sábado, abril 02, 2016

FOTO  SURREALISTA




Estes sons,  vozes e ritmos trazem à minha memória Moçambique, África, povos hospitaleiros amantes  da música e da dança.


Uma questão de sotaque beirão...



Tieta do Agreste

(Jorge Amado)



Episódio Nº 116























DO SUICíDIO DO PREFEITO MAURITÔNIO DANTAS E DOS CONSELHOS DO CORONEL ARTUR DE TAPITANGA

Impossível negar-se ligação imediata entre a presença em Agreste dos pioneiros comandados por Elizabeth Valadares, a última verdadeira garota de Ipanema, e o suicídio do cirurgião-dentista Mauritônio Dantas, prefeito de Agreste, a horas tardias daquela mesma noite encontrado morto, a língua de fora, nu e feio. Usara o pijama para enforcar-se no banheiro.

Quando os desbravadores atingiram o bar e desfalcaram os estoques de coca-cola, guaraná e cerveja do honrado português, o dramático prefeito fora visto na janela de sua casa, brechando as exibidas coxas marcianas e cariocas, rosnando nomes, bastante agitado.

Mirinha, irmã e enfermeira, não conseguiu levá-lo para o quarto onde, durante dia e noite, entregava-se, ansioso e eficiente ao exercício da masturbação. Naquela tarde, comprovando ter chegado finalmente a safra de mulheres solicitada, de há muito ao bom Deus, excitara-se à janela, à vista daquele mar de coxas, prova da magnanimidade divina.

Na opinião geral, doutor Mauritônio Dantas começara a ficar tantã quando a esposa, Amélia, na intimidade Mel, juntou os trapos e foi encontrar-se com Aristeu Regis em Esplanada, dali tomando o casal rumo ignorado.

Aristeu Regis visitara Agreste na qualidade de enviado da Secretaria da Agricultura para estudar problemas ligados ao cultivo da mandioca.

Amélia não aguentava mais viver ali, nem mesmo ostentando o título de Primeira Dama do Município, título e merda sendo a mesma coisa, segundo ela.

Aristeu ofereceu-lhe o braço e o desconforto, ela não vacilou. Algumas senhoras, amigas de Mel, confidentes de seus desgostos, afirmam ter o delírio do prefeito começado muito antes pois sujeitava a esposa a desregramentos e abusos insuportáveis, sendo esse o motivo real da fuga.

Fosse assim ou assado, o processo de esclerose acentuou-se visivelmente após a partida da infiel. No dizer de Aminthas, nosso prezado Governador Civil administrara os chifres com perfeita honorabilidade e descrição enquanto Amélia derramou o mel de sua graça ali no município.

Quando preferiu fazê-lo longe das vistas e das atenções do cônjuge, o digníssimo chefe da municipalidade não resistira a tanta ingratidão: jamais se opusera as folganças da esposa, por que o abandonara?

A demonstração oficial da demência deu-se poucos dias após a deserção de Mel. O prefeito decidiu, no sábado, atender os solicitantes vindos das roças e povoados com reclamações e pedidos, em estado de completa nudez, e para tal fim, despiu-se, retirando inclusive os sapatos. Manteve-se de meias, no entanto, para não pisar descalço o frio soalho da sala. 

Qualquer cochilo de Mirinha e o dentista vinha para a rua ou praça, de cuecas ou sem, a masturbar-se em público para júbilo dos moleques. Durou meses essa penosa situação comentada aos cochichos.

Quando, da janela, doutor Mauritônio Dantas constatou o movimento de retirada das celestes mini-saias, não se conformou, Deus as enviara para consolo de seu sofrido servo, como ousavam partir?

Interrompendo a solitária e deleitosa prática, saiu para fora, aos gritos tentando apoderar-se de pelo menos meia dúzia, necessitando delas para esquentar-lhe o leito gélido com a ausência de Mel, suavizar as perfurantes molas do gasto colchão em que rolava insone. Molas e chifres, segundo o implacável Aminthas.

Emprestar dinheiro

estraga amizades...











Dois amigos cruzam-se num passeio e diz um:

 - Ainda bem que te encontro! És capaz de me emprestar cem euros?

Responde o outro:

- Isso de emprestar dinheiro, muitas vezes, estraga amizades e a nossa vale muito mais do que isso!

 O outro:

- Tens razão, vale muito mais! Empresta-me então trezentos euros…

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 230




















Dez metros à frente, Gonçalo perguntou ao príncipe o que iria acontecer às três mouras, acrescentando:

 - Para o Mosteiro não podem ir e são mal empregadas em Tui!

Então, Afonso Henriques deu-lhe autorização para as ir buscar, enquanto comentava com o amigo:

 - Odeio mosteiros de monjas, nunca os irei ajudar!



Foi já em Guimarães que o meu melhor amigo desgostoso, decidiu partir para Coimbra o mais depressa possível. Meu tio Ermígio e meu pai ficariam no Minho. Elvira manter-se-ia com sua mãe e suas irmãs em Lanhoso, e ele decidiu que apenas Gonçalo, Peres Cativo e eu o iríamos acompanhar.

Quero ir à festa dos Templários – declarou.

A Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo ia fazer um novo juramento, numa cerimónia a decorrer na Sé de Coimbra, e nós queríamos estar presentes.

Quando Gonçalo lhe perguntou se podíamos levar as mouras para Sul e o príncipe autorizo0u, as três ficaram exultantes por regressarem à cidade que o Mondego banhava, apesar de terem pena de ses separarem de chamoa, de quem eram muito amigas.

Sobretudo Zaida que gostava genuinamente da rapariga galega, e para quem fora incompreensível aquela decisão súbita de se enfiar no mosteiro.

E ainda mais inaceitável para mim, para Zaida e para todas nós fora a omissão de Chamoa, quase uma mentira.

Ela dissera que o marido emudecera depois dos golpes do príncipe, o que era verdade, mas omitira que Paio Soares, na véspera da batalha de São Mamede, lhe falara sobre a relíquia.

Porém, ofendida e magoada com o príncipe, não só Chamoa se fechou, como não lhe referiu essa derradeira conversa com o marido, e mais uma vez o segredo da relíquia permaneceu inalcançável.



Coimbra, Julho de 1129



Nove dias mais tarde, num Domingo deveras quente, decorreu durante a manhã uma festa religiosa em frente à Sé de Coimbra.

Muitos foram os populares que vieram assistir à investidura de vinte e cinco novos monges guerreiros daquela nobre Ordem Religiosa, que se instalara anos ante em Soure, e cujo nome agora mudava para Ordem do Templo de Salomão.

Um dos que acorrera à cidade foi o almocreve Mem que mais de um ano depois se iria reencontrar com as suas amigas muito amadas, Zulmira e Zaida.

Enquanto elas tinham permanecido em Tui com Chamoa, ele vivera saudoso, viajando sem encontrar substitutas à altura, e só se encheu de júbilo quando as soube de volta.

Infelizmente, verificou que tal como Dona Teresa no passado também Afonso Henriques as mantinha debaixo de olho, guardadas por Gonçalo de Sousa.

Mem apenas conversara com as mouras uma vez, na véspera da festa, tendo confirmado que Zulmira e Zaida estavam felizes por vê-o e que Fátima ainda alimentava a forte fantasia de ser resgatada por Abu Zakaria.

Tal quimera parecia cada vez mais possível. Embora Mem não tivesse reencontrado o Cordovês, por receio que Abu o considerasse responsável pelo fiasco das cavernas, soubera que ele inflamara a cidade de Santarém ao ponto de provocar a queda do antigo governador.

A população local adorava aqueles destemido guerreiro que queria salvar a sua amada, prisioneira dos cristãos, e organizara uma revolta para libertar Abu da prisão.

sexta-feira, abril 01, 2016

 Nas ditaduras  os pratos estão desequilibrados
O Ridículo

de uma 

sentença?















Um Tribunal angolano condenou a penas de prisão de entre dois a oito anos, dezassete angolanos, um deles com dupla nacionalidade, angolana e portuguesa, por «actos preparatórios de rebelião e associação de mal-feitores».

Local do crime: uma papelaria.

Arma do crime: um livro.

Actividade criminosa: debate sobre o livro de seu título «Ferramentas para Destituir o Ditador e evitar nova Ditadura» baseado no clássico de Gene Sharp «Da Ditadura à Democracia».

Nada foi encontrado de perigoso ou ameaçador, armas ou planos para derrubar o governo por meios violentos.

O Tribunal que decretou esta sentença partiu do princípio que aquelas pessoas que promoveram entre si o debate sobre aquele assunto não eram favoráveis ao governo de José Eduardo dos Santos e isso constitui um crime punível com prisão.

Não esqueçamos que os juízes daquele Tribunal fazem parte de um regime político ditatorial e sentiram-se na obrigação de defender o tipo de Estado em que, acima de qualquer lei, está a defesa do ditador.

Nós, em Portugal, temos muitas pessoas da minha idade, que sabem perfeitamente como foi vivida essa situação, em que acima de qualquer lei estava a segurança e estabilidade do ditador Salazar.

Tínhamos até mesmo uma Polícia só dedicada a perseguir e prender os cidadãos que, por exemplo, se reunissem numa livraria para debater um livro com um título daquele teor.

Aquela sentença só prova o que toda a gente sabia: José Eduardo dos Santos é um ditador de “falinhas mansas”, como todos os ditadores, à frente de uma ditadura “justificável” porque venceu uma guerra civil.

Simplesmente, a guerra terminou há já doze anos, a sociedade está completamente pacificada e o inimigo de José Eduardo dos Santos chama-se, agora, Democracia que ameaça suceder à sua ditadura.

O seu principal objectivo é perpetuar-se no poder, ele e o seu séquito: familiares, amigos, alguns generais vencedores da guerra civil. E o Tribunal interpretou correctamente esse principal desígnio da ditadura vigente que, como em qualquer outra ditadura, pretende, em primeiro lugar, perpetuar-se.

Os réus, agora condenados, estavam a discutir entre si a evolução da sociedade angolana na sua transição para uma democracia e isso não podia deixar de ser considerado um crime.

A sentença do Tribunal só pode ser considerada ridícula à luz da Democracia mas faz todo o sentido no contexto de uma Ditadura.

Discuti-la, discordar dela, é afrontar José Eduardo dos Santos, um dos mais antigos ditadores africanos.

Tudo o resto que se diga é “conversa fiada” para o Ministério dos Negócios Estrangeiros ouvir... 



Imagem

Conheci em Moçambique um fotógrafo que fazia isto para tirar uma fotografia em grande plano de um elefante. Pisava os terrenos do animal e ele ensaiava um carga da qual desistia no último momento dando tempo ao click  da máquina.. Não levava arma, limitava-se a levantar os braços em termos de provocação. A investida do elefante, abanando as orelhas e berrando é um discurso corporal que quer dizer: vai-te embora e não me chateis. O guia assumiu a responsabilidade de que tudo ia correr como o previsto mas estes machos solitários têm crises de muito mau humor. Alguns, em toda uma vida, nunca copulam com uma fêmea. Elas é que escolhem... 



George Carlin



Clérigos em casa de alterne



Tieta do Agreste
(Jorge Amado)


EPISÓDIO Nº 115














- Elizabeth Valadares, Bety para os amigos, Bebé para os íntimos. Carioca de gema, garota de Ipanema. Morou na rima?


Sorri com inúmeros dentes, alvíssimos, bem tratados, boca de anúncio de pasta dentífrica:

- Trago um recado para você, amor. – Amor é Ascânio Trindade para desaponto de Osnar. – Do Magnífico Doutor.

- De quem? – Ascânio, num pé e noutro. – Repita, por favor.

- Do doutor Mirko Stefano, darling, não sabe? Tratam ele de Magnífico Doutor e é mesmo. Você vai se dar conta sozinho, amor. É aquele pão doce que veio comigo da outra vez, se lembra? Mandou dizer a você que não pôde vir hoje, teve de ir a São Paulo para uma entrevista importante, mas dentro de poucos dias aparecerá para conversar com você e acertar tudo.

- Tudo?

- Tudo, sim, honey. Tudinho.

- Mas tudo o quê?

- Ah!, isso não sei, quem sabe é o Magnífico, é assunto dele e seu, não me meto. Discrição é o meu lema. Agora, adeusinho, sonhe comigo, petit amour. Adeus para você também, lindo. – 

Lindo é Osnar, ele se regala: se pego essa boa no escuro, vai sair faísca, Bebé vai saber o valor do pau de um sertanejo.

- Vamos, patota! – comanda a mítica secretária.

- Não tem mais nada para se ver aqui? – pergunta o nervoso Rufo, abanando a cabeleira de Mona Lisa.

- Nada.

- Que saco!

Decorador enfadado mas atento, o esteta Rufo passa em frente a Osnar sem o notar sequer. Mede, porem, o garoto Peto e o aprova mordendo o lábio, lânguido.

Osnar acompanha-lhe o olhar e gesto: xibungo sem vergonha, bicha louca, não respeita nem mesmo uma criança. Criança? 

O corneta cresceu, espichou, certamente de tanto bater bronha, está chegando a hora de Osnar cumprir a promessa feita e levá-lo à pensão de Zuleika.

- Com quantos anos você está, sargento Peto?

- Vou fazer treze no dia 8 do mês que vem.

- Oito de Janeiro! Muito que bem.

Treze anos, a idade exata, Osnar vai combinar a festa com Zuleika e Aminthas, com Seixas e Fidélio. Na surdina, escondido de Astério, senão ele conta a dona Elisa e dona Perpétua acaba por tomar conhecimento, o mundo vira abaixo. Osnar sorri consigo mesmo, vai ser uma pândega, um rebucetê.

Ao cair da noite, chegando de Mangue Seco na canoa a motor, comandante Mário disse ter sido vista uma escuna ancorada na barra, dela haviam baixado duas lanchas, uma das quais a que subira o rio, escalando em Agreste; a outra desembarcara indivíduos e instrumentos na praia. Andaram fazendo perguntas aos pescadores, internaram-se, depois, no coqueiral. Ao Comandante todo esse movimento parece suspeito.

Ascânio Trindade, agora inteiramente certo de que se trata do estabelecimento de uma empresa turística na região, promete ao Comandante notícias concretas nos próximos dias.

O manda-chuva enviou a secretária executiva com recado, virá em breve para conversar, na certa para anunciar os projectos e obter apoio da Prefeitura.

Apoio que não faltará, Comandante. Com o turismo reerguendo Agreste, Ascânio, timoneiro a comandar o progresso do município, poderá ter esperanças de transformar o sonho em realidade.

Depois de tantos anos, pela primeira vez Ascânio Trindade sente-se mordido pela ambição, pelo desejo de ser alguém. 

Alguém com possibilidades de lutar por Leonora Cantarelli, bela e rica. Antes completamente inacessível, uma quimera. 

Agora conquista a ser realizada, meta a ser cumprida por um batalhador com os pés na terra, ideal de quem provou, em transe difícil, em duro desafio, coragem e competência capazes de superar os obstáculos e ir em frente, aspiração de um jovem temerário e lúcido a vencer as provações.

A mais difícil, a que o virara do avesso, a essa Ascânio já vencera, falta-lhe tão-somente melhorar de vida, ser alguém, para poder aspirar à mão de Leonora, pedi-la em casamento. 

Ela rica, ele pobre. Não importa mais. Porque, se ele não tem fortuna a oferecer-lhe, em compensação ela já não possui o bem mais precioso que a noiva deve trazer para ofertar ao noivo na noite de matrimónio, o sangue da virgindade. Na face de Ascânio espelha-se a vitória mas não a paz, constata o comandante Dário.


Humor Negro















Um professor pergunta aos seus alunos:

Dêem-me um exemplo de uma morte tranquila?

Uma menina de oito anos responde do fundo da sala:

- A morte do meu avô.

-Muito bem - ,responde o professor. ”E como morreu o teu avô”?

Responde a pequena:

- Adormeceu.

Então, o professor pergunta:

- E como seria então, na vossa opinião, uma morte atroz”?

E a mesma pequena responde:

- Seria morrer como os amigos do meu avô..

Intrigado, o professor pergunta então à menina:

- E como morreram?

Responde a menina:

- Iam no carro do meu avô quando ele adormeceu....





 

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 229






















- Foi uma batalha!

Abanando a cabeça, Chamoa indignou-se:

 - Paio Soares teve-vos na ponta da sua espada e poupo-vos. E vós feriste-o! Por vossa causa morreu o pai dos meus filhos!

Fora em consequência dos ferimentos que o antigo mordomo-mor de Dona Teresa morrera, embora ele tivesse passado quase um ano moribundo. Talvez tivesse sido mal tratado ou mal curado.

O príncipe defendeu-se assim, mas Chamoa nada mais disse. Então colocou-lhe uma questão diferente:

 - Paio Soares falou-vos de uma relíquia que pertenceu a meu pai?

Agora que vencera a guerra contra sua mãe, o príncipe dava pela primeira vez importância àquele assunto, que no passado quase ignorara.

 - Vosso marido queria falar comigo durante a batalha, mas...

Afonso Henriques calou-se, sentindo a trágica ironia daquela situação. Não ouvira o mordomo quando era possível, ferira-o gravemente , e agora que ele morrera queria saber o que lhe quisera dizer.

Desolada, Chamoa limitou-se a abanar a cabeça:

 - Meu marido nunca mais falou. Atingido na boca e na garganta, Paio soares ficara desfigurado e impossibilitado de falar.

O príncipe culpou-se: emudecera o único homem que lhe poderia revelar o segredo do conde Henrique!

Pesarosa, Chamoa acrescentou:

 - O que sei é que meu marido tinha grande admiração por vosso pai.

O príncipe questionou-a.

 - Então, porque me hostilizou? Porque não se passou para o nosso lado, conforme lhe pedi em Lamego?

Chamoa alegou que várias vezes tentara convencer o marido, mas este sempre recusara mudar de partido. Aceitara ser mordomo-mor porque a amava e queria casar com ela e dela ter filhos, não porque admirasse dona Teresa.

Orgulhosa, a rapariga declarou:

 - Foi por minha causa que morreu, para não me perder para vós. E por isso lhe prometi não casar convosco e entrar no mosteiro, e vós não o podeis impedir. Aqui é Deus que manda e essa é a sua vontade!

O príncipe irritou-se e exclamou.

 - Não faleis em nome de Deus, de quem não conheceis as vontades! Se entrais nesse mosteiro, é porque o desejais!

Aquele grito não era o de um homem desesperado, que temesse perder a sua amada, mas sim o de um príncipe ameaçador, e por isso Chamoa desiludiu-se.

Se ele a amasse, pensou, ajoelhava-se e implorava por ela. Mas dava-lhe ordens como se ela fosse já esposa dele.

Incomodada, afastou-se de Afonso Henriques em silêncio. Beijou novamente os três filhos e os pais, o tio e o primo, abraçou as três mouras.

Zaida tinha as lágrimas nos olhos, quando Chamoa se dirigiu para a porta do mosteiro, onde duas monjas a aguardavam.

Ao Vê-la dar aquele passo, Afonso Henriques ainda lhe gritou em desespero:

 - Chamoa, não entreis nessa porta!

A rapariga não olhou sequer para trás, e quando desapareceu no interior do mosteiro Afonso Henriques desatou a atirar pedras à parede, colérico.

Só passado algum tempo, se aproximou da pequena comitiva. Olhando para Fernão Peres, rosnou:

 - Regressai à Galiza ou ainda vos mato!

O amante de sua mãe apenas respondeu:

- Vim despedir-me da minha sobrinha, nada mais.

Irritado, Afonso Henriques deu meia volta e subiu para o cavalo, enquanto nas suas costas Fátima comentava:

 - Continua sem saber lutar contra mulheres.


quinta-feira, março 31, 2016

Em que ficamos? Tapa ou não os joelhos?





É uma história ternurenta de um menino abandonado aos 3 anos e que fugiu do internato aos 5 porque lhe batiam, vivendo na rua a partir dessa idade.A natureza vingou-se....


Um documentário com a qualidade do National Geographic


Dispensa legenda....
Tieta do Agreste
(Jorge Amado)
EPISÓDIO Nº 114





















DA SEGUNDA APARIÇÃO DOS SUOERES-HERÓIS, DESTA VEZ VINDOS DO MAR, CAPÍTULO RECHEADO DE PERSPECTIVAS E PROJECTOS, ENVOLVENDO DIVERSOS CIDADÂOS: DO MAGNÍFICO DOUTOR A OSNAR, DE PETO A ASCÂNIO TRINDADE


Quando os seres luminosos anunciados na profecia do beato Possidónio surgiram novamente em Agreste, vindos do Oceano Atlântico em potente lancha a motor, moderníssima, aumentados em número e em sexo pois aconteceram machos, fêmeas e andrógenos, já se haviam extinguido os ecos do escândalo provocado pela mini-saia de Leonora.

A formosa paulista, com a compostura demonstrada no correr do tempo, silenciara os comentários e caíra nas boas graças das devotas. Elisa desistira de desobedecer ao marido, guardando o seu polémico saiote para usá-lo em São Paulo, em breve, se Deus quisesse.

Não se atrevera a enfrentar o deboche e a condenação de Agreste. Com a segunda aparição dos seres extra terrenos, porém, a minis saia tornou-se objecto familiar aos olhos de toda a população da cidade.

Desabalado, Peto, chega à beira do rio, a notícia empolga o bar: está desembarcando um batalhão de gringas. Mal acaba de falar e a praça se enche de marcianos. Ascânio Trindade despenca-se da Prefeitura.

Todas as fêmeas vestem mini saias de tecido de xadrez – escocês graúdo, reconhece dona Carmosina – blusa amarela, de malha, altas botas de peliça negra. Nem que fosse de propósito, com o objectivo de redimir Leonora por completo, a cidade é invadida por aquele desparrame de coxas e ancas expostas à brisa e aos olhares ávidos da multidão que acorre de todos os lados.

Idênticas no uniforme, devem ser parte de um exército ou de uma seita religiosa. Verdadeiramente a ausência do beato Possidónio, perde farta matéria para indignação e pragas, seria um pagode. Voltara para Rocinha onde medita e cura.

Veterana, pois vinha pela segunda vez, pernalta e flexível, comandante do batalhão ou sacerdotisa, assistente do guru, a ruiva acena com a mão e retira os óculos, oferendo à admiração geral os olhos de rímel. Mini saia de boneca a revelar tudo, constata Osnar:

- Não mede um palmo dos meus…

E avança para saudar a viajante do espaço, para reatar antigo conhecimento:

- Por aqui, de novo? Uma honra para o condado de Sant’Ana do Agreste.

- Vá, lindo, me ofereça um guaraná, uma coca-cola, vá. Morro de sede. Eu e todo o staff aqui presente.

Os demais membros do staff aproximam-se álacres, efervescentes. Nos machos poucos reparam, os olhos não bastam para as fêmeas.

Alguns seres deixam em dúvida atroz os tabacudos cidadãos, confundidos, sem saber o que pensar: aquele ali será o macho ou a fêmea, mulher ou homem? E aquela figura estranha, será hermafrodita?

Abre-se a janela da casa do Prefeito, aparece o rosto aflito, a barba de três dias do dentista Mauritônio. O sucesso da mini-saia de Leonora na feira provocara assobio, gargalhada, troça e trova; tantas mini-saias reunidas na praça provocam pasmo e silêncio. Entupida a calçada em frente ao bar, esvaziam-se as lojas e os armazéns.

- No bar já têm água-de-coco – anuncia Ascânio Trindade convidando o Ente Excelso e seus companheiros. Seu Manuel curva-se para recebê-la.

Que eficiência! – Miss espaço eleva a voz, consulta os demais 

– Quem gosta de água-de-coco?

- Só com uísque, filha – responde Afrodite, a longa cabeleira batendo no rego da bunda, calça bem colada, blusão hindu, uma cascata de colares.

- Por que ela não está de mini-saia? – pergunta Osnar, sentindo-se lesado por não poder admirar coxas e ancas tão prometedoras.

- Porque não é ela, lindo. É ele…Quer dizer… mais ou menos… É Rufo, nosso decorador. Tem um sucesso!...

- Negativo. O lindo aqui não aprecia, que se há-de fazer?

Demoram pouco, estão de passagem, vindos de Mangue Seco onde outros ficaram, engenheiros e técnicos, conforme revela a nova Barbarela.

Os que estão curtindo as paisagens são publicitários, assistentes, secretárias, relações públicas, contactos: competentíssima equipe.

Desalteram-se no bar antes de voltar à lancha e seguir rio acima no rumo de Sergipe.

- O queima-rodinha é Rufo, e vós, Princesa, quem sois e de onde vindes? Por acaso Polaca?





















Um português, um francês, um italiano e um inglês chegaram ao Céu. São Pedro disse:

 - Aqui só pode entrar quem é puro, sem maldade. Vocês têm que passar num teste. Vou fazer uma pergunta a cada um, se acertarem podem entrar.

Começou pelo francês:

- O que é que as mulheres têm no meio das pernas?

 Depois de pensar um pouco, diz o francês:

 - O joelho.

 - Muito bem. Pode entrar! - Felicitou São Pedro

Virando-se para o italiano, pergunta:

 - Onde é que as mulheres têm o cabelo mais enrolado?

Diz o italiano:

 - Em África.

 - Certo. Pode entrar também. - congratula São Pedro.

 E perguntou ao inglês:

 - O que é que a mulher casada tem mais larga que a solteira?

- A cama. - Respondeu o inglês.

- Ótimo. Pode entrar. - disse São Pedro.

 O português virou-se e foi saindo de fininho…

 São Pedro interrompe-o e chama-o:

 - Não vai responder à sua pergunta?

 Explica o português:

 - Nem vale a pena. Já falhei as três anteriores…

Assim Nasceu Portugal  
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 228





















Um ano depois, a Galiza parecia tranquila, e Afonso VII permanecia no Leste, entretido nas lutas contra Afonso de Aragão ou contra os sarracenos.

Governado habilmente por Afonso Henriques, o Condado de Portucalense prosperava. Porém, nas questões de coração, o meu melhor amigo continuava confundido.

Minha prima Raimunda, sua amante há anos, morrera afogada nas aguas do Tejo, não sendo sequer possível recuperar o corpo para lhe proporcionar um enterro digno.

Sem ela por perto, o príncipe atirara-se em definitivo para os braços de Elvira. Mandava buscá-la a Lanhoso uma ou duas vezes por mês, e folgava com a Normanda.

Contudo, por melhor que fossem essas refregas, o seu coração continuava saudoso da galega e Elvira sabia disso.

Tenho aqui de reconhecer que a normanda tinha uma qualidade excelente: não só não era ciumenta, como estava perfeitamente consciente de que o coração do príncipe batia pela outra, e incentivava-o a visitar Chamoa na Maia, mesmo quando Paio Soares morria lentamente.

Porém, o orgulhoso príncipe, nunca seguiu tal conselho.

Quando, finalmente, Paio Soares faleceu, no início de Junho, Afonso Henriques recusou-se a ir às exéquias e esperou que fosse Chamoa a vir visitá-lo em Guimarães, oferendo-lhe o seu amor.

Elvira abanara a cabeça e comentara:

- Assim ireis perdê-la.

Chamoa não só nunca veio a Guimarães, como jamais o chamou a Maia, e a primeira notícia que dela teve depois da morte do marido, foi dada por minha esposa Maria: Chamoa iria entrar num mosteiro!

Odiando-se por não ter ouvido melhor as palavras sábias da sua amorosa amiga normanda, Afonso Henriques resolveu cavalgar depressa ao encontro da rapariga galega, e naquela tarde apresentou-se à porta do mosteiro de Vairão.

Foram Gonçalo, primeiro, e depois Zaida que me descreveram o que por lá se passou.

Além dos três filhos de Chamoa, estavam presentes o seu pai, Gomes Nunes, as mouras Zulmira, Fátima e Zaida, sua mãe Elvira e para grande surpresa do príncipe também o tio da rapariga, Fernão Peres de trava, bem como o primo dela, Mem Ramires de Tougues.

Irritado, Afonso Henriques exigiu falar a sós com Chamoa.

À porta do Mosteiro, a rapariga afastou-se dos familiares e ele logo lhe declarou:

 - Vou levar-vos para Guimarães comigo!

Apesar da viuvez, ela continuava linda, os seus cabelos cor de mel apanhados em tranças, enrolados pelas delicadas mãos de Zaida.

Prometi a meu marido que não me casaria convosco – afirmou.

Afonso Henriques abanou a cabeça, desagradado.

Não haveis nascido para monja!

Chamoa entristeceu-se e murmurou:

 - Não me conheceis tão bem assim...

O príncipe rebelou-se:

- A vossa tristeza vai passar, mas o vosso amor por mim vai durar!

Todavia, nos olhos verdes dela já não havia ternura do passado, só ressentimento e protestou com veemência:

 - Como posso amar quem não cumpriu o prometido? Não faleis de amor, pois vossas palavras são falsas!

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