sábado, maio 25, 2013

Eduardo Galeano participou numa manifestação popular espontânea contra a crise e estas são as suas palavras no rescaldo dessa manifestação. É reconfortante ouvi-lo.

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Será que ele pensa levar aquela lenha na bicicleta?



PENSAMENTO DO DIA

«Com tanta mulher boa que há por aí, 

não sei porque é que andam a violar o 

Segredo de Justiça.»


HAVERÁ VIDA


DEPOIS DA MORTE?





Mark Twain, considerado por William Faulkner, o primeiro escritor verdadeiramente americano, dizia:


«Não tenho medo da morte. Estive morto durante milhões e milhões de anos antes de nascer e não senti o mais pequeno incómodo por isso».

Richard Dawkins disse precisamente o mesmo mas de uma forma mais elaborada que vale a pena reescrever:

«A vida é uma extraordinária oportunidade e eu que vou morrer considero-me bafejado pela sorte porque a maior parte das pessoas nunca vai morrer porque nunca vai chegar a nascer.

…Como poderemos nós, então, os poucos privilegiados, que contra todas as probabilidades, ganhamos a lotaria do nascimento, atrever-mos a queixar-nos do nosso inevitável regresso a esse estado anterior do qual a vasta maioria nunca despertou?».

Há uns meses, para me poupar a um desagradável exame, submeti-me a uma anestesia geral e quando, deitado na marquesa aguardava a injecção da anestesia, pensei que me ia sujeitar a uma simulação da morte.

Acordado, mais tarde, pensei que ter estado desligado da vida pouco mais de uma hora ou o resto da eternidade, teria sido precisamente o mesmo: o vazio total e, afinal, sem nenhum custo, dor ou sacrifício, nada…

Contudo, as sondagens vão no sentido de que aproximadamente 95% das pessoas acreditam que vão sobreviver à própria morte.

Quase tenho vontade de dizer que os homens vivem durante tantos anos que se habituam a estar vivos e depois não querem morrer.

Claro que a natureza dotou os animais e naturalmente o homem também, do instinto da sobrevivência, fonte de vida, mas para quê estar vivo durante tantos anos depois da fase de procriação?

O arquitecto Niemeyer, nascido em 1907, faleceu há poucos meses e o mesmo acontece com o nosso Manuel de Oliveira, este ainda a trabalhar com 104 anos.


São exemplos relativamente aos quais me apetece dizer que deviam ficar cá para sempre, mas a maioria esmagadora dos nossos velhos limita-se a aguardar a morte, sentados por aí nos bancos dos jardins, muitos deles com vidas prolongadas pelo Serviço Nacional de Saúde.

O meu vizinho do 5º Esq. que lá vai suportando os seus noventa anos com a ajuda da bengala e quase sem ver nada, tendo por companhia a solidão, as dores e os desgostos da vida, desabafou comigo aqui há dias à entrada do elevador:


- “O dia em que morrer vai ser o mais feliz da minha vida…”.

Mas a natureza sabe o que faz e não é por acaso que após a idade de procriar continuamos a poder viver o dobro dos anos. As nossas crianças não só precisam dos pais como, igualmente, precisam dos avós, pessoas mais disponíveis que os pais para os proteger e ensinar assegurando-lhes uma melhor oportunidade para serem adultos mais preparados.

Mas querer estar vivo é uma coisa, continuar a viver depois de morrer é outra…

Bertrand Russel, no seu ensaio de 1925 “What I Believe” escrevia:

- “Acredito que quando morrer vou apodrecer e nada do meu ego irá sobreviver. Não sou jovem e amo a vida mas desdenharia tremer de medo ante a perspectiva da aniquilação.

Apesar de tudo, a felicidade só é verdadeiramente felicidade porque tem que ter um fim, do mesmo modo que o pensamento ou o amor não valem menos por não serem eternos.

Muitos foram aqueles que pisaram o cadafalso com orgulho; esse mesmo orgulho deveria, por certo, ensinar-nos a pensar, verdadeiramente, o lugar que o homem ocupa no mundo”.

Para quem teme a morte, acreditar que tem uma alma imortal pode ser consolador – a menos, evidentemente, que esteja convencido que vai para o inferno ou para o purgatório.

As falsas crenças podem ser tão consoladoras como as verdadeiras, até ao momento do desengano. Se um médico mente ao doente dizendo-lhe que ele está curado o consolo é idêntico ao de outro homem a quem seja dito, com verdade, que ele está curado.

A mentira do médico só é eficaz até os sintomas se tornarem inequívocos mas um crente na vida depois da morte nunca poderá, em última análise, ser desenganado.

As pessoas religiosas que dizem acreditar na vida depois da morte se fossem realmente sinceras deveriam reagir como o abade Ampleforth, quando o cardeal Basil Hume lhe disse que estava a morrer:

“Parabéns! Que bela notícia. Quem me dera ir com Vossa Eminência”.

Este abade era um verdadeiro crente mas é exactamente por esta história ser tão rara e inesperada que prende a atenção e quase diverte.

Por que razão todos os cristãos e muçulmanos não dizem a mesma coisa ou algo parecido?

Quando um médico diz a uma mulher devota que não lhe restam senão alguns meses de vida por que razão não sorri ela, emocionada, como se tivesse ganho umas férias nas Seychelles?

Por que razão é que os amigos e familiares, crentes como ela, não a sobrecarregam de mensagens para os que já partiram? -  Dá lá saudades ao tio Alberto quando o vires….

Por que não falam assim as pessoas religiosas na presença dos que estão à beira da morte?

Será que não acreditam em todas as coisas em que era presumível acreditarem?

Ou talvez acreditem mas têm medo do “processo” de morrer que pode ser doloroso e desagradável com a agravante de que, ao contrário de todos os outros animais, não podem ir ao veterinário pedir uma morte indolor.

E, neste caso, por que são as pessoas religiosas as mais ferozes opositores à eutanásia e ao suicídio medicamente assistido?

Não seria de esperar que as pessoas mais religiosas fossem menos inclinadas a agarrarem-se despudoradamente à vida seguindo o exemplo do abade Ampleforth?

A razão oficial é de que provocar a morte é sempre pecado mas por quê considerar isso pecado se se acredita sinceramente que se está desse modo a acelerar uma ida para o céu?

Para quem crê numa vida depois da morte, morrer é apenas a transição de uma vida para outra vida e, sendo assim, se ela for dolorosa porquê prescindir da anestesia quando não se prescinde dela para tirar o apêndice?

Daqueles que vêm na morte não uma transição mas sim o fim é que se poderia, francamente, esperar resistência à eutanásia e ao suicídio medicamente assistido, no entanto, são esses que são a favor.

Uma enfermeira com longos anos de trabalho à frente de um lar de idosos pôde verificar que as pessoas religiosas eram as que tinham mais medo da morte.

Se este comportamento for comprovado estatisticamente poder-se-á perguntar, afinal, qual o poder da religião como reconforto na hora da morte?

No caso dos católicos será o medo do purgatório, uma espécie de Ellis Island (um dos principais pontos de entrada dos emigrante para os EUA) divino, uma antecâmara para onde vão as almas se os seus pecados não são suficientemente graves para as lançarem logo no inferno mas, por outro lado, precisam ainda de alguma reciclagem antes de poderem ser admitidas no céu.

Na Idade Média a Igreja dava indulgências a troco de dinheiro o que, na prática, significava menos dias de purgatório antes de entrar no céu.


Nesta história da morte, as Agências Funerárias parecem-me ser as únicas que lucram honestamente...




Diálogo Entre 

Quatro

 Mães Católicas


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Quatro mães católicas, bebendo o seu cafezinho, falam embevecidas do sucesso dos seus filhos.

A primeira diz:

- Meu filho é padre e as pessoas quando se dirigem a ele chamam-no de “Reverendíssimo”.

A segunda conta:

- Meu filho é bispo e as pessoas quando se lhe dirigem tratam-no por “Sua Excelência”.

A terceira declara:

- Meu filho é cardeal e as pessoas dirigem-se a ele dizendo: “Sua Eminência”.

A quarta mãe continua bebendo café e não diz nada.

As outras olham-na interrogativamente.

Então ela sussurra:

- Meu filho é um homem muito bem apessoado, um metro e noventa, ele é um grande striper.

Quando se despe completamente todas gritam:

- “Oh, Meu Deus!"

Parte 6 e última da Entrevista de Richard Dawkins

O pensamento de R. Dawkins exposto nesta última entrevista demonstra, sem dúvida, que estamos na presença de um homem bom, do ponto de vista moral e ético o que, para mim, é mais importante ainda do que a sua fulgurante inteligência e imensos conhecimentos científicos. Escutem-no...


JUBIABÁ

Episódio Nº 25



Tão velha como a negra anciã que morava na casa mais negra e dava aos moleques, com gestos maternais, tostões para comprar cocada, e passava o dia pitando um cachimbo de barro, murmurando palavras que ninguém entendia.

A rua encurvava e as casas ruiriam breve. O silêncio é de morte. Desce do morro, sobe das pedras.

A Travessa Zumbi dos Palmares agonizava! Uma vez um casal de noivos veio ver uma casa para alugar. Casa confortável e quieta. A noiva disse, porém:

 - Não, não quero. Essa rua parece um cemitério…


Dois sobrados na esquina, um defronte do outro. O resto da rua era formada por casinhas baixas, escuras, e um ou outro sobrado que já tinha perdido a cor e nos quais morava uma legião de homens trabalhadores.

Os sobrados da esquina, se bem antigos, eram, no entanto grandes e formosos. No da direita morava uma família que tinha um desgosto muito grande, a perda de um filho, que morrera assassinado.

Viviam recolhidos, não apareciam nunca nas janelas que estavam eternamente trancadas, e traziam sempre luto fechado.

Quando, por acaso uma janela se abria, podia se ver na sala de visitas, um quadro enorme que era o retrato de um jovem louro, fardado de tenente.

Tinha um sorriso provocador nos lábios finos e uma flor na mão alva. O sobrado tinha uma varanda e nesta varanda uma moça loira vestida de preto. Lia um livro de capa amarela e jogava níqueis para António Balduíno.

Todas as tardes vinha um moço bonito e passeava em toda a extensão da rua. Assobiava baixinho até que a moça o via. Então ela se levantava e vinha para o gradeado da varanda onde ficava sorrindo.

O rapaz, elegante, passava várias vezes, cumprimentava, sorria e antes de ir embora tirava um cravo da botoeira e, após beijá-lo, jogava-o na varanda.

A moça o apanhava rápida, um sorriso nos lábios, o rosto escondido na mão livre. Metia o cravo vermelho no livro de versos e dava um adeusinho com a mão.

O moço ia embora e voltava no outro dia.

 Ela jogava um níquel para o negrinho que estava lá em baixo e era a única testemunha desse amor.

Defronte ficava o sobrado do Comendador. Gansos passeavam no jardim florido e mangueiras cresciam na alameda que ficava ao lado da casa.

O Comendador comprara aquilo barato nos bons tempos, “uma verdadeira pechincha”, como dizia aos domingos depois que dava uma volta no jardim e ia deitar no quintal ao fundo.

Morava ali há muitos anos, desde que começara a enricar, e talvez gostasse daquela casa velha de tantos quartos na travessa sem movimento.

António Balduíno é que ficou espantado com o tamanho da casa. Nunca vira coisa igual. No Morro do Capa Negro as casas eram pequenas, de barro batido, portas de caixão, cobertas de zinco.

Tinham duas divisões apenas: a sala de jantar e o lugar onde dormiam. Mas o sobrado do Comendador, não. Como era grande, quantos quartos tinha, alguns até fechados, um quarto de hóspedes sempre mobilado esperando alguém que nunca vinha, salas enormes, cozinha bonita, a latrina melhor que qualquer casa do morro!

sexta-feira, maio 24, 2013

Como é fácil e rápido montar uma orquestra...

Parte 5 da Entrevista de R. Dawkins

A influência do meio cultural é um factor determinante no que nós somos. Os nossos genes "apontam" mas quem nos guia é a nossa vontade criada e desenvolvida no meio social em que nascemos e crescemos.

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Olhando em volta não se vê razão para o sorriso mas, ainda que só esboçado, ele está lá... mesmo sendo de dor.



Martinho da Vila e Katia  Guerreiro - Dar e Receber

Duas vozes, dois estilos, uma belíssima ligação...


O Senhor
é Um
Filho
da P…

Um sindicalista argentino propôs que fosse criado o “Dia do Filho da P…” para ser celebrado na data do nascimento do ex-ditador Jorge Rafael Videla, (morreu de velho há poucos dias, na cadeia) que enfrenta vários processos por crimes contra a humanidade.

Também Carlos Queiroz, que não cometeu crimes nenhuns contra a humanidade, está a contas com a justiça desportiva e parece que não só, por ter chamado filho da p… a um senhor funcionário do Estado que trabalha no Instituto da Droga.

Tudo isto para recordar Ramada Curto, republicano, socialista, eminente político na primeira República e famoso advogado. Nesta qualidade, interveio no Tribunal para defender um cliente acusado de ter chamado filho da p… ao ofendido.

Ramada Curto começou por chamar a atenção do juiz para o facto de, muitas vezes, se utilizar essa expressão em termos elogiosos (“Aquele filho da p… é o melhor de todos”) ou carinhosos (“Dá cá um abraço, meu grande filho da p…”) e depois concluiu as suas alegações da seguinte forma:

“E até aposto que, neste momento, V.Exª. está a pensar o seguinte: “Olhem lá o que aquele filho da p… se havia de lembrar para safar o cliente!...”

Chegada a hora da sentença o juiz vira-se para o réu e diz: “O senhor vai absolvido mas agradeça ao filho da p… do seu advogado”.


JUBIABÁ

Episódio nº 24


No outro dia veio um carro do hospício, dois homens pegaram a velha e a levaram. António Balduíno se agarrou a ela. Não queria deixar que a levassem. Tentava explicar:

 - Não é nada, não. É só dor de cabeça que ela tem. Mas pai Jubiabá cura… Não leva ela…

Luísa cantarolava, indiferente a tudo.

Mordeu a mão do enfermeiro e só a soltou quando o trouxeram à força para casa de Augusta. Então todos foram muito bons para ele.

Zé Camarão veio conversar com ele, falar em violão e capoeira, seu Lourenço da venda lhe deu caramelos, sinhá Augusta dizia “coitadinho, coitadinho”. Veio também Jubiabá que amarrou uma figa no pescoço de António Balduíno:

 - Isso é para você ser forte e corajoso…Eu gosto de você.


Ficou uns dias na casa de Augusta. Uma manhã, porem, ela o vestiu com a melhor roupa e o levou pela mão. Ele perguntou para onde iam.

 - Você agora vai morar numa casa bonita. Vai morar com o conselheiro Pereira. Ele vai-lhe criar…

António Balduíno não disse nada. Mas pensou logo em fugir. Quando já iam perto da ladeira encontraram Jubiabá. António Balduíno beijou a mão do feiticeiro que disse:

 - Quando crescer venha cá. Quando tiver homem.

Os meninos estavam todos parados na rua, espiando. Balduíno deu adeus com tristeza. Desceu.

Lá de baixo ainda viu a figura de Jubiabá, sentado num barranco do morro, o camisu agitado pelo vento., folhas de ervas na mão.


TRAVESSA ZUMBI DOS PALMARES

Velha rua de casas sujas e de sobrados de cor indefinida. Vinha numa recta sem desvios. Os passeios das casas é que eram desencontrados, uns altos, outros baixos, alguns avançando para o centro da rua, outros medrosos de se afastarem do centro da porta. Rua mal calçada de pedras desarrumadas, plantada de capim.

O silêncio e o sossego subiam de tudo e desciam de tudo. Vinham do mar distante, dos montes, lá atrás, das casas sem luz, das luzes mesmo dos raros postes, das pessoas, baixavam do ar sobre a gente e envolviam a rua e as criaturas. Parecia que a noite chegava mais cedo para a Travessa Zumbi dos Palmares que para o resto da cidade.


Nem o mar que batia nas pedras, ao longe, acordava o sono da rua que seria uma velha solteirona à espera de noivo que partira para as capitais distantes e se perdera na confusão dos homens apressados.

A zona era triste. Uma travessia agonizante. A calma da rua pesava com um ar de agonia. Agonizava tudo em redor. As casas, o morro, as luzes. O silêncio era duro e fazia sofrer.

A Travessa Zumbi dos Palmares agonizava. Como estavam velhas as casas, como saltavam as pedras do calçamento!

quinta-feira, maio 23, 2013

ELVIS PRESLEY -  FALLING IN LOVE

Os amores, sinceros, para toda a vida, não são vulgares mas quando acontecem com grandes artistas é uma autêntica raridade. 

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Não será a estrada da vida, mas parece...




Numa noite, já tarde, estavam deitados, quando...



MULHER: Se eu morresse tu casavas outra vez?

MARIDO: Claro que não!

MULHER: Não?! Não por quê?! Não gostas de estar casado?

MARIDO: Claro que gosto!

MULHER: Então por que é que não casavas de novo?

MARIDO: Está bem, casava...

MULHER: (com um olhar magoado) Casavas?

MARIDO: Casava. Só porque foi bom contigo...

MULHER: E dormirias com ela na nossa cama?


MARIDO: Onde é que tu querias que nós dormíssemos?

MULHER: E substituirias as minhas fotografias por fotografias dela?

MARIDO: É natural que sim...

MULHER: E ela ia usar o meu carro?

MARIDO: Não. *Ela não conduz...

MULHER:!!!!* (silêncio)


MARIDO: (em pensamento) Fodi tudo!
 


MORAL DA HISTÓRIA:

JAMAIS prolongues um assunto com uma mulher... abana apenas a cabeça ou diz “A-HAM” *ou “HUM-HUM”...

Parte 4 da Entrevista com R. Dawkins 

Ele fala de Darwin e do seu Livro "Da Origem das Espécies" e como as ideias sobre racismo e machismo mudam tanto em tão pouco tempo... e tanto faz ser religioso como não o ser.


JUBIABÁ

Episódio nº 23


A tarde tinha sido sombria, cheia de nuvens negras. Com a noite veio um vento grosso, pesado que apertava os homens no pescoço e assobiava nos becos. Enquanto as luzes não acenderam, o vento dominou a cidade, correu com os moleques pela ladeira, visitou as mulheres do Beco das Flores e do Beco da Maria da Paz, levantou nuvens de pó, invadiu casas e quebrou moringas.

Quando as luzes acenderam caiu uma chuva violenta, um temporal, um temporal como há muito não havia. Os fifós apagavam, não se ouviam vozes nas casas. O morro se fechou nos casebres, Luísa estava se preparando para sair.

António Balduíno matava formigas no canto da sala.

A tia pediu:

 - Ajuda aqui, Balduíno.

Ele ajudou a botar uma lata em cima, que Luísa suspendeu e colocou na cabeça. Passou a mão no rosto de António Balduíno e se dirigiu para a porta.

Antes de abrir a tramela, porem, sacudiu com o tabuleiro e as latas no chão, num gesto de raiva e gritou:

 - Não vou mais…

António Balduíno ficou mudo de espanto.

 - Ah! Ah! Não vou mais, quem quiser que vá. Ah! Ah!

 - O que é, tia?

O mungunzá corria pelos tijolos do chão. Luísa ficou mais calma e em vez de responder começou a contar uma história muito comprida de uma mulher que tinha três filhos, um carpina, o outro pedreiro e o terceiro estivador.

Depois a mulher ia ser freira e ela passou a contar a história dos três filhos. Mas a história não tinha pés nem cabeça. Apesar disto, uma vez, António Balduíno não pôde deixar de rir. Foi quando o carpinteiro perguntou ao Diabo:

 - Cadê seu chifre?

E o Diabo respondia.

 - Dei para seu pai…

Foi quando Luísa estava no melhor da história atrapalhada, olhou para as latas de mungunzá e mingau. Deu um pulo e cantarolou:

“eu não vou mais…
nunca mais…
nunca mais…”

Aí António Balduíno teve medo outra vez e perguntou se ela estava com dor de cabeça. Ela olhou para o sobrinho com um olhar tão estranho que António Balduíno recuou até detrás da mesa.

 - Quem é você? Você quer roubar o meu mingau, moleque. Vou te ensinar.

Correu atrás de Balduíno que se despencou para a rua e só parou na casa de Jubiabá. A porta estava encostada, ele empurrou e foi entrando.

Jubiabá estava lendo um livro quando ele entrou.

 - O que é Balbo?

 - Pai Jubiabá… Pai Jubiabá…

Nem podia falar. Respirou e começou a chorar.

 - O que é meu filho?...

 - Tia Luísa está atacada.

O temporal zunia lá fora. A chuva caía em grandes pingos. Mas Balduíno não ouvia nada, só ouvia a voz da tia a perguntar ele quem era e os seus olhos estranhos, olhos que ele nunca tinha visto em pessoa alguma… E eles foram correndo sob o temporal, a chuva caindo, o vento zunindo. Iam silenciosos.

Quando chegaram a casa já estava cheia de vizinhos. Uma mulher dizia a sinhá Augusta das rendas:

 - Isso é de carregar aquelas latas na cabeça… Eu sei de uma mulher que também enlouqueceu por causa disto…

António Balduíno começou novamente a chorar. Augusta discordava da vizinha:

 - Nada disto, comadre. O que ela tem é espírito e do bom. Vai ver como Jubiabá acaba com isso num instante…

Luísa cantava em voz alta, soltava gargalhadas e estava com Zé Camarão que apoiava tudo quanto ela dizia. Jubiabá se aproximou e começou a rezar Luísa.

Levaram António Balduíno para a casa de Augusta. Mas ele não dormiu e em meio ao temporal, ao ruído do vento e da chuva, ouvia os gritos e as gargalhadas da sua tia. E soluçava alto.


quarta-feira, maio 22, 2013

DIA EUROPEU DE ÓPERA - NUM CAFÉ EM VALÊNCIA, ESPANHA

De surpresa, no ambiente informal de um Café o espectáculo é outro...

TRIO ODEMIRA

São dois irmãos, o Júlio e o Carlos que em 1955 ganharam um concurso de novos talentos. Há mais de cinquenta anos que acumulam sucessos musicais. Agregaram um terceiro elemento que tem vindo a ser substituído ao longo dos anos. Conheci-os pessoalmente, talvez em 1957/8, num Café onde me foram apresentados por um colega do liceu. Esta canção é um dos seus sucessos

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Mas, onde está o apeadeiro?



A LENDA DO FIAT 127! 



Certo dia, estava eu na estrada com o meu FIAT 127, e como era de esperar, a lata velha avariou.

Então, encostei a relíquia na berma e fiquei à espera que passasse alguém.

Apareceu um Porsche Boxter bi-turbo, a 170km/h.


Nisso, o tipo do Porsche faz marcha-atrás e volta até ao FIAT.

Ele oferece-se para rebocar a porcaria do FIAT e eu aceitei a ajuda, mas pedi para não acelerar muito senão a lata velha desmantelava-se.


Combinei, então, que piscaria o farol sempre que o Porsche estivesse a acelerar demais.

Então, o Porsche começou a rebocar o carro e sempre que passava dos 60km/h, eu fazia sinal com o farol (no singular) porque, para variar, um deles tinha um curto-circuito e não funcionava.
E o tipo do Porsche ia puxando a 'batedeira' a 60 km/h no máximo, morrendo de tédio...

Entretanto, aparece um Mitsubishi 3000 GT, que "pica" o Porsche e este não não vai de modas e arranca! 120, 130, 150, 190, 210, 240 Km/h...
Eu já estava desesperado, a piscar o farol que nem um louco, e os dois alinhados...

Os tipos passam por uma patrulha da polícia, mas nem vêem o radar, que regista uns impressionantes 240 km/h! Daí, o polícia avisa pelo rádio a próxima patrulha:

'Atenção, um Porsche vermelho e um Mitsubishi preto a disputar uma corrida a mais de 240 km/h na estrada, e ... juro pela minha santa mãezinha... um FIAT 127 colado à traseira deles a dar sinal de luz para ultrapassar! 

Parte 3 da entrevista de R. Dawkins

As suas palavras vêm ao encontro do meu sentir ético, lógico e justo das coisas e da vida.


JESUS É DE DIREITA
OU DE ESQUERDA?






A maior parte das pessoas que frequentam a igreja, que alinham nas peregrinações aos santuários, que fazem promessas, rezam e suplicam graças a Deus, são de direita e votam em partidos de direita, muitos deles influenciados pelos padres das suas aldeias de acordo com orientações dos seus bispos.


Por isso, tem algum cabimento perguntar se Jesus seria considerado, aos olhos de hoje, um função das posições que tomou, do que terá dito (ou de quem lhe escreveu o guião) e chegou até nós, se era um homem de esquerda ou de direita.

Repare-se no que ele disse à cerca da mulher adúltera:

 - “Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra”… numa atitude de total fractura com os costumes da época e até de diversas igrejas de hoje que reclamam a sua herança.

E sobre os ricos:

- “É impossível a um rico entrar no reino do céu. Em verdade vos digo que dificilmente um rico entrará no reino do céu. Repito-vos: É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino do céu”

Se estas afirmações não constituem uma condenação directa, pelo menos aos homens ricos do seu tempo, não deixam quaisquer dúvidas de que “os ricos não pertencem à fraternidade com que Jesus queria construir na terra o reino dos céus” e colocam-no num posicionamento ideológico de esquerda, de acordo com os conceitos de esquerda/direita dos dias de hoje.

O Novo Testamento, principal fonte dos ensinamentos de Jesus terá sido escrito pelos seus discípulos, chamados “evangelistas”, entre os anos 60 e 100 da era cristã.


 Embora Jesus tenha falado em aramaico, uma língua com alfabeto próprio ainda em uso, na sua versão moderna, na Arménia e em certas partes da Síria, o Novo Testamento chegou até nós em grego, que era a língua franca da época.

Centenas de escritos produzidos depois do Século I não integram os quatro Evangelhos (esta palavra vem do grego e significa: “boas mensagens ou boas novas”) do Novo Testamento: Mateus, Marcos, Lucas e João, e ficaram a constituir os Evangelhos Apócrifos que estão na base de muitas celeumas entre historiadores, linguistas e hermeneutas (pessoas especializadas em interpretar textos escritos).

Aliás, várias religiões cristãs têm cânones diferentes aceitando uns e recusando outros.

Joaquim Carreira das Neves, 78 anos, padre franciscano, especialista em Estudos do Próximo Oriente e profundo conhecedor das circunstâncias históricas contemporâneas dos escritos do Novo Testamento afirma:

- 
“Se vivesse hoje, Jesus era de esquerda, porque andava com os desclassificados e marginalizados. Jesus tinha muito apreço pelos que eram mais descriminados e andava sempre ao lado dos mais desfavorecidos”.

Richard Dawkins, prémio Nobel, ateísta militante, de quem estamos passando uma entrevista dada por ele no Brasil, é um grande admirador de Jesus tendo mesmo escrito um artigo intitulado “Ateus por Jesus”.

Na sua opinião, a superioridade moral de Jesus confirma precisamente que a ética dos tempos em que foi educado não o satisfazia. Afastou-se explicitamente delas, por exemplo, quando desvalorizou os avisos severos quanto a desrespeitar o “sabat”: 

“O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado”.

José Manuel Pureza, especialista em Estudos da Paz, docente de Relações Internacionais na Universidade de Coimbra, afirma:

- “Cristo foi um revolucionário, um blasfemo. Morreu assassinado, não morreu nem de velho nem doente – foi morto pelo poder político e religioso da época”.

Parece, pois, que se aceitarmos como boa a dicotomia entre “transformação” e “conservação”, para separar a esquerda da direita, então, não há dúvidas sobre onde colocar Jesus:

- “Pôs-se sempre do lado da transformação – isso é, para mim, suficiente para dizer que de direita ele não seria”, conclui o professor.


Isto significa que a Igreja de Roma, tradicional, ao longo dos séculos, conseguiu virar os seguidores de Jesus contra o próprio Jesus que se viesse cá agora não os reconheceria nem se reconheceria numa boa parte do seu rebanho.


JUBIABÁ

Episódio Nº 22



E com mais medo ainda ficou quando o viu morto, com duas facadas no peito. Nunca se soube quem foi o assassínio. Porém, um ano depois, certo dia, Balduíno estava correndo pela ladeira quando um homem de calça rasgada e chapéu furado, cara de doente se aproximou e perguntou:

 - Oh! Menino mora aqui um homem chamado Leopoldo? Um negro alto, sério…

 - Já sei… não mora mais, senhor…

 - Já se mudou?

 - Não. Morreu…

 - Morreu? De quê?

 - De facada…

 - Assassinado?

 - Foi, sim senhor…

 Olhou o homem…

 - O senhor era parente dele?

 - Quem sabe? Me diga, qual é o caminho da cidade?

 - O senhor não quer ir lá em cima saber mais nada? Titia pode lhe dizer… E eu lhe mostro a casa onde seu Leopoldo morava… Agora é de seu Zeca…

O homem tirou da calça rota uma nota de quinhentos reis e deu a Balduíno.

Olha, garoto, se ele não estivesse morto morria hoje…

E desceu a ladeira sem esperar resposta. António Balduíno desceu correndo atrás do homem:

 - O senhor não quer saber o caminho da cidade?

Mas o homem nem olhou para trás. António Balduíno não contou este encontro a ninguém de tanto medo que ficou. E em sonhos a imagem do homem de chapéu furado o perseguiu muito tempo.

Parecia que ele vinha de muito longe e estava cansado. António Balduíno pensou que o olho da piedade daquele homem tinha vazado.


Um, dois, três anos se passaram naquela vida do morro. Os habitantes eram os mesmos, a vida a mesma. Nada mudava. Só as dores de cabeça de Luísa aumentavam. Agora haviam passado a ser quase diárias, pegando a negra logo que ela voltava da venda nocturna do mungunzá e do mingau.

A negra ficava gritando, botava os vizinhos para fora, vinha Jubiabá e cada vez demorava mais a curar as dores de Luísa. A velha andava esquisita: chegava da rua furiosa, berrando, zangando por tudo, batia em Balduíno por qualquer nada que ele fazia, e depois quando a dor melhorava, pegava no sobrinho, botava no colo, catava cafuné na carapinha, chorava baixinho, pedia perdão.

António Balduíno vivia apalermado, sem entender. Achava a tia incompreensível, com aqueles acessos de raiva e de carinho.

E nas brincadeiras, de quando em vez, parava para pensar na tia, na dor de cabeça que a estava matando. Sentia que em breve a perderia e isso confrangia o seu pequeno coração que, no entanto, já estava tão cheio de amor e ódio.

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