sábado, julho 23, 2016

África

Continente do

 Meu Fascínio










Não nasci em África, não cresci lá nem lá me fiz homem mas, no entanto, mantenho um fascínio por este continente. A minha relação com ele acontece em três momentos perfeitamente distintos da minha vida: uma visita de estudo a Angola em Agosto/Setembro de 1960; uma comissão militar em Angola de Dezembro de 1962 a Março de 1965; e, finalmente, de Setembro de 1972 a Julho de 1975 em Moçambique, na qualidade de funcionário público exercendo funções na cidade da Beira como Delegado da Inspecção de Crédito e Seguros, ao todo, pouco mais que cinco anos, concretamente cinco anos e três meses.

Refiro com pormenor este espaço do tempo porque a medida do tempo, como já se aperceberam, é muito enganadora. Anos e anos em que nada acontece, tudo igual, rotina pura, com grande dificuldade em referenciar o que quer que seja, e depois, períodos intensos em que parece que tudo se combina para acontecer, no turbilhão de uma roda do carrossel que nos deixa tontos.

África, acontece na minha vida nesses períodos efervescentes em que os sentidos se excitam pela novidade permanente do dia a dia, emprestando mais cor às paisagens e intensidade aos factos que ganham importância especial, porque aconteceram naquele momento e naquelas circunstâncias.

Tivesse eu nascido e sido criado naquele continente, e o que registaria seria o resultado de um processo de habituação em que tudo me seria familiar. Mas eu não tinha nada nem ninguém que me ligasse a África e, por isso, o meu deslumbramento, choque, surpresa, no contacto com uma natureza que nuns sítios é vigorosa, asfixiante, mas ao mesmo tempo cúmplice e protectora, e noutros, extensa, infindável, mística, e entre uma e outra todas as combinações são possíveis, desde um pôr-do-sol paradisíaco na ilha de Stª Carolina, no arquipélago do Bazaruto, em frente da costa moçambicana, até à grandiosidade esmagadora dos penhascos da Tundavala, no planalto Central de Angola.

Depois, temos as circunstâncias:

- Milhares de jovens como eu foram “despejados,” de um dia para o outro, nas luxuriantes matas do norte de Angola que, de dia nos enchiam os olhos do verde da vegetação e à noite os ouvidos com as sinfonias de todos os insectos, batráquios e não sei que mais bicharada. Era como se a natureza nos interpelasse através das vozes de cada um daqueles seus representantes: vocês não são daqui, pois não? - Quem são, o que estão aqui a fazer?

Meses mais tarde, feitas as respectivas apresentações, esclarecidos os objectivos e garantido que o problema era de homens contra homens e que não éramos portadores de serras ou moto-serras que destruíssem a floresta, a casa de toda essa bicharada, fomos acolhidos em igualdade de condições tendo apenas em nosso desfavor a ignorância que não nos permitia defender tão bem do feijão-macaco como aqueles que, conhecendo-o de ginjeira, conseguiam passar-lhe ao lado sem lhe tocarem.

Mas, quanto ao resto, lá estava ela, a floresta, feita mãe protectora, sempre disponível, abrigando-nos, escondendo-nos dos olhares indiscretos porque debaixo do seu manto protector ninguém encontra ninguém a não ser por casualidade ou nos caminhos de “pé-posto”, as “auto-estradas” da floresta.

Mas nos primeiros dias foi assustador porque naquele cenário verde, a imaginação compunha milhões de olhos fixos em nós enquanto, aos solavancos, em cima dos Unimogues, progredíamos nas picadas à estonteante velocidade de 10 km/H, perguntando, cada um a si próprio, qual seria o primeiro a cair trespassado por um daqueles olhares.

 - Oh, meu Alferes, eu tive tanto medo que nem a cabeça de um alfinete me cabia no cu! - e assim ficou, até ao fim da comissão: “O Cu de Alfinete”. Hoje é motivo para recordar nos nossos almoços anuais de confraternização.

Foram dias pouco gloriosos mas  profundamente humanos tanto quanto o podia ser o medo que sentíamos.

Depois, mais tarde, saídos da zona de guerra, fomos  para a fronteira com a Zâmbia, nas margens do Zambeze, com as suas praias de areias cantantes, convivendo em paz com as populações, os simpáticos Luenas, que durante quinze meses nos acolheram com toda a naturalidade, convidando-nos para os seus batuques de fim-de-semana como nós, de certo, também os teríamos convidado, para os bailes nas nossas aldeias.

É impressionante como as pessoas simples do povo, em qualquer parte do mundo, são tão parecidas no essencial, ficando as diferenças apenas para o que é circunstancial:

- O acordeonista afina o acordeão ou a guitarra nota por nota, enquanto o tocador do tambor, que não conhece notas, fá-lo com o calor de um molho de capim a arder aquecendo a pele do tambor até encontrar o som que melhor corresponde ao ritmo que mais aquece o sangue e apela à sensualidade.

Nos bailes das nossas aldeias predominava o ambiente dos desejos contidos, no batuque a liberdade dos desejos.

Entre os Luenas o amor livre não é pecado porque não pode ser pecado o que é da natureza. Nos bailes, a natureza é a mesma, o sangue fervilha da mesma forma, com a mesma intensidade mas o sexo, fora do sagrado sacramento do casamento, era proibido.

Por isso os frequentadores dos bailes são os “civilizados” e os dos batuques “selvagens”;

- Para uns, o entendimento é que a natureza não pode ser deixada entregue a si própria porque ser-se civilizado é obedecer a um estrito código de comportamentos ditados por morais religiosas em que imperam as proibições que testam as nossas almas, que orientam as nossas vidas, e que, finalmente, nos devem conduzir ao descanso eterno;

-Para os outros, a natureza é o que é, e viver que não seja em comunhão com ela, contrariando-a, não faz sentido.

As verdadeiras proibições têm a ver com tudo aquilo que pode pôr em risco as vidas como, por exemplo, aproximarem-se das margens de um rio sem acautelarem a presença de um furtivo crocodilo. Não que o crocodilo seja mau, apenas que é da sua natureza poderem comer pessoas descuidadas que não respeitam os seus locais de vida. 

A natureza é sábia e foi ela que “produziu” o homem depois de muitas tentativas condenadas ao fracasso. Quantas promessas de homem não ficaram pelo caminho? Finalmente, lá conseguimos emergir da noite dos tempos depois de milhões de anos, sem mais do que uma simples ferramenta de pedra usada até à exaustão em locais próximos àquele onde me encontrava.

Tão frágeis e indefesos que éramos a nossa sobrevivência tinha a ver com a cooperação do grupo e a vida deveria ser de um sobressalto permanente perante o risco que representavam as feras, especialmente o tigre Dentes de Sabre, nosso predador por excelência.

Tive a percepção de uma situação dessas quando, um dia, durante uma caçada, (para intercalar com as latas de feijão com chouriço) em pé, sobre o capô do jeep, com o motor desligado, perscrutava o horizonte.

Era uma savana a perder de vista em que só me aventurava munido de bússola. Polvilhada por árvores esparsas era um cenário inalterado há muitos milhares de anos por onde os meus antepassados teriam andado.

Ninguém falava e o silêncio só era quebrado pelo vento que passando pelo capim, não muito alto, produzia um som de uma grande suavidade, como que um murmúrio.

De repente, senti um medo ancestral, pânico, que me subiu pela coluna até à base do crânio: “estava perdido, não via os meus companheiros, encontrava-me à mercê do tigre dentes de sabre…”

Ainda hoje, passados já  quase 50 anos, guardo essa estranha sensação.

Não sei quanto tempo durou essa sensação de medo. Breves instantes, com certeza, mas logo que me libertei dela, saltei para o chão, sentei-me ao volante, pus rapidamente o motor a trabalhar e só então recobrei totalmente daquela viagem relâmpago aos tempos dos nossos antepassados mais remotos… foi muito bom voltar a ouvir o som acolhedor do motor do Jeep Willys.
Não contei esta estranha experiência a ninguém durante muitos anos, exactamente porque era estranha e a mim próprio suscitava dúvidas. Será que, de verdade, ela aconteceu?

Dela, no entanto, ressaltaram em mim alguns sentimentos, também eles guardados em segredo:
- Admiração e reconhecimento pelos nossos antepassados que em condições tão adversas me permitiram estar ali depois de tantos e tantos anos de uma lenta, dolorosa e periclitante evolução;
- Ter sentido, como hoje está provado cientificamente, que aquela foi mesmo a nossa terra de origem. Eu sei, "estive lá!..."

Mas pensar a África hoje é interrogar-mo-nos como foi possível um tão grande retrocesso nas condições de vida dos seus habitantes desde que, progressivamente, ao longo dos últimos cinquenta anos, a condução política de todos os seus territórios passou para representantes legítimos das suas populações.

À laia de exemplo:

 -De acordo com as Nações Unidas, até há bem pouco tempo 2/3 da população da Zâmbia estava na miséria;

-Angola é um dos 5 países mais corruptos do mundo;

-O Zimbabué, que já foi o celeiro da sub-região em que se insere, está mergulhado na miséria ao ponto do seu Presidente Mugabe ter mandado abater os animais de uma reserva eco-turística como solução imediata para matar a fome à população;

Terá sido esta a herança que os europeus lá deixaram?

Para terminar, falemos de Moçambique pela voz de Mia Couto, que começa por afirmar que “até aqui a independência não passou da liberdade de escolher outras dependências” e dirigindo-se à consciência de todos os moçambicanos, que bem poderiam ser todos os cidadãos da África sub-sariana, fala dos "sete sapatos" que é preciso descalçar:

- A ideia de que os culpados são sempre os outros;

- A ideia de que o sucesso não nasce do trabalho;


-A ideia de que quem critica é um inimigo;

- A ideia de que mudar as palavras muda a realidade;

- A vergonha de ser pobre e o culto das aparências;

- A passividade perante as injustiças;

- A ideia de que para sermos modernos temos que imitar os outros;



Por aquilo que se vê, os 7 “sapatos” de Mia Couto, bem se podem transformar nos 12 trabalhos de Hércules da mitologia greco-romana, com a diferença de que os moçambicanos não são deuses, não se podem socorrer de truques e malabarismos próprios dos deuses e, por isso, o que se lhes pede parecendo mais simples talvez seja mais difícil.

Geograficamente, os moçambicanos, estão em cima do Vale do Rift que há milhões de anos atrás foi o berço dos nossos antepassados mais remotos. Um deles viria a transformar-se naquilo que somos hoje. 


Será que os moçambicanos se conseguem transformar, mesmo que não seja completamente, naquilo que Mia Couto pretende?

- Desejamos sinceramente que sim.


PS:

África - O Continente do Meu Fascínio:

Não mais voltei ao continente do meu fascínio e também não o desejo. Depois de paisagens impressionantes, momentos exaltantes, com cidades alindadas com gente humilhada lá dentro, não arrisco ver fome, miséria e degradação promovida por aqueles que lutaram pela independência mas sucumbiram à ambição do poder. Ganharam a guerra, perderam a paz.  

Conheci Angola, Moçambique, Zâmbia e Zimbabué, estas últimas em breves visitas, todas diferentes, com a marca dos colonizadores.


Sei que não é justo, peço desculpas, mas prefiro recordar as imagens dessa África que conheci. O mal que os outros nos fazem é menos grave do que aquele que fazemos a nós próprios...

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 50


















Há meses que Chamoa se sentia uma estranha em Tui, mas a vontade violenta de partir para Guimarães, que tantas vezes a assolava, encontrava um permanente travão num pensamento doloroso: a filha que nascera a Afonso Henriques, gerada pela normanda Elvira.

Um ciúme irracional obrigava-a à contenção pois regressar a Guimarães para dar de caras com a rival e o rebento representaria uma suprema humilhação, um golpe demasiado duro para o seu orgulho.

O que tem a normanda que eu não tenho?

Chamoa, na sua desconsolada existência, não se julgava pior do que ninguém, apenas mais azarada. Por isso, decidira só voltar a Guimarães com um troféu, uma prova de suprema lealdade ao príncipe de Portugal, uma exibição irrecusável de fidelidade que o fizesse aceitá-la, mesmo sendo já pai de uma filha da normanda.

Também tenho quatro filhos...

A filha do príncipe de Portugal não seria um obstáculo, o essencial era recuperar a confiança dele com uma demonstração de heroísmo altruísta.

Revelar-lhe a armadilha que se preparava contra Celmes era a sua oportunidade!

Vou fugir, vou ter com ele!

Chamoa beijou o filho Pêro Pais na têmpora e saiu pela porta do quarto, sorrateira e silenciosa, deixando o petiz a dormir. Amava aquele primogénito fortemente, mas decidira não o levar, pois uma sortida nocturna, em pleno inverno, poderia colocá-lo em risco.

Porém, abandoná-lo custava-lhe, reconheceu Chamoa, enquanto descia as escadas do castelo de Tui pé ante pé.

Pêro Pais era um miúdo invulgarmente afiado de espírito, corajoso e com mais sangue frio do que ela, a sua companhia durante a viagem até Guimarães ser-lhe ia muito agradável!

Mas se o levasse podia ficar doente, era inverno, fazia muito frio!

Fora Pêro Pais quem, na tarde daquele dia, revelara a Chamoa os planos escutados na sala sobre a invasão de Celmes.

Aflita, logo ali ela decidira fugir e para ganhar coragem, bebera algum vinho. Pêro Pais que sempre se preocupava quando a via assim, chamara-lhe a atenção para os perigos do tinto galego.

O avô diz que o vinho nos faz ver a dobrar. Tende cuidado minha mãe, o Tougues dá-vos de beber para vos ter.

Chamoa sorrira, o filho começava a perceber da vida.

Não temais Pêro, desta vez não será assim.

O menino confessou à mãe que sonhava com o dia em que ele e os três irmãos iriam viver para Guimarães, para junto de Afonso Henriques, que se casaria com Chamoa. Esta rira-se mas depois os seus olhos haviam-se enchido de lágrimas e murmurara:

 - Não sei se esse dia vai chegar.

Com a inocência própria da pouca idade que tinha o filho não partilhava as dúvidas dela e afirmara com solenidade:

 - Se salvarmos Celmes, o príncipe de Portugal casará convosco!

sexta-feira, julho 22, 2016

DEZOITO ANOS

 DE  IDADE... ...















Com o passar dos dias sempre iguais

Perdi a noção do tempo.

Não sei que idade tenho,
esqueci o ano, o mês, o dia em que nasci

até ao dia em que te vi…

Estavas imóvel, serena e absorta á espera do elevador.

Olhei para ti, primeiro, normalmente, depois com atenção,

finalmente encantado.

Senti dentro de mim uma enorme ebulição,
estava apaixonado!

Apercebi-me, então, que acabara de fazer dezoito anos de idade.

Lamento, meu amor, não o poder comprovar com a apresentação do Bilhete de Identidade.

Mas se olhares para dentro dos meus olhos, com atenção,
verás dezoito estrelinhas, cada uma brilhando para ti.

E se visitares o meu jardim, encontrarás á tua espera
dezoito lindos botões de rosa que aguardam o conforto do teu olhar,

 a carícia dos teus dedos e o roçar dos teus lábios.


É falso dizer que o amor não tem idade.


Aquele de nós, que alguma vez se apaixonou, em qualquer momento da sua vida, fez nesse dia, precisamente, dezoito anos de idade…


O político do equilíbrio...
Não há duas sem três...

















Depois do Brexit, do Erdogran, na Turquia, só falta agora a eleição de Trump, nos EUA, que tudo põe em causa, incluindo a própria NATO, no fim do ano para o pacote das desgraças ficar completo.

O mundo que conhecemos parece que engatou em marcha atrás. A saída da Inglaterra da Comunidade Europeia provocou danos psicológicos em todos nós, mais não seja, pela alteração no status-quo que nos apanhou de surpresa. A Turquia, aqui ao lado, a caminho da instalação de uma ditadura islâmica pela mão do Sr. Erdogan.

Faltará, no fim do ano, a eleição de Trump para Presidente dos EUA, que eu espero, sinceramente, que não aconteça mas, se acontecer, será o “fim da macacada”.

A acrescentar a tudo isto, o domínio na Europa das políticas conservadoras lideradas pelo Sr. Shauble, da Alemanha, de que o Sr. Passos Coelho é fiel seguidor impondo políticas de austeridade económica que atingem, naturalmente, os mais frágeis, aqui no Sul, na margem Mediterrânea.

O pensamento socialista democrático, parece debater-se em agonia asfixiado pelas forças dominantes de direita das quais, a geringonça do nosso amigo António Costa, em quem votei, com apoio do PCP e Bloco de Esquerda, é uma experiência isolada.

Lá vai, no entanto, com a habilidade negocial que o caracteriza, conseguindo a confiança progressiva dos portugueses, negociando com Bruxelas, à direita e os partidos à esquerda que o apoiam, numa ginástica em que é perito, arriscando-se numas próximas eleições, a retirar Passos Coelho do lugar de líder do partido mais votado.

Passos Coelho não teria estes problemas. Da linha política de Cavaco Silva, o tal que sabia tudo e nunca se enganava, a sua grande preocupação, quase obsessão, é recuperar o poder que lhe foi retirado pela maioria dos deputados na Assembleia da República, e que ele considerou uma traição, um roubo, a ele, o líder partidário mais votado.

Seguidista da política de austeridade de Merkel e Shauble, faria uma política obediente, às ordens dos alemães, nunca hesitando entre elas e os interesses dos seus concidadãos mais pobres.

Lidera e liderará o PSD porque, efectivamente, as forças sociais conservadoras do país, gostam dele pela confiança que ele lhes dá, confiança que, António Costa, tem vindo a ganhar ultimamente pela sua ponderação equilíbrio e sensatez.

Falta-lhe ganhar as próximas eleições legislativas...

Amor, já volto...
Amor já volto...


















Reza a história que um casal de recém casados, com apenas 2 semanas de casamento, o marido que apesar de feliz, já estava com uma vontade reprimida de sair com a malta para fazer a festa. Assim ele diz à sua queridinha:

- Môr, já volto!
- Onde vais meu docinho? (com expressão de recém casados)
- Ao barzinho, beber uma geladinha.
A mulher põe a mão na cintura e responde-lhe:
- Queres uma cervejinha, meu amor???
E nesse momento abre a porta do frigorífico mostra-lhe 25 marcas diferentes de cervejas de 12 paises: alemãs, holandesas, japonesas, americanas, mexicanas, etc.


O marido sem saber mais o que fazer, responde-lhe:

- Meu docinho de coco... mas no bar... sabes...o copo é gelado.
O marido não tinha acabado de falar, quando a esposa interrompe a sua conversa e diz:
- Queres um copo gelado, môr?
Nesse momento a esposa tira do congelador um copo bem gelado, branco, branco, que até tremia de frio. 
Então o marido responde:
-Mas meu céu, no bar tenho aqueles salgadinhos óptimos...Já volto ok?
- Queres salgadinhos meu amor???
A mulher abre o forno e tira 15 pratos de diferentes salgadinhos: bolinhos de bacalhau, rissóis, pipocas, amendoins, pasteis de carne, empadinhas...
- Mas minha bonequinha... lá no bar... sabes... as piadas, os palavrões,tudo aquilo...
- Queres palavrões meu amor?


- ENTÃO VAI PRO CARALHO, MAS DAQUI TU NÃO 

SAIS, MEU FILHO DA PUTA!!!


Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)



Episódio Nº 49




















O Tougues correu ao quarto de Chamoa bem fornecido de vinho, mas nem a visão da bebida amaciou o coração da rapariga galega, que franziu a testa contrariada.

 - Que desejais?

O primo recordou que fora no Natal anterior que se tinham reaproximado. Era tempo de amizade outra vez! Contudo, Chamoa revelou-se impenetrável e mirou-o em desafio.

Sei bem o que tramais com nosso tio.

Mem Tougues estava preparado para lhe revelar alguns segredos, tal era a ânsia de a possuir, mas não contara que ela já os tivesse conhecido por outras vias.

Espantado ouviu Chamoa afirmar:

- Afonso VII e Fernão Peres vão atacar o castelo de Celmes!

O primo surpreendeu-se como poderia ela já saber?

Fosse como fosse, Mem Tougues farejou na situação uma oportunidade.

É verdade o que dizeis, bela prima, mas eu sei mais do que isso...

A curiosidade da rapariga acendeu-se de imediato e olhou-o de forma menos hostil, tendo depois desviado os olhos para o vinho.

Desejai-vos que vos sirva? – perguntou o primo.

Ofereceu-lhe um vaso cheio e foi contando as intenções gerais de leoneses e galegos. Interessada, Chamoa escutou-o e Mem Tougues tomou aquela atenção como desejo.

Já inebriado, cometeu um erro fatal, confessando-lhe que o Trava tinha destinado o Velho para a vigiar a toda a hora.

Mal o soube, Chamoa abandonou a atitude conciliatória. A suavidade do seu rosto que regressara aos poucos, desapareceu num ápice e nos seus olhos verdes nasceu uma ira primitiva.

- Sou prisioneira na minha própria casa?

O Tougues tentou amansá-la, seria só por uns tempos, até à primavera, era coisa pouca, ele próprio ficaria sempre junto dela.

Se eu estiver convosco será diferente! – defendeu.

Zangada, Chamoa desprezou o argumento:

 - Ou durmo convosco ou tenho um desconhecido à perna?

Desesperado, Mem Tougues tentou falar-lhe ao coração:

- Bela prima, não vos preocupeis! Falemos do nosso filho comum.

Com brusquidão, Chamoa interrompeu-o e gritou:

- Quem vos julgais? O único que amo e desejo é Afonso Henriques!

Colérica, expulsou-o dos seus aposentos, numa berraria estrondosa que obrigou a família a comparecer no corredor para tentar acalmá-la, o que verdadeiramente só aconteceu quando Pêro Pais, seu filho mais velho, surgiu de repente e lhe pegou na mão ao mesmo tempo que ordenava aos restantes presentes:

- Deixai minha mãe em Paz!

Com convicção conduziu Chamoa para dentro do quarto e fechou a porta, deixando o resto da família pasmada com a forma imperativa como falava, que todos consideraram prematura numa criança que nem seis anos tinha.

Só a venenosa Elvira Peres de Trava não se espantou, perguntando maldosamente ao Tougues:

 - Sobrinho, não haveis dado vinho suficiente a Chamoa?


Se a minha sogra pensava que mais bebida teria amansado a determinação zangada da filha, estava bem enganada. Naquela noite, a imensa fúria de Chamoa iria levá-la a tomar uma decisão totalmente inesperada.


quinta-feira, julho 21, 2016

Esqueçam o anúncio e apreciem o resto... já lá vão uns bons anitos.


DIÁRIO DE UM HOMEM

MADURO NO GINÁSIO
























Acabei de completar 50 anos. A minha mulher ofereceu-me um voucher de uma semana num dos melhores ginásios. Estou em excelente forma mas achei boa ideia diminuir a minha "barriguinha". Fiz a marcação dessa semana no ginásio. A "personal trainer" que me vai seguir chama-se Catarina, tem 26 anos, é monitora de aeróbica e modelo.

Recomendaram-me que escrevesse um diário para documentar o meu progresso, que transcrevo a seguir.

Segunda-Feira

Com muita dificuldade levantei-me às 6 da manhã. O esforço valeu a pena. A monitora parece uma deusa grega: loira, olhos azuis, grande sorriso, lábios carnudos e corpo escultural. Primeiro mostrou-me todos os aparelhos de ginástica. Comecei pela bicicleta. Ao fim de 5 minutos mediu as minhas pulsações e ficou alarmada porque estavam muito aceleradas. Mas não era da bicicleta: era por causa dela, por estar vestida com uma malha de lycra justíssima que lhe moldava as formas todas.
Gostei do exercício. Ela consegue dar-me imensa motivação. Começo a sentir uma dor constante na barriga de tanto a encolher.

Terça-Feira

Tomei o pequeno-almoço e fui para o ginásio. A monitora estava melhor que nunca. Comecei por levantar uma barra de metal. Depois ela atreveu-se a pôr pesos!!!
Tinha as pernas fracas mas consegui completar UM QUILÓMETRO na passadeira. O sorriso arrebatador que a monitora me deu no fim da manhã convenceu-me de que todo este exercício vale a pena...
É uma vida nova para mim.

Quarta-Feira

A única forma de conseguir escovar os dentes foi segurar na escova com os cotovelos apoiados no lavatório e mexer a cabeça de um lado para o outro.
Conduzir também não foi fácil: estender os braços para meter as mudanças foi um esforço digno de Hércules. Dói-me o peito. As plantas dos pés doem de cada vez que carrego nos pedais. Fisicamente diminuído, estacionei o carro no lugar reservado para deficientes, até porque só consigo andar a coxear. A monitora estava com a voz um pouco aguda. Quando grita incomoda-me muito.
Quando me pôs um arnês para fazer escalada todo o corpo me doeu. Para que é que alguém inventa um aparelho para fazer escalada quando isso ficou obsoleto desde a invenção dos elevadores? A monitora disse-me que este exercício me ia ajudar a ficar em forma, ou a gozar a vida...

Quinta-Feira

A monitora estava à minha espera com os seus dentes de vampiro horríveis.
Cheguei meia-hora atrasado: foi o tempo que demorei para conseguir calçar os sapatos.
A desgraçada pôs-me a trabalhar com os pesos. Quando se distraiu, fui-me refugiar na casa de banho. A gaja mandou um outro monitor ir buscar-me.
Como castigo pôs-me na máquina de remar... Estou todo rebentado.

Sexta-Feira

Odeio essa desgraçada. Estúpida, magra, anémica, chata e feminista sem cérebro! Se houvesse uma parte do meu corpo que eu pudesse mexer sem sentir uma dor excruciante, partia ao meio essa sacana. Quis que eu trabalhasse os meus trícipetes... EU NEM SABIA O QUE ERA ESSA COISA DOS TRÍCIPETES!!!
E se não bastasse colocar-me pesos nos braços, pôs-me aquelas tretas das barras...
Desmaiei na bicicleta. Acordei numa maca. Uma nutricionista, uma idiota com cara de estúpida, deu-me uma seca sobre alimentação saudável.

Sábado      

A filha da mãe deixou-me uma mensagem no telemóvel com a sua vozinha de lésbica assumida a perguntar por que é que eu não apareci.
Só de ouvir aquela vozinha fiquei com ganas de partir o telemóvel, mas não tive forças para o levantar.
Carregar nas teclas do comando da televisão para fazer zapping está a ser um esforço tremendo...

Domingo

Não me consigo levantar.
Pedi a um amigo meu para agradecer a Deus por mim na missa por ter sobrevivido a esta semana que felizmente já acabou.
Rezei para que no ano que vem a desgraçada da minha mulher me dê qualquer coisa um pouco mais divertida, como um tratamento dentário, um cateterismo ou até mesmo um exame à próstata.


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