sábado, novembro 12, 2016

                

E assim vai o mundo...









Clara F. Alves e Francisco S. Tavares, os nossos comentadores políticos mais conhecidos, estão escandalizados com a eleição de Trump para presidente dos EU.
Nada de admirar... aquela personalidade não só me mete nojo como é perigoso, e eu estou dividido, na raiva que sinto, entre ele próprio, por um lado, e em quem nele votou, pelo o outro.
- Como vamos passar estes próximos 4 anos?
– A Mariana Mortágua hesita entre emigrar e dormir... Eu sugiro-lhe férias políticas numa ilha agradável sem comunicações com o exterior, excepção feita a um grande calendário, para riscar com uma cruzinha cada dia que passa, como os soldados faziam na guerra de Angola, para apressar o fim da comissão e o regresso a casa e à família.
A mim, pessoalmente, gota de água no oceano, este homem não me aquece nem arrefece e, se fizer subir um bocadito os juros, até talvez me possa dar uns tostões a mais... sempre tostões, mas compreendo muito bem aquelas que gostariam de emigrar para uma ilha simpática...
Durante 4 anos, os que votaram Trump, vão ter tempo suficiente para reflectir e, provavelmente, lá no íntimo, admitir o disparate que fizeram, mas o homem é assim: age por impulsos, espécie de “venetas” e, pior ainda, nunca aprende com os erros mesmo que lhe sofra as consequências.
Agora, já não interessa chorar sobre o leite derramado: está feito, feito está!
Para mim, sobra-me uma má disposição, tipo azia, que me vai acompanhar nos próximos anos, uma irritação nas profundezas da alma... Tento esquecer, não pensar, lembrar-me da minha terra, da minha linda cidade de Lisboa onde nasci, da pessoa decente que é o seu presidente de Câmara, e do meu 1º Ministro, António Costa, o homem da geringonça, de quem quase toda a gente gosta, mais do que do Passos e da Cristas, juntos.
Este nosso país, aqui à beira-mar, pacífico e em calma continua um refúgio para todos que, acima de tudo, gostem de paz, bom clima e boa comida.

sexta-feira, novembro 11, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 109





















Meu tio Ermígio Moniz não conhecia o destino do bastardo de Paio Soares e encolheu os ombros, o que levou Peres Cativo a exclamar:

- Que vá mas é para o Diabo!

Paio Guterres riu-se novamente, mas depois o mordomo do Condado Portucalense insistiu que mais alguns castelos se deviam construir, talvez em Penalva e Pombal, para solidificar as defesas da região.

Afonso Henriques concordou, mas lembrou que a construção das fortificações duraria mais de um ano. Enquanto isso, o fossado deveria continuar, para obterem mais vitórias e mais território.

Temos de massacrar Zakaria! – reforçou Peres Cativo.

Ermígio Moniz era o único que repudiava tanta vontade de destruição, pois, a observar o horizonte, Paio Guterres comentou:

 - Gosto deste local, parece-me bom para lutar!

Nas últimas operações, aquele cavaleiro portucalense revelara o seu enorme talento como hábil guerreiro. Reconhecendo-o, o príncipe declarou que ele seria o futuro alcaide de Leiria, mal o castelo estivesse pronto.

Sobre os seus ombros recairia a responsabilidade de defender o fortim mais a sul e, portanto, o mais perigoso, de todo o Condado Portucalense.

- Abu Zakaria vai ouvir falar de mim! – prometeu Paio Guterres.

Os outros abraçaram-no aplaudindo aquela nomeação e desejando-lhe sorte. Depois, regressaram ao acampamento, onde Ermígio Moniz avisou o príncipe de que com fossados tão grotescos e sangrentos, jamais seria possível convencer Abu Zakaria a trocar a relíquia por Zaida e Fátima. Desinteressado, Afonso Henriques, resmungou:

 - A bruxa nunca mais apareceu e ninguém sabe da relíquia!

Meu tio ficou ligeiramente abalado, mas o meu melhor amigo nem deve ter notado, pois comentou:

 - E durante o fossado é perigoso a Zaida ir para Córdova.

Dias antes, o príncipe de Portugal cruzara-se com a mais nova das princesas mouras e meu tio topara uma troca de olhares suspeita entre os dois. Por isso, perguntou:

 - Estais enamorado de Zaida?

Afonso Henriques negou tal sentimento, retorquindo:

 - Vós é que gostais de mouras, mordomo!


Meu tio emudeceu, magoado com aquela impertinente referência à falecida mãe de Raimunda, mas Peres Cativo decidiu provocá-lo, recordando que tinham feito prisioneiras várias raparigas em Pombal, algumas delas bem vistosas.

Não Seria Para Menos...











Um gajo pequenino entra no elevador e depara–se com um tipo enorme lá dentro. O grandalhão olha para o pequenino e decide apresentar–se:

2,05 metros de altura, 152 quilos, pénis de 30 cm, testículo esquerdo de 1,2 quilos, testículo direito de 1,2 quilos... Victor Costa.


O gajo pequenino desmaia. O gajo grande pega no pequenino e reanima–o com umas bofetadas.

– Que se passa? Tem algum problema?!

O tipo pequenino pergunta:

– Desculpe, mas o que é que você disse?

O gajo grandalhão repete tudo novamente.

2,05 metros de altura, 152 quilos, pénis de 30 cm, testículo
esquerdo de 1,2 quilos, testículo direito de 1,2 quilos... Victor
Costa.

O gajo pequenino suspira de alívio...

– Ah! Victor Costa?! Graças a Deus! Eu percebi que tinha dito:


-  "Vira–te de costas!"

Day After...
















Tenho em cima da minha secretária a revista Visão de que sou assinante e que tem na capa a fotografia de Trump a fazer uma careta de porco.
Instintivamente, virei-a ao contrário, enojado.
Eu faço ideia como deve sentir-se a maioria dos eleitores americanos que votou Hillary, mais de 200 mil no conjunto do voto popular, e que agora têm que gramar com este desqualificado como Presidente...
Não vai ser fácil e eu, que estou cá deste lado do Atlântico e pouco ou nada tenho a ver com aquilo, rigorosamente falando, porque na prática não é bem assim, compreendo muito bem a imagem daquela mulher, compulsivamente lavada em lágrimas, que apareceu na televisão, vendo o seu país representado agora por um sexista assumido e declarado que a envergonha.
A mediatização da política acaba nisto e o voto popular transforma-se numa arma terrível que se vira contra a própria sociedade que devia defender.
Está tudo agora na mão dos republicanos: Congresso, Senado, Presidência.
- E do Partido Democrata, que se espera dele?
As faixas etárias mais jovens, entre os 18 e 45 anos, votaram maciçamente em Hillary e o rumo mais inteligente parece ser o de virar à esquerda, mais progressistas, ao estilo Berny Sanders.
Para já, o poder político, vai virar “beato” e os cristãos fundamentalistas vão querer repor as orações nas escolas... e a contestação nas ruas irá subir fortemente.
Desconfio que será um período de agitação social como não se vê desde as manifestações contra as guerras do Vietnam e Iraque, especialmente se Trump quiser impor ao mandato a sua marca pessoal à qual vai ser difícil fugir...
É verdade que ele não é um verdadeiro ideólogo, com uma doutrina e uma política. É mais um homem de negócios, concursos de beleza, construção civil, e essa poderá ser a sorte dos americanos que daqui a 4 anos podem emendar o rumo.
Richard Zimler, que nasceu em Nova York e dá aulas na Escola Superior de Jornalismo e na Universidade do Porto, afirma que teve, com a eleição de Trump, “uma sensação física de dor” porque a visão que ele tem da América não se encaixa na versão proposta por Trump.
Externamente, pouquíssima coisa irá mudar porque tudo está condicionada por Acordos e negociações e é muito pouco provável, apesar do “parlapiá” da campanha, que vá mudar a Nato e os Acordos com a Europa e a Ásia.
O mais problemático será o Supremo Tribunal norte-americano onde ele, provavelmente, poderá nomear pelo menos um, talvez até 4 juízes desse Tribunal, e são eles que determinam muitos aspectos da vida quotidiana dos americanos: impostos, casamentos entre pessoas do mesmo sexo, aborto, utilização de marijuana para fins terapêuticos, são assuntos importantes que virão com certeza à baila e, como o dinheiro para as Despesas Militares é sagrado, serão os orçamentos da educação, cultura e ciência os sacrificados.
O maior receio é que ele vá aumentar o fosso entre as pessoas mais ricas e as mais pobres de uma forma dura. Dura também será a lição dos mais fracos que votaram no Trump ou não votaram na Hillary e que vão aprender a repercussão do seu voto nas suas próprias vidas. Por exemplo, o apoio que Obama ainda lhes conseguiu na doença, deverá ser o primeiro sacrificado a favor das companhias de Seguros. Se não tiverem dinheiro ficarão completamente desprotegidas...
Depois de Obama, Trump, ou seja, o mundo aos tropeções, avanços e recuos e, definitivamente, as pessoas nunca aprendem nada, seja qual for o preço das lições que tenham de pagar...
Sara Palin, Governadora do Alasca, mãe de cinco filhos, fanática religiosa e reaccionária do ponto de vista político, e que se fala poder ir para a Administração de Trump, interrogada há anos sobre a razão pela qual a América tinha invadido o Iraque, limitou-se a responder: - “Porque Deus quis...”
Por outras palavras, os EUA vão ficar entregues aos deuses, que o mesmo é dizer: entregues à bicharada...

        Leonard Cohen - Faleceu hoje, aos 72 anos - Hallelujah
                     Oiçam-no e prestem-lhe homenagem... 



                

quinta-feira, novembro 10, 2016

                     OTIS REDDING - I'VE BEEN LOVING YOU 




Esta é daquelas canções que nos faz arrrepios na coluna. É um "crime" que este homem, um gigante da música "soul", nascido em 1942, tenha morrido aos 26 anos de idade... Foi considerado pela revista Rolling Stone o 8º melhor cantor de todos os tempos.

Foi vítima de um desastre de aviação no Visconsin que teve apenas um sobrevivente, um jovem com 20 anos. Percy Sledge esteve no seu funeral. Redding era dos poucos cantores que compunha a maioria das suas canções, o que não era então vulgar.

 (Desculpem a qualidade do vídeo mas é dos poucos em que ele aparece e a força e qualidade da sua interpretação faz esquecer todo o resto...)
             


         

Curriculum

 Vitae

(Pede-se experiência)



















Já fiz cócegas à minha irmã só para que deixasse de chorar, já me queimei a brincar com uma vela, já fiz um balão com a pastilha que se me colou na cara toda, já falei com o espelho, já fingi ser bruxo.

Já quis ser astronauta, violinista, mago, caçador e trapezista; já me escondi atrás da cortina e deixei esquecidos os pés de fora.

Já roubei um beijo, confundi os sentimentos, tomei um caminho errado e ainda sigo caminhando pelo desconhecido.

Já raspei o fundo da panela onde se cozinhou o creme, já me cortei ao barbear-me muito apressado e chorei ao escutar determinada música no auto - carro. 

Já tentei esquecer algumas pessoas e descobri que são as mais difíceis de esquecer. Já subi às escondidas até ao terraço para agarrar estrelas, já subi a uma árvore para roubar fruta, já caí por uma escada.

Já fiz juramentos eternos, escrevi no muro da escola e chorei sozinho na casa de banho por algo que me aconteceu; já fugi de minha casa para sempre e voltei no instante seguinte.

Já corri para não deixar alguém a chorar, já fiquei só no meio de mil pessoas, sentindo a falta de uma única.

Já vi o pôr-do-sol mudar do rosado ao alaranjado, já mergulhei na piscina e não quis sair mais, já tomei whisky até sentir os lábios dormentes, já olhei a cidade de cima e nem mesmo assim encontrei o meu lugar.

Já senti medo da escuridão, já tremi de nervos, já quase morri de amor e renasci novamente para ver o sorriso de alguém especial. Já acordei no meio da noite e senti medo de me levantar.

Já apostei a correr descalço pela rua, gritei de felicidade, roubei rosas num enorme jardim, já me apaixonei e pensei que era para sempre, mas era um 'para sempre' pela metade.

Já me deitei na relva até de madrugada e vi o sol substituir a lua; já chorei por ver amigos partir e depois descobri que chegaram outros novos e que a vida é um ir e vir permanente.

Foram tantas as coisas que fiz, tantos os momentos fotografados pela lente da emoção e guardados nesse baú chamado coração... 

Agora, um questionário pergunta-me, grita-me desde o papel:

 - Qual é a sua experiência?

Essa pergunta fez eco no meu cérebro.

Experiência.... Experiência... Será que cultivar sorrisos é experiência?

Agora... agradar-me-ia perguntar a quem redigiu o questionário:

 - Experiência?! Quem a tem, se a cada momento tudo se renova???


NOTA - Esta redacção foi escrita por um candidato numa selecção de Pessoal na Volkswagen. A pessoa foi aceite e o seu texto está a fazer furor na Internet, pela sua criatividade e sensibilidade.

The
American
Dream








O “sonho americano”, casa com garagem e carro, emprego, relva no jardim para regar, e filhos na Universidade, foi desfeito pela globalização. Na repartição da riqueza mundial quantos mais são menos cabe a cada um. É elementar “meu caro Watson”...
Perante a melhoria das condições de vida das pessoas dos países emergentes acabou por sobrar menos para os trabalhadores dos países ocidentais mas não para as empresas multinacionais que ficaram melhores.
Mesmo assim, dizem as estatísticas que o desemprego nos EU é relativamente baixo, 4,9% depois de ter atingido um pico de 10% e a produção cresce ao ritmo de 2,9% prevendo-se que suba até 3,1% nos últimos meses do ano.
Em comparação, Portugal cresce a 0,9% e o desemprego é de 11,1%, ou seja, realidades diferentes...
O grande descontentamento dos americanos é que ganham hoje menos do que ganhavam, na recordação dos tempos em que se ia para a América para enriquecer de um dia para o outro.
Por isso, este voto num milionário que dizem falido e foge aos impostos, como protesto contra os sonhos desfeitos.
Os países, tal como as pessoas nas suas vidas, também aprendem com experiências dolorosas na sequência de decisões disparatadas porque, vá lá saber-se... por vezes ficam zangadas, que é mais de meio caminho para o erro.
Inevitavelmente, com Trump, o mundo vai andar para trás, tanto quanto uma só pessoa o consegue fazer andar.
Agora, temos gente deplorável, fanáticos religiosos, desempregados, ignorantes, brancos assustadiços, todos surpreendentemente felizes mesmo que seja só por ódio e vingança.
Ódio e vingança contra o establishment, o dinheiro de Hillary, que tinha consigo a Wall Streat e mais do dobro da verba de Trump, e ainda contra as elites de toda a espécie, empresas de Sondagem, Institutos, Comentadores, Analistas, Jornalistas, Eminências, Senhores, Escribas e Capatazes do Sistema.
Trump, Presidente do EU, não dá para acreditar... o que irá agora acontecer?... O que sairá daquela cabecinha por baixo da melena loira e exótica?...
Este homem é a maior caixinha de surpresas do mundo de hoje e a expectativa é terrível!

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)




Episódio Nº 108

















Peres Cativo e Paio Guterres, ambos valiosos combatentes, contestaram-no prontamente. Na guerra, o objectivo era matar os inimigos, destruir as suas forças, as suas gentes, as suas cidades!

Aqueles territórios haviam sido cristãos séculos antes, os usurpadores mouros tinham de ser afastados!

Para que a vitória dure, temos de seduzir as populações a nosso favor e depois convertê-las! – insistiu Ermígio Moniz.

Uma campanha bélica que se limitasse a exibições gratuitas de violência a nada acrescentava. Para que aqueles territórios não voltassem a ser retomados pelos mouros, era necessário mais do que um fossado breve, eram necessários castelos.

Uma linha inteira deles era a única forma de empurrar para Sul e fixar as populações debaixo do domínio portucalense.

Quereis construir castelos neste ermo? – interrogou-se Paio Guterres espantado.

O acampamento portucalense fora erguido junto à antiga estrada romana que ligava Coimbra a Santarém, perto do rio Lis. Não se via vivalma por ali, nenhuma aldeia existia por perto. Contudo, Ermígio Moniz examinou os campos à volta e depois pediu:

 - Vinde comigo.

O príncipe, o alferes e o cavaleiro-vilão de Coimbra acompanharam o mordomo. Estava um fim de tarde sereno e os quatro subiram um pequeno monte. Quando chegaram ao topo, Ermígio Moniz disse:

 - Olhai à vossa volta.

Surpreendidos, os outros examinaram o horizonte. Do alto daquela elevação podia ver-se a longa estrada romana nas duas direcções, acompanhando os vales para sul, mas também para o norte.

Estavam num ponto privilegiado de observação e Ermígio Moniz defendeu que ali se devia construir um castelo, chamado de Leiria.

Do alto da sua torre de menagem, veremos o inimigo muito antes de cá chegarem.

Ninguém podia negar aquela evidência. Curioso, o príncipe de Portugal perguntou ao seu mordomo:

 - Como haveis sabido deste local?

Meu tio explicou-lhe que os templários de Soure conheciam bem a região e haviam-lhe chamado a atenção para aquele sítio.

Foi o Ramiro? – questionou Afonso Henriques.

O príncipe talvez procurasse descobrir novos méritos no bastardo de Paio Soares, que tanto o desiludira, mas ao ouvi-lo Peres Cativo protestou de pronto, pois implicava com Ramiro.

O uranista? Raios, este chão está amaldiçoado!

Paio Guterres deu uma gargalhada, mas o mordomo logo esclareceu que o autor da sugestão fora o próprio mestre dos templários de Soure, Jean Raymond. E para surpresa do príncipe, acrescentou:

 - O Ramiro abandonou a Ordem do Templo.

Afonso Henriques franziu a testa:

 - Porquê?

Ermígio Moniz suspirou, olhando para Peres Cativo e dando a entender que a malícia anterior do alferes fora certeira.

Para não desonrar os templários, foi-se embora.

Levemente inquieto, pois sabia dos antigos enamoramentos de Ramiro por Chamoa, o príncipe de Portugal perguntou de pronto:

 - Para o Norte?

quarta-feira, novembro 09, 2016

E ganhou o "melenas"...
O Voto dos

Zangados









Um dia isto tinha de acontecer no mundo: o triunfo do voto dos “zangados” e o confronto com as consequências, a todos os níveis, deste voto irá constituir a grande curiosidade das pessoas, na América e no mundo.
Um milionário americano do imobiliário, a que nós aqui em Portugal chamávamos de “chicos espertos”, que tem um arranha-céus e um avião como o nome dele, o que constitui o cúmulo da piroseira, resolveu fazer uma campanha de protesto e se ele era do contra então o povo elegeu-o...
Este homem não é de nenhum partido. É simplesmente populista e como, a partir de agora, é ele que vai ser o poder, fica-se à espera para sabermos de quem vai ele agora dizer mal.
Para já, as Bolsas caíram, o mundo abre a boca de espanto, e pensa-se já nas próximas eleições apressando-se todos a dar corda aos relógios...
Um milionário que nunca foi político, - o que lhe deve ter dado muito jeito – interpretou na campanha um papel de protesto contra o poder à sombra do qual, ele, que já era milionário, se fez ainda mais milionário... e é eleito!
Satisfazer a curiosidade pelas consequências do resultado deste voto é o único ingrediente que move agora, com o seu quê de receio, as pessoas na América, na Europa e no mundo.
Foi um voto para a “desgraça” mas quem, à beira do precipício, não sentiu alguma vez a vontade de se atirar dali a baixo?...
Trump, com a sua melena exótica, era o precipício e a tentação foi irresistível! Atiraram-se mesmo...
Os cidadãos, de encantados, ficaram enjoados de um homem “doce”, de palavra “doce” que os convidava a sonhar e, masoquistas como todos nós o somos, por incrível que o pareça, fomos pedir o chicote, como naquela velha história do Asterix, em que o chefe dos escravos chama o chefe dos guardas para os açoitar porque estão a ficar moles...
Será que também nós, que é como quem diz os que votaram, sentiram uma necessidade de umas boas chicotadas para espertar???...
E agora?... - “O melenas” falou no discurso de vitória e não disse nada porque nada tem para dizer, nunca teve. 

Os seus apoiantes directos e familiares que o acompanharam em palco no discurso de vitória estavam todos com cara de “vendidos” a perguntarem, no íntimo, o que estamos aqui a fazer...
Na verdade, ele é apenas um homem que representa nos realitys shows que organiza e se meteu nesta corrida por uma questão de mais espectáculo...
Quem vão ser os seus assessores, conselheiros, redactores de discursos políticos, homens que nunca existiram na sua agenda de relações?...
Os europeus nem lhe deram tempo, e pediram-lhe já uma reunião para o testarem como o homem mais importante e poderoso do mundo.
Querem saber as suas ideias para alem da construção do célebre muro para os mexicanos não entrarem nos EUA e roubarem os empregos dos trabalhadores americanos, o que é, digamos, brilhante!
O sol irá continuar a nascer todos os dias com uma curiosidade acrescida. O que irá hoje fazer o “melenas”? A Le Pen já lhe telefonou a congratular-se com a sua eleição mas, muitas outras “le penes”, lhe irão fazer chegar a sua satisfação...
Ou me engano muito, ou o “melenas” vai fechar-se em casa a jogar golfe nos cortes dos seus hotéis e manda-os a todos bugiar.
Veremos... como diz o cego, se ele resiste a fazer forte asneira!

terça-feira, novembro 08, 2016

Um momento... que eu vou votar na Hillary...
O Dia D











Hoje é um dia importante para o mundo, não só para os EUA.
Quando soube que Trump era o adversário de Hillary fiquei descansado...
- T`ás safa!... Nas calmas...
Mas, afinal como é que aquele indivíduo de melena loura e focinho de porco que por vezes consegue sorrir de orelha a orelha sem mostrar os dentes pode fazer sonhar alguém e discutir com Hillary, taco a taco a presidência do maior e mais poderoso país do mundo?...
- Mas Hillary faz-nos sonhar? – Não, mas sinto-me seguro com ela porque a sua história de vida, desde pequena, é de uma total determinação com uma experiencia e conhecimento do mundo que ultrapassa qualquer outro candidato a Presidente que tenha existido no presente e no passado.
Não tem a simpatia ou as qualidades oratórias de Barack Obama que ficará na história pelos seus discursos, o último deles, ontem, na campanha de Hillary, foi notável!
Trump não existe... o eleitorado vê um nome num avião, num arranha - céus e pensa: ... “grande homem, o que ele conseguiu fazer?!...
É apenas um produto de marketing, uma ilusão enganadora e perigosa. Infelizmente, não é inócua. Atrás daquela melena escondem-se perigos e montes de “diabinhos” esperam, ansiosos e aos saltinhos, a oportunidade de fazerem diabruras.
Mas será que aqueles americanos e americanas que hoje vão votar não percebem o óbvio?...
A democracia, mesmo não sendo directa, como no caso dos EUA, é um sistema cheio de riscos. Não esqueçamos que Hitler foi eleito pelo voto directo do povo alemão... e embora a escolha seja sempre perigosa pelo grau de incerteza que encerra, creio que, Conselhos de Homens Bons, com provas dadas na vida, deixar-me-iam mais descansado.
As campanhas persuadem as pessoas para além do esperado, porque já se sabe hoje demasiado sobre o cérebro humano para o enganar. Aquilo que antigamente se conseguia por intuição faz-se hoje por métodos científicos, quase infalíveis, em que as mentes dos cidadãos eleitores são manipuladas beneficiando da ignorância e falta de preparação.
Vejamos o que consegue na votação de hoje, nos EUA, o homem da melena e eu sinto o mundo todo a tremer porque o perigo assombra-nos, até sob a forma de uma melena...
E agora, desculpem-me, mas eu vou votar na Hillary...

segunda-feira, novembro 07, 2016

                 

       Conversa de cama...
      
                

AFONSO 

HENRIQUES




Rei Fundador













Era um homem violento, feito do mesmo pau de todos os guerreiros da Idade-Média, egoísta, sensualão e déspota. Se não fosse assim não teria fundado um reino.

Com o poder dos visigodos em ascensão, eles, que tinham desmantelado o Império Romano e dominado toda a Europa de Leste a Oeste com excepção de uma faixa a norte da Península ibérica dominada pelos Suevos, não era com escrúpulos, problemas de consciência e rijezas de carácter que alguém faria obra de tomo, perdurável.

Mas não tinha cabelos no coração, não era insensível e a palavra justiça para ele não era totalmente destituída de sentido. Isto viu-se na cena trágico-cómica com D. Gonçalo de Sousa:

 - Foi o caso que, sendo hóspede do bom fidalgo, seu apoiante político e leal vassalo, apanhando-o de costas a tratar com os criados das tarefas do comer, virou a mulher, Dª. Sancha Álvares em cima de uma pele de urso e satisfez a sua lascívia.

Entretanto, D. Gonçalo, entrou no salão e surpreendeu-o no acto tendo conseguido ainda articular estas misérrimas vozes:

 - Levantai-vos senhor, que a comida está na mesa…

Enquanto el-rei se banqueteava, foi-se o marido ultrajado à mulher e, tosquiando-lhe os cabelos e ajoujando-lhe às costas uma pele de cabra, com o esfolado para fora, pô-la em cima de um jerico, aparelhado de cilha e albarda e sentada ao contrário no animal.

E foi nesta pose que a mandou para casa do pai dela, não sem antes desse uma volta por onde el-rei se encontrava com os seus cavaleiros.

D. Afonso Henriques ficou em grande cólera e a soprar, jurando-lhe pela vida. Doía-lhe ter abusado da confiança do nobre servidor, mas o desforço dele tivera um repique que muito o confundia e envergonhava aos olhos dos seus.

Hesitante, porém, entre enviá-lo de presente ao diabo ou passar adiante chamou-o à sua presença e disse-lhe:

 - Por muito menos, cegou um adiantado de meu pai a sete condes…

- Cegou-os à traição, senhor, mas disso morreu.

 - E se eu te mandar cortar a cabeça…?

 - Senhor, mais vale. Homem borrado, morto é.

D. Afonso Henriques ficou a meditar naquela palavra. Teria, depois de comer bem e beber melhor, filosofado com Herádio que “…se havia de correr a atalhar a ira como se fosse a apagar um incêndio…” e, montando a cavalo, despediu da Quinta do Unhão, vencido o instinto sanguinário.

Que faltou algumas vezes à palavra dada, pelo que os puritanos, ao tempo que os havia, muito o censuravam, muito o censuravam…! Sim, faltou, mas é demasiado rigor com o homem, abalizado na guerra e na conquista, relevar tal pecadilho.

O que ele quebrava com certo desembaraço era a palavra política, a de rei, que não a de homem. Há a sua diferença. Naquelas épocas recuadas, o verbo estava na infância da arte. Não se sabia falar diplomaticamente. O ditado árabe: «Alá deu ao homem a palavra para esconder o seu pensamento» passou primeiro dos filtros da Renascença para os lábios italianos, que o souberam transmitir aos ministros e homens públicos do Universo.

Aquilino Ribeiro

  

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