sábado, julho 12, 2014

IMAGEM

Esta figura grotesca conseguiu em plena democracia tomar conta de uma ilha durante 40 anos...



Gerard Joling - No More Bolero


Feche os olhos e sonhe, dance e sonhe e dance e ame. Dance e sonhe e dance a vida... dance, dance e dance.



Mixórdia de Temáticas - Ricardo Araújo Pereira 


É sempre assim...












Um miúdo vê um casal de cães montados um no outro, no meio da rua, e pergunta à avó:


- O que é que eles "tão a fazer, vó?

A avó prefere uma explicação provisória:

- É o seguinte, Zequinha: como o cãozinho de trás está com a patinha magoada, o cãozinho da frente deixou-o apoiar-se nas costas para andar.

E o Zequinha, indignado:

- É sempre assim! A gente ajuda os outros e ainda leva no cu.

Comandante Vasco Moscoso, capitão de longo-curso?
OS VELHOS
MARINHEIROS

(Jorge Amado)

Último Episódio Nº 130










Naquela hora já o telégrafo nacional e o cabo submarino transmitiam, para o país inteiro e para os cinco continentes, a notícia do imenso cataclismo e do génio do Comandante Vasco Moscoso de Aragão, único a prever a tempestade e a salvar o seu navio.

Telegramas publicados em manchetes nos jornais da Bahia, durante dias seguidos, avidamente lidos em Periperi, decorados por Zéquinha Curvelo. 

Inclusive os que contavam a homenagem prestada ao invencível capitão de longo curso, pela Companhia Costeira: emocionante festa a bordo do Ita por ele salvo e no qual regressava a Salvador.

Foi-lhe entregue um diploma recordando o feito e comemorativa medalha de ouro de lei. Da ponte de comando ele fitava o mar: de crista levantada, modesto, ele sorria.

Da moral da história e da moral corrente aqui aporto ao fim do meu trabalho, desta pesquisa em tão controvertida história. Que posso acrescentar? 

Notícias da chegada do comandante ao cais da Bahia, com banda de música a esperá-lo, representante do Governador, o Capitão-dos-Portos e Américo Antunes em delirante euforia?

Com ar dos seus retratos nos jornais, do discurso que foi obrigado a pronunciar no rádio, ainda a bordo?

De seu triunfal desembarque em Periperi, no trem das duas, sob foguetório e vivas, levado nos ombros dos amigos até a casa de janelas verdes sobre o mar? 

Os adversários da véspera eram agora seus mais entusiastas admiradores, menos Chico Pacheco, que preferira mudar-se; não cabiam ali, ao mesmo tempo, ele com seu processo e o comandante com sua glória.

Dizer da emoção de Zequinha Curvelo ao receber o cinzeiro com a foto do Ita gravada na cerâmica? Das perguntas que lhe fizeram, atropeladas? Das exigências para que contasse tudo, detalhe por detalhe, sem esquecer nenhum? 

A conversa, à noite, na grande sala do telescópio, quando recordou Clotilde? Foi um momento de lirismo:

- Tão bonita ... E com tanto rapaz a bordo, foi olhar para mim, tomada de paixão... Não tinha mais de vinte anos, eu dizia-lhe Clô ao luar, no tombadilho, tinha os cabelos escorridos e a pele cobreada, mameluca do Amazonas...

Veio me tirar para dançar com ela, imaginem. Apareceu no cais para me dizer adeus na hora da partida.

Como vêem, já novamente torna-se difícil distinguir a verdade, despi-la dos véus da fantasia. Afinal, a quem amara o comandante, a quem se declarara na noite da grande lua, na coberta? A Clotilde, a Grande Baqueana, madura e com chiliques, ou à agreste e impudica Moema, cuja mão amparara seu braço na hora difícil, a mameluca com urgência de chegar a seu dramático destino? 

Quanto a mim, não sei e desisto de saber.

Uma coisa parece-me certa, no entanto, e digna de registo: se o destino ficou ao lado do comandante e o favoreceu, não deve ser esquecida nessa ajuda a ruptura de seu noivado com Clotilde.

Já imaginaram a Grande Baqueana em Periperi, a infernar a vida do subúrbio, a tocar ao piano árias de óperas e sonatas, a fazer da gloriosa velhice do capitão de longo curso um mísero dia-a-dia de pequenas brigas, limitações, chiliques, calundus?

Não teria vivido ele, honrado e feliz, os oitenta e dois anos que viveu, se concretizasse noivado e casamento, a desgraçada ideia de trazê-la a reboque.

Assim, nada mais tenho a contar, -minha tarefa está finda. vou enviar este trabalho - custou-me esforço e sofrimento - ao Júri nomeado pelo director do Arquivo Público. Se obtiver o prémio, comprarei um vestido para Dondoca e um vaso onde colocar flores; está fazendo falta um troço desses na saleta clara da casinha do Beco das Três Borboletas.

Não se espantem e permitam que lhes relate os últimos acontecimentos nessa frente da minha batalha pela vida. O Meritíssimo veio às boas, vivemos os três agora em perfeito entendimento e em paz. Aconteceu ter dona Ernestina, digna e gorda esposa do ilustre luminar, descoberto (carta anônima, com certeza) aquela nocturna ida do Dr. Siqueira à casa de Dondoca.

 Não lhe salvaram os óculos negros e o chapéu desabado. O Zepelim entrou em fúria, parecia a tempestade de Belém. Não restou ao juiz aposentado outra solução senão mentir. Fora àquela casa de moral suspeita, é verdade. Mas o fizera para cumprir um dever e ajudar um amigo. O dever de evitar um escândalo em Periperi; o amigo a ajudar era este modesto historiador provinciano.

Não sabia ela, Ernestina, que o pai dessa lastimável rapariga, Pedro Torresmo, jurara invadir a casa onde a filha e o amante coabitam? Ao ter notícia dessas ameaças, e inquieto pela vida e reputação do rapaz, ali fora, forçando sua natureza e seus princípios, para avisá-lo. Nobre atitude, dela não se envergonhava.

Mas o Zepelim exigiu provas e foi obrigado o Meritíssimo a rastejar a meus pés, pedir-me desculpas, suplicar-me que voltasse a dividir com ele o leito e os dengues de Dondoca, assumindo eu, no entanto, perante a agitada matrona sua esposa, a responsabilidade inteira da mulata.

Aceitei, para servi-lo, como lhe fiz ver, sem deixar transparecer minha alegria, a festa a irromper pelo meu peito. Pois já me encontrava quase disposto a cair nos braços da sensitiva Baqueana, aquela maduríssima viúva e veranista de quem tracei o perfil em páginas anteriores. Tão necessitado andava. Mas foi nos braços de Dondoca que pude minha fome saciar.

Desde então corre tudo no melhor dos mundos, somos três almas o Meritíssimo, Dondoca e eu, a conversar e a rir, a levar essa vida para a frente, enquanto nos permitem os estadistas, a se ameaçarem com foguetes e bombas de hidrogénio. 

Um dia, por descuido, uma bomba explode e nós pagaremos as custas do processo.

Voltando, porém, ao comandante e às suas aventuras, objecto único, repito, destas pálidas letras, confesso chegar ao fim de sua história imerso em confusão e dúvida.

Afinal, digam-me os senhores com suas luzes e sua experiência, onde está a verdade, a completa verdade? Qual a moral a extrair desta história por vezes salafrária e chula? Está a verdade naquilo que sucede todos os dias, nos quotidianos acontecimentos, na mesquinhez e chatice da vida da imensa maioria dos homens ou reside a verdade no sonho que nos é dado sonhar para fugir de nossa triste condição? Como se elevou o homem em sua caminhada pelo mundo: através do dia-a-dia de misérias e futricas, ou pelo livre sonho, sem fronteiras nem limitações? Quem levou Vasco da Gama e Colombo ao convés das caravelas? Quem dirige as mãos dos sábios a mover as alavancas na partida dos seputniques, criando novas estrelas e uma lua nova no céu desse subúrbio do universo? Onde está a verdade, respondam-me por favor: na pequena realidade de cada um ou no imenso sonho humano? 

Quem a conduz pelo mundo afora, iluminando o caminho do homem? O Meritíssimo Juiz ou o paupérrimo poeta? Chico Pacheco, com sua integridade, ou o Comandante Vasco Moscoso de Aragão, capitão de longo curso?

Rio, Janeiro de 1961.


FIM


NOTA - O sonho comanda o mundo... é o que nos diz Jorge Amado em mais esta bela história e eu dedico-lhe este lindo poema de António Gedeão que é o que parece estar mais a propósito...


Pedra FilosofalEles não sabem que o sonho 
é uma constante da vida 
tão concreta e definida 
como outra coisa qualquer, 
como esta pedra cinzenta 
em que me sento e descanso, 
como este ribeiro manso 
em serenos sobressaltos, 
como estes pinheiros altos 
que em verde e oiro se agitam, 
como estas aves que gritam 
em bebedeiras de azul. 

Eles não sabem que o sonho 
é vinho, é espuma, é fermento, 
bichinho álacre e sedento, 
de focinho pontiagudo, 
que fossa através de tudo 
num perpétuo movimento. 

Eles não sabem que o sonho 
é tela, é cor, é pincel, 
base, fuste, capitel, 
arco em ogiva, vitral, 
pináculo de catedral, 
contraponto, sinfonia, 
máscara grega, magia, 
que é retorta de alquimista, 
mapa do mundo distante, 
rosa-dos-ventos, Infante, 
caravela quinhentista, 
que é Cabo da Boa Esperança, 
ouro, canela, marfim, 
florete de espadachim, 
bastidor, passo de dança, 
Colombina e Arlequim, 
passarola voadora, 
pára-raios, locomotiva, 
barco de proa festiva, 
alto-forno, geradora, 
cisão do átomo, radar, 
ultra-som, televisão, 
desembarque em foguetão 
na superfície lunar. 

Eles não sabem, nem sonham, 
que o sonho comanda a vida. 
Que sempre que um homem sonha 
o mundo pula e avança 
como bola colorida 
entre as mãos de uma criança. 

António Gedeão, in 'Movimento Perpétuo'

sexta-feira, julho 11, 2014

IMAGEM



Lionel Richie - Lady (traduzido)


Mixórdia de Temáticas - Ricardo Araújo Pereira



Muitos acabaram presos, acossados como bichos...
Recordando

 os

Pides. 














A mente dos polícias da PIDE (Polícia de Investigação e Defesa do Estado), especialmente daqueles que já tinham atingido a categoria de inspectores, com provas dadas e vocação comprovada, como o da nossa história, era qualquer coisa que talvez os especialistas do foro psiquiátrico pudessem considerar como possuídos por “um transtorno mental”, ao mesmo tempo perverso, redutor, simplista, defensor de uma verdade que lhes foi impingida mas que assimilaram como indiscutível de tal forma que na qualidade de seus guardiões o seu ego disparou.

O mundo, para eles, era estreito e muito concreto. O quadro de valores definia-se apenas pela fidelidade ao regime e o ódio aos comunistas, e quando a revolução aconteceu em 1974 esse mundo desabou.

Apavorados, ficaram sem perceber nada do que tinha acontecido. De espírito covarde como eram, alimentados por uma autoridade e força que não era deles, ficaram vazios.

Fugir, esconder, foi a única reacção.

O “nosso” inspector, o único que conheci, vivia na cidade da Beira, em Moçambique, com a mulher e duas filhas e, aproveitando-se da lei, transferia mensalmente para Portugal uma pensão (de valor máximo) para três familiares (pais e sogro, presumo) que declarou estarem a seu cargo, no total de 11 contos de réis, mais ou menos correspondente ao seu próprio ordenado de funcionário público...

A Autorização para fazer essa transferência através do Banco de Moçambique, com a duração de seis meses, tinha-lhe sido concedida pela delegação de Quelimane, cidade onde ele exercia funções antes de ser transferido para a Beira (sinal de promoção…)

Quando aqui chegou, e embora a Autorização de Transferência que estava na sua posse fosse ainda válida por mais três meses, requereu de imediato uma nova Autorização de Transferência.

Os Serviços da Delegação da Inspecção de Crédito e Seguros da cidade da Beira, de que eu era responsável, indeferiram o pedido com o argumento de que “o requerente estava na posse de uma Autorização que lhe tinha sido concedida pela Delegação de Quelimane cuja validade só terminaria dentro de três meses devendo, então, pedir a sua renovação por um novo período de seis meses”.

 Isto mesmo lhe foi comunicado num ofício que eu próprio assinei na qualidade de Delegado da Inspecção e que caiu em cima da secretária dele como uma autêntica bomba.

Que afronta, que ousadia, que temeridade, que falta de respeito!... dizer  “não” ao senhor todo-poderoso Inspector da Pide?

A raiva, a ira, a incredulidade, deixaram-no possesso, o sangue invadiu-lhe o rosto, os gestos desabridos, pega imediatamente no telefone e quando me ouve, a sua voz em altos berros dispara em todas as direcções.

Na rua onde os seus Serviços funcionavam as pessoas ouvem com algum temor e param curiosas, os seus funcionários devem ter-se escondido debaixo das secretárias e eu afastei o telefone do ouvido para proteger o tímpano.

Fiquei em silêncio, não disse uma palavra, apenas recordo algumas ameaças… “que ia participar de mim”, “que me embrulhava numa folha de papel de 25 linhas”… e de mais não me lembro porque deixei de o ouvir.

 À minha frente, um senhor que estava a atender, fitava-me com perplexidade sem saber o que pensar. Quando pousei o auscultador, olhei-o e disse-lhe: “desculpe, isto são ossos do ofício”.

Só uma mente completamente distorcida podia ter um comportamento assim. Em que mundo aquele senhor vivia?  

Como era possível reagir daquela maneira a uma decisão de Serviços da Administração Pública que era obviamente legal para além de que fazia todo o sentido?

Não percebia ele que atender o seu pedido teria sido uma evidente irregularidade, uma infracção da lei?

Perguntei a mim próprio, muitas vezes, porque reagiu aquele homem daquela maneira e naqueles termos e a resposta só podia ser uma:

 - No exercício de uma autoridade baseada na violência arbitrária, prepotente, no desrespeito total pelos direitos e dignidade dos seus concidadãos dos quais só aceitava a obediência e o temor, perseguido por todos os fantasmas que habitavam o seu espírito, aquele homem vivia no limiar da loucura.

Os tempos passaram. Nada mais aconteceu depois daquele surrealista telefonema até que um dia, sem se fazer anunciar como era hábito daquela gente, dei por mim, quando levantei a cabeça da secretária, com o senhor inspector à minha frente no meu gabinete de trabalho.

Uma das prerrogativas daqueles “defensores do regime” era, querendo, o de entrarem na casa das pessoas, nos locais de trabalho, em qualquer lado, de surpresa, sem avisarem. Como polícias muito especiais que eram, o factor surpresa, fora de qualquer processo de averiguação que o justificasse, constituía uma espécie de “marca” identificadora da sua autoridade e poder.

Com ar altivo, o peito cheio, não se sentou, olhava-me de pé, de cima, em sinal de superioridade e de dominação… “estou aqui para lhe mostrar que não estou zangado… aqui tem – e acompanhou as palavras com os gestos – dinheiro estrangeiro que foi apreendido, para fazer entrega dele no Banco de Moçambique…”  disse,  enquanto colocava em cima da secretária um maço de notas e saíu com o seu avantajado corpanzil numa retirada de estilo, sempre para impressionar…

Os meses continuaram a passar e desembocaram na Revolução do 25 de Abril em Portugal, com cravos distribuídos no Rossio, coração de Lisboa, que os soldados enfiaram nos canos das espingardas em imagens que correram mundo, no que foi a extrema humilhação para os Srs. Inspectores da PIDE, zelozos defensores do regime.

Não tiveram oportunidade de mostrar a valentia e a coragem de que se fizeram portadores durante tantos anos e acabaram presos, perseguidos, muitos acossados como bichos pela população, mãos nas paredes, pernas abertas, calças arriadas, cuecas à mostra… era a hora do reviralho!

Passava um pouco das 10 da manhã quando a notícia me chegou, hora histórica para mim e para todos os portugueses aquela em que souberam da revolução. A vida de todos os portugueses iria dar uma cambalhota, o curso ia mudar mas ali, nas colónias, muito mais...

Fui até à Praça do Município onde era enorme o entusiasmo. Faziam-se discursos, davam-se gritos à liberdade, muito provavelmente por elementos de um núcleo de oposição ao regime de Salazar/Caetano que vivia clandestinamente na cidade.

Encostei-me a uma coluna e observei o ambiente de alegria e de vitória que se vivia na Praça e pensei, lembro-me bem de ter pensado, que muitas daquelas pessoas, quase todas brancos, portugueses, não tinham muitas razões para estarem alegres.

Era apenas o momento de euforia a que alguns, que esperaram tantos anos, tinham direito. Aquela, no entanto, não era a terra deles, era o local errado e o equívoco ia finalmente desfazer-se... O parto de um novo país iria ser para todos muito doloroso…

Samora Machel disse: Portugal não nos deu a independência, nós é que ganhámos a guerra!

Esta era a mensagem que ia ao encontro do orgulho dos moçambicanos mas que escondia uma outra, implícita, lógica e perigosa: os portugueses, colonialistas ou não, eram considerados “despojos” de guerra, restava-lhes abandonar o território.

Para os moçambicanos ficou um país vazio de actividade económica, palco para uma futura guerra civil, também conhecida como a guerra dos Dezasseis Anos entre o Exército de Moçambique, da Frelimo, e a Renamo, Movimento Político da Oposição a Samora Machel.

À tarde o telefone tocou. Era um amigo meu, antigo colega do tempo do Liceu e da Faculdade, pessoa de confiança do regime que superintendia numa empresa do Grupo Entreposto, de Champalimaud económico importante daquela região.

Trabalhava no edifício contíguo ao meu e pelo grau de confiança e amizade que tínhamos pedia-me que fizesse um favor ao Sr. Inspector que estava ali ao pé dele, em desespero, porque precisava com rapidez de uma Autorização de Transferência para mandar para Portugal a mulher e as filhas.

 - “Diz ao Sr. inspector que eu trabalho exactamente no mesmo local que ele conhece e se pretende alguma coisa de mim só tem que vir até cá… não precisa de te incomodar…”

Passados poucos minutos, o senhor que tinha sido até ao dia anterior o todo-poderoso inspector da Pide da cidade da Beira, entrava no meu gabinete, cabeça baixa, peito para dentro e ali ficou até eu o mandar sentar, em silêncio, incapaz de me olhar nos olhos, não fosse qualquer gesto ou palavra desagradar-me… era a segurança da família que estava em causa e ele não podia correr riscos.

 - “Sr. Inspector - disse-lhe eu – se me viesse fazer este pedido há dois dias atrás dir-lhe-ia para se dirigir aos balcões, preencher o impresso e aguardar que a Autorização corresse os seus trâmites no Serviço até estar despachada para lhe ser entregue, mas o senhor, neste momento, é um homem derrotado a atravessar o pior momento da sua vida, é uma pessoa frágil e eu vou atender de imediato o seu pedido”.

Chamei uma funcionária e dentro de minutos ele abandonava a Delegação com o papel pretendido sem que eu me lembre de ter ouvido um obrigado… mas talvez o tenha dito… baixinho… já passaram tantos anos… uma vida.

No outro dia viajou para Lourenço Marques, hoje Maputo, preso, como todos os Pides que exerciam funções em Moçambique.

Numa contra-revolução em 7 de Setembro, tentativa frustrada de interromper o processo de independência em curso e reconduzir novamente o poder aos brancos numa solução tipo Ian Smith, como na vizinha Rodésia, fugiram da cadeia e refugiaram-se na África do Sul onde muitos se exilaram porque Portugal, naquela altura, não era também para eles uma terra recomendável…

Depois, com os anos, tudo acabou por esquecer… o tempo tudo apaga… os acontecimentos seguiram o seu rumo de forma inexorável, Portugal “digeriu”, como por encanto, meio milhão de retornados regressados à “trouxe-mouxe” ao ponto de partida e que, paradoxalmente, acabaram por ser eles um motor de desenvolvimento para um país adormecido pela guerra e a ditadura.

Só eu não apaguei da minha memória esta figura bizarra do Sr. Inspector da Pide que se cruzou comigo na cidade da Beira em Moçambique mas que, a pouco e pouco, se vai esbatendo das minhas lembranças.

Aproveitar até ao limite...  
 









Um casal de jovens chega ao consultório de um médico terapeuta sexual.


O médico pergunta-lhes:

- O que posso fazer por vocês?

 O rapaz responde:

- Poderia ver-nos a fazer sexo?

O médico olha espantado, mas concorda. Quando terminam, o médico diz:

- Não há nada de mal na maneira como vocês fazem sexo. E cobra-lhes 70,00 euros pela consulta.

A cena repete-se por várias semanas. O casal marca um horário, faz sexo sem nenhum problema, paga ao médico e deixa o consultório. Ao cabo de algum tempo, o médico resolve perguntar-lhes:

- Afinal, o que estão a tentar descobrir?

E o rapaz responde:

- Nada. O problema é que ela é casada e não posso ir a casa dela.

Eu também sou casado e ela não pode ir a minha casa.



No Hotel Tivoli, um quarto custa 120,00 euros, no Holliday Inn custa 100,00 euros e aqui fazemos sexo por 70,00 euros, temos acompanhamento médico, é-nos passado um recibo, sou reembolsado em 42,00 euros pela Médis e ainda consigo uma restituição do IRS de 19,25 euros. 

  


Sem palavrões...

Comia o Joãozinho um gelado quando a Lisa perguntou:
- Posso chupar?
- Sim, enquanto eu como o gelado!

E os navios antes atracados ao cais, suspendidos ...
OS VELHOS
MARINHEIROS

(Jorge Amado)

Episódio Nº 129











O frio da morte a pairar sobre a cidade veio das estepes da Sibéria nas asas brancas dos ventos do inverno glacial. Vinham de longe, traziam meia hora de atraso, mas quando chegaram foi o fim do mundo.

Os ventos do nordeste, o Terral e o Aracati, ocuparam-se do barco inglês e do navio do Lloyd, desamarrando-os de suas insuficientes amarras, batendo um contra o outro num rumor de cascos rotos.

O vento Aracati jogou o navio do Lloyd mar afora, sem mastros, cobertas, tombadilho. O Terral, nacionalista apaixonado, demorou-se a maltratar o cargueiro inglês, passando sua língua de faca afiada pela garganta dos loiros marinheiros, sua língua de mor e nordestina.

Terral naufragou o cargueiro perto do cais, num torvelinho, para que ali ficasse plantado como lembrança e advertência. Com os ventos, chegaram as chuvas vindas dali mesmo, de perto, da linha do equador onde dormiam nas florestas húmidas, trazendo todas as águas estagnadas da maleita, do tifo, da bexiga negra.

Vieram e transformaram a cidade em milhares de rios, riachos, ribeirões e córregos. O rio Amazonas começou a inchar, a comer terra com seus dentes ávidos de água, a fabricar ilhas e cadáveres. A pororoca tanto ampliou seu grito que ele mediu quilómetros de pavoroso som e foi ouvido nas costas da África, na cidade de Dakar e em perdidos povoados onde trémulos selvagens reconheceram o grito de guerra de Xangô.

O povo abandonava as casas, o trovão rugia, a luz eléctrica fora substituída pelos raios, e eram tantos os relâmpagos, sucedendo-se um após o outro, que tudo foi possível ver-se, o ruir das casas, carroças e automóveis levados pelas águas, gaiolas partindo rio adentro sem comando, indo encalhar nas repentinas ilhas recém-descobertas na terra arrancada das barrancas.

 Ia o povo pela rua em desespero, soltaram-se os ladrões e os assassinos, ajoelhavam-se homens e mulheres a rezar inventadas orações, um padre tentou organizar às pressas uma procissão, encheram-se as igrejas, era o tumulto do juízo final.

E os navios antes atracados ao cais, suspendidos nas mãos dos ventos de todos os quadrantes, arrancados de suas amarras, ficaram ao deus-dará da tempestade. E as chuvas a caírem, os pobres a chorar, os ricos a ranger os dentes.

Durou tudo apenas duas horas, e, se uma hora mais durasse, teria desaparecido do mapa a cidade de Belém com seus azulejos portugueses e sua graça antiga.

Desapareceria a cidade de Belém, engolida pelo dilúvio, levada pelo tufão, mas continuaria o Ita a seus cais amarrado, com todas aquelas amarras ordenadas pelo Comandante Vasco Moscoso de Aragão, Capitão de Longo Curso, único entre todos os velhos marinheiros capaz de prever a tempestade e de contra ela precaver o seu navio. Ali, firme no cais, imóvel e inamovível, com as suas amarras todas amarrado.

Tão inesperada e brusca como chegou, assim, de repente, se foi a tempestade. O ar ficou puro e leve, e a verdade então pairou no firmamento.

Passado o medo, os homens pobres começaram a contar os mortos e os desaparecidos, os homens ricos a contar os prejuízos. Os mortos eram poucos, os desaparecidos vários, montavam os prejuízos a milhões e milhões.

 Havia o perigo das febres na cidade agora sem esgotos. O cais da Port-of-Pará era um monte de destroços. Impávido, em meio à destruição, o Ita de proa altaneira, salvo por seu comandante.

Quando, já alta a manhã, finalmente chegaram o representante da Costeira, os oficiais de bordo e o povo, à pensão de dona Amparo, cuja descoberta tanto lhes custara, Vasco ainda dormia, inocente de tudo.

 O povo, que na véspera rira e chorara, gritava vivas na manhã de sol. Dona Amparo chamou à porta do quarto de Vasco, já refeita do terror da noite. Ele acordou, mas como escutasse os ecos do vozerio, pensou ser tão malvada aquela gente que ali vinha descobri-lo e insultá-lo.

Tanto bateram à porta, tanto chamaram por seu nome, que terminou por abrir e enfrentá-los: a barba por fazer, os pés vestidos de meias, as calças amassadas, a língua pastosa da cachaça. Viu o imediato em sua frente, comprimia-se o povo pelo corredor.

quinta-feira, julho 10, 2014

IMAGEM

A morte que alimenta a vida...



Júlio Eglésias - Manuela

Este rapaz, nascido em 1943, que começou a cantar na cama de um hospital, depois de um desastre de automóvel, acompanhando-se à guitarra que uma enfermeira lhe ofereceu, viria a ser o artista latino mais bem sucedido acumulando uma fortuna de 5 biliões de dólares. A sua voz e carisma fizeram o milagre. Jogou nos infantis do Real Madrid como guarda-redes mas o desastre de automóvel deixou-o quase paralisado. Enfim... quando a vida tem de dar certo nada a consegue parar!

 O Homem da Tabacaria
(Poema de Fernando Pessoa escrito em 1928)




 Não sou nada.
        Nunca serei nada.
        Não posso querer ser nada.
        À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
     Janelas do meu quarto,
        Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
        (E se soubessem quem é, o que saberiam?),
        Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
        Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
   Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
        Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres
        Com a morte a pôr umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens.
        Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
        Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
   Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
        E não tivesse mais irmandade com as coisas
        Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
        A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
        De dentro da minha cabeça,
   E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
        Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
        Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
        À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
        E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
   Falhei em tudo.
        Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
        A aprendizagem que me deram,
        Desci dela pela janela das traseiras da casa.
        Fui até ao campo com grandes propósitos.
  Mas lá encontrei só ervas e árvores,
        E quando havia gente era igual à outra.
        Saio da janela, sento-me numa cadeira.
        Em que hei de pensar?
        Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
   Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
        E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
        Gênio? Neste momento
        Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu ,
        E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
   Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
        Não, não creio em mim.
        Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
        Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
        Não, nem em mim...
   Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo.
        Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando.
        Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
        Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
        E quem sabe se realizáveis,
   Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
        0 mundo é para quem nasce para o conquistar
        E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
       Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
        Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
   Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
        Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
        Ainda que não more nela;
        Serei sempre o que não nasceu para isso;
        Serei sempre só o que tinha qualidades;
   Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
        E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
        E ouviu a voz de Deus num paço tapado.
        Crer em mim? Não, nem em nada.
        Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
   0 seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
        E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
        Escravos cardíacos das estrelas,
        Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
        Mas acordamos e ele é opaco,
   Levantamo-nos e ele é alheio,
        Saímos de casa e ele é a terra inteira,
        Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
        (Come chocolates, pequena; Come chocolates!
        Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
   Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
        Come, pequena suja, come!
        Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
        Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
        Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
   Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
        A caligrafia rápida destes versos,
        Pórtico partido para o Impossível.
        Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
        Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
   A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
        E fico em casa sem camisa.
        (Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
        Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
        Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
   Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
        Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
        Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
        Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
        Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
   Meu coração é um balde despejado.
        Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
        A mim mesmo e não encontro nada.
        Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
        Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
 Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
        Vejo os cães que também existem,
        E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
        E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
        Vivi, estudei, amei, e até cri,
 E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
        Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
        E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
        (Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
        Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
 E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.
        Fiz de mim o que não soube,
        E o que podia fazer de mim não o fiz.
        0 dominó que vesti era errado.
        Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
 Quando quis tirar a máscara,
        Estava pegada à cara.
        Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido.
        Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
        Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
 Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo
        E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
        Essência musical dos meus versos inúteis,
        Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse
        E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
 Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
        Como um tapete em que um bêbado tropeça
        Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
        Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
        Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
 E com o desconforto da alma mal-entendendo.
        Ele morrerá e eu morrerei.
        Ele deixará a tabuleta, eu deixarei versos.
        A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
        Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
 E a língua em que foram escritos os versos.
        Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
        Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
        Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
        Sempre uma coisa defronte da outra, Sempre uma coisa tão inútil como a outra ,
 Sempre o impossível tão estúpido como o real,
        Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
        Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
        Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
        E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
 Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
        E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
        Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
        E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
        Sigo o fumo como uma rota própria,
 E gozo, num momento sensitivo e competente,
        A libertação de todas as especulações
        E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.
        Depois deito-me para trás na cadeira
        E continuo fumando.
 Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
        (Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
        Talvez fosse feliz.)
        Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou á janela.
        0 homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
 Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
        (0 Dono da Tabacaria chegou á porta.)
        Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
        Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
         Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da tabacaria sorriu.


Datado de 1928, o poema Tabacaria enquadra-se na terceira fase poética de Álvaro de Campos, a fase, "intimista", onde mergulha nas profundezas da angústia e do pessimismo.

O autor retorna ao tema do cansaço, da inquietação diante do incompreensível. Tabacaria é o melhor exemplo deste último período criativo de Campos. Talvez, seja a poesia mais significativa desse heterônimo, pois nela podemos encontrar muitas das características presentes em sua obra.

No poema é predominante o niilismo, o sentimento de revolta, o inconformismo, a desumanização, também, um deprimente vazio e a desilusão própria dos tempos pós-guerra e certo desleixo do português, como o próprio Pessoa afirmou em apontamentos.


Camada de Nervos - Doença Rara


Os novos sexagenários

Os Novos

Sexagenários










Se estivermos atentos, podemos notar que está a surgir uma nova faixa social, a das pessoas que estão em torno do sessenta/setenta anos de idade, os sexalescentes- é a geração que rejeita a palavra "sexagenário", porque simplesmente não está nos seus planos deixar-se envelhecer.


Trata-se de uma verdadeira novidade demográfica - parecida com a que, em meados do século XX, se deu com a consciência da idade da adolescência, que deu identidade a uma massa jovens oprimidos em corpos desenvolvidos, que até então não sabiam onde meter-se nem como vestir-se.

Este novo grupo humano, que hoje ronda os sessenta/setenta, teve uma vida razoavelmente satisfatória.

São homens e mulheres independentes, que trabalham há muitos anos e que conseguiram mudar o significado tétrico que tantos autores deram, durante décadas, ao conceito de trabalho. Que procuraram e encontraram há muito a atividade de que mais gostavam e que com ela ganharam a vida.

Talvez seja por isso que se sentem realizados...

Alguns nem sonham em aposentar-se. E os que já se aposentaram gozam plenamente cada dia sem medo do ócio ou solidão. Desfrutam a situação, porque depois de anos de trabalho, criação dos filhos, preocupações, fracassos e sucessos, sabe bem olhar para o mar sem pensar em mais nada, ou seguir o voo de um pássaro de sua janela......


Neste universo de pessoas saudáveis, curiosas e ativas, a mulher tem um papel destacado. Traz décadas de experiência de fazer a sua vontade, quando as suas mães só podiam obedecer, e de ocupar lugares na sociedade que as suas mães nem tinham sonhado ocupar.

Algumas coisas podem dar-se por adquiridas.

Por exemplo, não são pessoas que estejam paradas no tempo: a geração dos "sessenta/setenta", homens e mulheres, lida com o computador como se o tivesse feito toda a vida. Escrevem aos filhos que estão longe e até se esquecem do velho telefone para contactar os amigos - mandam e-mails com as suas notícias, ideias e vivências.

De uma maneira geral estão satisfeitos com o seu estado civil e quando não estão, não se conformam e procuram mudá-lo. Raramente se desfazem em prantos sentimentais.

Ao contrário dos jovens, os sexalescentes conhecem e pesam todos os riscos.
Ninguém se põe a chorar quando perde: apenas reflecte, toma nota, e parte para outra...

... Os homens não invejam a aparência das jovens estrelas do desporto, ou dos que ostentam um fato Armani, nem as mulheres sonham em ter as formas perfeitas de uma modelo. Em vez disso, conhecem a importância de um olhar cúmplice, de uma frase inteligente ou de um sorriso iluminado pela experiência.


Hoje, as pessoas na década dos sessenta/setenta, como tem sido seu costume ao longo da sua vida, estão estreando uma idade que não tem nome. Antes seriam velhos e agora já não o são. Hoje estão de boa saúde, física e mental, recordam a juventude mas sem nostalgias parvas, porque a juventude ela própria também está cheia de nostalgias e de problemas.
Celebram o sol em cada manhã e sorriem para si próprios...Talvez por alguma secreta razão que só sabem e saberão os que chegam aos 60/70.

Site Meter