Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, maio 25, 2013
Eduardo Galeano participou numa manifestação popular espontânea contra a crise e estas são as suas palavras no rescaldo dessa manifestação. É reconfortante ouvi-lo.

HAVERÁ VIDA
DEPOIS DA MORTE?
Mark Twain,
considerado por William Faulkner, o primeiro escritor verdadeiramente
americano, dizia:
«Não tenho medo da morte. Estive morto durante milhões e milhões de
anos antes de nascer e não senti o mais pequeno incómodo por isso».
Richard Dawkins disse precisamente o
mesmo mas de uma forma mais elaborada que vale a pena reescrever:
«A vida é uma extraordinária oportunidade e eu que vou morrer
considero-me bafejado pela sorte porque a maior parte das pessoas nunca vai
morrer porque nunca vai chegar a nascer.
…Como poderemos nós, então, os poucos
privilegiados, que contra todas as probabilidades, ganhamos a lotaria do
nascimento, atrever-mos a queixar-nos do nosso inevitável regresso a esse
estado anterior do qual a vasta maioria nunca despertou?».
Há uns meses, para me poupar a um desagradável exame, submeti-me a
uma anestesia geral e quando, deitado na marquesa aguardava a injecção da
anestesia, pensei que me ia sujeitar a uma simulação da morte.
Acordado, mais tarde, pensei que ter
estado desligado da vida pouco mais de uma hora ou o resto da eternidade, teria
sido precisamente o mesmo: o vazio total e, afinal, sem nenhum custo, dor ou
sacrifício, nada…
Contudo, as sondagens vão no sentido
de que aproximadamente 95% das pessoas acreditam que vão sobreviver à própria
morte.
Quase tenho vontade de dizer que os
homens vivem durante tantos anos que se habituam a estar vivos e depois não
querem morrer.
Claro que a natureza dotou os animais
e naturalmente o homem também, do instinto da sobrevivência, fonte de vida, mas
para quê estar vivo durante tantos anos depois da fase de procriação?
O arqui tecto
Niemeyer, nascido em 1907, faleceu há poucos meses e o mesmo acontece com o
nosso Manuel de Oliveira, este ainda a trabalhar com 104 anos.
São exemplos
relativamente aos quais me apetece dizer que deviam ficar cá para sempre, mas a
maioria esmagadora dos nossos velhos limita-se a aguardar a morte, sentados por
aí nos bancos dos jardins, muitos deles com vidas prolongadas pelo Serviço
Nacional de Saúde.
O meu vizinho do 5º
Esq. que lá vai suportando os seus noventa anos com a ajuda da bengala e quase
sem ver nada, tendo por companhia a solidão, as dores e os desgostos da vida,
desabafou comigo aqui há dias à
entrada do elevador:
- “O dia em que morrer vai ser o mais
feliz da minha vida…”.
Mas a natureza sabe o que faz e não é
por acaso que após a idade de procriar continuamos a poder viver o dobro dos
anos. As nossas crianças não só precisam dos pais como, igualmente, precisam
dos avós, pessoas mais disponíveis que os pais para os proteger e ensinar
assegurando-lhes uma melhor oportunidade para serem adultos mais preparados.
Mas querer estar vivo é uma coisa,
continuar a viver depois de morrer é outra…
Bertrand Russel, no seu ensaio de
1925 “What I Believe” escrevia:
- “Acredito que quando morrer vou apodrecer e nada do meu ego irá
sobreviver. Não sou jovem e amo a vida mas desdenharia tremer de medo ante a
perspectiva da aniqui lação.
Apesar de tudo, a felicidade só é
verdadeiramente felicidade porque tem que ter um fim, do mesmo modo que o
pensamento ou o amor não valem menos por não serem eternos.
Muitos foram aqueles que pisaram o
cadafalso com orgulho; esse mesmo orgulho deveria, por certo, ensinar-nos a
pensar, verdadeiramente, o lugar que o homem ocupa no mundo”.
Para quem teme a morte, acreditar que tem uma alma imortal pode
ser consolador – a menos, evidentemente, que esteja convencido que vai para o
inferno ou para o purgatório.
As falsas crenças podem ser tão
consoladoras como as verdadeiras, até ao momento do desengano. Se um médico
mente ao doente dizendo-lhe que ele está curado o consolo é idêntico ao de
outro homem a quem seja dito, com verdade, que ele está curado.
A mentira do médico só é eficaz até
os sintomas se tornarem inequívocos mas um crente na vida depois da morte nunca
poderá, em última análise, ser desenganado.
As pessoas religiosas que dizem
acreditar na vida depois da morte se fossem realmente sinceras deveriam reagir
como o abade Ampleforth, quando o cardeal Basil Hume lhe disse que estava a
morrer:
“Parabéns! Que bela notícia. Quem me dera ir com Vossa
Eminência”.
Este abade era um verdadeiro crente
mas é exactamente por esta história ser tão rara e inesperada que prende a
atenção e quase diverte.
Por que razão todos os cristãos e
muçulmanos não dizem a mesma coisa ou algo parecido?
Quando um médico diz a uma mulher
devota que não lhe restam senão alguns meses de vida por que razão não sorri
ela, emocionada, como se tivesse ganho umas férias nas Seychelles?
Por que razão é que os amigos e
familiares, crentes como ela, não a sobrecarregam de mensagens para os que já
partiram? - Dá lá saudades ao tio
Alberto quando o vires….
Por que não falam assim as pessoas
religiosas na presença dos que estão à beira da morte?
Será que não acreditam em todas as
coisas em que era presumível acreditarem?
Ou talvez acreditem mas têm medo do
“processo” de morrer que pode ser doloroso e desagradável com a agravante de
que, ao contrário de todos os outros animais, não podem ir ao veterinário pedir
uma morte indolor.
E, neste caso, por que são as pessoas
religiosas as mais ferozes opositores à eutanásia e ao suicídio medicamente
assistido?
Não seria de esperar que as pessoas
mais religiosas fossem menos inclinadas a agarrarem-se despudoradamente à vida
seguindo o exemplo do abade Ampleforth?
A razão oficial é de que provocar a
morte é sempre pecado mas por quê considerar isso pecado se se acredita
sinceramente que se está desse modo a acelerar uma ida para o céu?
Para quem crê numa vida depois da
morte, morrer é apenas a transição de uma vida para outra vida e, sendo assim,
se ela for dolorosa porquê prescindir da anestesia quando não se prescinde dela
para tirar o apêndice?
Daqueles que vêm na morte não uma transição
mas sim o fim é que se poderia, francamente, esperar resistência à eutanásia e
ao suicídio medicamente assistido, no entanto, são esses que são a favor.
Uma enfermeira com longos anos de
trabalho à frente de um lar de idosos pôde verificar que as pessoas religiosas
eram as que tinham mais medo da morte.
Se este comportamento for comprovado
estatisticamente poder-se-á perguntar, afinal, qual o poder da religião como
reconforto na hora da morte?
No caso dos católicos será o medo do
purgatório, uma espécie de Ellis Island (um dos principais pontos de entrada
dos emigrante para os EUA) divino, uma antecâmara para onde vão as almas se os
seus pecados não são suficientemente graves para as lançarem logo no inferno
mas, por outro lado, precisam ainda de alguma reciclagem antes de poderem ser
admitidas no céu.
Na Idade Média a Igreja dava
indulgências a troco de dinheiro o que, na prática, significava menos dias de
purgatório antes de entrar no céu.
Nesta história da morte, as Agências Funerárias parecem-me ser
as únicas que lucram honestamente...
Quatro
Mães Católicas

Quatro mães
católicas, bebendo o seu cafezinho, falam embevecidas do sucesso dos seus
filhos.
A primeira diz:
- Meu filho é padre e as pessoas
quando se dirigem a ele chamam-no de “Reverendíssimo”.
A segunda conta:
- Meu filho é bispo e as pessoas
quando se lhe dirigem tratam-no por “Sua Excelência”.
A terceira declara:
- Meu filho é cardeal e as pessoas
dirigem-se a ele dizendo: “Sua Eminência”.
A quarta mãe continua bebendo café e
não diz nada.
As outras olham-na
interrogativamente.
Então ela sussurra:
- Meu filho é um homem muito bem
apessoado, um metro e noventa, ele é um grande striper.
Quando se despe completamente todas
gritam:
- “Oh, Meu Deus!"
Parte 6 e última da Entrevista de Richard Dawkins
O pensamento de R. Dawkins exposto nesta última entrevista demonstra, sem dúvida, que estamos na presença de um homem bom, do ponto de vista moral e ético o que, para mim, é mais importante ainda do que a sua fulgurante inteligência e imensos conhecimentos científicos. Escutem-no...
Episódio Nº 25
Tão velha como a negra anciã que morava
na casa mais negra e dava aos moleques, com gestos maternais, tostões para
comprar cocada, e passava o dia pitando um cachimbo de barro, murmurando
palavras que ninguém entendia.
A rua encurvava e as casas ruiriam
breve. O silêncio é de morte. Desce do morro, sobe das pedras.
A Travessa Zumbi dos Palmares agonizava!
Uma vez um casal de noivos veio ver uma casa para alugar. Casa confortável e qui eta. A noiva disse, porém:
-
Não, não quero. Essa rua parece um cemitério…
Dois sobrados na esqui na, um defronte do outro. O resto da rua era
formada por casinhas baixas, escuras, e um ou outro sobrado que já tinha
perdido a cor e nos quais morava uma legião de homens trabalhadores.
Os sobrados da esqui na,
se bem antigos, eram, no entanto grandes e formosos. No da direita morava uma
família que tinha um desgosto muito grande, a perda de um filho, que morrera
assassinado.
Viviam recolhidos, não apareciam nunca
nas janelas que estavam eternamente trancadas, e traziam sempre luto fechado.
Quando, por acaso uma janela se abria,
podia se ver na sala de visitas, um quadro enorme que era o retrato de um jovem
louro, fardado de tenente.
Tinha um sorriso provocador nos lábios
finos e uma flor na mão alva. O sobrado tinha uma varanda e nesta varanda uma
moça loira vestida de preto. Lia um livro de capa amarela e jogava níqueis para
António Balduíno.
Todas as tardes vinha um moço bonito e
passeava em toda a extensão da rua. Assobiava baixinho até que a moça o via.
Então ela se levantava e vinha para o gradeado da varanda onde ficava sorrindo.
O rapaz, elegante, passava várias vezes,
cumprimentava, sorria e antes de ir embora tirava um cravo da botoeira e, após
beijá-lo, jogava-o na varanda.
A moça o apanhava rápida, um sorriso nos
lábios, o rosto escondido na mão livre. Metia o cravo vermelho no livro de
versos e dava um adeusinho com a mão.
O moço ia embora e voltava no outro dia.
Ela jogava um níquel para o negrinho que
estava lá em baixo e era a única testemunha desse amor.
Defronte ficava o sobrado do Comendador.
Gansos passeavam no jardim florido e mangueiras cresciam na alameda que ficava
ao lado da casa.
O Comendador comprara aqui lo barato nos bons tempos, “uma verdadeira
pechincha”, como dizia aos domingos depois que dava uma volta no jardim e ia
deitar no qui ntal ao fundo.
Morava ali há muitos anos, desde que
começara a enricar, e talvez gostasse daquela casa velha de tantos quartos na
travessa sem movimento.
António Balduíno é que ficou espantado
com o tamanho da casa. Nunca vira coisa igual. No Morro do Capa Negro as casas
eram pequenas, de barro batido, portas de caixão, cobertas de zinco.
Tinham duas divisões apenas: a sala de
jantar e o lugar onde dormiam. Mas o sobrado do Comendador, não. Como era
grande, quantos quartos tinha, alguns até fechados, um quarto de hóspedes
sempre mobilado esperando alguém que nunca vinha, salas enormes, cozinha
bonita, a latrina melhor que qualquer casa do morro!
sexta-feira, maio 24, 2013
Parte 5 da Entrevista de R. Dawkins
A influência do meio cultural é um factor determinante no que nós somos. Os nossos genes "apontam" mas quem nos guia é a nossa vontade criada e desenvolvida no meio social em que nascemos e crescemos.
Martinho da Vila e Katia Guerreiro - Dar e Receber
Duas vozes, dois estilos, uma belíssima ligação...
é Um
Filho
da P…
Um sindicalista
argentino propôs que fosse criado o “Dia do Filho da P…” para ser celebrado na
data do nascimento do ex-ditador Jorge Rafael Videla, (morreu de velho há poucos dias, na cadeia) que enfrenta vários
processos por crimes contra a humanidade.
Também Carlos Queiroz, que não
cometeu crimes nenhuns contra a humanidade, está a contas com a justiça
desportiva e parece que não só, por ter chamado filho da p… a um senhor
funcionário do Estado que trabalha no Instituto da Droga.
Tudo isto para recordar Ramada Curto,
republicano, socialista, eminente político na primeira República e famoso
advogado. Nesta qualidade, interveio no Tribunal para defender um cliente
acusado de ter chamado filho da p… ao ofendido.
Ramada Curto começou por chamar a
atenção do juiz para o facto de, muitas vezes, se utilizar essa expressão em
termos elogiosos (“Aquele filho da p… é o melhor de todos”) ou carinhosos (“Dá
cá um abraço, meu grande filho da p…”) e depois concluiu as suas alegações da
seguinte forma:
“E até aposto que, neste momento,
V.Exª. está a pensar o seguinte: “Olhem lá o que aquele filho da p… se havia de
lembrar para safar o cliente!...”
Chegada a hora da sentença o juiz
vira-se para o réu e diz: “O senhor vai absolvido mas agradeça ao filho da p…
do seu advogado”.
Episódio nº 24
No outro dia veio um carro do hospício,
dois homens pegaram a velha e a levaram. António Balduíno se agarrou a ela. Não
queria deixar que a levassem. Tentava explicar:
-
Não é nada, não. É só dor de cabeça que ela tem. Mas pai Jubiabá cura… Não leva
ela…
Luísa cantarolava, indiferente a tudo.
Mordeu a mão do enfermeiro e só a soltou
quando o trouxeram à força para casa de Augusta. Então todos foram muito bons
para ele.
Zé Camarão veio conversar com ele, falar
em violão e capoeira, seu Lourenço da venda lhe deu caramelos, sinhá Augusta
dizia “coitadinho, coitadinho”. Veio também Jubiabá que amarrou uma figa no
pescoço de António Balduíno:
-
Isso é para você ser forte e corajoso…Eu gosto de você.
Ficou uns dias na casa de Augusta. Uma
manhã, porem, ela o vestiu com a melhor roupa e o levou pela mão. Ele perguntou
para onde iam.
-
Você agora vai morar numa casa bonita. Vai morar com o conselheiro Pereira. Ele
vai-lhe criar…
António Balduíno não disse nada. Mas
pensou logo em fugir.
Quando já iam perto da ladeira encontraram Jubiabá. António
Balduíno beijou a mão do feiticeiro que disse:
-
Quando crescer venha cá. Quando tiver homem.
Os meninos estavam todos parados na rua,
espiando. Balduíno deu adeus com tristeza. Desceu.
Lá de baixo ainda viu a figura de
Jubiabá, sentado num barranco do morro, o camisu agitado pelo vento., folhas de
ervas na mão.
TRAVESSA ZUMBI DOS PALMARES
Velha rua de casas sujas e de sobrados
de cor indefinida. Vinha numa recta sem desvios. Os passeios das casas é que
eram desencontrados, uns altos, outros baixos, alguns avançando para o centro
da rua, outros medrosos de se afastarem do centro da porta. Rua mal calçada de
pedras desarrumadas, plantada de capim.
O silêncio e o sossego subiam de tudo e
desciam de tudo. Vinham do mar distante, dos montes, lá atrás, das casas sem
luz, das luzes mesmo dos raros postes, das pessoas, baixavam do ar sobre a
gente e envolviam a rua e as criaturas. Parecia que a noite chegava mais cedo
para a Travessa Zumbi dos Palmares que para o resto da cidade.
Nem o mar que batia nas pedras, ao
longe, acordava o sono da rua que seria uma velha solteirona à espera de noivo
que partira para as capitais distantes e se perdera na confusão dos homens
apressados.
A zona era triste. Uma travessia
agonizante. A calma da rua pesava com um ar de agonia. Agonizava tudo em redor. As casas, o
morro, as luzes. O silêncio era duro e fazia sofrer.
A Travessa Zumbi dos Palmares agonizava.
Como estavam velhas as casas, como saltavam as pedras do calçamento!
quinta-feira, maio 23, 2013
ELVIS PRESLEY - FALLING IN LOVE
Os amores, sinceros, para toda a vida, não são vulgares mas quando acontecem com grandes artistas é uma autêntica raridade.
Numa noite, já tarde, estavam deitados, quando...
MULHER:
Se eu morresse tu casavas outra vez?
MARIDO: Claro que não!
MULHER:
Não?! Não por quê?! Não gostas de estar casado?
MARIDO: Claro que gosto!
MULHER: Então por que é que não
casavas de novo?
MARIDO: Está bem, casava...
MULHER: (com um olhar magoado) Casavas?
MARIDO: Casava. Só porque foi bom
contigo...
MULHER: E dormirias com ela na nossa
cama?
MARIDO: Onde é que tu querias que
nós dormíssemos?
MULHER: E substituirias as minhas
fotografias por fotografias dela?
MARIDO: É natural que sim...
MULHER: E ela ia usar o meu carro?
MARIDO: Não. *Ela não conduz...
MULHER:!!!!* (silêncio)
MARIDO: (em pensamento) Fodi tudo!
MORAL DA HISTÓRIA:
JAMAIS prolongues um assunto com uma mulher... abana
apenas a cabeça ou diz “A-HAM” *ou “HUM-HUM”...
Parte 4 da Entrevista com R. Dawkins
Ele fala de Darwin e do seu Livro "Da Origem das Espécies" e como as ideias sobre racismo e machismo mudam tanto em tão pouco tempo... e tanto faz ser religioso como não o ser.
Ele fala de Darwin e do seu Livro "Da Origem das Espécies" e como as ideias sobre racismo e machismo mudam tanto em tão pouco tempo... e tanto faz ser religioso como não o ser.
Episódio nº 23
A tarde tinha sido
sombria, cheia de nuvens negras. Com a noite veio um vento grosso, pesado que
apertava os homens no pescoço e assobiava nos becos. Enquanto as luzes não
acenderam, o vento dominou a cidade, correu com os moleques pela ladeira,
visitou as mulheres do Beco das Flores e do Beco da Maria da Paz, levantou
nuvens de pó, invadiu casas e quebrou moringas.
Quando as luzes acenderam
caiu uma chuva violenta, um temporal, um temporal como há muito não havia. Os
fifós apagavam, não se ouviam vozes nas casas. O morro se fechou nos casebres,
Luísa estava se preparando para sair.
António Balduíno matava
formigas no canto da sala.
A tia pediu:
- Ajuda aqui ,
Balduíno.
Ele ajudou a botar uma
lata em cima, que Luísa suspendeu e colocou na cabeça. Passou a mão no rosto de
António Balduíno e se dirigiu para a porta.
Antes de abrir a tramela,
porem, sacudiu com o tabuleiro e as latas no chão, num gesto de raiva e gritou:
- Não vou mais…
António Balduíno ficou
mudo de espanto.
- Ah! Ah! Não vou mais, quem qui ser que vá. Ah! Ah!
- O que é, tia?
O mungunzá corria pelos
tijolos do chão. Luísa ficou mais calma e em vez de responder começou a contar
uma história muito comprida de uma mulher que tinha três filhos, um carpina, o
outro pedreiro e o terceiro estivador.
Depois a mulher ia ser
freira e ela passou a contar a história dos três filhos. Mas a história não
tinha pés nem cabeça. Apesar disto, uma vez, António Balduíno não pôde deixar
de rir. Foi quando o carpinteiro perguntou ao Diabo:
- Cadê seu chifre?
E o Diabo respondia.
- Dei para seu pai…
Foi quando Luísa estava no
melhor da história atrapalhada, olhou para as latas de mungunzá e mingau. Deu
um pulo e cantarolou:
“eu não vou mais…
nunca mais…
nunca mais…”
Aí António Balduíno teve
medo outra vez e perguntou se ela estava com dor de cabeça. Ela olhou para o
sobrinho com um olhar tão estranho que António Balduíno recuou até detrás da
mesa.
- Quem é você? Você quer roubar o meu mingau,
moleque. Vou te ensinar.
Correu atrás de Balduíno
que se despencou para a rua e só parou na casa de Jubiabá. A porta estava
encostada, ele empurrou e foi entrando.
Jubiabá estava lendo um
livro quando ele entrou.
- O que é Balbo?
- Pai Jubiabá… Pai Jubiabá…
Nem podia falar. Respirou
e começou a chorar.
- O que é meu filho?...
- Tia Luísa está atacada.
O temporal zunia lá fora.
A chuva caía em grandes pingos. Mas Balduíno não ouvia nada, só ouvia a voz da
tia a perguntar ele quem era e os seus olhos estranhos, olhos que ele nunca
tinha visto em pessoa alguma… E eles foram correndo sob o temporal, a chuva
caindo, o vento zunindo. Iam silenciosos.
Quando chegaram a casa já
estava cheia de vizinhos. Uma mulher dizia a sinhá Augusta das rendas:
- Isso é de carregar aquelas latas na cabeça…
Eu sei de uma mulher que também enlouqueceu por causa disto…
António Balduíno começou
novamente a chorar. Augusta discordava da vizinha:
- Nada disto, comadre. O que ela tem é
espírito e do bom. Vai ver como Jubiabá acaba com isso num instante…
Luísa cantava em voz alta,
soltava gargalhadas e estava com Zé Camarão que apoiava tudo quanto ela dizia.
Jubiabá se aproximou e começou a rezar Luísa.
Levaram António Balduíno
para a casa de Augusta. Mas ele não dormiu e em meio ao temporal, ao ruído do
vento e da chuva, ouvia os gritos e as gargalhadas da sua tia. E soluçava alto.
quarta-feira, maio 22, 2013
DIA EUROPEU DE ÓPERA - NUM CAFÉ EM VALÊNCIA, ESPANHA
De surpresa, no ambiente informal de um Café o espectáculo é outro...
TRIO ODEMIRA
São dois irmãos, o Júlio e o Carlos que em 1955 ganharam um concurso de novos talentos. Há mais de cinquenta anos que acumulam sucessos musicais. Agregaram um terceiro elemento que tem vindo a ser substituído ao longo dos anos. Conheci-os pessoalmente, talvez em 1957/8, num Café onde me foram apresentados por um colega do liceu. Esta canção é um dos seus sucessos
A LENDA DO FIAT 127!
Certo dia, estava eu na estrada com o meu FIAT 127, e como era de esperar, a lata velha avariou.
Então, encostei a relíquia na berma e fiquei à espera que passasse alguém.
Apareceu um Porsche Boxter bi-turbo, a 170km/h.
Nisso, o tipo do Porsche faz marcha-atrás e volta até ao FIAT.
Certo dia, estava eu na estrada com o meu FIAT 127, e como era de esperar, a lata velha avariou.
Então, encostei a relíquia na berma e fiquei à espera que passasse alguém.
Apareceu um Porsche Boxter bi-turbo, a 170km/h.
Nisso, o tipo do Porsche faz marcha-atrás e volta até ao FIAT.
Ele oferece-se para rebocar a porcaria do FIAT e eu aceitei a ajuda, mas pedi para não acelerar muito senão a lata velha desmantelava-se.
Combinei, então, que piscaria o farol sempre que o Porsche estivesse a acelerar demais.
Combinei, então, que piscaria o farol sempre que o Porsche estivesse a acelerar demais.
Então, o Porsche começou a rebocar o carro e sempre que passava dos 60km/h, eu fazia sinal com o farol (no singular) porque, para variar, um deles tinha um curto-circuito e não funcionava.
E o tipo do Porsche ia puxando a 'batedeira' a 60 km/h no máximo, morrendo de tédio...
E o tipo do Porsche ia puxando a 'batedeira' a 60 km/h no máximo, morrendo de tédio...
Entretanto, aparece um Mitsubishi 3000 GT, que "pica" o Porsche e este não não vai de modas e arranca! 120, 130, 150, 190, 210, 240 Km/h...
Eu já estava desesperado, a piscar o farol que nem um louco, e os dois alinhados...
Os tipos passam por uma patrulha da polícia, mas nem vêem o radar, que regista uns impressionantes 240 km/h! Daí, o polícia avisa pelo rádio a próxima patrulha:
'Atenção, um Porsche vermelho e um Mitsubishi preto a disputar uma corrida a mais de 240 km/h na estrada, e ... juro pela minha santa mãezinha... um FIAT 127 colado à traseira deles a dar sinal de luz para ultrapassar!
Eu já estava desesperado, a piscar o farol que nem um louco, e os dois alinhados...
Os tipos passam por uma patrulha da polícia, mas nem vêem o radar, que regista uns impressionantes 240 km/h! Daí, o polícia avisa pelo rádio a próxima patrulha:
'Atenção, um Porsche vermelho e um Mitsubishi preto a disputar uma corrida a mais de 240 km/h na estrada, e ... juro pela minha santa mãezinha... um FIAT 127 colado à traseira deles a dar sinal de luz para ultrapassar!
Parte 3 da entrevista de R. Dawkins
As suas palavras vêm ao encontro do meu sentir ético, lógico e justo das coisas e da vida.
As suas palavras vêm ao encontro do meu sentir ético, lógico e justo das coisas e da vida.
OU DE ESQUERDA?
A maior parte das pessoas que frequentam a igreja, que
alinham nas peregrinações aos santuários, que fazem promessas, rezam e suplicam
graças a Deus, são de direita e votam em partidos de direita, muitos deles
influenciados pelos padres das suas aldeias de acordo com orientações dos seus
bispos.
Por isso, tem algum cabimento perguntar se
Jesus seria considerado, aos olhos de hoje, um função das posições que tomou,
do que terá dito (ou de quem lhe escreveu o guião) e chegou até nós, se era um homem de esquerda ou de
direita.
Repare-se
no que ele disse à cerca da mulher adúltera:
- “Quem de vós estiver sem
pecado atire-lhe a primeira pedra”… numa atitude de
total fractura com os costumes da época e até de diversas igrejas de hoje que
reclamam a sua herança.
E
sobre os ricos:
- “É impossível a um rico
entrar no reino do céu. Em verdade vos digo que dificilmente um rico entrará no
reino do céu. Repito-vos: É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma
agulha do que um rico entrar no reino do céu”
Se estas afirmações
não constituem uma condenação directa, pelo menos aos homens ricos do seu
tempo, não deixam quaisquer dúvidas de que “os ricos não pertencem à fraternidade com que Jesus
queria construir na terra o reino dos céus” e colocam-no num
posicionamento ideológico de esquerda, de acordo com os conceitos de
esquerda/direita dos dias de hoje.
O Novo Testamento, principal fonte
dos ensinamentos de Jesus terá sido escrito pelos seus discípulos, chamados
“evangelistas”, entre os anos 60 e 100 da era cristã.
Embora Jesus tenha falado em aramaico, uma
língua com alfabeto próprio ainda em uso, na sua versão moderna, na Arménia e
em certas partes da Síria, o Novo Testamento chegou até nós em grego, que era a
língua franca da época.
Centenas de escritos produzidos depois do Século I não integram os quatro Evangelhos (esta palavra vem do grego e significa: “boas mensagens ou boas novas”) do Novo Testamento: Mateus, Marcos, Lucas e João, e ficaram a constituir os Evangelhos Apócrifos que estão na base de muitas celeumas entre historiadores, linguistas e hermeneutas (pessoas especializadas em interpretar textos escritos).
Aliás, várias religiões cristãs têm cânones diferentes aceitando uns e recusando outros.
Joaqui m
Carreira das Neves, 78 anos, padre franciscano, especialista em Estudos do
Próximo Oriente e profundo conhecedor das circunstâncias históricas
contemporâneas dos escritos do Novo Testamento afirma:
- “Se vivesse hoje, Jesus era de esquerda, porque andava com os desclassificados e marginalizados. Jesus tinha muito apreço pelos que eram mais descriminados e andava sempre ao lado dos mais desfavorecidos”.
Richard Dawkins, prémio Nobel, ateísta militante, de quem estamos passando uma entrevista dada por ele no Brasil, é um grande admirador de Jesus tendo mesmo escrito um artigo intitulado “Ateus por Jesus”.
Na sua opinião, a superioridade moral de Jesus confirma precisamente que a ética dos tempos em que foi educado não o satisfazia. Afastou-se explicitamente delas, por exemplo, quando desvalorizou os avisos severos quanto a desrespeitar o “sabat”:
Centenas de escritos produzidos depois do Século I não integram os quatro Evangelhos (esta palavra vem do grego e significa: “boas mensagens ou boas novas”) do Novo Testamento: Mateus, Marcos, Lucas e João, e ficaram a constituir os Evangelhos Apócrifos que estão na base de muitas celeumas entre historiadores, linguistas e hermeneutas (pessoas especializadas em interpretar textos escritos).
Aliás, várias religiões cristãs têm cânones diferentes aceitando uns e recusando outros.
Joa
- “Se vivesse hoje, Jesus era de esquerda, porque andava com os desclassificados e marginalizados. Jesus tinha muito apreço pelos que eram mais descriminados e andava sempre ao lado dos mais desfavorecidos”.
Richard Dawkins, prémio Nobel, ateísta militante, de quem estamos passando uma entrevista dada por ele no Brasil, é um grande admirador de Jesus tendo mesmo escrito um artigo intitulado “Ateus por Jesus”.
Na sua opinião, a superioridade moral de Jesus confirma precisamente que a ética dos tempos em que foi educado não o satisfazia. Afastou-se explicitamente delas, por exemplo, quando desvalorizou os avisos severos quanto a desrespeitar o “sabat”:
“O sábado foi feito
para o homem e não o homem para o sábado”.
José Manuel Pureza, especialista em
Estudos da Paz, docente de Relações Internacionais na Universidade de Coimbra,
afirma:
- “Cristo foi um revolucionário, um blasfemo. Morreu
assassinado, não morreu nem de velho nem doente – foi morto pelo poder político
e religioso da época”.
Parece, pois, que se aceitarmos como boa a dicotomia entre
“transformação” e “conservação”, para separar a esquerda da direita, então, não
há dúvidas sobre onde colocar Jesus:
- “Pôs-se sempre do lado da transformação – isso é, para mim,
suficiente para dizer que de direita ele não seria”, conclui o professor.
Isto significa que a Igreja
de Roma, tradicional, ao longo dos séculos, conseguiu virar os seguidores de
Jesus contra o próprio Jesus que se viesse cá agora não os reconheceria nem se
reconheceria numa boa parte do seu rebanho.
Episódio Nº 22
E com mais medo ainda
ficou quando o viu morto, com duas facadas no peito. Nunca se soube quem foi o
assassínio. Porém, um ano depois, certo dia, Balduíno estava correndo pela
ladeira quando um homem de calça rasgada e chapéu furado, cara de doente se
aproximou e perguntou:
- Oh! Menino mora aqui
um homem chamado Leopoldo? Um negro alto, sério…
- Já sei… não mora mais, senhor…
- Já se mudou?
- Não. Morreu…
- Morreu? De quê?
- De facada…
- Assassinado?
- Foi, sim senhor…
Olhou o homem…
- O senhor era parente dele?
- Quem sabe? Me diga, qual é o caminho da
cidade?
- O senhor não quer ir lá em cima saber mais
nada? Titia pode lhe dizer… E eu lhe mostro a casa onde seu Leopoldo morava…
Agora é de seu Zeca…
O homem tirou da calça
rota uma nota de qui nhentos reis e
deu a Balduíno.
Olha, garoto, se ele não
estivesse morto morria hoje…
E desceu a ladeira sem
esperar resposta. António Balduíno desceu correndo atrás do homem:
- O senhor não quer saber o caminho da cidade?
Mas o homem nem olhou para
trás. António Balduíno não contou este encontro a ninguém de tanto medo que
ficou. E em sonhos a imagem do homem de chapéu furado o perseguiu muito tempo.
Parecia que ele vinha de
muito longe e estava cansado. António Balduíno pensou que o olho da piedade
daquele homem tinha vazado.
Um, dois, três anos se
passaram naquela vida do morro. Os habitantes eram os mesmos, a vida a mesma.
Nada mudava. Só as dores de cabeça de Luísa aumentavam. Agora haviam passado a
ser quase diárias, pegando a negra logo que ela voltava da venda nocturna do
mungunzá e do mingau.
A negra ficava gritando,
botava os vizinhos para fora, vinha Jubiabá e cada vez demorava mais a curar as
dores de Luísa. A velha andava esqui sita:
chegava da rua furiosa, berrando, zangando por tudo, batia em Balduíno por
qualquer nada que ele fazia, e depois quando a dor melhorava, pegava no
sobrinho, botava no colo, catava cafuné na carapinha, chorava baixinho, pedia
perdão.
António Balduíno vivia
apalermado, sem entender. Achava a tia incompreensível, com aqueles acessos de
raiva e de carinho.
E nas brincadeiras, de
quando em vez, parava para pensar na tia, na dor de cabeça que a estava
matando. Sentia que em breve a perderia e isso confrangia o seu pequeno coração
que, no entanto, já estava tão cheio de amor e ódio.