sábado, abril 27, 2013

Para este sábado, véspera do descanso do Domingo para os que têm a sorte de ter um trabalho, escolhi este mail pelas suas belas imagens cheias de côr e, como todos sabemos, côr é vida... A música é de um Grupo, A Côr do Som" que fez êxito no começo da década de 80 no Rio de Janeiro.


"A Fé Move Montanhas"


Dizia Jesus que “a fé move montanhas” mas o que Jesus não sabia é que a fé movia uma substância chamada “endorfinas”, descobertas em 1975, e que funcionam como morfina natural que acalma a dor e faz sentir melhoras. Uma descarga de “endorfinas” pode fazer com que um doente se levante, recobre a vista, se cure. O Dr. Nicanor Arriola, ortopedista muito conhecido em Iquiros, Perú, relata a seguinte experiência:

- "Um dia um ancião, em cadeira de rodas, entrou no meu copnsultório com a sua família. Examinei-lhe os músculos e concluí que não tinha nada, sofria de uma "parelesia histérica". Então, recordando o que fazia Jesus, levantei-me, pus-me diante dele e com uma voz de autoridade e ternura disse-lhe: levanta-te e anda! e o ancião pôs-se de pé e cambaleante, caminhou até mim. A família considerou um milagre."

 O nosso corpo é a melhor farmácia que temos, reage às doenças e produz as substâncias curativas que necessitamos. O milagre somos nós próprios que os fazemos.

António Balduíno 

JUBIABÁ

Episódio Nº 2


Estavam numa raiva porque o negro apanhava. Eles haviam pago os três mil reis de entrada para ver o campeão baiano dar naquele branco que se dizia campeão da Europa Central.

E agora estavam assistindo era o negro apanhar. Não estavam satisfeitos, moviam-se inquietos e oram vivavam o branco, ora o vaiavam. E respiraram aliviados quando o gongo soou, dando fim ao round.

António Balduíno veio para o canto do ring se segurando às cordas. Aí, o homem magro que mordia o cigarro inútil, cuspiu e gritou:

 - Onde está o negro António Balduíno que derrubava brancos?

Aquilo António Balduíno ouviu. Bebeu um gole da garrafa de cachaça que o Gordo lhe oferecia e virou para a assistência, procurando o dono daquela voz.

Voz que voltou, metálica:

 - Quedê o derrubador de brancos?

Desta vez, parte da multidão acompanhou o homenzinho e disse em coro:

 - Quede? Quede?

Aquilo doeu a Balduíno como uma chibatada. Não sentia nenhum dos socos do branco, mas sentia aquela censura dos torcedores. Disse ao gordo:

 - Quando eu sair daqui dou uma surra neste sujeito. Marque ele…

E, quando soou o sinal de recomeçar a luta o preto se atirou em cima de Ergin. Pôs um soco na boca do alemão e em seguida um no ventre. A multidão reconhecia novamente o seu campeão e gritou:

 - Aí, António Balduíno! Aí, Baldo! Derruba ele…

O negro baixo voltou a ritmar pancadas nos joelhos. O magro sorria.

O negro continuava a dar e sentia uma grande raiva dentro de si.

Foi quando o alemão voou para cima dele querendo acertar no outro olho de Balduíno. O negro livrou o corpo com um gesto rápido e como a mola de uma máquina que se houvesse partido distendeu o braço bem por baixo do queixo de Ergin, o alemão.

O campeão da Europa Central descreveu uma curva com o corpo e caiu com todo o peso.

A multidão rouca, aplaudia em coro:

 - Bal-do…  Bal-do…  Bal-do…

O juiz contava:

 - … seis… sete… oito…

António Balduíno olhava satisfeito o branco estendido a seus pés. Depois passou os olhos pela assistência que o vaiara, procurando o homem que dissera que ele não era mais o derrubador de brancos. Como não o achasse, sorriu para o Gordo. O juiz contava:

 - …nove…dez…

Suspendeu o braço de Balduíno. A multidão berrava mas o negro só ouvia a voz metálica do homem do cigarro:

 - Aí negro, você ainda derruba brancos… 

sexta-feira, abril 26, 2013

IMAGEM
E o namorado que nunca mais chega...



Ontem foi 25 de Abril... A última aparição de Zeca Afonso. As pessoas do público, suas amigas e admiradoras sentem-no e muitas delas choraram. A doença estava a fazer o seu percurso final.

QUEM AMA REPARTE

O nosso respeitável sobreiro

As Árvores, Minhas 

Irmãs

Conta-se a história daquele homem que já muito velhinho, sentindo-se doente, saiu ao seu quintal e por momentos abraçou cada uma das suas árvores. Depois, regressou a casa, deitou-se e morreu tranquilo. Para ele, era indiferente que uma fosse figueira, outra laranjeira e três ou quatro oliveiras. A todas, ao longo de uma vida, tratara de igual modo. Regara-as, arrancara-lhes os ramos secos e tratara da terra que as possuía.

Elas, em troca, deram-lhe a sombra à qual se recolhia no fim das tardes solarengas de verão e os frutos: figos pretos de tamanho médio, doces e saborosos, laranjas grandes e sumarentas e azeitonas pretas que ele retalhava, demolhava para perderem o sabor azedo e depois temperava com sal e orégãos. Com nacos de pão de trigo caseiro eram o melhor acompanhamento.

Naqueles momentos em que percebera que a vida o ia abandonar não conseguiu evitar vê-las mais uma vez, tocar-lhes com afecto, no fundo… despedir-se delas.

De certa forma, é uma falácia afirmarmos que somos donos das árvores… Elas vivem muito mais tempo que nós. Já cá estavam quando nascemos, cá ficam depois de morrermos e as suas vidas correspondem à vida de gerações de pessoas. Algumas, chegam mesmo a manterem-se vivas durante séculos, para não referir já o velho pinheiro chamado de “matusálém”, na Califórnia, que pela contagem dos anéis, já leva 4.800 anos de existência.


Outras, pelo seu tamanho, deveriam ser consideradas monumentos da Natureza:

- As Sequóias “Sempre Verdes” da costa norte-americana do Pacífico batem todos os recordes chegando a atingir, a mais alta de todas, 115,6 metros. A Sequóia “Gigante”, a maior árvore do mundo, tem cerca de 1.500 m3 de volume o que significa que para a transportar seria necessária uma frota de 40 camiões TIR.


Da minha meninice trago comigo um sobreiro, um pinheiro manso e uma tangerineira. Guardei-as na minha memória com todo o carinho. O sobreiro era uma árvore centenária, enorme, cheia de “personalidade”, respeitável, como são todos os sobreiros velhos. Vivia no meio de um caminho que dava acesso a uma propriedade que o meu pai tinha de renda.


Não empatava o trajecto do velho Vauxal comprado logo a seguir à guerra, era eu ainda menino, porque ele aprendera a desviar-se e já lá tinha o trilho marcado para que não houvessem dúvidas no trajecto.

Um dia, o meu pai pensou no dinheiro que podia fazer com a sua madeira transformada em carvão e matou-o. Eu, garoto, infelizmente assisti. Vieram uns homens com uns machados e começaram a cortar-lhe as raízes que estavam fora da terra, para o enfraquecer. Depois ataram-lhe cabos de aço às pernadas mais altas e com alavancas e roldanas fixadas no chão puxaram, puxaram até que as raízes, escondidas debaixo da terra, rebentaram e ainda hoje sinto vontade de tapar as orelhas para não ouvir os roncos surdos que saíam das entranhas da terra, como se fossem gritos de protesto e de dor.

Uns anos mais tarde, foi a vez do pinheiro manso. Era muito alto, completamente direito e teria já muita idade. Estava sozinho naquela encosta numas terras, junto à aldeia, que eram do meu avô. No tempo das pinhas íamos debaixo dela – nós chamávamos-lhe “pinheira” porque nos parecia mais lógico. Dava-nos pinhas e no tempo delas íamos apanhá-las e à noite abríamo-las ao calor do fogo da lareira e era uma festa com as cascas dos pinhões a saltarem para todo lado ao sabor das marteladas e a minha avó a ralhar porque tinha de ser ela a varrer o que eu e o meu irmão sujávamos. Nunca mais voltei a comer pinhões tão saborosos.

Também um dia o meu pai o matou. A sua madeira, muito boa, depois de aparelhada, para a construção de casas, deve ter rendido bom dinheiro e durante toda a minha vida, sempre que passava na estrada evitava olhar para o local onde ela já não estava para não ter o desgosto de a não ver.

A terceira árvore era uma delicada tangerineira no quintal da minha avó. Havia lá mais mas aquela era muito pequenina, airosa e redondinha e nenhuma das outras dava tangerinas tão doces e saborosas. Ainda miúdo de calções, sentava-me no poial, junto dela, e saboreava deliciado as tangerinas com a sensação que elas as tinha criado só para mim.

Mas o homem, tem-se permitido destruir sem dó nem piedade esta herança fabulosa de vida, sacrificando no altar de interesses mesquinhos de pessoas muito ricas que podem pagar tudo, seja a que preço for, florestas cheias de vida animal de uma maneira perfeitamente criminosa.
No fundo, prevalece o egoísmo da geração presente numa postura que se traduz no tal: “quem vier atrás que feche a porta…”

Nem sempre terá sido assim.
O homem do paleolítico vivia em comunhão com a natureza numa época em que predominavam as florestas. No silêncio da noite, nos seus locais de dormida, ele ouvia os sons do vento perpassarem por entre as folhas dos ramos mais altos e sensíveis das árvores que o rodeavam.


Esses sons pareciam uma conversa em privado, umas vezes ligeiramente mais acalorada, outras, em frases mais longas e monocórdicas interrompidas por silêncios intermitentes.


O homem do paleolítico ouvia deitado, e pareceu-lhe a ele, ser primitivo, que eram os deuses que falavam com as árvores.

Humilde, frágil, dependente da natureza, mas muito sagaz e observador, pensou aproveitar aquele relacionamento entre árvores e deuses a seu favor utilizando aquelas como intermediárias entre ele e os deuses.


Assim, discretamente, levantava-se, dirigia-se a uma das árvores mais altas, tocava-lhe com respeito e contava-lhe em segredo as suas angústias e receios e pedia-lhe que solicitasse aos deuses a protecção para si, para a sua família e para o seu grupo.


Passaram-se milénios e quase tudo aconteceu de então para cá. Fomos compreendendo melhor as forças da natureza, domesticámos plantas e animais, construímos cidades e civilizações, progressivamente começamos a desenlear o fio do conhecimento científico e no entanto, apesar de um tão longo caminho percorrido desde então, eu próprio, que nem sequer sou crente, dou por mim a bater com os nós dos dedos da minha mão fechada na madeira do tampo da mesa – à falta de uma árvore - para afastar os mais presságios…


…. Por isso eu lhe chamo, de uma forma talvez menos veneranda que o meu antepassado do paleolítico: Minha Irmã Árvore...


O negro António Balduíno
JUBIABÁ

Episódio nº 1


A multidão se levantou como se fosse uma só pessoa. E conservou um silêncio religioso. O juiz contou:

 - Seis…

Porém antes que contasse sete o homem loiro se ergueu sobre um braço, com esforço, e juntando todas as forças se pôs de pé. Então a multidão se sentou novamente e começou a gritar.

O negro investiu com fúria e os lutadores se atracaram em meio ao tablado. A multidão berrava:

 - Derruba ele! derruba ele!

O Largo da Sé pegara uma enchente naquela noite. Os homens se apertavam nos bancos, suados, olhos puxados para o tablado onde o negro António Balduíno lutava com Ergin, o alemão.

A sombra da igreja centenária se estendia sobre os homens. Raras lâmpadas iluminavam o tablado. Soldados, estivadores, estudantes, operários, homens que vestiam apenas camisa e calça, seguiam ansiosos a luta.

Pretos, brancos e mulatos torciam pelo negro António Balduíno que já derrubara o adversário duas vezes. Daquela última vez parecia que o branco já não se levantaria mais.

Porém antes que o juiz contasse sete ele se levantou e continuou a lutar. Houve entre a assistência palavras de admiração.

Alguém murmurou:

 - O alemão é macho mesmo…

No entanto continuaram a torcer pelo negro, alto, que era campeão baiano de peso - pesado.

Gritavam agora sem parar desejosos que luta tivesse um fim, e que esse fim fosse com Ergin estendido no chão.

Um homenzinho magro, cara chupada, mordia um cigarro apagado. Um negro baixote ritmava os berros com palmadas nos joelhos:

 - Der-ru-ba  ele… Der-ru-ba-ele…

E se moviam inquietos, gritavam que se ouvia na Praça Castro Alves.

Mas aconteceu que no outro round, o branco veio com raiva em cima do negro e o levou às cordas. A multidão não se importou muito esperando a reacção do negro.

Realmente Balduíno quis acertar na cara sangrenta do alemão. Porém Ergin não lhe deu tempo e o socou violência atingindo-o no rosto, fazendo do olho do negro uma posta de sangue.

O alemão cresceu de repente e escondeu o preto que agora apanhava na cara, nos peitos, na barriga. Balduíno foi novamente às cordas, se segurou nelas, e ficou passivamente sem reagir. Pensava unicamente em não cair e se atracava com força às cordas.

Na sua frente, o alemão parecia o diabo a lhe martelar a cara. O sangue corria no nariz de Balduíno, o seu olho direito estava fechado, tinha um rasgão por baixo da orelha. Via confusamente o branco na sua frente, pulando, e ouvia muito longe os berros da assistência. Esta vaiava. Via o seu herói cair e gritava:

 - Dá nele, negro!

Isso no princípio. Aos poucos, a multidão foi ficando silenciosa, abatida, vendo o negro apanhar. E quando voltou a gritar foi para vaiar.

 - Negro fêmea! Mulher com calça! Aí, loiro! Dá nele.

quinta-feira, abril 25, 2013

AMOR A PORTUGAL - DULCE PONTES


A Revolução dos Cravos

do 25 de Abril de 1974



Impossível não assinalar esta data, 25 de Abril de 1974, porque ela celebrará sempre o dia histórico em que o “ Movimento dos Capitães” derrubou o regime que durante mais de quarenta anos perseguiu os cidadãos com a PIDE, polícia política que prendia e castigava as pessoas que discordavam do regime e manifestavam essa discordância e possuía a Censura que impedia que as ideias circulassem na imprensa, nos livros e oralmente entre as pessoas.

Por outras palavras, restabeleceu no país a liberdade. Esta é a responsabilidade que cabe ao 25 de Abril, à Revolução que, felizmente, foi dos Cravos e que deve ser imputada ao Movimento dos Capitães do MFA, cidadãos que nela se envolveram e a levaram à prática, sem esquecer o contributo que ao longo dos anos foi sendo dado por muitas outras pessoas.

Restabelecida a liberdade, tudo o que de então para cá aconteceu no país é da responsabilidade dos portugueses e das conjunturas políticas que desde então vivemos.

Um povo só pode ser responsabilizado plenamente pelo curso da sua história nos períodos em que os cidadãos não vivam oprimidos por um poder que os ameace na sua liberdade e integridade física. Numa situação destas há uma distorção forçada dos comportamentos que alteram o rumo da história que inevitavelmente seria outra se vivida em liberdade.

Acusar o 25 de Abril do que quer que seja para além do restabelecimento da liberdade no país, só se entende por juízos precipitados, falta de discernimento ou por um comprometimento directo com interesses ligados ao regime anterior por quem, com essas acusações, pretenda uma pequena vingança.


Esperar-se-ia que as forças militares que derrubaram pela força o poder anterior pretendessem, após isso, exercê-lo, não obstante as desinteressadas intenções sempre anunciadas em situações deste género mas, em vez disso, o poder militar vitorioso chamou representantes da sociedade civil e encarregou-os de constituir um governo livre e democrático.

Na história das revoluções esta mais parecia uma história da carochinha em que no final o jovem herói casa com a princesa, tem muitos filhos e são felizes para sempre… mas desta vez não foi história de “princesas”.


O Movimento dos Capitães, responsável pela revolução, após a vitória, chamou um General insuspeito de revolucionário e pediu-lhe que assumisse o controle da situação tendo em vista a passagem a uma situação transitória de elaboração de uma nova Constituição que antecedesse eleições livres e democráticas.

A pureza dos ideais do 25 de Abril estava consumada e os jovens capitães mantiveram-se fiéis à sua palavra comprovando que se a juventude se caracteriza, naturalmente, pela ingenuidade e imaturidade, neste caso ela provou ser pura, desinteressada, generosa e sincera.

Realçado este aspecto essencial do 25 de Abril, muitas coisas aconteceram de então para cá de erradas, que nos prejudicaram, que foram motivo de grandes “confusões”, especialmente no período do PREC (Período Revolucionário Em Curso) mas que constituiram, também, uma fase de grande efervescência ideológica, voluntarismo e de um despertar depois de tantos anos de “um apagado e vil silêncio”.

Passamos a viver numa democracia de partidos políticos, forma adoptada pela generalidade dos países europeus, com as especificidades próprias do temperamento, cultura e educação de cada um deles. Como dizia Churchil: “de todos os regimes o menos mau...”.

E quem não tem queixas da democracia em que vive? Quem não atribui aos políticos que nos governam as origens dos males que nos afligem? Quem não os responsabiliza, com ou sem razão, esquecendo que  no mínimo somos nós que os elegemos e com isso nos tornamos co-responsáveis de tudo quanto acontece?

Depois, foi a “inevitável” integração na Comunidade Europeia que nos abriu as fronteiras alargando o nosso espaço económico, financeiro e de trabalho, com uma nova moeda, esquecido que foi o escudo, com a entrada de milhões de euros, em grande parte responsáveis por esta “nova cara” do país mas que desmantelou, por responsabilidade nossa a agricultura, as pescas e uma indústria desmotivada.

Todos temos que assumir a nossa quota-parte de responsabilidade quando vivemos em liberdade numa sociedade que não nos persegue, prende e castiga pelas nossas ideias e comportamentos no respeito por um quadro legal que livremente estabelecemos.

Mas, se compararmos uma sociedade a um enorme e complexo computador, logo nos lembraremos dos vírus que os afectam e dos quais nenhum está livre. Nesse outro enorme “computador” que é a nossa sociedade, o principal vírus foi o da “partidocracite” com corrupção, tráfego de influências, negócios misturados com política…

A corrupção e o enriquecimento ilícito que lhe está associado têm a ver, fundamentalmente, com pessoas e o exercício do poder. Os partidos, especialmente os que alternam no governo, têm os meios e estrita obrigação de lutar contra ela, colocando-o no Código Penal como um crime, perseguindo-o e punindo-o exemplarmente mas não o fizeram… Ninguém ainda foi condenado e preso por ser corrupto e beneficiar do tráfico de influências.

A “partidocracite”, empolando os interesses dos respectivos partidos, na defesa ou na luta pelo poder, sobrepondo-os aos da comunidade, confundindo-os com os do país, é infelizmente de uso corrente na maioria das sociedades democráticas, salvaguardadas as legítimas opções políticas com que cada partido se apresenta ao eleitorado.

Reconheçamos que a luta contra este vírus é muito difícil porque ele se disfarça e aparece revestido de muitas formas que confundem os cidadãos.

Celebrar hoje o 25 de Abril de 1974, é confrontarmo-nos com aquilo que fomos e não fomos capazes de fazer no quadro de liberdade que ele nos devolveu, já lá vão trinta e nove anos.

Naturalmente, que a ditadura de Salazar deixou um quadro pouco favorável ao nosso desenvolvimento futuro, fundamentalmente em termos culturais e de mentalidade. Todos sabemos que as ditaduras são castradoras e isso tem um enorme preço no futuro pela falta de formação e responsabilização das pessoas.

Não mais as legítimas desculpas da Censura, das perseguições da Polícia Política, do medo da denúncia, do analfabetismo, das fronteiras passadas a salto, do silêncio, da ignorância do mundo, não mais… de tudo isso ficou-nos a liberdade que a Revolução dos Cravos nos trouxe.
E hoje, passados estes 39 anos, encontramo-nos nesta terrível encruzilhada de não sabermos como avançar e ao mesmo tempo ter medo de voltar a trás.
Fazer prognósticos do nosso futuro político está hoje ao sabor do estado de espírito de cada um… os pessimistas dirão que o país irá desaparecer no turbilhão das suas dificuldades financeiras, retalhado pelos credores… os outros, os optimistas, avisam que Portugal já cá está há muitos séculos ao longo dos quais passou por tudo o que é mau: pestes, fome, invasões, guerras.  
Pais de emigração, contando com os seus descendentes, vivem hoje no estrangeiro, mais de 15 milhões de portugueses, e esta tem sido a principal forma de resistir... 
Diremos que, resistir, está-nos na massa do sangue.
Mais uma vez assim será. Daqui a um ano cá estarei para vos falar da Revolução dos Cravos, a do 25 de Abril de 1974.


O PAÍS DO CARNAVAL

Admirador da obra de Jorge Amado, rendido aos seus romances, alguns transcritos aqui no Memórias Futuras como os “das suas outras quatro mulheres”: Gabriela, Tereza Batista, Dona Flor e a Tieta, assaltou-me a curiosidade de saber que livro teria escrito este escritor na juventude dos seus 18 anos de idade.

Pois bem, aqui ficou o País do Carnaval, provavelmente o que abordou o tema mais profundo, menos história e mais questões intrigantes do que fazer com vida, onde procurar a Felicidade...

Paulo Rigger, o personagem principal, acaba frustrado, desiludido com o seu país e com a sua vida e regressa à Europa onde tinha estudado, para esquecer aquela má experiência na sua terra natal.

Tem um romance de amor fugaz a que põe termo por preconceitos de virgindade da rapariga ele, que se julgava um jovem moderno, educado em Paris, superior a essas tradições  machistas da sociedade antiga. Uma desilusão e uma raiva contra si próprio...  

Revolta-se contra a sociedade da sua terra natal, e muitos motivos teria com certeza para isso, mas é ele que falha ao virar as costas ao amor perante a confissão de uma jovem corajosa que o amava mas que pôs a honestidade na primeira linha da relação.

Há a tentação de procurar ver no jovem Jorge Amado, de 18 anos, o personagem Paulo Rigger. Todos nós, que tivemos essa idade e alguns que estudaram, lembram-se dos “desafios” que então colocávamos à vida e à sociedade e que com os anos se foram esbatendo e desvanecendo.

Afinal, a vida de cada um de nós, é um “pequeno acidente” na história da humanidade a que pertencemos. “Comandados” por heranças genéticas e culturais, sujeitos à ditadura dos nossos hormonas, impelidos pela necessidade de sobreviver em competição, deixa-se de pensar na Felicidade para passar a coisas mais comezinhas do dia a dia que nos vão absorvendo, às vezes, consumindo-nos em preocupações constantes…

Da vida, fica-nos uma experiência fugidia e, entre outras coisas, as histórias enriquecedoras de Jorge Amado, forjadas nesse caldinho rico de culturas de um povo constituído por europeus, índios, negros e mestiços que foi o seu, lá em São Salvador da Bahia, na parte Sul do Nordeste brasileiro.

JUBIABÁ

Jubiabá é a história que se segue, o primeiro grande romance de Jorge Amado, escrito em 1935 e que o lançou para a categoria de um dos maiores romancista do mundo. O livro esgotou no Brasil sucessivas edições e logo foram negociados os direitos para a sua publicação em francês, russo, inglês, alemão, sueco, dinamarquês e espanhol. Foi um verdadeiro “best-seller”.

Pela palavra dos seus críticos, o livro é um grito de humanidade e justiça que emociona os leitores através da narrativa que nos transporta ao íntimo de um povo laborioso e pobre.

Mais de setenta e cinco anos passaram sobre esse Brasil que já não é o mesmo do Jubiabá mas esta distância dá-nos a garantia que estávamos então mais próximos das origens de uma sociedade em gestação carregada de tradições de uns e de outros e que ali se encontraram com os que já lá estavam.

Não conheço a história e vou ter, por isso, o prazer de a ler convosco, episódio em episódio. Nenhum romance pode abdicar da curiosidade e do suspense do seu enredo e dos livros que aqui já transcrevemos do Jorge Amado ficámos bem cientes da sua mestria em conduzir os personagens da história para além da riqueza e autenticidade dos diálogos só possíveis a um grande escritor que fosse mesmo baiano.  

quarta-feira, abril 24, 2013

Rod Stewart & Amy Bell - I dont Want to talk about it

Canções que não devemos esquecer...

Um bêbedo entra num bar e pede ao balcão três cafés

 - Três cafés?

 - Pergunta, atónito, o empregado. - Sim, um para mim, outro para ti e outro 
prá p*** da tua mãe!!!

 No dia seguinte, o mesmo bêbedo repete o mesmo pedido, no mesmo café e ao mesmo empregado: 

 Três cafés...

- Três?...-

 - Sim .. Três ... um para mim, outro para ti e outro prá p*** da tua mãe!!!

Desta vez o empregado "passou-se", saiu do balcão, agarrou no bêbedo e 
deu-lhe uma sova e peras! No dia seguinte, todo entrevado, o bêbedo vai na mesma ao café, dirige-se ao balcão e o empregado com um sorrisinho cínico pergunta-lhe:

Então, três cafézinhos, não é verdade?....

Não. - Responde o bêbedo.

Só dois: um para mim e outro prá p*** da tua mãe! Pra ti não, porque o
 café altera-te o sistema nervoso...

A arte é a mentira que nos permite conhecer a verdade.
Pablo Picasso



Reparem nos pormenores das patas. O corpo é feito de fios de telefones. Tudo isto está no museu de Comunicações em Frankfurt e o artista chama-se Jean -Luc Cornec.


Maria João Rodrigues

Ninguém tem o monopólio da razão nem do amor ao país

 Apenas dois anos depois da crise de 2011, vive-se, de novo, um momento de grande instabilidade política. A meio do seu mandato, o Governo tem sérias dificuldades em governar, não consegue entendimentos com os partidos da oposição e com os parceiros sociais, enfrenta o descontentamento da população e a avaliação negativa por líderes políticos e comentadores. Apesar do apoio da maioria parlamentar, sucedem-se as dificuldades na coligação e na coordenação política que ameaçam o Governo de desintegração ou de implosão.

Muitos se perguntam se o mandato será concluído, havendo já quem peça eleições antecipadas ou um Governo de iniciativa presidencial.
É normal existirem governos que não chegam ao fim da legislatura e não cumpram os quatro anos de mandato previstos na lei, mas não é desejável. Sobretudo quando isso acontece de forma repetida e consecutiva, deixando de ser exceção e passando a regra. Na atual conjuntura, não é desejável também porque, todos o sabemos, do processo de eleições antecipadas não sairá uma solução de estabilidade governativa.
Teremos de novo o PS e o PSD como partidos mais votados e o CDS, o PCP e o BE como partidos com expressão minoritária. Estaremos a decidir sobre se o primeiro-ministro deve ser o líder do PS ou o do PSD, não sobre a composição da coligação necessária para responder aos desafios da situação atual.
Qualquer resultado exigirá uma negociação envolvendo, pelo menos, o PS, o PSD e o CDS. Ora, não há qualquer razão para acreditar que, após eleições antecipadas, será possível, com os mesmos líderes partidários, construir os entendimentos que nos últimos dois anos foram impossíveis. O mais provável será, pelo contrário, o país entrar numa espiral de ingovernabilidade e de instabilidade política, semelhante aquela em que a Itália já se encontra.
Não são eleições antecipadas que nos podem salvar. O que nos pode salvar é um entendimento entre partidos políticos, concertado com os parceiros sociais, em torno da identificação clara dos principais problemas do país e da forma de os resolver.
Para enfrentar a crise, há os que consideram que deve ser dada prioridade aos problemas financeiros, não havendo, neste momento, outra coisa a fazer senão reduzir o défice e a dívida a qualquer preço. Outros consideram que a prioridade deve ser atribuída às questões económicas e sociais, devendo-se, neste momento, centrar a intervenção pública na promoção do crescimento económico.
Outros, ainda, reclamam a urgência da negociação com a troika dos termos do resgate e reclamam das instituições da União Europeia uma nova orientação para enfrentar a crise. Estes discursos e preocupações raramente se encontram.
Cada grupo fala para si próprio, enquanto o país fica cada vez mais exangue, sem ânimo, parecendo morrer devagar.
Defendo que, neste momento, para sair da crise e da atual situação deve ser dada prioridade à construção de um entendimento interpartidário. Tal exige humildade e convicção por parte dos líderes políticos.
Humildade no reconhecimento de que ninguém tem sempre razão, mas mesmo quando se tem razão a opinião dos outros importa.
Convicção de que um entendimento é desejável, possível e indispensável.
É verdade que no nosso país tem sido impossível construir acordos políticos interpartidários duráveis e gerais. Das raras vezes em que o acordo foi conseguido teve âmbito sectorial (por exemplo, nas áreas da justiça, da educação ou da defesa nacional) e colapsou antes de produzir os efeitos pretendidos, em particular porque os líderes partidários não souberam resistir às tentações do populismo e do tacticismo.
 Assistimos também, demasiadas vezes, com a mudança de governos ou de ministros, à destruição de políticas públicas ou de programas sem qualquer avaliação ou consideração pelos resultados já obtidos, apenas por puro revanchismo ou radicalismo político.
 Nada disto contribui para criar o clima de confiança necessário à construção de entendimentos. Bem pelo contrário, contribui para alimentar uma permanente crispação e guerrilha.
O momento exige mais. Exige que os líderes partidários coloquem de lado agendas de ajuste de contas e de radicalização ideológica e procurem entender-se sobre o que precisamos de fazer para sair da crise.
O primeiro passo só pode ser dado pelos líderes dos partidos no Governo. Porém, não chegam afirmações retóricas sobre entendimentos e consensos. É necessário que se suspendam parte das políticas radicais em curso e se aceite encontrar soluções negociadas para os problemas do país.
É necessário que quem governa reconheça que não tem o monopólio da razão nem do amor ao país.
Maria João Rodrigues

Nota
Concordo inteiramente com esta análise isenta, realista e verdadeira de Maria João Rodrigues, que eu admiro há muitos anos. Afecta ao PS, Presidente da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e Professora de Políticas Públicas no ISCTE-IUL nunca se envolveu muito na vida partidária para a qual não está talhada.
Estou igualmente convencido que a generalidade das pessoas conhecedoras da realidade política deste país e não endeusadas a qualquer partido subscreveriam também esta análise.
O que Maria de Lourdes Rodrigues não diz porque não pode, é que infelizmente, a lógica partidária, mais preocupada com o interesse e futuro dos seus líderes, que será também o das elites que os apoiam, irá prevalecer ao interesse da generalidade dos portugueses dentro daquela concepção de que a solução que for boa para o partido é a que melhor servirá o país…
É a democracia que temos… São os políticos que temos…
Seduzem e convencem impondo-se, não pelo seu próprio valor, mas pelas promessas irrealistas e as estratégias ziguezagueantes de preservação do poder no partido.
Assim, que não se espere nada que cheire a solução vinda cá de dentro… 

Com muito optimismo poderá esperar-se que seja a Europa e os credores, na defesa dos seus próprios interesses, a trazerem a solução através do aprofundamento da Europa política, financeira e fiscal que vai fazer sangrar ainda mais a generalidade dos portugueses, mais de uns do que outros, como sempre acontece, e levar o resto da soberania portuguesa do tipo: "governem-nos que nós não somos competentes..."
De qualquer maneira, a alternativa, o regresso ao escudo, em termos de sacrifícios, será da mesma ordem ou pior, salvando-se, um bocadinho, o orgulho dos portugueses.


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 81

Lia os jornais. Rapazes fundavam legiões fascistas, o partido comunista tomava vulto. Materialistas e católicos discutiam decretos do Governo, tocantes ao ensino.

A insatisfação notava-se nas colunas dos jornais, a dúvida pesava na face dos moços.

 - Acho que vai haver uma grande desgraça…

Os diários noticiavam que o povo corria ao interior de Minas gerais onde uma Santa curava. Minúcias. Detalhes voluptuosamente lidos.

Paulo Rigger tinha vontade de esganar a todos. Por que não se tornavam felizes. Não esqueciam problemas? Não esqueciam tudo? Não ficavam muito bons? Ele quisera ser bom. Ajudar a todos. Não podia. Odiava os semelhantes. Não lhes perdoava a imbecilidade…

Eu fui o aventureiro da Felicidade… Pobre D. Quixote!


 - Que dia o Senhor escolheu para viajar, patrão… Domingo de Carnaval…

E o preto carregador lamentava. Ele não ouvia, ensimesmado, soturno. Desceu. Chamou um táxi.

 - Leve-me ao porto.

 - A que horas quer estar lá, senhor?

 - Dentro de quarenta minutos.

 -Impossível -  declara o chofer. Em dia de carnaval leva-se horas e horas a atravessar a Avenida.

 - Leve-me até onde puder. Irei a pé o resto do caminho…



Saltou do automóvel e começou a evitar a multidão alucinada. Sambava-se nas ruas. Paulo Rigger com o chapéu amassado nas mãos, cabelo revolto, olhos abertos, enraivecido, ia abrindo caminho a socos e cotoveladas.

 - Sai, diabo!

 - Eh, meu branco, vamos sambá…

A mulata puxou-o. Os umbigos uniram-se. Ela dobrou-se, voluptuosa.

 - Deixe-me, negra!

 - Arrancou dali, a romper a massa.

Afinal, talvez este povo esteja com razão. No carnaval talvez esteja tudo…

 - Com que roupa?...

E a mocinha histérica jogava-lhe lança-perfumes.

 - Vá para o diabo que a carregue!

E notava-se ainda mais infeliz. Quando chegara da Europa, todo instinto, sabia sentir a carne. Hoje, era dúvida unicamente…

Alcançou o navio no último momento. Poucos passageiros, ingleses e argentinos a admirar a cidade que se vestia de treva.

A noite se apossara do Rio de Janeiro. Paulo Rigger no tombadilho, comparava a cidade carnavalesca, envolta em trevas, à sua alma.

De repente, fez-se luz na cidade, que apareceu brilhante, livre das trevas. O navio afastava-se vagarosamente…

Paulo Rigger, nervoso, lábios apertados, olhou. No Corcovado, Cristo, braços abertos, parecia abençoar a cidade pagã.

Tornou-se maior a tristeza nos olhos de Paulo Rigger. Levantou os braços num gesto de supremo desespero e murmurou fitando a imagem gigantesca:

 - Senhor, eu quero ser bom! Senhor, eu quero ser sereno…

 Lá longe, desaparecia lentamente o País do Carnaval


FIM



terça-feira, abril 23, 2013

IMAGEM
Alcochete. Maré baixa... barco em terra.


Nível de cultura nos EUA. E se fosse cá? Como seria?...


Meu Tio Tonico

Meu tio Tonico estava bem de saúde, até que sua esposa, minha tia Marocas, a pedido de sua filha, minha prima Toninha, disse:
-Tonico, vais fazer 70 anos, está na hora de ir ao médico fazer um check-up.
- Para quê, estou me sentindo muito bem!
-Porque a prevenção deve ser feita agora, quando ainda te sentes jovem - disse minha tia.
Então meu tio Tonico foi ver um médico. O médico, sabiamente, mandou-o fazer testes e análises de tudo o que poderia ser feito e que o plano de saúde cobrisse.
Duas semanas mais tarde, o médico disse que os resultados estavam muito bons, mas tinha algumas coisas que podiam melhorar. Então receitou:
    -Comprimidos Atorvastatina para o colesterol
    -Losartan para o coração e hipertensão
    -Metformina para evitar diabetes
    -Polivitaminas para aumentar as defesas
    -Norvastatina para a pressão
    -Desloratadina em alergia.
Como eram muitos medicamentos, tinha que proteger o estômago, então ele indicou Omeprazol e um diurético para os inchaços.
Meu tio Tonico foi à farmácia e gastou boa parte da sua aposentadoria em várias caixas requintadas de cores sortidas.
Nessas alturas, como ele não conseguia se lembrar se os comprimidos verdes para a alergia deviam ser tomadas antes ou depois das cápsulas para o estômago e se devia tomar as amarelas para o coração antes ou depois das refeições, voltou ao médico. Este lhe deu uma caixinha com várias divisões, mas achou que titio estava tenso e algo contrariado. Receitou-lhe, então, Alprazolam e Sucedal para dormir.
Naquela tarde, quando ele entrou na farmácia com as receitas, o farmacêutico e seus funcionários fizeram uma fila dupla para ele passar através do meio, enquanto eles aplaudiam.
Meu tio, em vez de melhorar, foi piorando.
Ele tinha todos os remédios num armário da cozinha e quase já não saía mais de casa, porque passava praticamente todo o dia a tomar as pílulas.
Dias depois, o laboratório fabricante de vários dos remédios que ele usava, deu-lhe um cartão de “Cliente Preferencial”, um termómetro, um frasco esterilizado para análise de urina e lápis com o logotipo da farmácia.
Meu tio teve azar e apanhou um resfriado. Minha tia Marocas, como de costume, fez ele ir para a cama, mas, desta vez, além do chá com mel, chamou também o médico.
Ele disse que não era nada, mas prescreveu Tapsin para tomar durante o dia e Sanigrip com Efedrina para tomar à noite. Como estava com uma pequena taquicardia, receitou Atenolol e um antibiótico, 1 g de Amoxicilina. A cada 12 horas, durante 10 días. Apareceram fungos e herpes, e ele receitou Fluconol com Zovirax.
Para piorar a situação, o Tio Tonico começou a ler as bulas de todos os medicamentos que tomava, e ele ficou sabendo todas as contra-indicações, advertências, precauções, reacções adversas, efeitos colaterais e interacções médicas.
Leu coisas terríveis. Não só poderia morrer mas poderia ter também arritmias ventriculares, sangramento anormal, náuseas, hipertensão, insuficiência renal, paralisia, cólicas abdominais, alterações do estado mental e um monte de coisas horrorosas.
Com medo de morrer, chamou o médico, que disse para não se preocupar com essas coisas, porque os laboratórios só colocavam para se isentar de culpa.
- Calma, sr Tonico, não fique aflito, disse médico, enquanto prescrevia uma nova receita com um antidepressivo Sertralina com Rivotril 100 mg. E como titio estava com dor nas articulações deu Diclofenac.
Nessa altura, sempre que o meu tio recebia a aposentadoria, ia directo para a farmácia, onde já tinha sido eleito cliente VIP.
Chegou um momento em que o dia do pobre do meu tio Tonico não tinha horas suficientes para tomar todas as pílulas, portanto, já não dormia, apesar das cápsulas para a insónia que haviam sido prescritas.
Ficou tão ruim que um dia, conforme já advertido nas bulas dos remédios, morreu.
No funeral tinha muita gente mas quem mais chorava era o farmacêutico.
Agora tia Marocas diz que felizmente mandou titio para o médico bem na hora, porque se não, com certeza, ele teria morrido antes.

Nota- Brincadeiras à parte que têm piada e chamam a atenção para os exageros da medicação, eu deixo uma pergunta: 
- Sabem por que nos princípios do século XX, aos 70 anos se morria de velhice e agora com esta idade se anda a jogar ténis e a correr nos ginásios?
 - Não?
- É exactamente por causa de certos comprimidinhos que nos acompanham na velhice e nos prolongam a vida...

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