sábado, junho 07, 2014

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Respeito pela natureza



OSWALDO MONTENEGRO - METADE DE MIM


Nasceu no Rio de Janeiro em 1956 e é músico, cantor, poeta, compondo trilhas sonoras para peças teatrais, cinema e televisão. Tem uma das parcerias mais sólidas ao lado de Madalena Salles que o acompanha com as suas flautas. Oswaldo foi um caso excepcional de precocidade talvez porque nasceu numa família de músicos: seu pai, por quem foi influenciado musicalmente, mas também a sua mãe e os avós maternos.


Mixórdia de Temáticas - A turma das quinas

Era inevitável que Ricardo Araújo Pereira não explorasse este tema...


Aqui nasceram as sementes da democracia
As Sementes

da Democracia












A civilização grega terá sido o mais importante contributo para o progresso da civilização humana.

Foi na Grécia do período clássico – no famoso Século de Péricles – que o homem se libertou de crenças, preconceitos sociais e religiosos e, pela primeira vez de forma sistemática, se interrogou sobre o mundo que o rodeava.

Foi ali, durante esse período, quando deixaram de existir os condicionalismos psicológicos, educacionais e religiosos que anteriormente aprisionavam a mente humana, que nasceu o conceito de liberdade tal como hoje o entendemos na medida em que questionava até o próprio conhecimento – só sei que nada sei! -

A Filosofia nascida na Grécia, é a expressão máxima da liberdade do pensamento humano.

A forma de governo adoptada em Atenas, após a destruição da cidade provocada pelas Guerras Pérsicas, representa um avanço civilizacional extraordinário como jamais outro tinha acontecido.

Seria necessário esperar pela Revolução Francesa e pela Independência Americana, mais de 20 séculos depois, para se recuperar o princípio que o poder dos governantes reside no povo e só dele emana.

Como se alcançou momento tão excepcional é algo que ainda hoje podemos sentir viajando pela Grécia.

Favorecida pela geografia que lhe abria a porta para novas culturas e rotas comerciais, pela acidentada orografia que a protegia das invasões e ataques inimigos, pela amenidade do clima que convidava à discussão nas “ágoras” e “areópagos”, as cidades gregas reuniam as condições para a ocorrência de uma mutação civilizacional singular: o nascimento da democracia.

Luís Queiroz

(continua)

O PODER DE UM BEIJO!
  








Vinha pela estrada uma caravana de motociclistas fortes, bigodudos, em suas poderosas motos, quando de repente eles vêem uma garota a ponto de saltar de uma ponte para o rio.

Eles param e o líder, particularmente corpulento e de aspecto rude, salta, dirige-se à rapariga e pergunta:

- Que diabo estás a fazer??

- Vou suicidar-me - Responde suavemente a delicada garota com a voz cadenciada e ameaçando pular.

O motociclista pensa por alguns segundos e finalmente diz:

- Bom, antes de saltar, por que não me dás um beijo?

Ela acena com a cabeça, põe os cabelos compridos encaracolados de lado e dá um beijo longo e apaixonado na boca do motociclista corpulento. 

Depois desta intensa experiência, a gangue de motoqueiros aplaude, o líder recupera o fôlego, alisa a barba e admite:

- Este foi o melhor beijo que me deram na vida. É um talento que se perderá caso te suicides. Por que queres morrer?

- Meus pais não gostam que eu me vista de mulher!!!

Caça é caça !...
.






Um tipo foi a uma festa de máscaras vestido 
de caçador.
 Na festa viu um gay vestido de Ursinho... e o tipo que odiava gays pegou na espingarda e deu 2 tiros...
O gay caiu e ficou prostrado no chão.

O tipo disse:

- Esses tiros eram de pólvora seca, sua bicha ordinária... pode levantar-se daí e deixar-se de paneleirices....


Responde o gay:

- Não quero saber... caça é caça, matou, tem que comer...



A pedir-me que lhe conte outra história, senhor Comandante.
OS VELHOS
MARINHEIROS
(Jorge Amado)

Episódio Nº 100











Refiro-me ao acontecido aqui em Periperi nestes últimos dias, logo após a passagem do Ano Novo, a entrada festiva de 1961, saudada por mim com esperanças de glória e pecúnia, devido a este meu trabalho, e de tranquila alegria, dados o acordo e a paz reinantes no lar do Beco das Três Borboletas onde, pela tarde, Dondoca acolhia o Meritíssimo, e, pela noite, esse vosso servidor.

Sim, ele descobriu tudo, foi-se água abaixo a vida doce e gratuita. Reina a maior confusão nessas três almas batidas pelo temporal da paixão e do ciúme, pelo vendaval das recriminações e dos desejos de vingança.

Já houve o diabo: gritos e palavrões, insultos, acusações, censuras, desculpas, pedidos de perdão, relações abaladas, corte da mesada e dos presentes, lágrimas, olhares súplices e olhares mortais de ódio, promessas de vingança e até uma surra.

Como historiador cioso de sua condição, devo impor método ao relato, mas não sei se vou consegui-lo, pois tenho o coração despedaçado e uma infernal dor de cabeça. Dor de cabeça devia estar sofrendo o Dr. Siqueira, afinal cresce a frondosa galhada em sua testa e não na minha, o que devia servir-me de consolo.

 Não serve, no entanto. Como consolar-me, se paira sobre mim a ameaça de não vê-la mais, a minha Dondoca, de ter de me afastar do seu caminho, de não mais ouvir seu riso debochado de cristal, sua voz de desmaiado timbre, a pedir-me que lhe conte outra história do senhor comandante.

Foi de repente, se bem as desconfianças andassem no ar, nos olhos e nos gestos do jurista. Referi anteriormente significativas alterações ocorridas na atitude do magistrado em suas relações comigo e com Dondoca.

 O pobre pássaro ferido encontrou um dia o luminar a cheirar-lhe o lençol para ver se nele sentia odor estranho, suor de outro homem.

Tornou-se ríspido e breve em seu trato comigo, olhando-me fixo e severo, sem se abrandar com meus multiplicados elogios, como acontecia outrora, quando, inclusive, louvava-me em pagamento a literatura.

Apesar de haver eu atingido as raias do puxa-saquismo mais total, num esforço considerável, chegando a elogiar um horrendo pijama de listras pelo Meritíssimo inaugurado naqueles dias, presente de Natal de Zepelim.

Nem assim ele desamarrava a tromba. A inquietação nos dominou, a mim e a Dondoca, tomamos precauções extremas, a ponto de usar determinados lençóis e fronhas pela tarde, outros pela noite.

Quanto a mim, evitei acompanhar Dr. Siqueira em suas visitas vespertinas à nossa bem-amada. Antes eu aparecia, ou com ele ou logo após sua chegada, ia filar um cafezinho, dar dois dedos de prosa.

Retirava-me discretamente depois, afinal ele gemia com as despesas, tinha certos direitos, eu não podia passar ali a tarde inteira, a empatar.

Sem falar nas pesquisas históricas, no trabalho a redigir. Pois deixei de aparecer, colocando-me na sombra, indo vê-lo somente à noite, para a prosa na calçada e a prudente comprovação diária: o nobre cultor do Direito com seus movimentos controlados, sob a inflexível batuta de sua digna esposa, dona Ernestina, apelidada de Zepelim pela canalha.

sexta-feira, junho 06, 2014

IMAGEM

Já tinha, por acaso, visto uma borboleta de canadianas?






CANOA DO TEJO - CARLOS DO CARMO

... e a cidade de Lisboa tanto do agrado dos turistas que agora é publicitada com 600 pontos de visita... seiscentos, leram bem?


CAMADA DE NERVOS - A AGÊNCIA

Começava aqui a necessidade de obedecer para sobreviver.
O Mistério

 da Fé










Um quarto dos portugueses acredita que com a morte tudo acaba. De acordo com os dados de um estudo da socióloga da Universidade do Porto, Helena Vilaça, entre estes, 10% são de católicos que vão com regularidade à missa e 26% ocasionalmente.

Ora isto não faz sentido. Qualquer brecha no dispositivo da fé derruba uma religião, a católica ou qualquer outra.

 Uma religião é um conjunto de dogmas que não se explicam, não são susceptíveis de serem entendidos pela razão e que precisam da fé para serem aceites e seguidos. Por isso, a Igreja chama-lhe o “mistério” da fé conferindo-lhe um aspecto transcendental ligado a Deus e a crença em Deus é a essência das religiões. Tu acreditas porque Deus “te manda acreditar” e, na verdade, as pessoas sentem-se impelidas a acreditar.

 No entanto, nenhum daqueles dogmas faz sentido à luz da nossa inteligência e as próprias religiões, que desde sempre têm dividido os homens, estão na base de incontáveis guerras, ódios profundos e sofrimentos atrozes ao longo de toda a história da humanidade.

Vemos numerosos grupos de pessoas, que em determinadas regiões chega à totalidade, a defender crenças que contradizem completamente factos cientificamente demonstrados, bem como as religiões rivais seguidas por outros. As pessoas não só nutrem por essas crenças uma certeza veemente como também fazem tudo por elas, incluindo morrer e matar.

Por quê?

Centremos a nossa atenção nas crianças. Mais do que em qualquer outra espécie, nós sobrevivemos através da experiência acumulada pelas gerações anteriores e essa experiência precisa de ser transmitida às crianças, para a sua protecção e bem-estar.

Teoricamente, as crianças podem aprender, através da experiência pessoal que não devem aproximar-se de um penhasco porque podem cair, que não devem comer bagas vermelhas desconhecidas porque podem ser envenenados, que não devem nadar em rios infestados de crocodilos porque podem ser comidos por eles.

Tudo isto elas podem aprender mas, à custa de quantas vidas?

Num período longo de milhões de anos em que a sobrevivência dos nossos remotos antepassados era de tal maneira difícil que o risco da eliminação da própria espécie era uma realidade demasiado próxima, essa aprendizagem com o custo em vidas que acarretava teria, muito provavelmente, sido suficiente para o nosso desaparecimento da face da Terra.

Os processos de selecção que se aplicam a todos os seres vivos começaram a dar vantagem a todas as crianças cujo cérebro continha a seguinte regra prática: acredita sem hesitações em tudo o que os adultos te disserem, obedece aos teus pais, ao chefe da tua tribo, sobretudo quando falam num tom grave e ameaçador. Confia nos mais velhos sem contestar.

Esta regra tão valiosa para as crianças acabou, mais tarde, por dar maus resultados mas então o mecanismo do acreditar, a fé, o tal mistério da fé, já se tinha constituído num mecanismo do nosso cérebro.

Depois foi fácil e possível às mesmas crianças passarem a acreditar que “tinham de sacrificar uma cabra durante a lua cheia para que a chuva viesse” mesmo que isto constitua um desperdício de tempo e de cabras.

Ambos os avisos parecem igualmente dignos de confiança, ambos provêm de uma fonte respeitável e são proferidos com grave seriedade que inspira respeito e exige obediência. O mesmo se aplica às questões que lhe são ditas sobre o mundo, o cosmo, os princípios morais e a natureza humana. Mais tarde, quando essas crianças tiverem filhos, muito provavelmente, irão transmitir-lhes tudo o que receberam – quer o bom senso, quer o disparate – e fá-lo-ão, igualmente, com toda a naturalidade usando o mesmo ar grave e persuasivo.

A época em que hoje vivemos, com a democratização do ensino e o desenvolvimento do espírito crítico e do conhecimento científico, torna cada vez mais difícil aos católicos acreditar em todos os dogmas da Igreja e a morte para além da vida, a “vida eterna”, por arrastamento a Ressurreição de Cristo e tudo o resto, os pilares essenciais do cristianismo, desmoronam-se.

Um quarto dos portugueses acredita que com a morte tudo acaba, entre eles estão muitos católicos, 10% dos que vão à missa regularmente e 26% nem tanto assim.

Perante estes dados, António Janela que é o Director do Instituto Diocesano de Formação Cristã afirma que: “à luz da fé isto não faz sentido mas eu sei que há muita confusão na cabeça das pessoas”…

As pessoas hoje, na nossa sociedade, estão em melhores condições de distinguir, na herança recebida, o que é de bom senso e o que é disparate, entre o que é “não nadar nos rios infestados de crocodilos” e o “cortar a cabeça à cabra em noite de lua cheia para que chova”.

Será uma crise no mecanismo da fé nos nossos cérebros? Uma ligeira avaria no dispositivo do acreditar ou, simplesmente, estão criadas as condições para que a razão se imponha à parte do irracional da fé?

Se assim for, as religiões, e estou a pensar na católica, não conseguirá sobreviver facilmente com a crítica dos seus seguidores porque uma religião, seja ela qual for, pressupõe obediência e disciplina totais, cegas, diria mesmo.

A pouco e pouco ficará apenas a crença num Deus, Ser Supremo que terá estado na origem da Criação como uma espécie de “salvado” do que foi um mecanismo do processo de selecção que cumpriu o objectivo para que foi criado e a prová-lo aí estão todos esses biliões de pessoas que hoje povoam a terra.

Pessoalmente, gostaria muito mais de me sentir como um filho de Deus mas isso seria um atentado à minha razão e a tudo quanto aprendi. Com muito “desgosto” meu vou ter que me contentar em ser descendente de um macaco que ainda por cima, mesmo com toda a sua habilidade, teve muita sorte por ter conseguido chegar até mim.

Marcas de Nascença



A esposa, grávida, acorda durante a noite e chama o marido:
- Amor… Amo-or!
- Hummmm???!!!
- Acorda!!!
- Hummm?!
- Acoorda!!!!
Desorientado e assustado,o marido levanta-se e pergunta:
- O que é que aconteceu?!
- Estou com um desejo…
- Desejo???
- Sim… de comer carne de corvo…
- Corvo??? Mas onde é que eu vou arranjar um corvo agora???
- Vai ao zoo…
- Estás maluca!!! Não vou agora ao zoo. Vou mas é pintar um frango de preto e depois comes.
- Não vou comer carne de corvo mas vais-te arrepender se o nosso filho nascer com carinha de corvo.
Passam-se nove meses, chega o dia do parto e, quando o homem vai ver o seu querido filho, vê que o seu herdeiro é pretinho, mesmo pretinho. Meio apanhado, cheio de remorsos, corre para casa da mãe a lamentar-se:
- Mãe, eu não quis dar carne de corvo à minha mulher quando ela estava grávida e sentiu esse desejo e agora o meu filho nasceu preto como o corvo.
A mãe, bem-humorada, consola o filho que está em pranto:
- Não chores meu filho… Quando eu estava grávida de ti, tive desejo de comer carne de boi, não consegui… e tu nasceste assim cornudo, mas só agora é que se começou a notar.

Um dia lhe contaria tudo, talvez.
OS VELHOS
MARINHEIROS

(Jorge Amado)

 Episódio Nº 99









Encontrou-a furiosa, nem lhe queria falar. Tentou explicar-lhe, mas ela possuía sua própria versão do acontecido: por que não lhe dissera logo ter estado todo o tempo a buscar antigo caso de amor, cujo endereço, naturalmente, fora mudado? Andando com ela nas ruas e pontes mas de pensamento distante, os olhos esquadrinhando as fisionomias dos passantes.

- Não pense nisso. Realmente pareceu-me ver uma pessoa de quem não tenho notícias há quase vinte anos.

- Mulher?

Um dia lhe contaria tudo, talvez. Agora não valia a pena:

- Que mulher, que nada... Um amigo, um piloto que serviu comigo durante dez anos em mais de um navio. Éramos íntimos amigos, como irmãos... Mas ele teve de abandonar a carreira, com a morte de um parente em Pernambuco, em Garanlmns, uma cidade do interior.

Deixou-lhe uma herança. Nunca mais soube dele...

Ela devia perdoar a emoção, ao perceber, entre o povo na ponte, a fisionomia do amigo perdido. Eram como irmãos, tão ligados que, se um desengajava, desengajava o outro também...

Arrufos de namorados, quanto mais violentos, mais doce reconciliação propiciam. Saíram os dois da sorveteria de mãos dadas, a caminho do porto.

 Ela chorara um pouco, duas lágrimas que ele enxugou com o lenço de seda onde, num canto, havia uma âncora bordada. Quando ele, na porta, lhe tomou da mão para ajudá-la a descer o degrau da calçada, ela não a retirou depois e, assim andaram, num silêncio mais expressivo que as palavras, para o cais onde o Ita recebia carga e passageiros.

Da ponte de comando o imediato e o primeiro-piloto os viram vir, de mãos dadas, em saltitante passo de bale, os rostos inundados de sol e de ventura.

- O teu comandante está botando as manguinhas de fora . . . - disse o primeiro-piloto rindo.

Geir Matos, o imediato, perguntou:

- Você já viu alguma vez um comandante tão compenetrado? Tão comandante? Só mesmo o Américo, um vivedor, podia descobrir essa pérola...

- Pérola do mar... Do mar do Japão, do mar da China, das rotas do Oriente...

Os potentes guindastes erguiam sacos de açúcar, negros estivadores arrumavam os fardos no porão.


Onde o narrador interrompe a história sem nenhum pretexto, mas na maior aflição.


Perdoem-me os senhores a interrupção e as falhas por acaso notadas nos últimos capítulos. Se ainda estou escrevendo, apesar de tudo, é que o prazo concedido pelo Arquivo Público para a entrega dos originais (e das cópias dactilografadas) encerra-se em breves dias.

 Mas nem sei o que escrevo - como cuidar do estilo e da gramática numa hora dessas, quando o mundo ameaça ruir sobre meus ombros?

Não, não me refiro à bomba atómica ou de hidrogénio, à guerra fria, aos graves problemas de Berlim, do Laos, do Congo e de Cuba, a uma plataforma na Lua para de lá se fuzilar o mundo.

Se isso acontecer, acabaremos todos ao mesmo tempo e mal de muitos é consolo dos pobres. Só desejava saber a hora exacta para meter-me com Dondoca na cama, morrer junto com ela. 

quinta-feira, junho 05, 2014


Estuário do Tejo em tons de prata.








O Manuel foi trabalhar para Angola durante dois anos. Quando voltou a casa confessou á mulher:

 - Maria, Angola está cheia de mulheres boas e eu não aguentava mas na hora H, quando me lembrava de ti, saía logo de cima delas.

Ao que a mulher respondeu.


 - Também eu me lembrei muito de ti amor mas, como deves entender, é muito mais simples sair de cima do que debaixo.

Whitney Houston - I Will Always Love You

Grandes vozes da música  saem prematuramente da vida. Esta foi mais uma a não conseguir conviver com o talento absolutamente excepcional com que a natureza a dotou. Anos antes tinha sido Elvis Presley, ele com 42 anos, ela com 49 , separados no mundo por 35 anos.


Ricardo Araújo Pereira - Mixórdia de Temáticas

A Doença dos cromos dos jogadores de futebol do mundial.

Ossadas encontradas no convento de Tuan na Irlanda
O catolicismo 

irlandês

no seu pior
   











«"Alguém mencionou a existência de um cemitério para recém-nascidos, mas aquilo que encontrei foi mais que isso", declarou a historiadora Catherine Corless.

Ao efetuar pesquisas nos arquivos de um antigo convento de Tuan (oeste da Irlanda), atualmente divido em lotes, a historiadora encontrou notas sobre a morte e enterro, sem caixão nem pedra tumular, de 796 recém-nascidos.

William Joseph Dolan, familiar de uma criança que viveu na instituição, apresentou uma queixa para perceber o que se passou na época.

Num outro escândalo, entre 1922 e 1996, mais de dez mil mulheres jovens e mulheres trabalharam gratuitamente em lavandarias exploradas comercialmente por religiosas católicas na Irlanda.» 


PS - Seria preciso mais este caso, a todos os títulos condenável, para se concluir que a religião nada melhora relativamente aos maus comportamentos humanos?

 - Será possível continuar a pensar que a moral tem as raízes na religião?

Há pessoas religiosas que consideram ser difícil imaginar como, sem religião, alguém pode ser bom, ou há-de querer ser bom.

Mas que lindos exemplos.... só mais um.

Mia Couto
E SE OBAMA

FOSSE AFRICANO?














Volto hoje a um texto que coloquei aqui, no Memórias Futuras, aquando da eleição de Obama à palavra de ordem de “We Can”. Uma das maiores vitórias do povo americano por aquilo que ela significou numa sociedade dominada por forças retrógradas, conservadoras e em muitos sectores também racista.

Mia Couto, que lá em Moçambique também vibrou com essa eleição, escreveu este lindo texto em cima do acontecimento, pleno de emoção mas, o que me faz voltar a ele é um outro documento que Mia Couto anexou ao seu, da autoria do escritor camaronês Patrice Nganang, intitulado “E se Obama fosse camaronês”, porque este não perdeu a actualidade e sugeriu a Mia Couto uma série de perguntas sobre a hipótese “E se Obama fosse africano e concorresse à presidência de um país africano?”.

Nada pode ser visto fora do contexto social em que os factos ocorrem mesmo quando se trata da eleição de Obama que deve ser considerada uma vitória e um avanço para a humanidade.

Pelo que se percebe dessas perguntas é que a vitória de Obama foi uma vitória de um país que se chama Estados Unidos da América e que não teria ocorrido, estabelecidos todos os paralelismos, num país africano onde dominam os déspotas e os racistas que não o povo, simples e hospitaleiro que tive oportunidade de conhecer e conviver, primeiro o povo Luena, no leste angolano e mais tarde na cidade da Beira em Moçambique.


 MIA COUTO

Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.

Na noite de 5 de Novembro, o novo Presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando, comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os EUA não nos dariam motivo para festejarmos.

Nos dias seguintes fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns queriam testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, de mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam a Obama de “nosso irmão”. E pensei: estarão todos estes dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos apenas nos outros não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo.

Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: “E se Obama fosse camaronês?”

As questões que o meu colega dos Camarões levanta sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência de um país africano? São estas as perguntas que gostaria de explorar neste texto.

E se Obama fosse um africano e candidato a uma presidência africana?

1º - Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa se tomarmos em conta os anos de permanência de um mesmo presidente em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabué, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões e por aí fora perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs para além do veredicto popular.

2º - Se Obama fosse africano o mais provável é que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-lhe-iam, por exemplo, como no Zimbabué ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-lhe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.

3º - Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente, descobriram que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado “ilegalmente”.

Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, ver-se-á livre de um opositor.

4º - Sejamos claros, Obama é negro nos EUA. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano veria a sua raça ser-lhe atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele seja importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por “um não autêntico africano”.

O mesmo “irmão negro” que hoje é saudado como o novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo o representante dos outros, dos de outra raça, de outra bandeira ou de nenhuma bandeira.

5º - Se fosse africano, o “nosso irmão” teria que dar muitas explicações aos moralistas de serviço quando pensasse incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais, pecado mortal para os chamados advogados da “pureza africana”. Para estes moralistas – tantas vezes no poder, tantas vezes com poder – a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.

6º - Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente de sentar-se à mesa das negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado – a vontade do povo expressa nos votos.

Nesta altura, estaria Obama sentado à mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais quando estes não correm bem aos ditadores.

Inconclusivas conclusões:

Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos a falar e nós mesmos, moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.

Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.

A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos – as pessoas simples e os trabalhadores anónimos – festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.

Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no passado dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.

No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África.

No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava a ser derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns casos. Noutros a desistência e o cinismo.

Só há um modo de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos também possam vencer e nós, africanos de todas as etnias e raças venceremos com esses Obamas e celebraremos em nossas casas aquilo que festejamos em casa alheia.

Jornal “Savana” 14 de Novembro de 2008 

Estava a admirar-lhe Vasco o apetite, quando seu coração quase parou.
OS VELHOS
MARINHEIROS

(Jorge Amado) 

Episódio Nº 98









Seus olhos suplicantes, a voz de quem ia ter imediatamente uma coisa, decidiram Vasco. Era um pedido louco, como penetrar naquele círculo de desejo e ódio e de lá retirar o denodado pequinês, cuja bravura raiava pela temeridade? Procurou nas vizinhanças um galho caído e com ele armado, a ouvir os comovedores gritinhos de Clotilde, avançou em direcção aos cães como os cavaleiros medievais enfrentavam com sua lança o dragão de sete cabeças, a lançar fogo por todas elas, para obedecer às ordens de sua dama.

Sua inesperada presença causou rebuliço e confusão. O boxer suspendeu a guarda, recuou um passo e disso se aproveitou o grande vira-lata para atacá-lo por detrás. Jasmim, sentindo ser o objectivo daqueles movimentos do comandante, atirou-se para a frente e atropelou o fox, embolando os dois pelos canteiros.

 De tudo isso, aproveitou-se aquele vivíssimo vira-lata menor para arrastar dali a requestada fêmea e levá-la para um beco próximo, mais calmo e favorável ao amor.

Conseguiu o comandante agarrar a ponta da correia de couro e arrancar Jasmim dos dentes do fox que, no final, ficou com ar de tolo a procurar a companheira.

Quando lhe obteve o rastro e partiu em direcção ao beco, era tarde: os mestiços já estavam encomendados.

Clotilde nem agradeceu. Apertava o pequinês com os seios e o rosto, beijava-lhe o focinho magoado, examinava-lhe os ossos, desinteressada por completo da magnífica batalha a continuar entre o boxer e o dinamarquês falsificado, agora alimentada apenas pelo prazer da luta, sem fêmea, como prémio, a lamber amorosa as feridas do vencedor.

Não há nada no mundo sem seu lado positivo. Daquela proeza a excitar o riso dos demais passageiros e a maliciosa curiosidade de uns moleques de rua, resultou a decisão de levar Jasmim de volta ao navio, a cidade estava demasiadamente cheia de tentações e perigos para o pobre inocente.

Assim foi feito e, desta forma, libertou-se Vasco da companhia incómoda e limitadora dos outros companheiros de viagem.

Como já era quase hora do almoço, esperaram a bordo o toque da sineta, Clotilde ocupada em pôr iodo nas marcas de dente deixadas pelo fox numa das pernas de Jasmim.

Foi assim que, pela tarde calorosa, como dois adolescentes, eles andaram na cidade. Ela refeita das caninas emoções matinais, ele elevado em seu conceito pela coragem revelada e pela rapidez em atender a seu pedido.

Depois de rodarem pelas ruas e praças, terminaram numa sorveteria onde ela, glutona, quis provar todas as especialidades da casa, compará-las com os sorvetes de Belém, os melhores do universo em sua opinião.

Estava a admirar-lhe Vasco o apetite, quando seu coração quase parou: lançara os olhos para os lados da Ponte do Imperador (a sorveteria era na Rua da Aurora, viam dali a velha e nobre ponte) e, de repente, enxergou, por entre a multidão a passar, o vulto de uma gorda senhora vestida de preto, um xale na cabeça a esconder os cabelos brancos, levando pela mão uma criança.

Apenas por um fugaz instante vislumbrou-lhe o rosto mas, tinha certeza, era Carol, velha e terna avó, a sorrir para o menino.

Esqueceu-se Vasco da convidada ao lado, de sua condição de comandante em serviço activo, dos sorvetes a pagar, atirou-se porta afora, a correr, em direcção à Rua da Imperatriz por onde desaparecera a fugidia visão. Não mais a encontrou, ainda disse seu nome em voz alta, fazendo voltarem-se alguns transeuntes. Deu-se conta, então, de haver largado Clotilde sozinha na sorveteria, retornou às pressas. 

quarta-feira, junho 04, 2014

IMAGEM

Já perceberam que eu sou o protector, não perceberam?




MORENA:  O meu marido hoje mandou-me flores! Já sei que esta noite vou ter que abrir as pernas!


LOIRA: A sério... Porquê?! Não tens uma jarra?!

Camada de Nervos

Que grande paranóia...

Mariah Carey - Without You  (legendado)


Por favor, façam um monumento a esta canção, uma lápide, uma placa, o nome de uma rua ou então, simplesmente, toquem-na e sonhem...


O que lhes está reservado?
O Futuro

do Homem









O futuro do homem no plano genético é muito pouco interessante pois não é provável que venham a acontecer grandes mudanças como as que ocorreram nos últimos 100.000.


A força que muda a nossa biologia é a selecção natural que age através das diferenças entre a mortalidade e a fertilidade entre os indivíduos mas, como a medicina quase que aboliu a mortalidade antes da idade reprodutiva, se todas as famílias tiverem dois filhos e nenhuma mortalidade antes da procriação, a selecção natural, pura e simplesmente, desaparecerá por completo.


As forças da evolução foram completamente mudadas pelos desenvolvimentos dos últimos 10.000 anos com a invenção da agricultura e a criação de animais e, como em todas as aplicações, pode haver efeitos colaterais nocivos cabendo ao homem direccioná-los.

Não há dúvidas de que os resultados alcançados pela agricultura e criação de animais permitiram ultrapassar uma crise, mas prepararam outras.

Por exemplo, a pastagem indiscriminada de cabras, ovelhas e até de bovinos em ambientes secos e de solos frágeis determinou rapidamente uma transformação irreversível e o deserto do Sara foi e continua a ser uma consequência destes erros.

A Mesopotâmia foi em tempos de uma fertilidade lendária mas os terrenos foram vítimas da salinização devido a irrigações para fins agrícolas e o resultado foi, mais uma vez, a desertificação parcial.

Da mesma forma, o uso militar do cavalo não podia ter tido outro efeito que não fosse a propagação da guerra numa revolução comparável à da invenção das armas de fogo.

Mas, no plano genético, a grande mudança que está para acontecer na espécie humana tem a ver com as migrações que conduzem a uma mestiçagem contínua e complexa.

No final deste processo, se ele continuar, como tudo leva a crer, ter-se-á uma humanidade que, num determinado aspecto, apresentará menos diferenças entre os grupos à custa de uma maior diferença entre os indivíduos no seio de cada grupo.

Haverá, por isso, menos razões para o racismo o que será, em si mesmo, uma vantagem, mas resulta da simples observação que as taxas de reprodução são muito diferentes entre os vários grupos étnicos,

Os europeus estão demograficamente estacionários ou em perda, enquanto que a população de muitos dos países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento está a aumentar a um ritmo que nunca se viu.

De acordo com os dados da ONU, no nosso planeta vivem 6,5 milhares de milhões de pessoas, e 75% delas em países subdesenvolvidos com menos de 2 dólares por dia.

Considerando a década de 1995 a 2005 a variação da população registada nos diferentes continentes foi a seguinte:

- Europa………………………………………… - O,36%
- América do Norte (Canadá e EUA)… + 9,8%
-América Latina…………………………… + 13,8%
- África…………………………………………. + 20,4%
- Ásia……………………………………………. +12,1%

Parece, pois, que os tipos louros e de pele clara estão a diminuir a frequência relativa num mundo que deve aprender a não se multiplicar e, por outro lado, parece indesmentível que a capacidade de controle da natalidade varia na razão inversa dos níveis de desenvolvimento, bem estar e educação dos povos.

Mas o futuro cultural do homem está em pleno desenvolvimento e de certo irá acentuar-se nos tempos vindouros em consequência de uma verdadeira explosão tecnológica no sector das comunicações.

Uma parte importante deste desenvolvimento vem dos computadores que funcionam como uma extensão do nosso cérebro que ajuda a memória e a nossa capacidade de efectuar cálculos numéricos.

Em todo o caso, a comunicação entre os indivíduos está limitada, como no tempo do paleolítico, pelas barreiras linguísticas muito tenazes entre as sociedades humanas.

A tendência geral é para a diminuição do número de línguas faladas, muitas em extinção, e para o aumento de pessoas capazes de falarem correntemente, para além da língua materna, pelo menos uma das línguas mais comuns.

A língua mais falada no mundo é o Chinês, mais de mil milhões de pessoas, e a seguir o inglês com a particularidade de que mais de um terço das pessoas que o falam fazem-no como segunda língua ou língua estrangeira aprendida.

Seguem-se as línguas espanhola, o Hindu, falada por 70% dos indianos, e em igual posição, o Árabe, o Bengali e o Russo.

Talvez o computador venha a tornar mais fácil no futuro a tradução mas, por enquanto, ainda estamos longe.

Contudo, as dificuldades de comunicação não constituem o problema mais grave do mundo, outros existem, de natureza social, bem piores, como sejam:

- O número de pessoas vivendo abaixo do nível de pobreza, a ignorância, o crescimento demasiado rápido das populações, o racismo, o abuso das drogas e mais recentemente o terrorismo.

Muitos destes problemas correlacionam-se e interagem agravando os resultados e dificultando as soluções.

O fortíssimo aumento demográfico nos países mais pobres é uma consequência de descobertas médicas que reduziram drasticamente a mortalidade infantil sem que tenha havido uma diminuição dos nascimentos que compensasse.

Os programas sociais foram desadequados e estão na origem de profundos desequilíbrios e sofrimentos.

A única esperança reside na educação e aqui os modernos meios de comunicação abrem grandes possibilidades mas ainda estamos longe de os saber utilizar de modo eficaz e com objectivo educativo.

As religiões, infelizmente, também se esquecem muitas vezes da sua missão de paz social, transformando-se em adeptas de extremismos preocupantes.

É muito provável que a causa mais importante do actual mal estar seja precisamente o crescimento demográfico excessivo em muitas partes do mundo mas poucas são as religiões que se preocupam com isso, também porque consideram que dar apoio a campanhas de controle dos nascimentos poderia constituir um perigo contra os seus próprios interesses.

Em certo sentido, várias religiões e outras entidades que têm papel fundamental na sociedade humana, mostram uma confiança excessiva numa forma de “darwinismo social” que o próprio Darwin nunca aceitou.

Pensar que as relações sociais podem ser entendidas como uma forma de selecção natural numa luta de vida ou de morte é uma visão apocalíptica que poderá ter a ver com a luta pela sobrevivência entre presa e predador mas não para uma competição entre indivíduos da mesma espécie em que a selecção natural gera facilmente comportamentos corporativos e altruístas.

Mas, atenção, esse risco de competição não será importante se a densidade populacional não for excessiva e, neste aspecto, o comportamento reprodutivo na Europa está francamente em descida mas o resto do mundo tem de seguir rapidamente o exemplo.

É tarefa de toda a humanidade prevenir os desenvolvimentos perigosos que possam derivar das suas potencialidades económicas, tecnológicas e do conhecimento porque só aprendendo a prever é que é possível gerar medidas de controlo que as possam evitar.

Estamos a chegar a um ponto em que nos apetece pedir à humanidade que pare um pouco para pensar… porque nos sentimos apreensivos, porque já andámos muito nesta longa caminhada de tantos milhares de anos, porque já alcançamos tantas coisas e obtivemos tantas vitórias no que se refere ao respeito que nos é devido por nós próprios e, no entanto, olhamos para os jornais e muitas coisas que lá vemos reconduzem-nos ao ponto zero e outras fazem-nos recuar centenas de anos.

Ao longo do processo evolutivo desenvolvemos características que nos permitiram uma vitória improvável na luta pela sobrevivência.

Como prémio, ganhamos há dez mil anos, o direito a enveredar por uma nova fase no nosso percurso de vida que nos abriu perspectivas surpreendentes mas recheadas de perigos e armadilhas e à medida que caminhamos para a aldeia global os desafios apenas adquirem uma cada vez maior dimensão.

Do passado distante sentimos a nostalgia do “espírito” da tribo que nos dava a segurança de fazermos parte integrante de um grupo que era, também ele, a nossa própria razão de ser sem o qual, a nossa vida, não só era impossível como impensável.

Hoje estamos mais sós, mais entregues a nós próprios, a tribo já não existe substituída que foi por uma sociedade tão complexa que em muitos aspectos a deixámos de compreender.

Temos um passado que é uma fonte de ensinamentos, conhecimentos científicos que eram impensáveis há meia dúzia de anos e, no entanto, repetimos, no plano social e político, erros de criança permanentemente desatenta.

Impõe-se uma tomada de consciência colectiva sobre tudo aquilo que já conseguimos e é consensual no mundo, servido por uma determinação assente em organizações de âmbito mundial com força e prestígio indiscutíveis.

O mundo tem que ser regulado e posto ao serviço dos valores da cidadania e sobre esses valores já ninguém tem dúvidas, o que existe são fragilidades intrínsecas ao próprio homem na sua implantação.

Por vezes julgamos que estamos próximos…quase que lá chegámos…pelo menos estamos no bom caminho… mas é mais a nossa boa vontade… porque não conseguimos deixar de sentir que o desalinho na nossa caminhada para o futuro traduz-se num grau de incerteza e de ansiedade.

Será que é possível reencontrar o “espírito” da tribo no mundo global?



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