sábado, novembro 08, 2008

Gal Costa -- Eu sei que vou-te amar

Sozinho -- Caetano Veloso



Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
Que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
Que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou-se com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.


AUSÊNCIA



Por muito tempo achei que ausência é falta
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje, não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres,
Porque a ausência, essa ausência assimilada,
Ninguém a rouba mais de mim.



Carlos Drumon de Andrade


O Amor Romântico e a Religião

Helen Fisher, uma das mais reputadas antropólogas norte-americanas, Profª. na Rutgers University, chama a atenção para uma evidência que é a desproporcionada dimensão dos nossos sentimentos amorosos comparado com o que seria o estritamente necessário.

Vejamos, do ponto de vista de um homem, por exemplo, é pouco provável que uma mulher sua conhecida seja cem vezes mais encantadora do que a sua concorrente mais próxima e, no entanto, é assim que ele provavelmente a descreve quando está apaixonado por ela.

Seria mais racional uma qualquer espécie de “poliamor” do que esta devoção fanaticamente monógama a que somos tão susceptíveis.

Aceitamos perfeita e alegremente amar mais que um filho, gostar de mais que um vinho, uma música, um livro ou um desporto, etc., mas não achamos estranho a total exclusividade que esperamos do amor conjugal.

Porquê? Tem de haver uma razão.

Hellen Fisher e outros demonstraram que o estar apaixonado se faz acompanhar de estranhos e invulgares estados cerebrais que incluem a presença de químicos que actuam no sistema neurológico, verdadeiras drogas naturais características desse estado.

Os psicólogos da evolução concordam que este comportamento irracional pode ser um mecanismo que assegura a fidelidade de um co-progenitor o tempo suficiente para criarem juntos a criança.

Do ponto de vista darwiniano, é importante escolher um bom parceiro mas depois da escolha estar feita, mesmo que ela seja má, é mais importante assumir a escolha e arrostar com todas as adversidades, pelo menos até a criança estar desmamada.

Será a religião irracional um subproduto dos mecanismos de irracionalidade, que por via da selecção, foram originariamente incorporados no cérebro com vista ao enamoramento?

É verdade que a fé religiosa tem aspectos em comum com o enamoramento e ambas têm muitas das características da euforia induzida por uma droga viciante, no entanto, o neuropsiquiatra John Smythies adverte que existem diferenças significativas entre as áreas do cérebro activada pela religião e o enamoramento, mas também observa algumas semelhanças.

Uma das muitas facetas da religião é o amor intenso centrado numa pessoa sobrenatural, ou seja, em Deus, acompanhado pela veneração de ícones (palavra que vem do grego “eikon” e significa imagem) dessa pessoa.

A vida humana é, em grande parte, impelida pelos nossos genes egoístas e por processos de reforço e este é grande no caso da religião: sentimentos reconfortantes e calorosos por sermos amados e protegidos num mundo perigoso, pela perda do medo da morte, auxílio vindo não se sabe de onde em resposta a preces em tempos difíceis, etc.

Da mesma maneira, também o amor romântico por outra pessoa apresenta a mesma concentração intensa no outro e reforços positivos correlacionados.

Também estes sentimentos podem ser desencadeados por íconos da pessoa amada: cartas, fotografias, madeixas de cabelo para além de se fazer acompanhar de manifestações fisiológicas como, por exemplo, suspirar longa e repetidamente.

Esta semelhança numa relação de amor por outra pessoa e por Deus está bem patente no relato de um padre católico sobre os seus primeiros tempos de sacerdócio em que recorda a exaltação dos primeiros meses em que teve o poder de rezar missa:

-“ Normalmente lento e preguiçoso a levantar-me de manhã, agora saltava cedo da cama bem desperto e muito entusiasmado só de pensar no momentoso acto em que tinha o privilégio de desempenhar…”

- “ O tocar o corpo de Cristo, a proximidade entre o padre e Jesus, era o que mais me fascinava. Olhava fixamente para a hóstia, depois das palavras da consagração, de olhar lânguido como um amante que mira os olhos da sua amada…”

- “ Esses primeiros tempos de padre permanecem na minha memória como dias de realização e de fremente felicidade; algo de precioso e ao mesmo tempo demasiado frágil para durar, como um caso amoroso cedo interrompido pela realidade de um casamento incompatível.”

É conhecida a famosa visão orgástica/mística de Santa Teresa de Ávila representada numa bela escultura em mármore de Bernini, para a Capela do Cardeal Frederico Cornaro e que encima, à direita, este texto.

É uma escultura da arte barroca que representa Santa Teresa, plena de sensualidade e movimento, ferida por uma seta de amor divino disparada por um anjo que bem nos lembra Cupido.

O biólogo Lewis Wolpert adianta uma sugestão que pode ser vista como uma generalização da ideia de “irracionalidade construtiva”.

Sustenta ele que para um espírito inconstante, uma convicção irracionalmente poderosa funciona como protecção:

- “Se as crenças capazes de salvar vidas não fossem fortes, isso teria sido desvantajoso nos primórdios da evolução humana. Teria sido uma séria desvantagem, por exemplo, ao caçar ou ao fabricar ferramentas, estar sempre a mudar de ideias”.

Por outras palavras, em determinadas circunstâncias é preferível insistir numa crença irracional do que hesitar, mesmo que nova evidência ou o raciocínio aconselhem a mudança.

No seu livro Social Evolution, Robert Trivers, desenvolveu a sua teoria de auto-ilusão que consiste em:

- “Esconder a verdade do plano consciente a fim de melhor a ocultar dos outros. Dentro da nossa espécie reconhecemos que olhos esquivos, mãos transpiradas e voz rouca podem ser sinal da tensão própria de quem conscientemente sabe que está a tentar enganar alguém. Ao tornar-se inconsciente da sua mentira, aquele que engana esconde do observador estes sinais. Ele ou ela podem mentir sem o nervosismo que acompanha o engano.”

O antropólogo Lionel Tiger diz algo parecido sobre este tipo de “irracionalidade construtiva”sobre a qual temos vindo a reflectir:

-“ Os humanos têm uma tendência consciente para verem aquilo que querem ver e, literalmente, dificuldade em ver coisas que tenham conotações negativas, ao passo que vêm com muita facilidade as positivas.”

A pertinência que isto tem para a religião é óbvia, nomeadamente no que tem a ver com tomar os desejos pela realidade.

Richard Dawkins defende a teoria geral de que a religião é um subproduto acidental, um tiro falhado de algo útil mas, sobre esta teoria, continuaremos no próximo texto uma vez que já não se enquadra no título que demos a este.

Conselhos de um velho apaixonado - Versos de Drumond de Andrade

sexta-feira, novembro 07, 2008

Lionel Richie - Say you say me

Frank Pourcel -- Danúbio Azul

Joan Baez Diamonds and Rust (1975)

Nat King Cole -- Unforgettabel

Tango Fire -- La Cumparsita


MUDANÇA






Esta foi a palavra-chave da campanha de Obama.

Mudança, objectivo que não deve ser fácil de alcançar porque, logo de seguida, dizia-se : “Ies, Whe Can”, como forma de estímulo e encorajamento para se chegar a ela.

Quem nasceu em Portugal em 1939, compreende melhor esta coisa da mudança porque, durante a primeira parte das suas vidas nada mudou, mais, ela era rigorosamente proibida e quem a tentasse corria sérios riscos.

Obama é um candidato a operar essa mudança de acordo com as promessas e objectivos que anunciou ao povo americano e se alguém tem créditos e apoios para o conseguir é exactamente ele.

Em todas as sociedades existe uma espécie de “desequilíbrio estável” que se mantém enquanto as tensões que o suportam resistem.

Trata-se de situações dinâmicas nas quais, permanentemente, se fazem ou tentam fazer-se reajustamentos para que esse “desequilíbrio estável” não se quebre pois há uma resistência natural à mudança.

Nós somos, bem vistas as coisas, conservadores natos, mais não seja por uma questão de comodismo, os nossos genes estão mandatados para fazerem cópias fiéis de si próprios para que na geração seguinte nada mude, e se atentarmos bem na história das revoluções lembramo-nos que quando elas se anunciam pretendem mudar tudo para depois, mais tarde, descontadas as alterações registadas ao nível dos protagonistas, no essencial, é muito pouco aquilo que muda.

Mas há erros de sistema, quer ao nível político, quer económico que se acumulam, agravam até provocarem rupturas a exigirem mesmo mudanças.

Aconteceu em Portugal com a revolução do 25 de Abril, tinha acontecido antes na Rússia com a revolução bolchevique em Fevereiro de 1917.

As mudanças anunciadas por Obama não são fruto de nenhuma revolução, ele conquistou o direito de as implementar através de eleições, não porque a sociedade americana tenha deixado de ser o que é, maioritariamente conservadora, mas porque os americanos estão desesperados como nunca estiveram há muitas décadas e no momento destas eleições, Obama apareceu providencial e magistralmente a falar de esperança quando esta parece ser a última coisa que resta a milhões de seus concidadãos.

O desequilíbrio registou-se ao nível do sistema financeiro que vivia num equilíbrio cada vez mais precário até ao seu desmoronamento e agora atrás do financeiro, inevitavelmente, vem o económico, aquele que dá trabalho às pessoas e cria a verdadeira riqueza.

Fala-se de um desregulamento do sistema de crédito ao imobiliário pelos bancos de financiamento americanos, mas há também outros problemas de fundo provenientes de relações comerciais que se liberalizaram em condições de desigualdade.

Nos últimos 15 anos centenas de milhões de chineses foram tirados da miséria dos campos para integrarem uma actividade industrial num país autoritário em que os direitos dos trabalhadores não existem e a moeda é mantida artificialmente a baixas cotações para facilitar as exportações o que tem permitido à China taxas de crescimento económico de dois dígitos.

A melhoria do nível de vida das populações dos países que agora se chamam de emergentes era um problema que a humanidade tinha e tem que resolver e a globalização parecia ser, e é, o caminho para atingir esse objectivo mas há regras, princípios que têm de ser observados.

Os negócios à escala planetária atingiram dimensões nunca vistas, os milionários passaram a bilionários e os interesses destas pessoas sobrepôs-se aos interesses dos cidadãos sejam eles de que país forem.

Esqueceu-se que o sistema de economia de mercado que permite que as pessoas enriqueçam pela sua natural ambição, qualidades de trabalho e de imaginação, não dispensa um acompanhamento atento do poder político que tem a estrita obrigação de defender o normal funcionamento desse sistema que é aquele que melhor nos garante a liberdade e se ajusta à nossa natureza.

Mas este problema ultrapassa Barack Obama.

Restabelecer a confiança no mercado e nos seus agentes é uma questão que só pode ser resolvida por todos e com algum tempo, independentemente do muito que há a fazer no campo das reformas, principalmente do sistema financeiro e fiscal.

A confiança e a credibilidade são aspectos de natureza psicológica que têm mais a ver com comportamentos instintivos do que racionais.

Personalidades como Obama com responsabilidades no plano internacional emprestam credibilidade e ajudam à confiança no sistema político, mas é evidente que só por si não o podem resolver.

De resto, ele próprio já afirmou que relativamente a muitas das suas promessas e objectivos, dois ou três anos ou mesmo um único mandato, serão insuficientes o que significa que os problemas estruturais com que a sociedade americana se debate levam anos a resolver, especialmente numa situação de crise económica e financeira a qual, se é certo que o ajudou a ganhar as eleições, vai agora criar-lhe dificuldades acrescidas na governação.

Mas, com a ajuda da crise ou sem ela, os americanos ao elegerem Obama como seu Presidente, com mais 4.572.813 votos populares e 338 votos eleitorais contra 156 de Mcain, estão de parabéns e subiram muito, um pouco por todo o mundo, no conceito das pessoas, cansadas de Bush que acabou o seu mandato de forma perfeitamente humilhante com 27% de simpatizantes.

Em 1957, Luther King dizia:

- “Dêem-nos um boletim de voto e desta noite negra nascerá uma aurora de justiça”, mas só em 1965 o Presidente Lyndon Johson assinou a lei que acabava com as restrições de voto dos negros em todo o país, e em 4 de Novembro de 2008, 43 anos mais tarde, deram-lhe um Presidente!

Estou perfeitamente certo que Obama irá deixar a América e o mundo melhores do que os recebeu porque as suas enormes qualidades humanas e de inteligência, demonstradas ao longo de toda a sua vida sem falhas ou hiatos, nos obrigam a criar essa expectativa e a história é feita por homens e o futuro será o que eles construírem e…tenhamos esperança e façamos todos por isso.

quarta-feira, novembro 05, 2008

Percy Sledge -- Take Time To Know Her

Nana Mouskouri -- Je Chante Avec Toi Liberté

Nana Mouskouri -- The Power of Love


Acabou-se…
Finalmente, temos Obama!







Confesso que também eu me envolvi demasiado, do ponto de vista emocional, em todo o processo de candidatura de Barack Obama, primeiro com Hillary Clinton, no seio do partido democrata e finalmente, à escala de todo o país, numa disputa com um carismático concorrente republicano, um velho herói da guerra do Vietnam feito prisioneiro que honrou a sua farda de militar resistindo com coragem e dignidade a esse teste máximo que são os campos de prisioneiros de guerra.

A campanha eleitoral de Obama foi exemplar porque num momento de muitas dificuldades para a América e o resto mundo, ele não só disse a palavra mágica, como foi capaz de a transmitir com uma tal convicção interior que a fez passar para dentro do coração de uma grande maioria dos milhões de americanos que na última madrugada foram às urnas votar.

Esperança, foi a palavra mágica, “ies we can”, transformou-se na receita que mobilizou e mexeu com a sensibilidade dos americanos que perceberam, que não tendo já mais nada a perder, só lhes restava seguirem aquele homem que os olhava, olhos nos olhos, com um semblante sempre sereno e lhes estendia a mão num gesto de fraternidade.

As suas palavras e o seu aspecto com o seu “quê” de messiânico impressionavam quem o ouvia mas o conteúdo dos seus discursos eram ditados por uma grande inteligência, equilíbrio e ponderação, como foi, por exemplo, o discurso que fez sobre o tema da religião, que podem encontrar neste blog legendado, e que constituiu a mais bela peça oratória de um político candidato a Presidente dos EUA sobre um assunto de um tão grande melindre, numa sociedade tão profundamente religiosa, parte dela representada pela candidata Pallin, constitui mesmo uma facção fundamentalista que se rege pelo Velho Testamento e para quem Deus é uma perigosa fixação sempre pronto para justificar as decisões mais bélicas e violentas pela razão muito simples de que…Deus quis.

Cerca de 20% da população encontra-se neste grupo e outros tantos são apenas mais moderados, os restantes são simplesmente religiosos que acreditam em Deus.

Ter conseguido fazer o discurso que fez sobre este ponto tão importante marcando, em definitivo, qual a sua posição após a intervenção desastrada de um reverendo seu amigo, não mostrou apenas os seus extraordinários dotes de orador, mas também uma inteligência brilhante e uma sensibilidade a toda a prova.

Para o bem e para o mal, a história tem-nos presenteado com homens que marcaram épocas, que viraram destinos que, por razões diferentes, se impuseram a todos os outros.

Hoje, isso é cada vez mais difícil porque com a globalização, quando dizemos todos são mesmo todos e perante um certo “cinzentismo” dos homens políticos dos dias de hoje, Obama pode ser o político que o mundo estava espera.

Ele carrega consigo a riqueza genética e cultural de duas raças, a inteligência, a sensibilidade, a segurança, a tranquilidade e os conhecimentos de um homem que sempre esteve preocupado com os outros e com a sociedade e por isso, saber se ele vai ter já ou não os meios financeiros necessários para implementar Serviços de Saúde para os americanos que não têm dinheiro para pagar o respectivo Seguro, não me parece que deva ser factor de pressão e de crítica... ele é simplesmente um homem e não um mágico.

Fiquei muito feliz com a sua eleição e, naturalmente, esperançado num desanuviamento e melhoria das relações entre os EUA e o mundo que passem a ter como base mais diálogo e mais diplomacia com o reforço das grandes Instituições Internacionais que assegurem mais paz e mais e mais justiça para todos os povos.

A minha convicção sincera é que Barack Obama é o homem que tem capacidade para dar um empurrão nesse sentido, e se atentarmos nas manistações de júbilo e alegria esponpontânea das pessoas, um pouco por todo o mundo, dir-se ia que a vitória de Obama nos EUA ultrapassaram, em muito, as fronteiras daquele país.

segunda-feira, novembro 03, 2008


A GEBALIS







Confesso que tenho pouca paciência para as notícias em que os políticos se acusam uns aos outros e nas quais, acusadores e acusados variam apenas em função do partido em que militam.

Nós gostaríamos de ver a justiça actuar e saber mais tarde, mas em tempo útil, quem é que, afinal, tem razão. Como tal não acontece, os cidadãos vão-se desinteressando destas lutas, cansados de saber que elas não vão dar em nada, e este é exactamente o campo ideal que estimula a actividade “abusadora” (na ausência de sentenças transitadas em julgado que outro nome podemos usar?) de certos políticos em certos cargos.

A anterior Administração da Gebalis, empresa pública que gere 70 bairros municipais de Lisboa, era presidida por Francisco Ribeiro (PSD), Clara Costa (PSD) e Mário Peças (PS).

O primeiro e o último, Ribeiro e Peças, tinham direito, cada um deles, a 3 (três) cartões de crédito da empresa – um do BES com um limite de 7.500 euros, um do BPI com 10.000 euros e mais um ainda do Millenium BCP de 5.000 euros, isto é, um total de 22.500 euros mensais.

Clara Costa tinha 2 (dois): um do BES de 7.500 euros e outro do Millenium BCP de 5.000.

Muitas das despesas efectuadas com este dinheiro e por estas pessoas já foram divulgadas na comunicação social e a natureza de muitas delas deveria constituir motivo de vergonha para nem sequer saírem de casa.

Entre 2006 e 2007 os três administradores gastaram em despesas pessoais um total de 200.000 euros do erário público, verba que constitui um valor superior aos ganhos obtidos pela Gebalis em 2006, (124.000 euros) que viu o seu passivo crescer para mais do dobro (de 4,6 para 9,6 milhões de euros) ao longo deste período.

Não vamos agora querer saber quais as ligações de qualquer uma destas três pessoas a outros responsáveis políticos, nem qual destes terá sido o responsável por colocar estes senhores e esta senhora nestes lugares.

Pensemos apenas no grau de cumplicidade que se estabeleceu ou reforçou entre eles e se, no futuro, será possível evitar que estes “favores” não venham a ser pagos, num exemplo perfeito da cadeia de interesses de uma classe que vive e engorda à custa das funções que exercem na Administração Pública, Institutos Públicos e nesta autêntica mina que inventaram que são as Empresas Públicas Autárquicas.

Quem foi o responsável pela instalação destes privilégios nestas empresas?

Que espécie de justificação foi dada para a sua existência?

Esta administração foi demitida em bloco, os dois senhores do PSD e o do PS, por António Costa sob proposta de Ana Sara Brito, vereadora da Câmara pelo PS na área da Habitação Social e o primeiro acto da nova Administração foi solicitar uma auditoria à gestão e aos gastos dos ex – administradores do que resultou uma acusação do Ministério Público.

Luís Natal Neves, o novo Presidente da Administração da Gebalis, não tem nenhum cartão de crédito da empresa para despesas pessoais e decidiu trocar a frota de Audis, topo de gama, da anterior Administração, por vulgares Renaults e no primeiro trimestre de 2008 a empresa já apresentou resultados positivos.

Em primeiro lugar, os administradores que desbarataram em seu proveito dinheiros públicos deverão ser obrigados a repor todo esse dinheiro, independente de outras penas correspondentes aos crimes que cometeram e que os juízes venham a decidir em julgamento.

Em segundo lugar, estas empresas públicas autárquicas que não existiam antes e que constituem hoje uma espécie de administração pública indirecta, independentemente de se justificarem ou não pelos resultados que conseguem, têm sido aproveitadas para a colocação nos seus Concelhos de Administração de pessoas que vagueiam na orla dos partidos e que saltam de empresas para empresas na teia de interesses pessoais recíprocos que minam a democracia.

Resolveu-se agora o problema da Gebalis, a situação ficou “moralizada” mas… para sempre?

E os estatutos destas empresas continuarão a permitir a atribuição de cartões de crédito no valor de milhares de euros por mês e de automóveis topo de gama aos seus administradores?

Ou continuamos dependentes da honestidade de pessoas como o Sr. Luís Natal Marques, o novo presidente da Gebalis?

Esta desonestidade, para não utilizar palavrões técnicos, com que esta “gente” exerce as suas funções é dos mais perigosos vírus da democracia, minando a confiança dos cidadãos na classe política onde, felizmente, muitas pessoas competentes e sérias se esforçam para a “coisa” pública até com prejuízo de si próprias.

Por isso, os legisladores têm que ser pessoas avisadas e não criarem na lei a possibilidade de aproveitamentos abusivos como aqueles que ocorreram na Gebalis mas, é evidente, que são os políticos sérios e honestos que têm que prever e evitar estas situações.

Eros Ramazotti -- Ti Amo

Laura Pausini - Eros Ramazotti -- Volare

Tina Turner -- What's Love do With It

domingo, novembro 02, 2008


Miguel Sousa Tavares






Miguel Sousa Tavares é escritor e um homem da comunicação social escrita, falada e televisionada mas é, para além de tudo isso, uma pessoa de fortes convicções que defende com ardor e coerência causas que têm a ver com valores que nos são queridos, como a defesa da natureza, dos espaços públicos nas cidades, a justiça, a defesa das pessoas anónimas contra os detentores da riqueza fraudulenta e do poder opaco dos políticos exercido de forma suspeita quanto aos beneficiários das suas decisões.

Por tudo isto, Miguel Sousa Tavares é uma pessoa da minha simpatia como já o era o seu pai, incorrigível defensor da liberdade, na primeira linha do 25 de Abril, rebelde a um certo tipo de autoridade e de disciplina que chegou ao extremo de desafiar um oficial do exército, seu superior, para um duelo à espada para dirimir um desacordo que na sua opinião constituía motivo suficiente para ser resolvido pelo sangue.

Da mãe, Sophia de Mello Breyner, o seu valor como uma das maiores poetisas portuguesas do século XX, dispensa qualquer referência e portanto, Miguel S. Tavares, herdou qualidades genéticas de grande potencial as quais, na minha opinião, não tem desiludido.

É evidente que há nele um “toque” de “alta sociedade” que tem a ver com as suas origens de menino privilegiado mas isso é inevitável, como diz o povo, “o que o berço o dá só a tumba o leva” e ninguém pode ser responsabilizado pelas suas origens sejam elas quais forem…importante é o que vem depois.

Talvez por isto, Miguel S. Tavares gostaria de um Alentejo onde as lebres e as perdizes pudessem correr e voar livremente e uma costa vicentina onde a paisagem continuasse virgem apenas modificada pelos inevitáveis factores da erosão natural.

Sinceramente, eu também gostava muito desse Alentejo, especialmente se, por artes mágicas, pudessem lá repor os alentejanos e as alentejanas de há sessenta anos atrás para emprestarem àqueles campos uma nota de vida e de cor.

Mas não devemos ser egoístas, os quadros sociais não devem ser vistos na óptica daquilo que agrada à nossa vista e à nossa sensibilidade, e eu não deveria gostar de um Alentejo que conheci em 1961, quando assentei praça no Regimento de Infantaria 16, em Évora, como Aspirante a Oficial Miliciano, para dar uma recruta antes de partir para a guerra de Angola.

Nomeado para alguns “Processos de Amparo” requeridos por soldados que pretendiam a dispensa da vida militar por serem os únicos suportes de vida das mães, fui obrigado a perceber as condições reais em que aquelas pessoas viviam nas regiões do grande latifúndio rural.

Não tinham nada de seu: um quintal, uma horta, apenas os braços para trabalhar quando o latifundiário precisava deles e fora desses períodos passavam fome e comiam as bolotas das azinheiras e dos sobreiros caídas no chão dos senhores da terra.

Pois é, nestas coisas, há sempre duas realidades que por vezes se chocam: a da natureza e a das pessoas, ornamentada esta, no caso do Alentejo, com os belos cantos alentejanos e os seus trajes tradicionais com os indispensáveis cajados, chapéus na cabeça e os lenços do pescoço.

A grande planície alentejana por onde o olhar se espraiava conferiu aos seus habitantes uma personalidade própria, desenvolveu-lhes um sentido comunitário bem evidente nos seus grupos de cantores e fez deles, em resultado das suas condições de vida, os únicos trabalhadores do campo em Portugal com um sentido apurado de classe operária.

Bem, mas voltemos a Miguel S. Tavares, agora envolvido na liderança de mais uma luta, desta vez contra o alargamento do cais de Alcântara para movimentar mais contentores que, acamados uns em cima dos outros atingirão, segundo ele, 15 metros de altura, 10 na versão dos responsáveis do porto, de qualquer forma os suficientes para privarem os cidadãos, especialmente os lisboetas, de usufruírem à vontade da beleza que é todo o estuário do rio Tejo do Mar da Palha até ao Farol do Bugio.

Mais uma vez compreendo Miguel S. Tavares e a minha vontade seria juntar-me a ele nesta luta, tanto mais que nasci em Lisboa, exactamente na continuação para leste daquela linha de costa, lá para os lados do Poço do Bispo, e durante os meus primeiros 12 anos de vida, no percurso quase diário do Poço do Bispo até ao Terreiro do Paço, só me lembro de ver porto e actividade portuária.

Não sei, neste momento, depois de ter olhado com mais atenção para os desenhos e fotografias do local, das explicações dadas pelos responsáveis do porto e pela reacção de centenas de pessoas que ali trabalham, se a razão lhe assiste na totalidade, mas o facto de ter obrigado a empresa e os responsáveis do porto a virem a público, pela 1º vez, explicarem-se melhor sobre o que vão fazer constitui, para já, uma boa vitória porque existem ali muitos aspectos, que não são simples pormenores, que devem ser bem esclarecidos.

Onde estou completamente de acordo sem qualquer espécie de reticências com MST é sobre a apreciação que ele faz hoje no Expresso sobre a actual crise, num artigo sob o título “O Fim de Um Mundo Falso”.

Num texto que aqui coloquei no dia 11 do passado mês e que denominei “O Âmago da Crise” procurei relacionar e explicar a actuação dos mais directamente responsáveis pela actual crise que começou por ser financeira e que, inevitavelmente, já está na economia, com a natureza dos nossos genes, os quais, de acordo com a teoria de Richard Dawkins, são egoístas, transcrevendo mesmo, a este propósito, uma passagem do seu livro.

É simples coincidência mas também eu, como agora MST, me socorri da pessoa de Greenspan, o “mago” da Reserva Federal na sua declaração perante o Senado dos EUA, que fez um “mea culpa” com uma tal sinceridade que me pareceu patética, aquilo que MST chamou de “declaração impressionante”.

Não há ética, moral ou escrúpulos que resistam à ganância por mais dinheiro, cada vez mais dinheiro, e se pensamentos houver, o que duvido, quanto às consequências para terceiros, eles serão de tal forma tímidos e envergonhados que não chegarão, sequer, a expressarem-se.

“Entregue a si mesmo, aos seus instintos mais primários, o homem é um animal perigoso, quer ande pela rua a deambular de revólver na mão ou sentado numa secretária a gerir o destino de milhares de famílias” escreve MST.

Pela minha parte repito o que escrevi no meu texto “ O Âmago da Crise”:

- “O Homem é, intrinsecamente, egoísta e desonesto, que é uma forma de ser egoísta e, portanto, não se espere dele aquilo que não está na sua natureza. Por isso, em sociedade, o homem tem de se defender de si próprio”.

Acrescento agora, perante a dimensão da crise que não sabemos ainda onde nos vai levar, que haja a coragem suficiente para que, à escala mundial, se adoptem as medidas certas porque o diagnóstico está feito, sem nunca esquecermos, mais uma vez, que o homem é animal perigoso a exigir uma dissuasora “rédea curta” que nada tem a ver com a liberdade mas antes com a responsabilidade.

Tom Jones - Love Me Tonight

Chiken Dance Song

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