sexta-feira, novembro 17, 2017

Jesus da Nazaré
















Jesus da Nazaré é um personagem histórico com 2000 anos, demasiados para que um manto de dúvidas não se levantem à sua volta ao ponto de se questionar a sua própria existência. Dois mil anos... o que terá na realidade acontecido então para forjar uma religião? Onde está a verdade? - Não foi o Imperador Constantino que se converteu depois de ter perseguido os seguidores de Jesus, a bem da paz na sua sociedade?
Mas, acreditando ou não, Jesus é um personagem sedutor por quem nos apetece apaixonar. Richard Dawkins, cientista evolucionista, ateu assumido e declarado, o mais conhecido em todo o mundo, chegou a usar uma camisola, afirmando-se cristão...

 Raquel é uma jornalista fictícia que forjou uma entrevista a Jesus. Segue-se uma dessas entrevistas




RAQUEL - Atenção estudios! ... Nossa unidade móvel encontra-se já em Belém, cinco Kuilómetros a sul de Jerusalém. Viemos aqui com Jesus Cristo, que, conforme relatado em nossa edição anterior, foi apresentado de forma inesperada no mundo, embora sua presença não parece atrair muita atenção dos mídia. Dos ouvintes das Emissoras Latinas, sim. Bem-vindo de volta aos nossos microfones!

JESUS - Shalom, irmã, a paz para ti!

RAQUEL - Diga-me, Jesus Cristo, como se sente ao voltar para Belém, sua cidade natal?

JESUS – Por que dizes que é a minha terra natal?

RACHEL - Bem, porque… porque o senhor nasceu aqui em Belém há dois mil anos, certo?

JESUS - Acho que estás errada, Raquel. Eu não nasci aqui. Nem sequer conheço esta cidade…

RAQUEL - Não conhece Belém?

JESUS – Não, é minha primeira vez que vejo estas colinas.

RAQUEL - Deve haver alguma confusão porque… todo mundo sabe que o senhor nasceu aqui ... Olhe para os milhares de fiéis em fila para entrarem na Basílica da Natividade, aqui, à nossa esquerda, construída no lugar onde sua mãe o deu à luz...

JESUS - Onde foste buscar essa história, Raquel?

RACHEL - O que quer dizer onde? Está escrito na sua biografia, no Evangelho de Lucas. Todo o nosso público sabe a história.

JESUS – Com que então Lucas, pois… já imagino como apareceu essa história de Lucas… e tu que és jornalista vais entender muito bem.

RAQUEL - Sim, explique-me, porque ...

JESUS - Olha, Raquel, aqui em Belém, mil anos antes de mim nasceu o rei David, o rei mais amado do nosso povo e Lucas, provavelmente, para me favorecer e apresentar-me também como rei, como um novo David, fez-me nascer aqui.

RAQUEL - E o censo do Imperador César Augusto, e José e Maria que vieram aqui registá-lo montados num jumento? Não foi isto que aconteceu?

JESUS - Bem, eu me lembro que os romanos fizeram um censo para nos cobrar mais impostos. Mas isso foi não sei quantos anos depois de eu ter nascido. Lucas, que era muito imaginativo, deve ter sabido da história e colocou-a no seu evangelho.

RAQUEL – Então… o evangelista mentiu?

JESUS - Eu não diria isso. Lucas estava muito impaciente para pregar o reino de Deus e encontrou um em Belém um lugar, como vamos dizer… poético, para eu nascer.

RAQUEL - E não se passou um pouco a mãozinha sobre o evangelista Lucas?

JESUS - Talvez ... mas o importante não é onde se nasce, mas onde se trabalha e luta ...

RAQUEL - Em suma, onde nasceu o senhor?

JESUS - Em Nazaré, onde havia de ser? Por isso todos me conheciam como Jesus de Nazaré.

RAQUEL - E os anjos ... e a estrela ... e os reis magos?

JESUS – Falaremos disso mais tarde, Rachel. Sabes que mais? Tenho curiosidade de entrar naquela igreja e ouvir o que o pregador vai dizer… não me vá parecer com Lucas e inventar demasiado também! Lucas e tornar-se também!

RAQUEL - Amigos, enquanto Jesus Cristo entra na Basílica da Natividade, a nós, nos ficam muito perguntas no ar. Se um evangelista inventou o nascimento de Jesus em Belém, o que não teriam inventado os outros?

Raquel Perez, de Belém em Judá.

quinta-feira, novembro 16, 2017

Trump, o Tosco – “Presidente das Ilhas Fiji”.

 



O planeta Terra é a nossa casa e nenhuma outra analogia saiu tão certeira como esta porque ela é óbvia, mas não basta afirmá-lo, é indispensável que nos comportemos como tal, como um dono responsável, porque não temos outra e não podemos pensar que basta um simples anúncio de “Casa Aluga-se” para que nos surja uma alternativa. Não esqueçamos que não fomos nós que a fizemos. Foi ela que nos fez a nós...

É estranho, que seja precisamente um homem do mercado imobiliário, que estampa o seu nome nos prédios com que faz fortunas, não perceba que tratar mal a nossa “casa” é a mesma coisa que dar tiros nos nossos pés e de seguida correr para os hospitais para que alguém nos socorra.

A miopia de Trump, Presidente dos EUA, a maior e mais poderosa nação do mundo, é aflitiva, roça a cegueira mental, e não fosse ela uma democracia em que o exercício do poder político está regulamentado e condicionado, e poderíamos estar num caminho para o abismo.
Teve agora lugar em Paris uma Conferência onde estiveram representados 147 países do mundo para discutir e decidir sobre as alterações climáticas. Nesta Conferencia sobressaiu a tomada de posição de Trump que considera esta uma questão bizantina, inventada pelos chineses para ganharem na concorrência com o EUA. : –“Aquecimento global é uma farsa”. A partir de hoje, os Estados Unidos cessarão toda a implementação do Acordo de Paris e os encargos financeiros e económicos draconianos que o acordo impõe ao nosso país.”
Vamos começar negociações para reentrar no Acordo de Paris ou numa nova transacção que seja mais justa -  disse Trump, na Casa Branca.
Felizmente, esta miopia a roçar a cegueira mental do Presidente dos EU está longe de ser partilhada pelos próprios responsáveis da economia, cujo processo produtivo avança com processos cada vez mais limpos, como o provou o Presidente Mácron admitindo que as alterações climáticas “são o mais importante desafio que a humanidade enfrenta neste século” afirmando, também, que a França quer ser líder neste combate estabelecendo parecerias com outros países europeus nas energias renováveis e pondo fim em solo francês a todas as unidades de exploração e produção de energia a carvão até ao ano de 2021.
Merkel, foi, assim, ultrapassada nesta Conferencia do Clima que teve lugar, ontem, em Bona, por Mácron, da França, que chamou a si um papel de liderança nesta luta.
Guterres, que se estreou como Secretário - Geral das Nações Unidas, acabou por ficar obscurecido pelo Presidente francês.
Merkel não apresentou um horizonte definido para o fim do carvão do qual o seu país ainda depende numa percentagem muito significativa para a produção de energia, limitando-se a dizer que “é preciso fazer mais no esforço contra as alterações climáticas”.
António Guterres pediu aos representantes na Conferencia para aumentarem os preços das taxas de emissões de carbono porque há metas a cumprir, já definidas, quanto ao volume dessas emissões de carbono no Acordo de Paris.
Os países têm de pagar taxas sobre as suas emissões de carbono e, neste momento, apenas 13% dessas emissões estão a ser taxadas quando deviam abranger, pelo menos, 50%.
Para Trump, tudo isto não passa de uma invenção dos chineses na guerra da concorrência com os E.U. mas Trump, é a vergonha dos americanos de tal forma que são as próprias empresas da América, conscientes da sua responsabilidade num futuro mais saudável para a humanidade, que já estão a tomar medidas contra as emissões.
As preocupações de um Presidente, tosco, ou a falta delas, não pode ser guia para nenhum país nem para nenhum responsável, seja ele de que país for.
Trump deveria ter sido eleito Presidente das Ilhas Fiji, sem querer ofender tão simpáticos habitantes que não o mereceriam, de certo, mas, na realidade, a dimensão de uns e do outro ficavam melhor equilibradas e sem perigo de maior para o mundo.

quarta-feira, novembro 15, 2017

    

Resultado de imagem para fiat 127 dos antigosA LENDA DO FIAT 127! 
















Certo dia, estava eu na estrada com o meu FIAT 127, e como era de esperar, a lata velha avariou.

Então, encostei a relíquia na berma e fiquei à espera que passasse alguém.
Apareceu um Porsche Boxter bi-turbo, a 170km/h.


Nisto, o tipo do Porsche faz marcha-atrás e volta até ao FIAT e 
oferece-se para rebocar a porcaria do FIAT e eu aceitei a ajuda, mas pedi para não acelerar muito senão a lata velha desmantelava-se como (óbvio).

E combinei que piscaria o farol sempre que o Porsche estivesse a acelerar demais.

Então, o Porsche começou a rebocar o carro e sempre que passava dos 60km/h, eu fazia sinal com o farol (no singular) porque, para variar, um deles tinha um curto-circuito e não funcionava.

E o tipo do Porsche ia puxando a 'batedeira' a 60 km/h no máximo, morrendo de tédio...

Então aparece um Mitsubishi 3000 GT, que "pica" o Porsche e este não não vai de modas e arranca! 120, 130, 150, 190, 210, 240 Km/h...
Eu já estava desesperado, a piscar o farol que nem um louco, e os dois alinhados...

Os tipos passam por uma patrulha da polícia, mas nem vêem o radar, que regista uns impressionantes 240 km/h! Daí, o polícia avisa pelo rádio a próxima patrulha:

- "Atenção, um Porsche vermelho e um Mitsubishi preto a disputar uma corrida a mais de 240 km/h na estrada, e ... juro pela minha santa mãezinha... um FIAT 127 colado à traseira deles a dar sinal de luz para ultrapassar!" 

segunda-feira, novembro 13, 2017

Resultado de imagem para as avós
A minha avó


pequenina








Depois dos cavalos de alta-escola, aqueles que fazem o “piafé”, ladeiam e dão saltos acrobáticos sem saírem do mesmo sítio, - estou a recordar um totalmente negro que vi pela última vez na televisão e que considero o animal mais perfeito e esbelto da natureza, - vem a mulher em segundo lugar com a desvantagem, quanto a esta, que uns anos passados depois da juventude, ganham rugas e cabelos brancos, algo que nunca vi nos cavalos. Estou-me a lembrar da Brigite Bardott que com os anos ficou simplesmente pavorosa e, no entanto, em jovem, foi das raparigas mais lindas da sua época.

Fico vidrado numa linda cara feminina e não devo ser só eu a gostar porque as revistas vendem imenso por trazerem nas capas as suas fotografias. Não é nenhuma afirmação machista mas, enquanto as rugas nos homens de idade lhes dão “glamour”, nas mulheres os anos nada lhes acrescentam excepção feita à minha avó paterna, pequenina, sempre de preto, feições impecáveis, plenas de dignidade.

Há pessoas que projectam uma imagem de si próprias que as protegem da velhice porque ela se sobrepõe aos anos e às rugas e nós só vemos essa imagem. Com a minha avó paterna aconteceu isso. Como todas as avós, envelheceu mas eu sempre e só lhe vi a imagem, a imagem da minha “avó pequenina” com o mesmo passinho andando de um lado para outro porque se esquecia sempre do que ia fazer.

Nunca me deu um beijo. Como mulher da aldeia, habituada à vida do campo, as ternuras passavam-lhe ao lado. Era fria e seca mas terno e sereno o seu olhar. Fui o seu primeiro neto mas isso não me valeu de nada no acesso aos mimos que não faziam parte do cardápio, para além das palavras calmas e olhar sereno, que mesmo sendo repreensões não passavam de avisos à navegação.

. “Julgas que não te vejo a “esfumaçares”aí em cima da oliveira? Espera que já vou dizer ao tê pai”...

– Nunca disse...

A minha outra avó, a mãe da minha mãe, era a antítese desta. Gorda, chegou a pesar 140 kg, era alegre e brincalhona. Pouco antes de morrer, o médico perguntou-lhe:

 - Dª Júlia, os dentes são seus? – São sim, Srº Dr., que já os paguei. Fazia graça mesmo à hora da morte...

Embora tivesse casa em Lisboa era da aldeia de Paio Pires que vivia, sendo dona do terreno onde veio mais tarde, a ser construída a Siderurgia Nacional. A porta da sua casa estava sempre aberta. Como era muito gorda custava-lhe levantar – se e assim, a casa da ti Júlia da Quarela estava sempre aberta para a vizinhança, especialmente a criançada.

Duas avós, duas mulheres que nada tinham em comum: uma não dava beijos nem brincava e a outra o oposto: brincava, contava anedotas e era beijoqueira...

Gostava delas igualmente. Recordá-las, é voltar a ser menino...


domingo, novembro 12, 2017

Resultado de imagem para os pobrezinhos"Os Pobrezinhos"





















Na minha família os animais domésticos não eram cães nem gatos nem pássaros; na minha família os animais domésticos eram pobres. Cada uma das minhas tias tinha o seu pobre, pessoal e intransmissível, que vinha a casa dos meus avós uma vez por semana buscar, com um sorriso agradecido, a ração de roupa e comida.

Os pobres, para além de serem obviamente pobres (de preferência descalços, para poderem ser calçados pelos donos; de preferência rotos, para poderem vestir camisas velhas que se salvavam, desse modo, de um destino natural de esfregões; de preferência doentes a fim de receberem uma embalagem de aspirina), deviam possuir outras características imprescindíveis: irem à missa, baptizarem os filhos, não andarem bêbedos, e sobretudo, manterem-se orgulhosamente fiéis a quem pertenciam. Parece que ainda estou a ver um homem de sumptuosos farrapos, parecido com o Tolstoi até na barba, responder, ofendido e soberbo, a uma prima distraída que insistia em oferecer-lhe uma camisola que nenhum de nós queria:

- Eu não sou o seu pobre; eu sou o pobre da minha Teresinha.

O plural de pobre não era «pobres». O plural de pobre era «esta gente». No Natal e na Páscoa as tias reuniam-se em bando, armadas de fatias de bolo-rei, saquinhos de amêndoas e outras delícias equivalentes, e deslocavam-se piedosamente ao sítio onde os seus animais domésticos habitavam, isto é, uma bairro de casas de madeira da periferia de Benfica, nas Pedralvas e junto à Estrada Militar, a fim de distribuírem, numa pompa de reis magos, peúgas de lã, cuecas, sandálias que não serviam a ninguém, pagelas de Nossa Senhora de Fátima e outras maravilhas de igual calibre. Os pobres surgiam das suas barracas, alvoraçados e gratos, e as minhas tias preveniam-me logo, enxotando-os com as costas da mão:

- Não se chegue muito que esta gente tem piolhos.

Nessas alturas, e só nessas alturas, era permitido oferecer aos pobres, presente sempre perigoso por correr o risco de ser gasto - esta gente, coitada, não tem noção do dinheiro... de forma de deletéria e irresponsável.

O pobre da minha tia Carlota, por exemplo, foi proibido de entrar na casa dos meus avós porque, quando ela lhe meteu dez tostões na palma recomendando, maternal, preocupada com a saúde do seu animal doméstico:

- Agora veja lá, não gaste tudo em vinho

o atrevido lhe respondeu, malcriadíssimo:

- Não, minha senhora, vou comprar um Alfa-Romeo

Os filhos dos pobres definiam-se por não irem à escola, serem magrinhos e morrerem muito. Ao perguntar as razões destas características insólitas foi-me dito com um encolher de ombros

- O que é que o menino quer, esta gente é assim e eu entendi que ser pobre, mais do que um destino, era uma espécie de vocação, como ter jeito para jogar bridge ou para tocar piano.

Ao amor dos pobres presidiam duas criaturas do oratório da minha avó, uma em barro e outra em fotografia, que eram o padre Cruz e a Sãozinha, as quais dirigiam a caridade sob um crucifixo de mogno. O padre Cruz era um sujeito chupado, de batina, e a Sãozinha uma jovem cheia de medalhas, com um sorriso alcoviteiro de actriz de cinema das pastilhas elásticas, que me informaram ter oferecido exemplarmente a vida a Deus em troca da saúde dos pais. A actriz bateu a bota, o pai ficou óptimo e, a partir da altura em que revelaram este milagre, tremia de pânico que a minha mãe, espirrando, me ordenasse:

- Ora ofereça lá a vida que estou farta de me assoar e eu fosse direitinho para o cemitério a fim de ela não ter de beber chás de limão.

Na minha ideia o padre Cruz e a Saõzinha eram casados, tanto mais que num boletim que a minha família assinava, chamado «Almanaque da Sãozinha», se narravam, em comunhão de bens, os milagres de ambos que consistiam geralmente em curas de paralíticos e vigésimos premiados, milagres inacreditavelmente acompanhados de odores dulcíssimos a incenso.

Tanto pobre, tanta Sãozinha e tanto cheiro irritavam-me. E creio que foi por essa época que principiei a olhar, com afeto crescente, uma gravura poeirenta atirada para o sótão que mostrava uma jubilosa multidão de pobres em torno da guilhotina onde cortavam a cabeça aos reis"

António Lobo Antunes (Livro de Crónicas)

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