sábado, julho 09, 2016

O menino pobre da Madeira....
O Golo de Portugal

contra a Croácia
















Um português nascido no Brasil corta uma jogada perigosa da Croácia na sua grande-área.

A bola é recolhida por um preto da Musgueira, que avança no terreno até ter a noção do melhor passe.

Manda a bola para um mulato da Amadora, que a mete num menino pobre da Madeira. Este remata à baliza, mas o guarda-redes contrário só tem tempo de a defender para um espaço livre, onde surge um cigano a fazer golo.


Todos portugueses. Nenhum vai meter uma bomba no Rossio. Agnósticos, ateus ou cristãos, não sei. Todos filhos da nossa cultura……

Racismo ? Não obrigado !…(desde que metam golo  ou não metam!...)


À Porta do Ministério...
















À porta do Ministério da Educação, na Av. 5 de Outubro,
foi encontrado um recém-nascido abandonado.

O bebé foi limpo e alimentado pelos funcionários que decidiram dar conhecimento do assunto ao Ministro da Educação.



Depois de oito dias, é emitido o seguinte despacho, dirigido ao Secretário de Estado:



Forme-se um Grupo de Trabalho para investigar:

a) - Se o 'encontrado' é produto doméstico deste Ministério;

b) - Se algum funcionário deste Ministério se encontra com responsabilidades neste assunto;



Após um mês de investigação, o Grupo de Trabalho, conclui:

 - O "encontrado" nada tem a ver com este Ministério pelas razões seguintes:

a) - Neste Ministério não se faz nada por prazer e ainda menos por amor;

b) - Neste Ministério jamais duas pessoas colaboraram intimamente para fazerem alguma coisa de positivo;



c) - Neste Ministério tudo o que se faz não tem pés nem cabeça;

d) - No arquivo deste Ministério nada consta que tivesse estado terminado em apenas 9 meses.



TIETA DO AGRESTE
(Jorge Amado)




EPISÓDIO Nº 171




























Ao saber da decisão da venda, anunciada por Josafá no Bar dos Açores e transmitida ao sogro por Astério, Zé Esteves se pôs imediatamente a caminho percorrendo os três quilómetros e meio a separar as terras de Jarde das ruas da cidade. O preço não lhe pareceu alto, apenas o pagamento tinha de ser à vista. De volta a Agreste Zé Esteves contou e recontou o dinheiro escondido, pé-de-meia escondido em cerca de doze anos, a partir do primeiro cheque enviado pela filha rica de São Paulo. Tem para pagar mais de metade mas ainda falta um bocado de dinheiro.

No mesmo passo retornou à presença de Jarde e Josafá. Propôs entrar com a maior parte e completar o restante mês a mês. Josafá recusou: quer o dinheiro todo de uma vez, não se dispondo a financiar nem um tostão. Por que não pede à sua filha? Para ela não é nada, uma ridicularia – perguntou enquanto o velho Jarde, calado, se retirava, deixando a conversa por conta dos dois.

Foi ver as cabras sob o sol, por seu gosto morreria ali, nos outeiros calvos perto dos bichos indóceis.

Pedir à filha, fácil de dizer, difícil de fazer. Zé Esteves coça a cabeça. Tieta no pouco tempo que leva em Agreste, comprara a mansão de dona Zulmira, uma das melhores residências da cidade, onde ele e Tonha vão viver como lordes, mandara nela fazer obras – na opinião de Zé Esteves dispensáveis, onde já se viu em Agreste moradia com dois banheiros, cada qual o maior? – adquiriu terreno em Mangue Seco onde construía casa de veraneio, gastos enormes, um dinheirão e tudo pago no contado. Tieta não mede despesas para ter conforto; toca o bonde para a frente, exigindo o melhor: móveis, utensílios, banheiras mandadas vir da Bahia. Banheiras, imagine-se! Para que diabo? Essa gente do sul não sabe mais o que inventar.

Quando Tieta quer uma coisa, não discute, vai pagando. Mas Zé Esteves nunca soube que ela quisesse encostas de morro plantadas de mandioca, outeiros de figo da índia e pedras onde saltam cabras. Josafá deu-lhe prioridade até ao dia seguinte. Não vendo outra solução, Zé Esteves almoça às carreiras, aluga o bote de Pirica, desce o rio para Mangue Seco.

- Por aqui meu Pai? Que foi que deu em vosmicê? – Tieta leva-o a ver a casinha quase pronta onde Ricardo, de brocha em punho, ajudando na caiação lhe pede a bênção. O velho repara no neto: o corneta desasnou, nem parece o rato da sacristia do começo das férias.

Tieta prossegue enquanto visitam a obra:

- Alguma novidade nos trabalhos da casa? Aperte seu Liberato, tome o exemplo de Cardo que botou o pessoal daqui para trabalhar a toque de caixa.

Quero dormir em nossa casa em Agreste, antes de ir embora.

E tu está querendo ir?

- Assim liguem a luz nova. Só espero a festa. Vim por um mês, vou passar quase dois, já pensou?

- Para a festa tu tem de ficar pois foi tu minha filha, quem botou essa luz em Agreste. A quem se deve agradecer o benefício? Tieta sente por trás do elogio, a agitação e o acanhamento do pai:

- A que veio, Pai? Me diga.

Quero tratar um assunto com você.

- Pois fale que eu lhe ouço.

- Aqui não – diz em voz baixa, apontando com os olhos Ricardo, os trabalhadores, a Toca da Sogra onde o Comandante Dário, que o acolheu à chegada, está estirado na rede, lendo.

- Então venha comigo, vamos ver se vosmicê ainda tem pernas para subir um cômoro.

O minúsculo maiô deixa à vista mancha escura e recente na parte interna na coxa de Tieta que explica: pancada de um caibro, ali, na obra. Ela e Ricardo, para dar o exemplo, trabalham de operários. Ouvindo a explicação, Ricardo sorri à socapa. Sorte o maiô cobrir a bunda, o ventre, o entre pernas. Recorda a voz da tia entre gemidos.

- Doido, tu não vai acabar me obrigando andar de calças compridas aqui na praia.

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 38






















Se voltarmos a Córdova, toda a Andaluzia se levanta contra o maldito califa berbere! – garantiu Fátima.

A legitimidade dos sonhos de grandeza das duas princesas alimentava-se do sangue real que lhes corria nas veias, fosse do lado paterno, pois eram netas de Hixam III, último califa de Córdova, fosse do lado materno, pois sua mãe Zulmira, também era neta do antigo rei de Sevilha Al – Mutamid.

As duas princesas desejavam regressar pela porta grande a Azzarhat, o palácio real de Córdova, acreditando que as taifas muçulmanas da Andaluzia, os pequenos reinos mouros que no presente se submetiam a Ali Yusuf, se revoltariam contra aquele estrangeiro africano e correriam a agrupar-se em redor das herdeiras legítimas dos Benu Ummeya.

No entanto, ambas sabiam que aquele glorioso desfecho só seria possível se fosse dado o primeiro passo.

Para se libertarem daquele longo cativeiro em Coimbra, precisavam da relíquia e para chegarem a ela precisavam de alguém que as ajudasse!

Por onde andará o Mem? – perguntou Zaida.

Fátima torceu o nariz, desconfiava daquele almocreve, que considerava um interesseiro.

Anda sempre atrás das cristãs... – comentou.

Zaida sorriu com uma ponta de orgulho. Mem era um galanteador amável com as mulheres e muito bonito. A mãe das raparigas apaixonara-se por ele, mesmo sendo muito mais velha, e Zaida também o beijara várias vezes.

Mas a morte de Zulmira ensombrara o coração do almocreve e nos últimos anos este afastara-se delas, cumprindo o triste luto por Zulmira.

Mem é a nossa única esperança! – insistiu Zaida.

Descontente, Fátima colocou-lhe uma pertinente questão.

O Abu vai vasculhar nas ruínas? Demorará semanas!

De nada valia mandar uma mensagem a Abu Zakaria, dirigindo-o a Sellium, se ele não soubesse exactamente onde procurar a relíquia.

O perímetro da busca ainda era largo e as ruínas obrigariam a escavações demoradas. Tinham de ser mais exactas, caso contrário Abu arriscaria a vida em vão.

Enervada, Fátima concedeu:

 - Só a bruxa, a tal Sohba, que dizem ser nossa tia, é que sabe onde enterraram a coisa! Por onde andará essa louca?

Zaida partilhou com a irmã uma hipótese que há muito lhe pairava no espírito. A mãe Zulmira escondera-se uns tempos em Lisboa onde conhecera o pai delas Hixam de Hisn Abi Cherif, um homem bom, culto e rico, por quem se apaixonara.

Sohba pode ter fugido para lá – admitiu Zaida.

Duvido, resmungou Fátima.

Uma coisa era Mem ir a Santarém dar um recado a Abu Zhakaria. Outra era pedir-lhe que se dirigisse a Lisboa, à procura de uma misteriosa bruxa.


Não temos outra solução, rematou Zaida – Terei de o convencer.

sexta-feira, julho 08, 2016

E Vive la France....
Ganhou a França
















Onze contra onze e... desta vez ganhou a França!

Portugal nunca seria favorito na final deste Campeonato Europeu quer fosse a Alemanha ou a França mas, mal por mal, lá no íntimo, com certeza que o nosso Eng. Seleccionador haveria de preferir a França.

Não sei com qual destes dois países, no historial dos confrontos futebolísticos, os nossos insucessos terão sido maiores mas como foram, tanto num caso como no outro, amplamente negativos, também não tem grande importância.

O que importa, é que para nossa satisfação e surpresa de todos, estamos numa final em França, num confronto europeu, contrariando a pequenez, fragilidade e ameaças de sanções que pesam sobre nós.

É verdade que não estamos, ao mesmo nível no Campeonato Europeu de Atletismo, nem de perto nem de longe, excepção e honra seja feita à nossa Dulce Félix vice - campeã dos 10.000 metros, ontem realizados, mas,... o que nós gostamos mesmo é de correr atrás da bola.

Falo por mim. Em miúdo, era capaz de passar horas a jogar à bola mas jamais me passou pela cabeça, então, dedicar-me ao atletismo.

Para os nossos compatriotas que vivem e trabalham em França vai ficar tudo em casa, ou no país onde nasceram ou naquele em que vivem e trabalham.

No fundo, sabemos que não é bem assim...

O patriotismo arreganha-se mais quando somos obrigados a permanecer fora da pátria. Como qualquer outro amor, a distância e a ausência só contribuem para o aumentar, às vezes também para esquecer...

Sei bem que é assim... quando vivi fora deste rectângulo, em África, bastava-me ouvir um fado para me chegarem as lágrimas aos olhos, eram as minhas origens e o meu sentimentalismo a falarem.

Nestes confrontos futebolísticos da Selecção Nacional de Futebol com outros países, a minha preocupação maior vai para os meus compatriotas emigrados, Como devem sofrer mais do que eu quando ela perde... Para agravar a saudade, o sabor amargo da derrota é de mais!

A nossa pátria é uma espécie de mulher amada que quando vive junto de nós não damos muito por ela, inclusivamente queixamo-nos a todo o momento, por tudo e por nada, mas, em caso de separação, vem logo a dor e o vazio da ausência.

No Domingo, será a Final entre Portugal e a França e eu sei, adivinho facilmente, que no caso, improvável, de Portugal ganhar, a alegria dos portugueses que vivem e trabalham em França será muito maior do que a sentida pelos meus concidadãos entre muros.

Passos Coelho, quando chegou ao poder, mandou os jovens e desempregados portugueses emigrar, arranjar trabalho lá fora, sem um pedido de desculpas, uma palavra de sentida justificação ou de pesar, como se fosse indiferente viver e trabalhar dentro ou fora do país.

Preferia o estilo de Salazar que não dizia nada... eles que se desenrascassem! 

Os portugueses não precisam de ser enxotados para fora do país, eles próprios conhecem os caminhos das fronteiras para todas as partes e locais do mundo, que de há muitos anos atravessam, quase desde de sempre, para poderem sobreviver.

Passos Coelho foi muito infeliz nesses aconselhamentos, não por estarem certos ou errados mas por terem sido proferidos... e, por isso, só um povo, no fundo, com costela masoquista, lhe podia ter dado os votos que ele recebeu nas eleições.

quinta-feira, julho 07, 2016

O nosso mágico....
E agora, a Final.





















O futebol tem um tal impacto junto das pessoas que a partir dele podemos até extrapolar coisas tão díspares e fora do contexto como aquela, por exemplo, de que somos os melhores do mundo... ou quase.

Lembram-se do Brasil e do quanto ele ganhou com a sua famosa selecção do Pelé e Garrincha que o tornou muito mais conhecido e admirado no mundo do que pela sua espantosa floresta da amazónia.

Estamos na final do Campeonato da Europa de Futebol e eu, na mesquinhez do meu espírito vingativo, confesso que adoraria ganhar à Alemanha, mais não fosse, para chatear o Ministro Shauble.

Estão a ver como estas cosias se misturam todas...

Reconheço a superioridade da equipa alemã, conheço grande parte dos seus jogadores que jogam em Clubes que eu acompanho ao longo do ano nas Ligas inglesas e espanholas.

São muito bons, tecnicamente falando, fortes atleticamente, combativos, profissionais de mão-cheia.

Por tudo isto eles serão, até pela força da tradição, como se costuma dizer: - ... " 11 contra 11 e no fim ganha a Alemanha" - naturalmente favoritos contra Portugal mas não óbvios vencedores, e eu falo da Alemanha porque não acredito que logo à noite não ganhem à França, mesmo jogando esta em casa.

Adoro futebol porque é um jogo simples, embora existam hoje comentadores de tal forma entendidos que se lhe referem de forma muito complicada mas, o que é aliciante neste jogo é que ele, mais do que qualquer outro, admite todo o génio inventivo dos seus jogadores mais talentosos: as grandes fintas, os grandes remates, as grandes arrancadas ao longo das linhas laterais, as extraordinárias e incríveis defesas dos guarda-redes e, finalmente... o GOLO!!!

Ver o pé esquerdo de Messi colar-se à bola e levá-la por entre os adversários até ao remate fatal, ou ser rasteirado em último recurso, ou o Ronaldo subindo do chão como por artes mágicas, e lá em cima. em suspensão, parado no ar, desferir um remate indefensável de cabeça, como ainda ontem aconteceu no primeiro golo contra o País de Gales, marca um espectador amante da modalidade.

Por alguma razão, o meu pai, quando eu era miúdo, me dizia:  

- "tu quando vês uma bola até cegas!".

quarta-feira, julho 06, 2016

Praia do Vau, a das minhas férias.
Depois das

Férias

















Regressamos à rotina destes encontros matinais com o meu jornal, a minha torrada e o meu cafézinho.

Para mim o dia deve começar assim. Refugiei-me atrás de rotinas que me garantem a normalidade das “coisas”, especialmente num dia em que o meu país vai ser confrontado num desafio de futebol, com Gales, para o qual lhe é dada, pelos entendidos, uma ligeira vantagem.

Eu acho, não, tenho a certeza, que toda a Comunicação Social, em especial a televisão, faz um uso abusivo do futebol, chegando mesmo a um autêntico processo de intoxicação emocional das suas vítimas, todos os que vêm televisão e gostam daquele desporto.

Neste aspecto, desde o Campeonato do Mundo de 1966, em Inglaterra, que todos os portugueses viveram intensamente, sem nunca terem esquecido as lágrimas de Eusébio no fim do jogo e da derrota desafortunada com a Inglaterra, não mais o fenómeno do futebol deixou de ser explorado pela Televisão, tendo atingido o seu pico em 2004, quando o Campeonato Europeu teve lugar em Portugal.

Trata-se de um “produto” de venda garantida que permite que um Canal de televisão se pegue à Selecção Nacional como uma autêntica carraça, durante horas e horas e seguidas, explorando como notícias as cenas mais triviais que levaram o Cristiano Ronaldo a agarrar no microfone que teimosamente lhe punham à frente da cara e a deitá-lo para o fundo de um lago por onde iam a passar.

- Como eu o compreendi!...

Futebol à parte, temos todos vindo a digerir aquela parva decisão dos ingleses de “saírem” da Europa como se isso fosse possível...

Aquele povo é um inveterado e incansável negociador, jeito que lhe veio do seu vasto e prolongado Império, que lhe permitiu ganhar um sentimento de algum ascendente relativamente aos outros povos, reforçado pelo isolacionismo da sua condição de ilhéus, mas esta decisão numa época de globalização não faz, realmente, sentido.

Foi um mau negócio para todos, para a Inglaterra e os seus parceiros, pelo menos no imediato e curto prazo. No médio e longo, outras consequências se farão sentir que com o tempo logo se virão a conhecer.

É evidente que os entendimentos vão continuar a fazer-se, ainda que repensados e deslocados, porque os homens do dinheiro não desistem de lucrar e a imaginação deles não pára para descansar.

Internamente, aguardamos que Bruxelas nos aplique sanções, como sempre se faz quando se está perante os fracos e pobrezinhos. Parece que infringimos as regras quando o nosso Deficit Orçamental em 2015 ultrapassou em 0,2% o que estava superiormente estabelecido.

A falta de solidariedade entre os países europeus, nomeadamente, os do norte, mais ricos, contra os do sul, mais pobres, representa uma obsessão em tratar igual o que é desigual, o que se traduz numa forma de injustiça que, mais cedo ou mais tarde, irá ser fatal para o projecto europeu

terça-feira, julho 05, 2016

A praia do Vau - a das minhas férias no Algarve
Fim das Férias














Aos setenta e sete anos já nada é como era... Recordo a tristeza que era,  quando em jovem, as férias se aproximavam do fim.

A liberdade de fazer em cada dia, na aldeia dos meus avós, o que me desse na real gana, a mim, ao meu irmão e aos meus primos, todos também estudantes e igualmente de férias, os passeios, mergulhos e petiscadas no rio Tejo, que passava ali próximo, ou as caçadas com ratoeiras aos desgraçados dos passarinhos...

Sim, então eram férias... duravam todo um verão, a gente espreguiçava e comia melancia para dentro de um alguidar a meio da tarde. Melancia e férias, nessa fase da minha vida, andavam associadas.

Quando, então, descobri uma arca do meu tio cheia de livros, dos tempos em que ele ainda era solteiro, as férias ganharam outro interesse. Creio que o maior interesse meu pela leitura nasceu nessas férias.

Viver os enredos, esperar pela última página para, finalmente, saber quem era o assassino, passaram a preencher grande parte do meu tempo das férias.

Nas férias do Natal, era o lagar de moer azeitona e produzir azeite do meu avô, o local escolhido para me entreter. Acompanhava todas as fases do processo quando muitas das operações eram ainda efectuadas com recurso à mão-de-obra até que, finalmente, o azeite, dourado e lindo, repousava na “tarefa” da qual saía em bilhas e garrafões para os clientes, donos da azeitona.

Estamos a falar de férias como só acontecem na juventude, quando se tem a sorte de as ter podido gozar numa aldeia em que quase todos eram tios, primos e primas e estavam cheias de gente que aí moravam, viviam, tinham as suas casas, as suas hortas, as suas oliveiras, muitas delas pertenciam àqueles locais por nascimento.

Eram terras com vida própria, com a sua personalidade, que rivalizavam com as outras suas vizinhas, que tinham festas próprias e bailes de sábado à noite, animados por um acordeonista que se deslocava numa motorizada com o instrumento às costas.

Os rapazes circulavam por esses bailes de bicicleta, alguns tendo já debaixo de olho alguma futura namorada, em namoros vigiados pelas mães, como era próprio dos anos cinquenta.

Mas tudo isto era antigamente, quando os tempos eram outros, havia aldeias, a vida processava-se a outros ritmos, a sociedade e o mundo eram diferentes.

Hoje, as férias enfastiam-me, fora da minha casa, do meu sofá, do meu enorme ecrã de televisão e do meu computador.

Sim, uma semana é o máximo tolerável. Talvez a vitamina D me faça falta, admito, mas deixou de ser prazer, passou a obrigação, do género receita médica a aviar na farmácia.

É o que fazem os anos... a roda da vida está a dar a volta. Apreciamos, acima de tudo, estar vivos e não sermos apoquentados por dores ou doenças.

O prazer da comida desapareceu, quanto menos, melhor nos sentimos. As coisas boas de outros tempos, aquelas que nos regalavam, continuo a apreciá-las mas agora basta-me prová-las.

O meu organismo, em legítima defesa, não quer nem me pede mais comida. Nos últimos quatro meses perdi sete quilos e acredito que, com o tempo, ainda possa perder mais.

Os visitantes do Memórias Futuras que andem pelos anos que eu tenho, devem perceber, se é que o não sabem já, que os problemas entram pela boca e, com a idade esta é uma verdade que faz, cada vez mais, a felicidade dos médicos e a fortuna das farmácias.

Eu costumo dizer às pessoas minhas amigas, que o estômago é um quarto de paredes amovíveis, que se alargam ou estreitam consoante a quantidade de coisas que se põem lá dentro.

Tanto nos podemos sentir saciados com o muito como com o pouco e nestas férias eu vi pessoas, já de cabelos brancos, com pratos de comida à frente, ao jantar, que são um convite sério para uma qualquer doença, para o apressar do fim...

Conheço o ditado popular do: - “Morra Marta, Morra Farta” ou seja: a morrer que seja de barriga cheia, e como os ditados reflectem a cultura popular que mergulha no passado, quando só os ricos é que comiam e os pobres almejavam morrer de barriga farta, coisa que em vida nunca tiveram, fica-se a perceber tudo.

E toda esta conversa para dizer aos meus amigos que, tal como a comida, uma semana de férias que seja já me deixa perfeitamente saciado.

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