das missas a rezar. À vista do dinheiro, Elisa estanca o choro, Tonha olha, curiosa:

- São as economias do Velho – diz Tieta.

Tonha reconhece a fita cor-de-rosa ainda a atar o pacote:

- Até tinha me esquecido. Você encontrou dentro do colchão, não foi? Ele fez um buraco no pano, todo mês botava mais, amarrado com essa fita, embrulhado num pedaço de jornal. Me fez jurar, pela alma da minha mãe, nunca dizer nada a ninguém. Todo o dia tirava para ver; acordava de noite se punha a contar.

- Foi pai quem retirou antes de morrer, daqui a pouco explico para quê. Antes quero da a vosmicê a sua parte.

- Minha parte?

- Metade do dinheiro que ele deixou é seu, é da esposa. A outra metade é das filhas, Perpétua, Elisa e eu. Paguei a Perpétua as despesas que ela fez com o funeral: caixão, cova, padre, os gastos com a sentinela, os guaranás e os sanduíches. Já dei também a parte dela, o que está aí é o que sobrou. – Com a minúcia de quem está habituada a fazer contas, a manobrar crédito e débito, informa sobre o total do pé-de-meia, o montante das despesas, as divisões feitas e quanto cabe a Tonha e a cada irmã. Conta as notas sujas e gastas, muitas vezes manuseadas, entrega uma parte à viúva. – Esse dinheiro é seu, mãe Tonha, não dê a ninguém, guarde para alguma necessidade urgente. Depois que se vender o relógio vai ter um pouco mais.

Separa o resto em dois montes, sua quota e a de Elisa, deixa-os sobre a mesa, ignorando a mão estendida da irmã:

- Um momento, Elisa, ouça primeiro o que eu vou dizer. O Pai morreu quando tinha acabado de fazer negócio com Jarde Antunes para comprar a terra e o rebanho dele, uma propriedade que não é grande mas, pelo que sei, é muito bem cuidada e dá uma boa renda. Faz divisa com a fazenda de Osnar. O Velho me pediu para completar o pagamento, queria ter um pedaço de terra e umas cabras. Acho que não era tanto pelo lucro, era mais pela satisfação. Gostava dos bichos e gostava de ter importância.

- Se gostava… - concorda dona Carmosina até então ouvinte silenciosa. Para ela, a existência de dinheiro escondido por Zé Esteves não constituíra surpresa.

- Sabia disso, Elisa? Dessa compra?

- Astério me contou, seu Jarde disse a ele.

Tieta estende a mão, afaga os cabelos da irmã, quem lhe dera possuir aquela crina negra.

- Então, ouça: o preço que Jarde e Josafá estão pedindo pela propriedade é bem convidativo, eles precisam de dinheiro contado. Até seu Modesto Pires achou barato e Osnar me aconselhou a fechar negócio sem discutir. – Assume um ar executivo, acostumada a lidar com dinheiro, a resolver negócios.

- Meu plano é o seguinte, juntamos as duas partes, a tua e a minha, eu boto o que falta e compramos para tu e Astério, a escritura passada em nome de vocês. Para não continuarem a viver nesse aperto, contando os níqueis. Com a loja e o criatório, vai dar de sobra. A propriedade dá uma boa renda e ainda por cima é vizinha da de Osnar, ideal para Astério. Estou ajudando os meninos de Perpétua, quero ajudar vocês também. Com a morte do Velho, quando a casa ficar pronta, vocês vão morar lá, com Tonha. Era o que eu queria dizer. – Na voz, aquela satisfação
provinda
da alegria de dar, de concorrer para melhorar a vida da irmã e do cunhado.


RASGAMOS
OU NÃO
RASGAMOS?



Afinal, Drª Leite, em que ficamos? Rasgamos ou não rasgamos?

É que os adversários políticos de José Sócrates que ao longo de quatro anos suspiraram por políticas alternativas ao seu governo, ficaram eufóricos, entusiasmados, quase fora de si, quando a senhora há duas semanas atrás afirmou categoricamente, com uma autentica senha destruidora, que rasgaria as políticas económicas e sociais do actual governo.

Finalmente, perfilava-se uma oposição radical, estranha e surpreendentemente oriunda da mesma área política, é verdade, mas tal só significava que para todo o pessoal do centrão que umas vezes vota PS outras PSD e que odeia Sócrates, iria poder assistir à destruição total da sua obra política sem ter que votar no PCP ou no Bloco.

Íamos poder voltar ao ponto zero, apagar tudo e fazer de novo, bem ao nosso jeito português: “tudo ou nada, mulher do diabo”, como se dizia antigamente, porque oposição que se preze e queira agradar aos descontentes não se pode ficar por meias tintas… ou é oposição ou não é.

Com a garantia de que quem prometia esse terramoto político que não deixaria pedra sobre pedra, não era um qualquer jovem e irresponsável político para agradar a franjas despeitadas e desiludidas da vida do eleitorado português, mas uma senhora já com alguma idade, algo retocada ultimamente, é certo, e com anteriores experiências governativas no país.

Pessoalmente, quando ouvi a senhora dizer, desassombradamente, olhos nos olhos, que rasgava tudo, confesso que tremi, pelo meu futuro e o dos meus concidadãos, mas não deixei de admirar a coragem Kamikaze daquela senhora que já não sendo uma jovem, em directo, pela Televisão, informava os portugueses das suas intenções autenticamente suicidas.

Como se dizia, na minha juventude: “é d’homem”, que no caso em apreço: “é de mulher”!

Afinal, desilusão das desilusões, suprema frustração, a senhora agora dá o dito por não dito e já não rasga nada, talvez umas coisitas...

Ora bolas!, e eu que estava quase a passar-me para o campo dela. Já não se pode acreditar em ninguém, nem mesmo em respeitáveis senhoras...
A ânsia de alcançar o poder que até há pouco parecia tão distante, logo liquidou o mais importante factor de credibilidade: a memória, não a longíqua mas a de uma semana atrás, relativamente ao aspecto mais importante do seu futuro programa político: rasgar e não rasgar todas as políticas do governo anterior.


domingo, julho 12, 2009


THE BEATLES

JONHN LENNON


Nasceu em 1940, em Liverpool e em 1969 casou com a cantora e artista plástica vanguardista japonesa, Yoko Ono, nascida em Tóquio, em 1933. Em 1980 foi assassinado em Nova York.

Fundador do Grupo, integrou-o desde 1957 até que se separaram em 1970.

Compositor, cantor, multi – instrumentista: piano, guitarra, gaita, teclados, baixo, violão, instrumentos de percussão e outros, ele foi o autor de muitos dos maiores sucessos da Banda, incluindo a canção “All You Need Is Love”, apresentada na primeira transmissão por satélite ao vivo no mundo e que ainda hoje é um hino para várias gerações.

Mas para além de músico e compositor John Lennon foi um escritor e activista a favor da paz.

Yoko Ono, por quem se apaixonou em 1968, era uma cantora e artista plástica vanguardista japonesa e foi a pessoa mais importante na sua vida.

Desde 1970 dedicou-se a uma carreira a solo mas em 1975 afastou-se da música para se poder dedicar mais à família com o nascimento do seu filho, Sean Lennon.

Quando em 1980 pretende regressar novamente à música e retornava do estúdio de gravação, pelas 11h00 da noite, acompanhado da mulher, foi assassinado por Mark David Chapman com quatro tiros nas costas. O assassino, com distúrbios de esquizofrenia, afirmou pretender ficar famoso, deixar de ser um Zé ninguém. Está a cumprir prisão perpétua.

Dos seus muitos sucessos musicais destacamos: “Imagine”, “Help”, Strawberry Fieds Forever”, “All You Need Is Love” entre outros.

VÍDEOS
VEJA SÓ O QUE PODE ACONTECER NUMA CORRIDA POR UMA ESTRADA DO CAMPO...

UMA LINDA VOZ E UMA NÂO MENOS LINDA CANÇÃO



SHARYA MAZGANI - SOMEWWERE BENEATH THIS SKY


MAYSA - OUÇA (1956)

Letra e Música de Maysa, Maysa Figueira Monjardim, oriunda da classe média alta, casou muito cedo com André Matarazzo, de família muito rica. Este samba-canção que foi o seu maior sucesso não foge ao estilo "dor de cotovelo" da época. Gravou nos estúdios da RGS pois tinha sido recusada na CBS. Pelo sucesso que alcançou foi convidada e participou em programas de televisão de São Paulo e Rio de Janeiro, chegando a ter um programa exclusivo como cantora. Aderiu à bossa nova tornando-se uma das principais divulgadoras em diversos países: França, Argentina, EUA e Portugal. "Meu Mundo Caíu" foi outro grande sucesso seu. Maysa faleceu em Janeiro de 1977, num trágico acidente de automóvel na ponte do Rio Niteroi, aos 41 anos de idade. Seguindo o que dizia o seu amigo Vinício de Morais sobre o amor. "... que seja infinito enquanto dure...", Maysa viveu e amou intensamente.



THE BEATLES - ALL YOU NEED IS LOVE





JOHN LENNON - MOTHER





TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 180


DOS RITOS DA MORTE E DAS AFLIÇÕES DA VIDA



No fim da tarde daquele trinta e um de Dezembro, repousada, Tieta vestiu-se discretamente e, depois de conversar em casa com Osnar e no curtume com Modesto Pires, tomou de dona Carmosina na agência dos Correios e Telégrafos e com ela dirigiu-se à casa de Elisa. Do balcão da loja onde demora na esperança de algum freguês retardatário para a derradeira compra do ano, Astério as vê passar, advinha-lhes o destino: vão fazer companhia a Elisa, consolar mãe Tonha. Lança um olhar na direcção do Bar dos Açores, hoje não tem direito à diversão costumeira; ainda bem que as partidas decisivas do campeonato de bilhar que designará o Taco de Ouro de 1965 foram adiadas devido à morte do velho Zé Esteves, sogro de um dos quatro semifinalistas: Astério Simas, José da Mata Seixas, Ascânio Trindade e Fidélio Dórea A. de Arroubas Filho. Logo no último dia do ano; haviam previsto uma bramota comemorativa para festejar o campeão. Há três anos Astério detém o ceptro, arrebatado a Ascânio Trindade cujas obrigações na Prefeitura o trazem afastado da mesa do bilhar, aparecendo apenas uma tarde ou outra. Ultimamente, salva-se uma alma do purgatório quando ele impunha taco e giz: ao cargo somou-se o namoro para deixá-lo sem tempo para o esporte. Astério suspira: adiada a disputa, suspensa a festa, o demónio do Velho até depois da morte o persegue e chateia.

Elisa atira-se nos braços da irmã, em renovada tribulação. A morte deve ser honrada, o sentimento dos parentes do defunto, proclamado em ais e soluços, lágrimas e lamentos, sinais de dor visíveis e constatáveis. Assim se demonstra a consideração dispensada ao finado, em provas públicas de afecto e saudade. Além e acima da mágoa e da dor, situam-se os ritos da morte, obrigatórios, dos trajes negros ao clamor das carpideiras.

Num canto da sala, silenciosa, apagada, de repente velha sem idade, mãe Tonha, os olhos vermelhos. Apesar de todo o despotismo, Zé Esteves fora tudo o que possuíra. Ele a tirara da casa dos pais, roceiros pobres e, sendo homem de posses, um senhor da cidade, com terras e cabras, quase um coronel, a desposara após havê-la derrubado nos matos. Casara no padre e no juiz quando podia tê-la abandonado de buxo cheio, ao deus dará; assim costuma acontecer em Agreste com frequência e impunidade.

Junto ao marido Tonha viveu, silenciosa e obediente, quase trinta anos. Tomando esporros, sofrendo maus tratos, ouvindo xingos, mas tendo calor de companheiro a acalentá-la, rude mão de amparo, e vez por outra um beijo, uma carícia, o fogo do velho bode persistindo no vício até à véspera da morte. Zé Esteves gabava-se de feitos de cama e se alguém punha em dúvida tamanho vigor em sua idade, apelava para o testemunho de Tonha:

- Estou mentindo, mulher? Diga pra ele.

Piscava o olho, ria o grosso riso de fumo-de-corda, cuspindo negra cusparada. Tonha baixava a vista, um sorriso fugaz, entre envergohado e afirmativo.

A chegada de Tieta e dona Carmosina acciona o aparelho da aflição, mergulha a sala em trevas. Ao vê-las, Tonha levanta-se, rompe em soluços, Elisa a acompanha, passa dos braços da irmã para os da amiga e protectora. Tonha repete em monótono cantochão:

- Que vai ser de mim, agora?

Tieta prende a madrasta contra o peito, em silêncio, antes de reacomodá-la na cadeira e sentar-se a seu lado, junto à mesa:

- Fique descansada, mãe Tonha, nada há de lhe faltar. Vosmicê vai morar com Elisa e Astério e todo o mês eu mando um dinheirinho para suas despesas. Tonha tenta lhe beijar a mão, igual a Zé Esteves na hora de embarcar no bote de Pirica, em caminho da morte. Houvesse Tieta nascido de seu ventre e não seria filha melhor, mais dedicada. Pouco tempo Tonha a tivera em sua companhia, dois anos se muito; eram então da mesma idade, duas adolescentes.

Quando o Velho me botou para fora de casa – lembra Tieta – na hora em que eu estava arrumando minha trouxa, vosmicê me deu um dinheiro, pensa que me esqueci? Se não fosse por vosmicê e por mãe Milú eu saía daqui para enfrentar o mundo sem um vintém furado.

Tinham as duas a mesma idade naquela madrugada da partida de Tieta na boleia do caminhão. Tieta a tratava de vosmicê e de mãe, exigência do Velho ranzinza. Agora o faz de moto próprio, já não são da mesma idade; moça, louça e vistosa, a alegre viúva do comendador paulista; velha e definhada, magra e sofrida, a viúva do arruinado criador de cabras, encolhida na desolação do vestido barato e negro, de chita

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