sábado, novembro 01, 2014

Como estamos de Fé Religiosa?












“A fé em Deus vai morrer em, pelo menos, nove países – diz um estudo de investigadores americanos. Analisadas as respostas sobre crenças aos Censos dos últimos cem anos, e usando um modelo matemático de dinâmica não linear, a equipa concluiu que a fé organizada se está a extinguir na Austrália, na Áustria, no Canadá, Finlândia, Holanda, Nova Zelândia, República Checa, Suiça e até a Irlanda. Destes nove países, o “menos crente” é a República Checa, onde 60% da população diz que não tem qualquer inclinação religiosa”. 

De acordo com o Censos de 2011, o numero de pessoas sem religião em Portugal praticamente duplicou, de 340.000 para 615.000. 

Uma pergunta final: - Para que lado se inclinará o futuro da humanidade? 

 - Para esta nova realidade de checos, australianos, finlandeses, austríacos, etc… que não têm qualquer inclinação religiosa ou para os milhões de islamitas que continuam a seguir rigorosamente as normas do Corão?

O que se passa neste momento com os fundamentalistas do Islão e o seu "Estado Islâmico", parece dar razão para os que alertam para o risco do pensamento religioso, e eu sou um deles. Desde sempre a religião funcionou como uma arma virada contra a própria humanidade, separando-a, fomentando o ódio e a morte muito em especial as religiões monoteístas.  

Mas o homem nasceu crente, foi assim, acreditando, que ele evoluiu e sobreviveu ao longo de centenas de milhar de anos sem duvidar do que lhe diziam os pais e os mais velhos da tribo, depois passaram para os deuses e finalmente para um Deus.

Embora a razão esteja a fazer progressos sobre o pensamento religioso, como as estatísticas mostram, ele só irá desaparecer com a própria humanidade... mais cedo ou mais tarde, o homem o dirá, mas sempre em ruptura e em guerra uns com os outros por via das religiões.

Falar verdade a mentir...
A Verdade

e    a

Mentira 









Pedro Almodôvar, esse talentoso cineasta espanhol, quando tinha nove anos, no início dos anos 60, mudou-se com a família da aldeia da Mancha, onde nasceu, para uma outra na Estremadura, onde a maioria dos habitantes eram analfabetos, o que foi identificado como uma oportunidade de negócio pela mãe, que logo montou, em sociedade com o filho, um comércio de leitura e escrita de cartas.

Como tinha uma caligrafia muito bonita, ele escrevia as cartas, enquanto a mãe se encarregava da leitura. Cedo, Pedro começou a reparar que a mãe romanceava o que estava escrito nas cartas, e um dia não se conteve e perguntou-lhe:

- Por que lhe disseste que ela sente saudades da avó e se lembra muitas vezes dela a lavar a roupa numa bacia cheia de água à porta de casa, se na carta nem sequer fala na avó?

Ao que a mãe o calou com uma resposta desarmante:

- Mas viste como a avó ficou contente?!!!

“A realidade precisa da ficção para ser mais completa, mais agradável, mais vivida” escrevia o cineasta no dia a seguir ao da morte da mãe.

Um sábio de outro século, de outra arte e de outra geografia, Fiodor Dostoievski tinha chegado à mesma conclusão quando nos avisou:

- “Para tornar a realidade mais verosímil precisamos necessariamente de adicionar a mentira” 

Mulher é assim mesmo. 
Não entende as necessidades do homem.


Amor já volto



Reza a história que um casal de recem casados, com apenas 2 semanas de
casamento, o marido que apesar de feliz, já estava com uma vontade reprimida
de sair com a malta para fazer a festa. Assim ele diz à sua queridinha:
- 'Môr já volto!

- Onde vais meu docinho? (com expressão de recém casados)

- Ao barzinho, beber uma geladinha.

A mulher põe a mão na cintura e responde-lhe:

- Queres uma cervejinha, meu amor???

E nesse momento abre a porta do frigorífico mostra-lhe 25 marcas diferentes
de cervejas de 12 paises: alemãs, holandesas, japonesas, americanas,

 mexicanas, etc.

O marido sem saber mais o que fazer, responde-lhe:

- Meu docinho de coco... mas no bar... sabes...o copo é gelado.

O marido não tinha acabado de falar, quando a esposa interrompe a sua
conversa e diz:

- Queres um copo gelado, 'mor?

Nesse momento a esposa tira do congelador um copo bem gelado, branco,
branco, que até tremia de frio. Então o marido responde:

-Mas meu céu, no bar tenho aqueles salgadinhos óptimos...Já volto ok?

- Queres salgadinhos meu amor???

A mulher abre o forno e tira 15 pratos de diferentes salgadinhos: bolinhos de bacalhau, rissois, pipocas, amendoins, pasteis de carne, empadinhas...

- Mas minha bonequinha... lá no bar... sabes... as piadas, os palavrões,tudo
aquilo...

- Queres palavrões meu amor?

  - ENTÃO VAI PRO CARALHO, MAS DAQUI TU NÃO SAIS, MEU 

FILHO DA PUTA!!!




Meu nome é Jussara
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)

Episódio Nº 87



















Vestia-se de luto carregado mas na brasa dos olhos e no carmim dos lábios não se enxergava sombra de lágrimas, resquício de saudade.

Se carpira o morto em algum momento, já não o pranteava: ressumando vida, respirava langor e prazer, transluzia ao sol da feira em promessa e convite.

 Na mão, um rebenque com cabo de prata; na boca carnuda, semi-aberta, os dentes alvos e perfeitos, dentes de morder.

 - Ouvi falar muito a seu respeito. - Não disse de quem ouvira nem o que lhe falaram como se a afirmação ocultasse algum segredo:

  - Meu nome é Jussara. Conheceu Kalil Rabat, dono da Casa Oriental?

Fixando a vista, Fadul descobriu sob o xale de ramagens uma rosa cor de sangue posta atrás da orelha e a descoberta o alvoroçou.

De onde ela viera, essa cabocla? Das profundas da mata onde pelejavam curibocas ou de um acampamento andejo de ciganos?

Quantos sangues se haviam misturado para resultar nesse mistério, para atingir esse fascínio?

 - Conheci. Mais de vista que de trato. Soube que morreu.

 - Sou a viúva dele. Não entendo de balcão de loja. Pobre de mim.

Estendeu o rebenque, tocou o peito do gigante, ao mesmo tempo insolente e rendida:

- Quando passar por Itabuna venha me ver. Vou lhe mostrar a loja. Estou buscando quem me ajude: ninguém leva a sério
uma viúva cuidando de negócios. Pobre de mim.

Virou-lhe as costas, andou para onde um pajem a esperava segurando o cavalo pampa pela rédea. Antes de alcançar a montaria, Jussara arrancou o xale da cabeça num gesto repentino. Deixou que os cabelos negros - mais negros do que a saia de montar, a blusa de seda, as rendas e os babados -  escorressem desnastros pelas costas: batiam na cintura.

 Fadul engoliu em seco, parvo a espiar. Ajudada pelo pajem, Jussara pôs o pé no estribo, montou, acomodou-se no selim.

Voltou a cabeça para o turco, acenou adeus. Um minuto após já não estava.

Manuel da Lapa estendeu a mão cobrando o preço dos dois burros, comentou:

 - Uma realeza de mulher, um despropósito, seu Fadu.

Montado num dos burros, tangendo o outro, Fadul rumou para Tocaia Grande: pobre, ai de mim! Proscrito, relegado ao cu do mundo.

sexta-feira, outubro 31, 2014

HOLOCAUSTO

Não esqueçamos estas imagens... eu já era nascido...Temos que aprender com elas, não podem repetir-se.



Camada de Nervos - A amiga da noiva



Geert Chatrou - Czardas

É holandês, nasceu em 1969, em Sint Odilienberg. Começou a assobiar muito novo tendo ganho por três vezes o Campeonato Internacional de Assobio: 2004, 2005 e 2008. Aqueles agudos afinadíssimos são do outro mundo...







Um desempregado compareceu no Centro de Emprego em Estremoz, para ver se havia alguma coisa para ele.

Ao chegar, viu um cartaz que dizia:


 - Precisa-se de Assistente de Ginecologista'.

Foi ao balcão e perguntou:


- Pode dar-me mais informações sobre este trabalho?


E o funcionário:


- Com certeza. O trabalho consiste em preparar as pacientes para o  exame. Você deve ajudá-las a despir-se e lavar cuidadosamente as suas partes genitais. Depois faz a depilação dos pêlos púbicos com creme de barbear e uma gillete novinha. A seguir esfrega gentilmente óleo de amêndoas doces, de forma a que elas estejam prontas para ser observadas pelo ginecologista.

O salário mensal é de 2.500 Euros.


Mas o senhor tem de ir até Elvas.


- É lá o emprego?

- Não, é lá que está o fim da fila...


Nascer é, afinal, o jackpot da vida...
EUROMILHÕES

O JACKPOT DA VIDA



















O meu progenitor produziu em cada dia da maior parte da sua vida entre 300 a 500 milhões de espermatozóides e qualquer um deles, combinado com um óvulo de entre umas centenas pertencentes à minha progenitora, era um potencial descendente.

Repare-se bem, muitos milhares de milhões de uma pequena célula, cada uma diferente de todas as outras, que eram pertença do meu pai, escolhida em função de um processo competitivo no momento da fecundação com um dos muitos óvulos que aleatoriamente estava disponível nesse dia e nesse momento, determinou o nascimento da minha pessoa numa probabilidade que desafia quase o infinito.

Richard Dawkins, grande especialista do genoma humano, afirmou que as pessoas potenciais permitidas pelo nosso ADN que poderiam estar aqui no nosso lugar mas que na verdade nunca verão a luz do dia excedem em número os grãos de areia do deserto do Saara.

E não é que eu tinha a sensação que era o filho óbvio dos meus pais? E não é isso que sente qualquer um de nós?

Agora que penso nisto quase estremeço ao imaginar a multidão de irmãos meus que ficaram por nascer e me “deram” o seu lugar para que possa estar aqui a escrever ao fim já de setenta e cinco anos de vida...

Eu julgava que sorte, sorte, era acertar na “chave” do Euromilhões num daqueles concursos com um Super Jackpot e afinal eu próprio, cada um de nós, é um autêntico Jackpot.

Chegamos à vida contra todas as probabilidades oriundos de um mundo de silêncio e de nada e depois de uma existência fugaz, que metaforicamente podemos equiparar a um pestanejar de olhos, regressamos a ele e, no entanto, esse momento fugaz é tudo quanto nós temos.

E sendo tudo é ainda muito mais do que aquilo que nós valorizamos quando olhamos à nossa volta e nos apercebemos do que muitas pessoas fazem às suas vidas e à vida dos seus semelhantes: crime e desperdício!

Não há crença ou religião que não aponte para outras vidas numa estratégia óbvia de condicionarem e influenciarem as pessoas a adoptarem determinados comportamentos e atitudes, normalmente de disciplina e submissão, embora tudo à nossa volta nos mostre à evidencia que após a morte a vida continua, é certo, mas através de novos personagens que não os anteriores recauchutados.

A vida é um bem precioso e é precioso porque é bela, rara, única, irrepetível e embora os sete mil milhões de semelhantes nossos que habitam o planeta nos possam dar uma ideia contrária o que é este número comparado com o dos grãos de areia do deserto do Sara?

Vamos morrer e por isso somos nós os bafejados pela sorte. A maior parte das pessoas nunca vai morrer porque nunca vai chegar a nascer.

É muito importante pensar a vida, a nossa vida, como aquela oportunidade que nos surgiu de entre muitos milhões de oportunidades que podiam ter acontecido a outros no nosso lugar e se assim conseguirmos pensar, até porque é essa a realidade, olhar-nos-emos e aos nossos companheiros de “viagem” com outros olhos, com mais atenção e mais sentido de responsabilidade.

No fundo, todos buscamos a felicidade que é aquela “coisa” que queremos para nós próprios sem nunca alcançarmos a não ser em alguns momentos mais afortunados.

Sabemos, acima de tudo, que queremos ser felizes mas não sabemos bem como nem com quem e quando o julgamos saber muitas são as vezes em que concluímos que estávamos enganados e, normalmente, já muito tarde porque a vida, sendo bela, única e rara e irrepetível também tem o seu quê de perversa.

Nascemos condicionados pelos nossos genes e pelo contexto cultural e social que encontramos e por muito que nos emancipemos através de uma formação científica sólida e diversificada, é na gestão que fazemos daqueles dois grandes factores que as nossas vidas se resolvem.

Em última análise, são aspectos emotivos da nossa própria natureza que irão determinar o sucesso das nossas vidas em termos de felicidade e por isso a necessidade de apelar à inteligência para orientarmos a nossa sensibilidade.

Só somos seres superiores porque temos a capacidade de sermos bons de uma forma inteligente: nem “máquinas pensantes”nem “donzelas de lágrima ao canto do olho”.

A razão e o sentimento têm que “casar-se” sem que para isso haja alguma fórmula mágica a não ser, talvez, a que se esconde algures dentro de cada um de nós…

Temos uma dívida para com o meio que nos cerca pois não só o planeta em que vivemos é propício e “amigável” como o próprio universo também o é.

Segundo os cálculos dos físicos, pequeninas alterações que fossem nas leis e nas constantes da Física e o universo ter-se-ia desenvolvido de tal modo que a vida teria sido impossível.

Mas a nossa responsabilidade não é perante o Universo que se organizou de forma a permitir a vida, nomeadamente a nossa, pois somos demasiado pequenos e insignificantes para assumirmos responsabilidades perante o Universo.

A nossa responsabilidade é perante nós próprios, na qualidade de única espécie verdadeiramente inteligente que ao longo de um processo evolutivo de milhares de milhões de anos, e com muitos sobressaltos pelo caminho, se conseguiu impor.

Despoletamos forças poderosas, estamos em vésperas de construir estações orbitais com condições para lá podermos viver, transformamos o nosso mundo numa aldeia global, mas continuamos com imensas dificuldades em resolver situações de simples vizinhança e convivência em que alguns conflitos religiosos continuam a ser os de mais difícil resolução.

...os deuses…sempre os deuses, a atrapalharem a vida dos homens…

Fadul não a conhecia, nunca a vira antes.
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)

Episódio Nº 86





















Dama de honra, juntamente com Belinha, Auta Rosa, radiante, recolheu o buquê atirado pela noiva.

Fadul ouviu, não comentou, Deixou para praguejar quando a montaria do Coronel sumiu na estrada: cass-âm-abúk-charmúta!

Nunca mais sonhou com Aruza, não tornou a lhe tirar os tampos.

Zezinha do Butiá voltou a reinar absoluta no leito enorme, durante as noites solitárias de Tocaia Grande.


JUSSARA RAMOS RABAT, VIÚVA E HERDEIRA DE
KALIL RABAT, VAI A TOCAIA GRANDE


1

Fadul Abdala conheceu Jussara Ramos Rabat, viúva e herdeira de Kalil Rabat, na feira de Taquaras ao negociar a compra de dois burros necessários ao transporte de mercadorias até Tocaia Grande e para lhe servir de montaria.

Tendo escolhido os animais a dedo, examinando-lhes os dentes e as patas, conforme lhe recomendara o capitão Natário da Fonseca, dedicou - se ao prazer da barganha na discussão do preço com Manuel da Lapa apontando defeitos imaginários, pondo em dúvida qualidades evidentes.

 - Tenha dó de mim, seu Fadu, pelo menos arredonde a conta.

 - Nem um vintém a mais.

Jussara era o que o povo chamava um pancadão, fêmea de encher a vista de qualquer filho de Deus: cabocla cor de cobre, refulgindo ao sol.

 Ao vê-la andar em sua direcção por entre éguas e jumentos, vindo parar diante dele, a mirá-lo com insistência, Fadul perturbou-se e a transacção esteve a pique de ir por água abaixo; ficou abobalhado, sem vontade e sem acção.

Dando-se conta do perigo, Manuel da Lapa resolveu aceitar o preço proposto para não terminar no ora-veja.

 - Estou falando com Fadul Abdala? — começou ela por perguntar e logo riu um riso arisco e afoito, um som de guizos.

Os olhos alumiavam em contraste com a voz morna e dolente morrendo entre as palavras como se Jussara fosse desmaiar: enlanguescente e enlevada, o dengue em pessoa na feira de Taquaras.

Quem não a conhecia, ao encontrá-la e ouvi-la pela primeira vez, sentia-se de imediato disposto a protegê-la, a defendê-la contra trampas, trapaças, traições.

 Fadul não a conhecia, nunca a vira antes.

Com esforço o turco conseguiu retirar o chapéu para saudá-la, deferente e cortês. Percorreu-a em seguida dissimuladamente de cima a baixo, da cabeça aos pés, tentando adivinhá-la sob os panos que a cobriam.

 Jussara proclamava viuvez aos quatro ventos, em cambiantes de tons negros na saia de montar, na blusa de seda, no xale a lhe envolver os cabelos, resguardando-os da poeira.

quinta-feira, outubro 30, 2014

IMAGEM

A Ponte - Convém passar um de cada vez e sem fazer muitas ondas...



Planos para o futuro?
Planos para o futuro...















Uma galinha põe um ovo de meio quilo. Jornais, televisão, repórteres... todos atrás da galinha.

- Como conseguiu esta façanha, Srª Galinha?

- Segredo de família...


 - E os planos para o futuro?

- Pôr um ovo de um quilo!


Então as atenções voltam-se para o galo...

- Como conseguiram tal façanha, Sr. Galo?

- Segredo de família...


- E os planos para o futuro?


- Partir os cornos ao Peru!!!


Carmélia















A empregada africana, chorando convulsivamente, chega à sala de estar com a mala de viagem na mão e despede-se da patroa que, muito intrigada lhe perguntou:

- Carmélia, que se passa…? Para onde vai?
 
- Prá junto di minha família, Dona Fror, prá mórrér junto di meus!...
 
- Mas… o que aconteceu, querida?

- Óh Dona Fro, a sinhora fala sémpre qui seu marido é issilente médico e nunca errou uns dignóstico ná vida...
 
- Pois é… É verdade… Normalmente, ele nunca se engana no diagnóstico... Mas, o que tem isso a ver com a sua saída de casa?
 
- Então Dona Fror, é qui o Dr. hoje pela manhã, antes di ir embora, apértou a minha bunda com as duas mão e dissi-mi no ouvido:
 
- DESTA NOITI NUM PASSAS !!! 

MARIA BETHÂNIA


Um jeito estúpido de amar

Apesar de prestigiar o talento de seus conterrâneos, Maria Bethânia, recriava também clássicos da música popular brasileira que iriam encontrar em sua interpretação, momentos se não definitivos, pelo menos fundamentais, é o caso de "Carinhoso", de Pixinguinha e João de Barro; "Último desejo", de Noel Rosa; "Se todos fossem iguais a voce" e "O que tinha de ser", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes; "Marina", de Dorival Caymmi; "Camisa listada", de Assis Valente; "Molambo", de Jayme Florence e Augusto Mesquita; "Lama", de Paulo Marques e Aylce Chaves; "Pano legal", de Billy Blanco e "Café soçaite", de Miguel Gustavo.

Iniciando com este trabalho uma tradição em sua carreira que seria gravar discos ao vivo, Maria Bethânia, tem seu talento reconhecido no texto da contra-capa escrito pelo poeta Ferreira Gullar, ao afirmar que, "Bethânia é uma cantora nacional, deste país, enraizada nele, e na multidão de vozes e cantos que exprimem a nossa vida destaca-se a sua, bela, já turva, já iluminada, que canta por nós". 

O tempo passou e Maria Bethânia construiu uma das mais brilhantes carreiras de intérprete da música popular brasileira, sua obra é referência fundamental para conhecer a beleza de nosso cancioneiro, e este disco é um desses momentos encantadores que ficam para sempre.

Finalmente, apenas para actualizar o que o poeta disse há 36 anos, afirmamos sem nenhum exagero que ela é hoje a maior cantora de nossa música popular, pois quanto mais o tempo passa, mais sua voz se torna bela e seu canto universal, é a nossa diva maior, que encanta a pessoas de todas idades com seu talento inigualável, e o que é melhor ainda é saber que ela é baiana, cheira a dendê, recebe as bênçãos de Nossa Senhora da Purificação e dança e canta o recôncavo baiano como ninguém, é a imagem pura e alegre da terra de todos os santos, essa já jovem/senhora de tantos cantares. Salve! Salve!

(Luiz Américo Lisboa Junior)

Os Mitos e a Ciência




















Os mitos e as religiões permitiram durante muito tempo respostas à questão angustiante sobre as origens do homem e o sentido da sua existência mas, em contrapartida, pela sua própria natureza, elas fecharam-se a qualquer tentativa de questionar essas mesmas respostas.

Foi preciso passar muito tempo, até ao séc. VII A.C., na Grécia, para que fosse possível explorar mais uma via de conhecimento, a via da ciência, que propõe uma verdade que, pela 1ª vez, se deve demonstrar e pode ser sempre objecto de discussões.

Antes disso, primeiro na Mesopotâmia e no Egipto e de seguida no Ocidente, os homens convencidos da realidade de um Criador supremo sentiram necessidade de encontrar uma imagem correspondente nas leis do universo.

Voltaram-se, então, para a observação dos astros e não obstante o peso terrível dos mitos transformados em dogmas das religiões na liberdade de pensamento, mesmo assim, foram possíveis descobertas notáveis em astronomia e por vezes a intuições fulgurantes da natureza da vida mas, no essencial, os resultados dessas observações foram desviados em proveito da astrologia, da adivinhação e da magia.

No Oriente, onde a noção da criação é muito difusa e a gestão do mundo não depende de uma entidade divina não se sentiu logo a necessidade de procurar racionalmente uma causa exacta para as leis que regem o universo e é então, na Grécia, que se desenvolverá pela primeira vez um verdadeiro pensamento científico e aparecem as primeiras propostas racionais sobre a origem do Universo, da Terra, da Vida e do próprio Homem, e é interessante verificar que isto acontece num contexto geográfico e histórico privilegiado: na encruzilhada das civilizações da Ásia e do Médio Oriente.

Pouco se sabe das populações que viveram na Grécia 2.000 anos A.C. já que a civilização helénica começa com os povos denominados Acádios, de origem indo-europeia que, por aquela data, penetram na Grécia e ali se instalam desenvolvendo uma civilização homogénea que se distingue pelas suas tradições próprias, em si muito antigas, mas que levam em consideração as crenças dos habitantes autóctones e que posteriormente se enriquecem com as influencias de Creta, que lhe está muito próxima, da Ásia e mesmo do Egipto.

Esta civilização, denominada Micénica, estabelecida pelos Acádios, sofre grandes perturbações pelos consideráveis movimentos de populações e estas circunstâncias dão lugar a que a Grécia, no Séc.XII A.C., invente um novo tipo de sociedade baseado na síntese das tradições da Ásia e do Médio Oriente.

Em comunhão constante com a natureza, os gregos desenvolvem uma religião alegremente politeísta que lhes deixa uma liberdade de espírito total e por isso, num contexto religioso pouco constrangedor, foi junto dos poetas e dos filósofos que os Gregos da idade de ouro do helenismo clássico, procuraram modelos de sabedoria e de virtude que lhes permitiu desenvolver um pensamento realmente moderno e inovador baseado na observação e na experimentação.

Será um princípio de ciência sobrecarregada de erros enormes mas não deixa de ser, pela primeira vez, «a Ciência».

Tales de Mileto, por exemplo, já não aceita que a origem do mundo esteja nos deuses: ele imagina que uma substância primordial, a água, se encontra na origem da infinita diversidade das coisas da natureza, a qual deve também servir para as regenerar.

Anaximandro de Mileto é o primeiro a imaginar a existência de uma espécie de hierarquia dos seres vivos que conduziria ao Homem.

Hipócrates sugere que as mudanças do meio natural são, na origem, transformações do mundo dos seres vivos, conceito este que não é muito diferente do “transformismo” que será desenvolvido por Lamarck dois mil anos mais tarde.

Anaxágoras de Clazomenea tem a intuição de que a matéria é constituída por partículas infinitamente pequenas capazes de se agruparem em categorias semelhantes a fim de produzirem a ordem da natureza.

Demócrito, considera que o mundo é formado por partículas extremamente pequenas, duras e numerosas a que ele chama átomos, isto é, indivisíveis e que se movimentam incessantemente no vazio absoluto que os rodeia o que os leva a encontrarem-se e a agregarem-se uns aos outros produzindo novas formas.

Epicuro desenvolverá este conceito numa visão que faz do universo uma reunião de átomos descontínuos, inalteráveis e eternos.

Não vale a pena continuar com a descrição exaustiva do que foram os contributos dos sábios da antiga Grécia porque o meu objectivo, em termos de conclusão, é de que a inteligência do homem manifesta-se em todo o seu esplendor quando beneficia do contributo de influencias de várias culturas e se desenvolve num quadro religioso que não seja castrador da liberdade de pensamento.

Por estas razões, o período compreendido entre os séculos VI e II A.C. pode considerar-se «chave» na história da humanidade, marcado por uma autêntica explosão do pensamento.

A partir do século II A.C.com a progressão espectacular da «ordem romana» baseada essencialmente em valores militares e mercantis, o mundo ocidental inicia um longo período de estagnação científica.

No século VII, a conquista árabe coloca o essencial da tradição científica do Médio Oriente nas mãos de um povo que até então ignorava a ciência mas os sábios do Islão saberão conservar e desenvolver essa herança.

A partir do século XIII os eruditos árabes da África do Norte, da Sicília e da Espanha transmitirão essa herança ao Ocidente com a qual será iniciado o Renascimento científico.

Durante a primeira parte da Idade Média os verdadeiros sábios, capazes de observar e experimentar são poucos, mal vistos, têm falta de meios e na maior parte das vezes são considerados heréticos e feiticeiros.

O conjunto dos teólogos cristãos dessa época têm como referência as ideias de Platão e Aristóteles que lhes chegam mal traduzidas e das quais só conservam aquilo que é susceptível de apoiar o dogma da criação divina.

As obras de Aristóteles, revistas pelos teólogos cristãos, são a base do ensino escolástico em que só os mestres têm acesso aos textos comentados por eles e para os seus alunos e que culmina com Tomás de Aquino.

Mas homens como Roger Bacon e Guilherme de Ockham, o primeiro ainda contemporâneo de Aquino, mostram-se rebeldes contra o argumento da autoridade que consiste em pretender que uma coisa é necessariamente verdadeira porque Aristóteles o afirma!

Apoiando-se em observações cada vez mais numerosas e experimentações mais exactas, aperfeiçoando os métodos e os instrumentos de pesquisa e pondo, sobretudo, continuamente em causa os resultados obtidos, a Ciência, entre os Séculos XIV e XVIII, teimosamente, irá minar a estrutura autoritária do pensamento escolástico guiado e comandado pela Igreja Católica. 

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