sábado, maio 26, 2007

O Delator


O DELATOR

Nesta história da Sr.ª Directora Regional que levantou um processo disciplinar e suspendeu de imediato um professor que há 20 anos prestava serviço na Delegação Regional porque alguém lhe foi contar umas coisas desagradáveis há cerca do Sr.1º Ministro por ele ouvidas numa conversa particular ao referido professor, a personagem mais sórdida é, para mim, exactamente, esse alguém cujo nome não aparece e que, portanto, é apenas o Delator.

Este papel de delator desempenhado pela pessoa que movida por instintos, mais que interesses, foi fazer queixinhas à Directora, para além de sórdido é o mais odioso.

O delator em causa era “amigo” ou simplesmente colega do professor e conhecia suficientemente a Directora para saber que após a “inconfidência” ela iria agir contra o professor portanto, a delação, foi a arma cobardemente escondida para fazer mal a alguém por interposta pessoa que iria dar a cara na punição enquanto ele ficaria escondido no anonimato reservado aos delatores.

Temos, assim, uma cena com três personagens: a vítima, o tirano, neste caso a tiranete e o bufo.

Os dois primeiros são conhecidos, identificados, reconhecidos na sociedade que os aponta e os julga, o terceiro espera sair incógnito e para despistar é até capaz de emitir em público juízos críticos sobre o que se passou com a desfaçatez dos sem vergonha.

Todos aqueles que têm uma experiência de vida do tempo da “outra senhora” e mais ainda aqueles que tiveram a ousadia e a coragem de a combater, lembram-se bem destes personagens sinistros que nessa época integravam um “corpo” que constituía uma espécie de arma secreta do regime para lutar contra os seus opositores.

O regime acabou mas o “jeito”ficou porque os malefícios das ditaduras são assimilados pela cultura e vivem pelo tempo fora como que em estado de hibernação dentro de potenciais delatores à espera de uma qualquer oportunidade que possa aparecer, por exemplo, na pessoa de uma “zelosa” Directora Regional.

Poder-se-à pensar que estamos apenas na presença de uma vítima, neste caso, o professor mas infelizmente toda a sociedade é vítima.

Recriar comportamentos do passado já julgados e condenados é andar para trás, retroceder no processo de aperfeiçoamento da nossa sociedade e diminuir a nossa esperança no futuro.

Os nossos jovens têm que receber das pessoas das gerações mais velhas que têm responsabilidades públicas, exemplos de que hoje já não é como era nos tempos dos avós deles e os governos democráticos não podem continuar a servirem-se de pretensos instrumentos de manutenção do poder que serviam nos regimes ditatoriais mas que só desacreditam e prejudicam em democracia.

Todos os quadrantes políticos condenaram veementemente este caso e isso foi bom, foi positivo, mas o que aconteceu poderia ter atingido qualquer um deles que estivesse no poder já que estes comportamentos são transversais e o “vírus” da bufaria pode atacar em qualquer lado.

O governo de José Sócrates com o rótulo de socialista acusou, mais uma vez, os tiques do poder e refugiou-se envergonhadamente nos argumentos formalistas do Direito Administrativo, de que é preciso conhecer os factos, deixar que o Processo corra os seus trâmites… blá-blá-blá-blá-blá.

Ora, neste caso, o Sr. 1ºMinistro disse uma coisa importante: “ninguém será punido por delito de opinião”, mas será que ele poderia ter dito o contrário disto?

Claro que não e, sendo assim, disse pouco e a desculpa de que não conhecia os factos não é suficiente porque um juízo condenatório e fortemente condenatório, em tese, com pessoas imaginárias, só lhe teria ficado bem.

Para isso, no entanto, era preciso um desassombro e uma coragem que não são apanágio dos políticos de hoje quando estão no poder.

Eng. Mário Lino


O Eng. Mário Lino

Até parece que alguns ministros do governo de Sócrates gostam de se por a jeito para “levarem pancada” da oposição que aproveita agradecida por não saber o que mais há-de fazer.

Quando Sócrates se candidatou a 1º Ministro levava no programa do PS a construção do aeroporto da OTA na sequencia de muitos estudos feitos ao longo de trinta anos e que apontavam para este local como o melhor ou o menos mau de entre aqueles que foram avaliados.

Sabendo isto os eleitores deram a Sócrates a maioria absoluta.

Os estudos que então foram efectuados sobre uma hipótese alternativa em Rio Frio não prosseguiram quando se constatou que prejuízos de natureza ambiental inviabilizavam essa opção já que nem eram passíveis de minimizar:

- Toda essa região assenta sobre o maior lençol freático de Portugal constituindo uma reserva de água potável de valor estratégico para o país e que correria o risco de ser contaminada com os gases de combustão que se infiltrariam no terreno;

-Abrange uma zona que serve de corredor aéreo a aves migratórias que chegaram lá primeiro que os aviões;

-E, finalmente, está junto das reservas ecológicas das bacias do Tejo e Sado cujo valor e importância são indiscutíveis a imporem a sua defesa.

Sair de Rio Frio para o Poceirão era mais ou menos como mudar de passeio na mesma rua, não alterava absolutamente nada.

Com estes pressupostos, que já constavam dos dossiers e que, só por si, fizeram parar quaisquer outros estudos sobre aquela zona por serem desnecessários, o governo de Sócrates, no cumprimento do seu programa, avançou para a OTA.

Pergunta-se, então, por que razão o Sr. Eng. Mário Lino veio com aquela história do “deserto a sul do Tejo”a fazer lembrar camelos e que até obrigou o Dr. Almeida Santos a admitir a hipótese de um terrorista mal intencionado dinamitar a ponte sobre o Tejo e isolar os portugueses do resto do mundo?

O Eng. Mário Lino fez-me lembrar aquele fulano que armado com uma G3 atira pedrinhas ao inimigo e, claro, depois apanha de volta com um calhau na cabeça.

Bem feita…quem o manda ser poupado nas munições?








quarta-feira, maio 23, 2007

Falar verdade


Falar Verdade

A verdade, em política, é inimiga do poder, por outras palavras, quem falar verdade em campanhas eleitorais não ganha eleições.

Numa versão mais “soft” e uma vez que em política a mentira não cobra, em vez de se mentir oculta-se a verdade ou refugia-se em verdades parcelares ocultando-se a parte mais importante, a que têm um impacto negativo no espírito das pessoas.

Nas últimas eleições legislativas Sócrates prometeu que as “SCUD” se iriam manter o que, naturalmente, agradava aos eleitores.

Na realidade, o que já se sabia então, é que umas manter-se-iam e outras não, mais do que suficiente para se poder afirmar sem mentir, que as SCUD” se manteriam… e ponto final.

As explicações de pormenor viriam mais tarde, depois das eleições, porque, como se sabe, as pessoas não vão ler os extensos programas eleitorais.

Mas porquê esta necessidade de driblar a verdade como condição para se ganharem eleições?

A resposta só pode ser uma: as pessoas, na sua esmagadora maioria, entregam o voto a quem lhes promete facilidades e comodidades para as suas vidas ou, no mínimo, a manutenção de um “statu quo” de que tiram vantagem e ao qual se ligaram por hábito ao longo dos anos.

Dizendo de outra maneira:

-Quando os problemas de uma sociedade de muitos milhares ou milhões de pessoas concentradas em grandes urbes e ainda por cima vivendo num mundo globalizado, ultrapassam a capacidade de entendimento do vulgar cidadão que, não os entendendo, divorcia-se deles, o que acontece é cada um refugiar-se na defesa egoísta dos seus próprios interesses.

-Com uma variedade tão grande de situações os interesses de uns e de outros chocam-se inevitavelmente com a agravante de que não falamos de interesses de médio ou longo prazo mas sim dos interesses de hoje, aqueles que nos movem, mesmo quando são inimigos dos interesses de amanhã.

Vejamos, agora, a propósito das eleições para a Câmara de Lisboa, o problema levantado pelo intenso trânsito de automóveis na cidade:

Eu recordo perfeitamente o início da década de sessenta quando o tráfego em Lisboa era regulado por polícias sinaleiros e sofria, à tardinha, na hora de saída dos empregos e lá para os lados da Baixa, de uns engarrafamentos que não passavam de ligeiros compassos de espera nas deslocações para o nosso destino.

Depois, progressivamente, ao longo dos anos, o lisboeta foi-se habituando a sofrer sentado ao volante, gastando cada vez mais tempo e gasolina em intermináveis filas de espera naquilo a que se poderia chamar um autêntico processo masoquista.

E o que se pergunta agora é: até quando?

Sim, porque para tudo há limites e as soluções não passam, com certeza, por gastar milhões em túneis do Marquês em mais um convite ao automóvel e ao automobilista que vai poder andar mais depressa durante 1275 metros…uma autentica felicidade!

Mas o automóvel não atravanca só as ruas e avenidas da cidade, atravanca toda a cidade ocupando passeios e tudo quanto é espaço à superfície e no subsolo.

E assim, o automóvel que foi símbolo de liberdade e autonomia e até de prestígio e afirmação pessoal, sonho dos jovens do meu tempo, dos passeios ao fim de semana ao campo e à praia com o farnel na bagageira, vulgarizou-se e acabou por se tornar no pesadelo do dia a dia dos lisboetas.

E agora, quem vai ter coragem para falar verdade?

Quem vai ter coragem para dizer aos lisboetas que a utilização indiscriminada dos automóveis na cidade chegou ao fim?

Quem vai ter coragem para admitir o “mea culpa” no adiar sucessivo da solução óbvia que passa pelo investimento privilegiado nos transportes públicos articulados e de qualidade para todos os lisboetas?

Quem vai ter coragem para tirar os lisboetas dos bancos dos seus automóveis e limpar a cidade da tralha dos carros para que nela se possa andar e respirar?

Os lisboetas são comodistas, eu sou comodista, o meu vizinho é comodista e os responsáveis pelo governo de Lisboa não contrariaram, como era sua obrigação no interesse da cidade, esta natural tendência para o comodismo e permitiram o agravamento de uma situação que vai agora custar muito mais a resolver… e não nos interessam os maus exemplos que vão por outras cidades desse mundo fora.

O “facilitismo” e o comodismo não podem ser mais paradigma na acção de qualquer responsável pelo governo da cidade de Lisboa no que à utilização do automóvel se refere porque é dele que estamos a falar.

Os cidadãos têm que interiorizar que o automóvel não é o meio de transporte normal e indicado para as pessoas se deslocarem na cidade e essa é a principal ideia força numa política de transportes para a cidade de Lisboa que tem estado longe das decisões.

Agora já não é só falar verdade, é ter a coragem para decidir numa matéria que tem a ver com a alteração dos hábitos do dia a dia dos lisboetas.

Os lisboetas têm que decidir se gostam do seu automóvel ou da sua cidade mas não sejamos demagógicos porque as pessoas, no seu dia a dia, têm que se deslocar e a opção só pode ser tomada voluntariamente ou imposta pelas autoridades se existirem transportes públicos verdadeiramente alternativos ao automóvel.

O dinheiro que se gastou no túnel do Marquês teria constituído uma boa ajuda para aumentar o investimento na rede pública de transportes porque o país não é rico e o dinheiro não chega para tudo e é exactamente nesta perspectiva que o túnel está a mais, porque não foi feito no tempo certo.



















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