sexta-feira, novembro 25, 2005

Memórias Futuras - no presente.... Afectos perdidos

O tipo do trompete...



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A vida é fugaz, um sopro, um suspiro, um abrir e fechar de olhos. Antes, o nada, depois, o nada de novo. Entre os dois nadas, a vida. Debruço-me sobre ela, braço esticado, revolvendo com os dedos da minha imaginação as recordações que por lá existem. Puxei uma ao acaso, já amarelecida pela idade…há quantos anos! Eu teria para aí os meus dezanove, vinte anos, estudava então no Instituto Superior de Estudos Ultramarinos, que em 1961 mudou para Instituto Superior de Ciências Sociais e

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Política Ultramarina (ISCSPU) por causa dos novos ventos da política internacional de então.

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O meu pai alugara-me um quartinho numa casa particular pertença de mãe e filha viúvas, que para sobreviverem arrendaram três quartos que milagrosamente conseguiram fazer sobrar de um primeiro andar do velho prédio de azulejos azuis que dava para o Jardim do Príncipe Real - tal como as magníficas portas do Palacete onde, então, funcionava o Instituto.

  • A caricatura e a realidade de Pitigrilli. Ou a minha..
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Estávamos no primeiro ano da década de 60, em Janeiro, Henrique Galvão numa operação com o nome de código Dulcineia - surripiou, em pleno alto-mar, o paquete Santa Maria para desespero de Salazar - que ficou possesso - e regozijo da tímida oposição. Lembro-me perfeitamente de parar no passeio para ver o cabeçalho do jornal “O Século” que relatava, com uma grande fotografia do paquete, a notícia que tinha foros de escândalo nacional. Ri-me para dentro como o cão Mutley. Estávamos no tempo em que até o apontar para além de feio era perigoso.

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Mas, quanto ao resto, tudo era calmo naquela Lisboa pacífica e provinciana, e o meio estudantil universitário ainda tinha que aguardar uns anos pelos ventos agitados de Maio de 68 - que hoje assumiu contornos completamente diferentes com as ondas de choque incendiárias protagonizadas pelos imigrantes magrebinos em França. Ondas de choque que fizeram tocar o alarmes das nossas consciências e acordaram a Europa (social e política) para um problema que todos já conhecemos mas que em alguns espíritos ainda estava adormecido: o desemprego em larga escala.
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Nunca mais regressei ao “meu” Jardim do Príncipe Real onde, nas horas de lazer, me deliciava com as leituras do Pitigrilli, e nas de aperto para os exames media forças com a sebenta de Princípios Gerais de Direito para tentar perceber aquelas vinte e tal páginas em que o Prof. Adriano Moreira explicava as diferenças entre Direito Público e D. Privado. O Freitas do Amaral fá-lo-ia mais tarde incomensuravelmente melhor, com um terço das páginas...

Para além disto, era o retrato rotineiro dos jardins de Lisboa, com os magalas a namoriscarem as sopeiras, o fulano que vendia a banha da cobra e que, estacionado no passeio, desertava sobre as maravilhas do produto que fazia bem a tudo e que tinha a ver com uma cobra que toda a gente esperava ver quando ele abrisse a mala que estava no chão, a seus pés, e que afinal, só guardava os frasquinhos da poção mágica que começavam a ser vendidos quando a conversa já não dava para esticar mais e o pessoal à sua volta ameaçava desertar.

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E havia também um sujeito que parava muito por ali, com ares de galã dos “pampas”, morenaço, calças justas, botas à vaqueiro e andar à Yul Brynner e, ao que diziam as más-línguas, tinha uma relação pecaminosa com a mulher do Mister Cork que tinha tanto de gordo como a mulher, muito mais nova que ele - tinha de “boa”.

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E, claro, finalmente, havia a minha vizinha da cave e de seguida o malfadado rapaz do trompete.
Ela era uma jovem linda como os amores, o seu rosto, que já deixei de reter no pormenor, era de uma beleza que me deixava fascinado como o passarinho se fascina pelo olhar da serpente. Não a podia ver à janela pois a cave apenas dava para um pequeno e esconso saguão, mas sempre que nos cruzávamos à saída ou entrada do prédio era sempre o mesmo encantamento.

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Segui-a com o olhar pois não conseguia ser discreto mau grado os esforços e perguntava-me como é que uma rapariga tão linda podia sair daquela cave escura,húmida e mal cheirosa em vez de um palácio a que a sua beleza lhe dava direito?
Eu era um aluno universitário, coisa rara naquele tempo, ela, uma pobre rapariga que nem a 4ªclasse teria, e, no entanto, os meus olhos enchiam-se com a sua figura e eu sentia-me como um barco à deriva aguardando a orientação de um olhar seu que nunca veio.

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Nunca trocámos palavra, nem um simples bom-dia mas ela era, definitivamente, a eleita do meu coração, a musa inspiradora dos meus sonhos…até que um dia despertei para a realidade ao som de um estridente, agudo e desafinado trompete desesperadamente assoprado por um não menos desafinado músico…era o namorado.

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Maldito, não só se tinha apropriado da minha “namoradinha” como, ainda por cima, fazia-se anunciar junto dela com aquele maldito trompete!

Que desperdício, junto de uma rapariga tão linda tocava-me trompete…raios o partam, como eu o invejei!

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PS:
A esta distância, as paixões da juventude, tal como as cartas de amor de Fernando Pessoa, parecem-nos ridículas. Em boa verdade, aos 19, 20 anos estamos “descomandados”. Eu falo por mim para reconhecer solenemente que aos 19 anos ter-me-ia apaixonado perdidamente por qualquer linda jovem que ousasse levantar certos olhares para mim.

O que eu não sabia e vim a perceber mais tarde, é que me limitava a cumprir instruções da “mãe natureza” que em código cifrado exigia que transmitisse os meus genes à fêmea mais bonita da minha tribo para que os meus filhos também nascessem lindos e tivessem, por isso, mais oportunidades de prosseguirem os meus genes pelas gerações seguintes. A beleza, entre nós, representa um trunfo para a procriação, isto antes de se inventarem as contas bancárias...
Já lá dizia o Vinícius de Morais, “… que me perdoem as feias mas eu prefiro as lindas”… E é assim, simples coisas da biologia transformadas em lindos romances de amor, pois não me consta que a Dulcineia do D. Quixote ou a Julieta do Romeu, fossem vesgas ou tivessem borbulhas na testa…

quinta-feira, novembro 24, 2005

Eleições Presidenciais

  • O que fazemos pela bandeira...
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Saber engolir sapos em Política também é uma virtude. É preferível engoli-los agora e ainda relativamente novos; do que engolir sapos velhos e arrepender-mo-nos mais tarde. E porquê? Por PORTUGAL...

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Quando, nas últimas eleições legislativas, entrei na cabine de voto e fiz a cruzinha no PS de José Sócrates tinha a perfeita noção da importância daquele voto e de quanto seria decisivo para o país que daquelas eleições saísse um governo de maioria absoluta liderado por alguém determinado, sério e realista no rumo a dar ao país e nos fizesse esquecer, rapidamente, a anarquia e o desconchavo daqueles meses de desgoverno Santanista.

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Concordo em absoluto com o diagnóstico de alguns analistas, entre os quais Medina Carreira, de que Portugal está a viver o momento mais difícil da sua história recente. Ele saberá explicar, com recurso a todas as contas e números que ele domina como poucos, o porquê desse diagnóstico, nós que aqui vivemos desde de sempre e estamos atentos ao que se passa podemos não o saber tão bem como ele mas sentimos, temos a percepção que os tempos são de borrasca e da grossa.

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E sendo assim, este país, no mínimo, tem que ser governado com estabilidade, de uma forma continuada, sem sobressaltos, sem 1º ministros que por isto ou por aquilo se retiram das responsabilidades para que foram eleitos obrigando a constantes eleições e, com polémicas ou sem polémicas, com greves ou sem greves, agradando a uns e desagradando a outros, é imperioso que alguém, que pode ser Sócrates e a sua equipa, porque já lá estão, como poderia ser Marques Mendes com outra equipa, tenha tempo suficiente para levar a cabo reformas já diagnosticadas, ensaiadas, algumas já iniciadas, mas progressivamente adiadas apesar de indispensáveis.

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Temos que compreender que neste país se fechou para sempre um ciclo que se terá aberto há 30, 35 anos e que resultou do aproveitamento que foi feito da existência de uma mão-de-obra disponível, barata e ansiosa por entrar no mercado de trabalho e constituída, maioritariamente, por mulheres que trabalhavam no campo ou que, simplesmente, eram donas de casa, mães e esposas e que agarraram a oportunidade de trabalharem por conta de outrem nas centenas ou milhares de fábricas ou “fabriquetas” que despontaram por todo este país da iniciativa. Na maioria dos casos, resultante de empresários improvisados, que em regime de “trabalho a feitio” para multinacionais estrangeiras, em grande parte alemãs e suecas, produziram roupa e calçado a preços de custo que não tinham concorrência na Europa. E mais tarde com a entrada no país do dinheiro proveniente dos Quadros Comunitários de Apoio, inicialmente à razão de um milhão de contos por dia.

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Estas mesmas circunstâncias levam, agora, para os países de leste, recém integrados na União Europeia, estas oportunidades de trabalho através das famigeradas deslocalizações que irão permitir às mulheres desses países, também elas trabalhadoras do campo ou simples donas de casa, uma oportunidade idêntica àquela que as nossas tiveram.

Talvez, quando for possível estabelecer entre todos os povos do mundo um intrincado sistema de “vasos comunicantes” se esbatam as terríveis situações de desigualdade que afligem a humanidade, algumas delas bem perto da nossa porta.

Poucos se aperceberam que essas dezenas de milhar de postos de trabalho tinham carácter precário.Estavam, à partida, condenados a desaparecer ou então, à boa maneira portuguesa, percebemos e não ligámos confiantes de que o nosso santo padroeiro à última da hora faria o milagre. Como é óbvio não fez e a abertura anunciada do nosso mercado aos produtos chineses funcionou como o “cheque-mate” deste jogo desigual para o qual, mesmo avisados, não fomos capazes de reagir nem a tempo nem de forma apropriada.

Agora vamos, inevitavelmente, ter todos que empobrecer e progressivamente recomeçar a vida. Eu disse todos mas não são: os ricos e muito ricos, normalmente, estão imunes a estas crises; e os pobres e os muito pobres, já não têm por onde empobrecer A estes não é facultada capacidade de escolha..

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Ao longo dos últimos dos últimos 30, 35 anos libertámo-nos do fascismo, escapámos por pouco a uma guerra civil e eventualmente a uma experiência dolorosa de natureza comunizante e, finalmente, caímos num consumismo desenfreado. Grande parte dele assente em pés de barro porque a valorização dos nossos recursos humanos, que constituem a verdadeira riqueza do país, não foi feita e se foi, grande parte foi-o de uma forma incorrecta. Muitos milhões gastos na educação e na formação profissional constituíram um autêntico desperdício.

Depois de vivermos durante décadas em que falar de política era motivo de prisão, a menos que fosse para tecer elogios ao Estado Novo, fomos, nos últimos anos, uma sociedade demasiado politizada. As soluções preconizadas eram boas ou más não em função do seu próprio valor mas do quadrante político de onde provinham.

É normal isto acontecer depois das revoluções, por isso o ideal é que não fosse necessário recorrer a elas mas se temos que responsabilizar alguém não é quem as faz mas sim quem “obriga” a fazê-las…felizmente não houve “cabeças cortadas” mas poderiam ter havido.


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E regressemos às próximas eleições de Janeiro para a presidência da República em que tudo o que até agora ficou dito serve de intróito para a opção que já tomei em termos de voto. De qualquer forma mais alguns considerandos:


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-Os poderes do Presidente da República no nosso regime político são, quanto a mim bem, limitados. O poder de veto das leis é um assunto que, na prática, tem mais a ver com o Tribunal Constitucional e a dissolução da Assembleia, numa situação em que o 1º ministro e o seu partido foram eleitos por maioria absoluta, será uma decisão de carácter tão excepcional que não vou considerá-la porque a julgo fora do nosso próximo horizonte político;

-Temos, assim, que o aspecto mais importante da função do Presidente, nesta fase delicada que o país atravessa, é potenciar a acção do 1º ministro e do seu governo quando, como é o caso presente, ele tem uma linha e um rumo que são os indicados, independentemente de todas os justos reparos de carácter pontual que podem e devem ser feitos mas que não põem em causa o grande objectivo das reformas estruturais que têm que avançar;

- Disse o actual Presidente que “há vida para além do deficit” e eu não sei o que de concreto ele quis dizer para poder concordar ou discordar. Se pretendeu chamar a atenção do governo para aqueles milhares largos de pessoas de idade, muitas de idade avançada, que não podem ser vítimas das medidas de combate ao deficit, plenamente de acordo. Esses muitos milhares de homens e mulheres não podem fazer greves nem têm quem as represente e defenda mas a afirmação pode ter outras leituras e logo houve quem lhe chamasse uma patetice, de qualquer forma não me parece que ela tenha ajudado o governo na patriótica missão de reduzir as despesas do Estado;

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Reduzir as despesas, ao fim de tantos anos em que gastar não levava em linha de conta a situação económico-financeira do país, independentemente da natureza da despesa ser boa ou má é missão espinhosa, toda a gente reclama: centrais sindicais, funcionários públicos, polícias, militares e juízes, autarquias e governos regionais em resumo, todos quantos recebem dinheiro do Estado, excepção feita aos velhinhos das reformas dos”trezentos” euros que em muitos casos já não dão para as despesas da farmácia, colocando-os no terrível e humilhante dilema entre o morrer de fome ou da doença.

Reduzir as despesas do Estado nestas condições, pôr termo às situações de privilégio que minam o funcionalismo público e a sociedade em geral é uma tarefa que vai levar alguns anos se o ânimo, a coragem e o desapego ao poder não faltarem ao governo, por isso e mais uma vez, há que potenciá-lo nesse sentido e dos quatro candidatos em presença julgo, em honestidade, que o que tem melhores condições para o fazer é o prof. Cavaco Silva.

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Estou à vontade para o dizer: nunca votei nele em anteriores eleições e, pessoalmente, não consigo simpatizar com o senhor. Mas o momento que vivemos no país não nos permite tomar decisões com base em simpatias ou antipatias.


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E é tudo sobre as próximas eleições. Os debates serão um “fait-divers” que vão interessar às televisões mas correspondem às elementares normas da vida democrática e, portanto, venham eles…que se cumpra o ritual da democracia.

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