sábado, janeiro 11, 2014

IMAGEM
Eles seguem-no na noite... um deles parece ter tido uma ideia.


Este vídeo é uma versão do Redemption Song realizado em todo o mundo em homenagem ao aniversário de Bob Marley. Esta canção é um convite para ultrapassar as mágoas do passado e seguir em frente com amor no coração e esperança no olhar.

As Raízes da Religião
(continuação)





Os computadores fazem o que lhes mandam. Obedecem cegamente a quaisquer instruções que lhe sejam transmitidas pela linguagem da programação. É assim que desempenham coisas úteis, como processamento de texto e folhas de cálculo.

Mas também há um subproduto inevitável, e que é o facto de terem um comportamento igualmente robótico quando se trata de obedecer a instruções erradas. Não têm forma de saber se uma dada instrução vai produzir um bom ou um mau resultado. Limitam-se a obedecer, tal como se espera de um soldado.

É a sua obediência incondicional que torna os computadores úteis e é precisamente isso também que os torna inescapavelmente vulneráveis a infecções de vírus e vermes de software.

Um programa concebido com intenção maldosa que diga: «copia-me e envia-me a todos os endereços que encontrares neste disco rígido», vai limitar-se a ser obedecido e a voltar e a voltar a sê-lo vezes sucessivas por todos os outros computadores para onde for enviado, num crescimento exponencial.

É difícil, senão impossível, conceber um computador que seja obediente de uma forma útil e ao mesmo tempo imune às infecções.

Depois deste trabalho de sapa já os meus amigos leitores terão completado o meu raciocínio acerca do cérebro das crianças e da religião.

A selecção natural constrói o cérebro das crianças de maneira a neles incutir uma tendência para acreditarem naquilo que os pais e os chefes da tribo lhes dizem. Essa obediência confiante, análoga à orientação da traça pela Lua é valiosa para a sobrevivência, mas o reverso da obediência cega é a credulidade servil.

O subproduto inevitável é a vulnerabilidade à infecção pelo vírus da mente. Por excelentes razões relacionadas com a sobrevivência darwiniana, os cérebros das crianças precisam de acreditar nos pais e nos mais velhos em quem os pais lhes dizem que o façam.

Uma consequência automática reside no facto de aquele que confia não ter forma de distinguir os bons dos maus conselhos.

A criança não tem forma de saber que «não te metas no rio Limpopo, que está infestado de crocodilos» é um bom conselho e que «tens de sacrificar uma cabra durante a lua cheia , senão não a chuva não vem» é, no mínimo, um desperdício de tempo e de cabras.

Ambos os avisos parecem igualmente dignos de confiança, ambos provêm de uma fonte respeitável e são proferidos num tom de grave seriedade que inspira respeito e obediência. 
(continua)

Richard Dawkins

... incomodar  meio mundo...
A MORTE

E A MORTE

DE QUINCAS

BERRO DÁGUA

Episódio Nº 9

Também fora assim no tempo de Joaquim e Octacília, apenas um dia Joaquim largou tudo e ganhou mundo. Que jeito senão arrastar com o cadáver para casa, sair avisando conhecidos e amigos, convocar gente pelo telefone, passar a noite acordado, ouvindo contar coisas de Quincas, os risos em surdina, as piscadelas de olho, tudo isso durando até à saída do enterro?

Aquele sogro amargurara-lhe a vida, dera-lhe os maiores desgostos. Leonardo vivia no receio de “mais uma das dele”, de abrir o jornal e deparar com a notícia da sua prisão por vagabundagem, como sucedera uma vez.

Nem queria se recordar daquele dia quando, a instâncias de Vanda, andou pela polícia, mandado de um lado para outro, até encontrar Quincas no porão da Central, de cuecas e descalço, a jogar tranquilamente com ladrões e vigaristas.

E depois de tudo isso, quando pensava finalmente respirar, ainda tinha de suportar aquele cadáver todo um dia e uma noite, e em sua casa…

Mas Eduardo tão pouco estava de acordo e era uma opinião de peso, já que o comerciante concordara em dividir as despesas do enterro:

 - Tudo isso está muito bem, Vanda. Que ele seja enterrado como um cristão. Com padre, de roupa nova, coroa de flores.

Não merecia nada disso, mas, afinal é teu pai e meu irmão. Tudo isso está bem. Mas porque meter o defunto em casa…

 - Porquê? – repetiu Leonardo num eco.

 - … incomodar meio mundo, ter de alugar seis ou sete automóveis para o acompanhamento? Sabe quanto custa cada um? E o transporte do cadáver do Tabuão para Itapagipe? Uma fortuna. Porque o enterro não sai daqui mesmo? Vamos nós de acompanhamento. Basta um carro. Depois, se vocês fizerem questão, a gente convida para a missa de sétimo dia.

 - Comunica que ele morreu no interior – Tia Marocas não abandonava sua propopsta.

 - Pode ser. Porque não?

 - E quem vela o corpo?

 - A gente mesmo. Para que mais?

Vanda terminou cedendo. Em verdade -  pensou – a ideia de levar o cadáver para casa era um exagero. Só ia dar trabalho, despesa e aborrecimento.

O melhor era enterrar Quincas o mais directamente possível, comunicar depois o facto aos amigos, convidá-los para a missa do sétimo dia.

Assim ficou acertado. Pediram a sobremesa. Um alto falante berrava próximo as excelências do plano de vendas de uma campanha imobiliária.

sexta-feira, janeiro 10, 2014

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Nós vemo-lo, ele espia-nos...



Uma canção lendária de Bob Marle que expressa a urgência de enfrentarmos unidos os problemas do planeta .
É dedicada a todas as pessoas perdidas, sem casa e esquecidas no mundo, os sem abrigo que por estas alturas do ano morrem de frio.

As Raízes da Religião 
(continuação)


Os computadores fazem o que lhes mandam. Obedecem cegamente a quaisquer instruções que lhe sejam transmitidas pela linguagem da programação. É assim que desempenham coisas úteis, como processamento de texto e folhas de cálculo.

Mas também há um subproduto inevitável, e que é o facto de terem um comportamento igualmente robótico quando se trata de obedecer a instruções erradas. Não têm forma de saber se uma dada instrução vai produzir um bom ou um mau resultado. Limitam-se a obedecer, tal como se espera de um soldado.

É a sua obediência incondicional que torna os computadores úteis e é precisamente isso também que os torna inescapavelmente vulneráveis a infecções de vírus e vermes de software.

Um programa concebido com intenção maldosa que diga: «copia-me e envia-me a todos os endereços que encontrares neste disco rígido», vai limitar-se a ser obedecido e a voltar e a voltar a sê-lo vezes sucessivas por todos os outros computadores para onde for enviado, num crescimento exponencial.

É difícil, senão impossível, conceber um computador que seja obediente de uma forma útil e ao mesmo tempo imune às infecções.

Depois deste trabalho de sapa já os meus amigos leitores terão completado o meu raciocínio acerca do cérebro das crianças e da religião.

A selecção natural constrói o cérebro das crianças de maneira a neles incutir uma tendência para acreditarem naquilo que os pais e os chefes da tribo lhes dizem. Essa obediência confiante, análoga à orientação da traça pela Lua é valiosa para a sobrevivência, mas o reverso da obediência cega é a credulidade servil.

O subproduto inevitável é a vulnerabilidade à infecção pelo vírus da mente. Por excelentes razões relacionadas com a sobrevivência darwiniana, os cérebros das crianças precisam de acreditar nos pais e nos mais velhos em quem os pais lhes dizem que o façam.

Uma consequência automática reside no facto de aquele que confia não ter forma de distinguir os bons dos maus conselhos.

A criança não tem forma de saber que «não te metas no rio Limpopo, que está infestado de crocodilos» é um bom conselho e que «tens de sacrificar uma cabra durante a lua cheia , senão a chuva não vem» é, no mínimo, um desperdício de tempo e de cabras.

Ambos os avisos parecem igualmente dignos de confiança, ambos provêm de uma fonte respeitável e são proferidos num tom de grave seriedade que inspira respeito e obediência.
(continua) 

Richard Dawkins


Onze pessoas estavam penduradas numa corda num helicóptero.
Eram dez homens e uma mulher.
Como a corda não era forte o suficiente para segurar todos, decidiram que um deles teria que se soltar da corda…
Eles não conseguiram decidir quem, até que, finalmente, a mulher disse que se soltaria da corda, pois as mulheres estão acostumadas a largar tudo pelos seus filhos e marido, dando tudo aos homens e recebendo nada de volta e que os homens, como a criação primeira de Deus, mereceriam sobreviver, pois eram também mais fortes, mais sábios e capazes de grandes façanhas...
Quando ela terminou de falar, todos os homens começaram a bater palmas…

Nunca subestime o poder e a inteligência de uma 

mulher!

A MORTE

E A MORTE

DE QUINCAS

BERRO  DÁGUA

Episódio Nº 8


Como sucedera naquela manhã na Repartição. Não se havia falado de outra coisa. Cada um sabia uma história de Quincas e a contava entre gargalhadas.

Ele próprio, Leonardo, nunca imaginara que o sogro fizesse tantas e tais. Cada uma de arrepiar… Sem levar em conta que muitas daquelas pessoas acreditavam Quincas morto e enterrado ou bem vivendo no interior do Estado.

E as crianças? Veneravam a memória de um avô exemplar, descansando na santa paz de Deus e, de repente, chegariam os pais com o cadáver de um vagabundo debaixo do braço, atiravam com ele no nariz dos inocentes.

Sem falar na trabalheira que iam ter, na despesa a aumentar, como se já não bastasse a do enterro, da roupa nova, do par de sapatos.

Ele, Leonardo, estava necessitado de um par de sapatos, no entanto mandara botar meias solas nuns velhíssimos para economizar. Agora, com aquele desparrame de dinheiro, quando poderia pensar em sapatos novos?

Tia Marocas, gordíssima, adorando a peixada do restaurante, era da mesma opinião.:

 - O melhor é espalhar que ele morreu no interior, que chegou um telegrama. Depois a gente convida para a missa do sétimo dia. Vai quem quiser, a gente não é obrigada a dar condução.

Vanda suspendeu o garfo:

 - Apesar dos pesares, é meu pai. Não quero que seja enterrado como um vagabundo. Se fosse seu pai, Leonardo, você gostava?

Tio Eduardo era pouco sentimental:

 - E o que ele era senão um vagabundo? E dos piores da Baía. Nem por ser meu irmão posso negar…

Tia Marocas arrotou, o bucho farto, o coração também:

 - Coitado do Joaquim… Tinha bom génio. Não fazia nada por mal. Gostava dessa vida, é o destino de cada um. Desde menino era assim.

Uma vez, tu lembra, Eduardo?... quis fugir com um circo. Levou uma surra de arrancar o pêlo – bateu na coxa de Vanda a seu lado, como a desculpar-se – E tua mãe, minha querida, era um bocado mandona.

Um dia ele arribou. Me disse que queria ser livre como um passarinho. A verdade é que ele tinha graça.

Ninguém achou graça. Vanda fechara o rosto, obstinava-se:

 - Não estou defendendo ele. Muito nos sofrer, a mim e a minha mãe, que era mulher de bem. E a Leonardo. Mas nem por isso quero que seja enterrado como um cão sem dono.

O que é que iriam dizer quando soubessem? Antes de dar para doido, era pessoa considerada. Deve ser enterrado direito.


Leonardo olhou-a suplicante. Sabia não adiantar discutir com Vanda, ela acabava sempre por impor as suas opiniões e seus desejos.

Panteão Nacional
Eusébio e o

Panteão Nacional



O Panteão Nacional é uma criação da República em 1910 com o objectivo de receber, como homenagem póstuma, os cidadãos que se tenham notabilizado de forma a contribuir para o engrandecimento da nação.

Quem está lá?

- Políticos, Ex-Presidentes da República, Escritores, Oficiais do Exército tais como: General Carmona, Manuel de Arriaga, Aquilino Ribeiro, João de Deus, Sidónio Pais, Humberto Delgado, etc… e muito recentemente Amália Rodrigues.

Agora que morreu Eusébio, logo alguém falou em levar o corpo também para o Panteão e de imediato também parece ter-se instalado a polémica…

Eu desconheço os critérios para seleccionar os portugueses que devem ser trasladados para o Panteão… Por exemplo, a nossa jovem Presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, reformada, que recebe 7.255 euros de pensão mensal por dez anos de trabalho como Juíza do Tribunal Constitucional, mais do que o seu ordenado de Presidente da Assembleia, apressou-se logo a dizer que isso era muito caro e o país estava em crise. Ora, temos logo aqui um critério… o do dinheiro que custa.

Deixemos pois os critérios que só baralham o assunto e vamos pela nossa sensibilidade, pela percepção de simples cidadãos, que vivemos neste país, que fazemos parte dele e que com ele sofremos e nos alegramos, infelizmente mais lágrimas que risos.

Vejamos a Amália, fadista, oriunda de um bairro de Lisboa que em menina vendia limões na rua, sem estudos, sem “família”, é um bom paralelo para o Eusébio, futebolista, também sem estudos, proveniente de um bairro dos subúrbios da então Lourenço Marques, em Moçambique, que chega a Lisboa aos 18 anos, ingénuo e puro e que é logo sequestrado para o Algarve, ao que parece, para não ser “roubado” pelo meu Sporting ficando a dúvida, que eu guardo para mim, de quem roubou quem, mas enfim, são “águas passadas”, dizem que o pai dele era do Benfica e ele também… mas eu sou do Sporting.

Os portugueses dispensam qualquer análise mais ou menos científica, profunda, isenta, imparcial, dos que gostam e não gostam de fado, dos que amam e dos que abominam o futebol, porque tanto a Amália como o Eusébio foram pessoas da nossa família, convivemos com elas e, acima de tudo, com quem nos emocionámos ao longo de quase uma vida.

Tenham pudor, não submetam nem um nem outro a análises ou apreciações feitas por especialistas, intelectuais, porque nenhum deles foi cientista ou escritor, doutor, arquitecto ou engenheiro, general ou político… Eles foram simples cidadãos, pessoas normais, uma que gostava muito de cantar e outra de jogar futebol mas com quem nos fomos identificando ao longo de anos.

Simplesmente, numa coisa e outra, elas foram geniais, mágicas. Para nós e para o mundo. Fizeram-nos chorar de alegria, de tristeza, de simples e sentida comoção, pasmar de admiração. Mexeram com os nossos sentimentos, os nossos afectos, como nenhuns outros e isto ao longo de uma vida.

Quando morreram foi aquele baque, aperto no coração, vazio na alma e lágrima no olho... e isto é que conta.

Estando fora das nossas vidas, no entanto, estavam dentro, entraram subrepticiamente ao longo do tempo, faziam parte de nós, passaram a ser nossos, e a sensação de perda comprova exactamente isso.

O mundo dos afectos foge ao racional, não é fácil explicá-lo e entender. Gostamos, porque sim... Na sua simplicidade e desprendimento, um e outro fizeram-se amar por um povo. É tão simples como isto. 

Por favor, ponham o Eusébio ao lado da Amália.

quinta-feira, janeiro 09, 2014

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A natureza e as suas cores.



As Raízes da Religião
(continuação)



Se a religião é então subproduto de outra coisa, o que é essa outra coisa?

Qual é o equivalente ao hábito da traça de navegar tendo como referência bússolas de luz celeste?

Qual é a característica primitiva vantajosa que por vezes falha o alvo dando origem à religião?

Avançarei aqui uma sugestão a título exemplificativo, mas devo realçar que é apenas um exemplo do tipo de coisa a que me refiro, e apontarei sugestões paralelas avançadas por outros.

Mais importante do que avançar uma resposta é a necessidade de colocar correctamente a pergunta.

A minha hipótese concreta centra-se nas crianças. Mais do que qualquer outra espécie, nós sobrevivemos através da experiência acumulada pelas gerações anteriores, e essa experiência precisa de ser transmitida às crianças, para sua protecção e bem-estar.

Na teoria, as crianças poderão aprender através da experiência pessoal, a não se aproximarem de um penhasco, a não comerem bagas vermelhas desconhecidas, a não nadarem em águas infestadas de crocodilos. Sem dúvida que sim, mas aquelas crianças cujo cérebro contiver a seguinte regra prática: acredita sem hesitações em tudo o que os adultos te disserem. Obedece aos teus pais, obedece aos chefes da tribo, sobretudo quando falarem para ti numa voz grave e ameaçadora. Confia nos mais velhos sem contestares. Essas crianças dotadas com um cérebro “formatizado” com essas regras, terão uma vantagem de sobrevivência relativamente às outras mas, tal como no caso das traças, pode dar mau resultado…

Nunca esqueci um sermão terrível que ouvi na capela da minha escola, quando era pequeno. Terrível, visto de agora, porque, na altura, o meu cérebro de criança aceitou-o dentro do espírito pretendido pelo pregador. Ele contou-nos, então, a história de um pelotão de soldados que treinava junto da linha do Caminho-de-Ferro e, num momento crítico, o sargento encarregado do treino distraiu-se e não deu a voz de “alto”. Os soldados, de tão bem treinados a obedecer às ordens sem as contestar, continuaram a marcha de encontro ao comboio que se aproximava.

O pregador contava esta história para que nós admirássemos e imitássemos a obediência servil e incondicional dos soldados a uma ordem, por muito absurda que ela fosse, vinda de uma figura de autoridade.

Este sermão da minha infância marcou-me profundamente e por isso eu conto-o aqui porque o «eu» da minha infância não sabe se teria coragem de marchar contra o comboio e cumprir assim o seu dever. Mas talvez esta mensagem fosse mais de cariz militar, ao estilo da «Carga da Brigada Ligeira» do que religiosa.

Consultando a história, as nações cujos soldados de infantaria seguem as ordens que recebem ganham mais guerras do que aquelas cujos soldados agem por sua livre iniciativa.

Do ponto de vista das nações, esta continua a ser uma boa regra básica ainda que por vezes conduza a catástrofes pessoais. Os soldados são treinados para se tornarem o mais parecidos como autómatos ou computadores.
(continua)

Richard Dawkins

Alceu Valença - Como dois Animais

Ele nasceu no interior de Pernambuco em 1946, nos limites do sertão e do agreste. Podia ter sido advogado mas ficou na música... ainda bem para nós, quem iria depois ouvir os seus discursos na barra dos tribunais.



Diferença entre ter "PEITO"


e "TOMATES" 

Todos ouvimos falar em alguém ter Peito ou ter Tomates, mas sabe REALMENTE a diferença entre ambos?


Ter PEITO
 - É chegar a casa tarde, após uma farra com os amigos, ser recebido pela mulher com uma vassoura na mão, e ter peito de perguntar:

- "Vais varrer, ou vais voar?"

Ter TOMATES - É chegar tarde a casa, após uma farra com os amigos, a cheirar a perfume e cerveja, batom no colarinho, e dar uma palmada no rabo da mulher e dizer:

- "Tu és a próxima, gorducha!"

Exibição dos inocentes
Vi na televisão…



A rapariga que mostraram na televisão tem dez anos, segundo disseram. O operador de câmara insistia em mostra-lhe os pés, toscos, rudes, que nunca, por certo, tinham visto calçado.

Estamos no Afeganistão e ela está sentada num banco de uma Esquadra da Polícia para onde tinha fugido, logo de manhã, para pedir protecção contra o pai e o irmão. Este tinha-lhe vestido um colete de bombas que ela recusara usar e o pai, quando ela chegou a casa, bateu-lhe pela desobediência.

Que religião é esta? Que espécie de gente é esta em que o chefe da família fabrica anualmente filhos para os fazer rebentar como bombas de carnaval no meio de pessoas, sejam elas quais forem, basta que sejam muitas?

Dizem que são da Al-Kaeda, uma organização pertencente a uma ala extremista do Islamismo, seguidores de Maomé e do Corão o que, acredito sinceramente, deve horrorizar os seguidores esta religião.

Em Setembro de 2001 chocaram o mundo destruindo as Torres Gémeas, em Nova York, matando centenas de pessoas e, com este tipo de acções, os seus planos a longo prazo passam por dominar os islamitas moderados e os de quaisquer outras religiões em obediência a um deus e a um livro, o Corão.

Eles são, não só uma ameaça para a vida daquela menina indefesa e de muitas outras crianças de outras famílias, atentando contra as mais elementares leis da natureza jamais infringidas por outra espécie animal, mas também para a sociedade e o mundo.

Não sei se a guerra que lhes é movida, liderada pelos EUA, está a ser bem conduzida - desde aquela estúpida invasão ao Iraque -  mas move-me um sentimento de apoio e respeito por todos aqueles, a começar pelos Serviços de Informação de todos os países, que lutam e nos procuram defender deste tipo de gente porque chamar-lhes pessoas é uma ofensa a todos nós.

Para quê levar o defunto para casa?...
A MORTE

E A MORTE

DE QUINCAS

BERRO

DÁGUA

Episódio Nº 7


Doutor jovem, ainda sem experiência de vida. Mediu Vanda, seu vestido de dia de festa, sua limpeza, os sapatos altos. Espiou o morto de pobreza sem medida, o quarto de desmedida miséria.

 - E ele vivia aqui?

 - Fizemos tudo para que voltasse para casa. Era…

 - Maluco?

Vanda abriu os braços, estava com vontade de chorar. O médico não insistiu. Sentou-se na beira da cama, começou o exame. Suspendeu a cabeça e disse:

 - Ele está rindo, hem? Cara de debochado.

Vanda fechou os olhos, apertou as mãos, o rosto vermelho de vergonha.


V


O conselho de família não durou muito tempo. Discutiram na mesa de um restaurante na Baixa do Sapateiro.

Pela rua movimentada passava a multidão, álacre e apressada. Bem em frente, um cinema. O cadáver ficara entregue aos cuidados de uma empresa funerária, propriedade de um amigo do tio Eduardo, 20% de abatimento.

Tio Eduardo explicava:

 - Caro mesmo é o caixão. E os automóveis se for acompanhamento grande. Uma fortuna. Hoje não se pode nem morrer.

Ali por perto haviam comprado uma roupa nova, preta (a fazenda não era grande coisa, mas como dizia Eduardo, para ser comida pelos vermes estava até boa de mais), um par de sapatos também pretos, camisa branca, gravata, par de meias.

Cuecas não eram necessárias. Eduardo anotava num caderninho cada despesa feita. Mestre na economia, seu armazém prosperava.

Nas mãos hábeis de especialistas da agência funerária, Quincas Berro Dágua ia voltando a ser Joaquim Soares da cunha, enquanto os parentes comiam peixada no restaurante e discutiam sobre o enterro.

Discussão mesmo só houve em torno de um detalhe: donde sair o caixão.

Vanda pensara levar o cadáver para casa, realizar o velório na sala, oferecendo café, licor e bolinhos aos presentes durante a noite.

Chamar padre Roque para a encomendação do corpo. Realizar o enterro pela manhã cedo, de tal maneira que pudesse vir muita gente, colegas de Repartição, velhos conhecidos, amigos da família.

Leonardo opusera-se. Para que levar o defunto para casa?


Para que convidar vizinhos e amigos, incomodar um bocado de gente? Só para que todos eles ficassem recordando as loucuras do finado, sua vida inconfessável dos últimos anos, para expor a vergonha da família ante todo o mundo?

quarta-feira, janeiro 08, 2014

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Ele não quer que lhe falte nada...


Otis Redding - My Girl

Um dos meus cantores "mágicos".

As Raízes da Religião





Toda a gente tem a sua teoria de estimação sobre a origem da religião, a razão pela qual todas as culturas humanas têm uma. Uns, dizem que reconforta e consola, outros, que promove a união dos grupos, satisfaz a nossa ânsia de percebermos porque existimos, etc…

Sabemos hoje que somos o produto de um processo de evolução darwiniana, tal como todos os seres vivos. Os belíssimos documentários que são trazidos até nós pelos programas dos canais da Odisseia e da National Geografic sobre a origem do Homem, não nos deixam dúvidas sobre a dificuldade desse processo. Várias “tentativas” que não sabiam que eram “tentativas” e todas abortaram ao longo de alguns milhões de anos.

Finalmente, ficámos nós, só nós, todos os outros desapareceram, não vingaram, como se costuma dizer. Conhece-se alguma coisa desse processo - que continua e continuará -  o suficiente para podemos dizer que ele foi muito difícil. Uma vez, pelo menos,  a quando da explosão do vulcão Toba, há 75.000, na Indonésia, estivemos à beira do "abismo" reduzidos ao número mínimo de elementos capaz de sobreviver.

Por isso, é legítimo perguntar que pressão ou pressões foram exercidas pela selecção natural que tenham favorecido, na sua origem, o impulso para a religião, tanto mais quanto é verdade que a religião é esbanjadora e extravagante. Os rituais religiosos têm custos em tempo, recursos, dor e privação.

 A religião pode por em perigo a vida do indivíduo mais devoto tal como a dos outros. Milhares de pessoas foram torturadas por lealdade a uma religião, perseguidas por fundamentalistas apenas, muitas vezes, por pertencerem a uma fé alternativa que pouco tinha de diferente. Veja-se o caso dos sunitas e xiitas e entre católicos e protestantes.

Por outro lado, a religião devora recursos, por vezes numa escala maciça. Uma Catedral medieval podia levar séculos de trabalho humano a ser construída e, no entanto, nunca era usada como residência ou com algum outro fim que fosse útil.

A música sacra e a pintura devota monopolizaram em grande parte o talento da época medieval e do Renascimento. Gente devota morreu pelos seus deuses e por eles matou. Outros autoflagelaram-se até as costas verterem sangue, juraram uma vida de celibato ou de silêncio em clausura, tudo ao serviço da religião.

Para quê tudo isto? Qual o benefício da religião?

A nossa espécie por muito inteligente que possa ser, é, no entanto, dotada de uma inteligência «perversa» porque assimila conhecimentos sobre o mundo natural e de como sobreviver nele mas depois, em simultâneo, atulham as suas mentes com crenças manifestamente falsas.

Embora os pormenores variem de região para região, não se conhece nenhuma cultura no mundo que não tenha a sua versão da religião, com os seus rituais pródigos em esbanjar tempo, em consumir riquezas e em gerar hostilidades.

Há pessoas instruídas que abandonaram a religião, mas todas foram criadas numa cultura religiosa, que normalmente deixaram para trás através de uma decisão consciente. Lembremos a velha piada irlandesa que pergunta: «sim, és ateu, mas ateu protestante ou ateu católico?»

Do ponto de vista darwiniano não há nenhuma dificuldade em explicar o comportamento sexual. Trata-se de fazer filhos mesmo nas situações em que a contracepção ou a homossexualidade o parecem contrariar.

Mas, e o comportamento religioso? Porque jejuam os humanos, porque se ajoelham, autoflagelam, acenam freneticamente com a cabeça em frente de um muro, porque fazem cruzadas?

(Richard Dawkins. Continuaremos)

Isto é Que é Poesia…


A vida é filha da puta, 

A puta, é filha da vida...

Nunca vi tanto filho da puta, 

Na puta da minha vida!

Era meu pai.
A MORTE  E

A MORTE DE

QUINCAS

BERRO

DÁGUA

Episódio Nº 6




Procurou onde sentar. Tudo que havia, além do catre, era um caixote de querosene vazio. Vanda o pôs de pé, soprou a poeira, sentou-se. Quanto tempo demoraria o médico a chegar?

E Leonardo? Imaginou o marido cheio de dedos na Repartição, explicando ao chefe a inesperada morte do sogro. O chefe de Leonardo conhecera Joaquim nos bons tempos da Mesa de Rendas.

E quem não o conhecera então, quem não lhe tinha consideração, quem poderia imaginar o seu destino? Para Leonardo seriam momentos difíceis, comentando com o chefe as loucuras do velho, buscando explicações para elas.

O pior seria se a notícia se espalhasse entre os colegas, murmurada de mesa em mesa, enchendo as bocas de risinhos maledicentes, de piadas grosseiras, de comentários de mau gosto.

Era uma cruz aquele pai, transformara as suas vidas num calvário, estavam agora no cimo do morro, era ter um pouco mais de paciência.

Com o rabo do olho, Vanda espiou o morto. Lá estava ele sorrindo, achando tudo aquilo infinitivamente engraçado.

É pecado ter raiva de um morto, ainda mais se esse morto é o pai da gente.

Vanda conteve-se, era pessoa religiosa, frequentava a Igreja do Bonfim, um pouco espírita também, acreditava na reincarnação.

Além do mais, agora pouco importava o sorriso de Quincas. Era ela finalmente quem mandava e dentro em pouco ele voltaria a ser o pacato Joaquim Soares da Cunha, irrepreensível cidadão.

O santeiro entrou com o médico, rapaz jovem, certamente recém-formado, pois ainda se dava ao trabalho de representar o profissional competente.

O santeiro apontou o morto, o médico cumprimentou Vanda, abriu a maleta de couro brilhante. Vanda levantou-se, afastando o caixão de querosene.

 - De que morreu?

Foi o santeiro que explicou:

 - Foi encontrado morto, assim como está.

 - Sofria alguma enfermidade?

 - Não sei, não senhor. Conheço ele há uns dez anos e sempre sadio como um boi. A não ser que o doutor…

 - O quê?

 - … chame cachaça de doença. Virava um bocado, era bom no trago.

Vanda tossiu, repreensiva. O doutor dirigiu-se a ela:

 - Era empregado da senhora?

Houve um silêncio breve e pesado. A voz veio de longe:

 - Era meu pai.

terça-feira, janeiro 07, 2014

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Os ricos, coitados, são vencidos pelo número. É que os pobres e remediados são muito mais... O que seria deles sem nós para vencerem a crise?...



Mudar de rumo...
Cinco Séculos Depois:
Um Discurso Insultante.


O Papa Bento XVI resignou. Grande intelectual que era, percebeu que lhe faltavam qualidades para corrigir os grandes defeitos enraizados na Igreja de Roma como a corrupção, a pedofilia, o luxo e outros.
O Papa Francisco, argentino, franciscano, com uma experiência de vida, não de sacristia mas do seio das comunidades pobres dos subúrbios da grande cidade, desligado por vocação de honras e vénias, desencadeia no Vaticano uma luta contra as estruturas implantadas e até já há quem tema, por causa disso, pela sua vida.
Governar uma Igreja inspirada na figura de Jesus da Nazaré implica, para além do resto, um grande sentido de humanidade e humildade e Bento XVI não demonstrou essas qualidades quando, em Maio de 2007, na Conferência de Bispos Latino Americanos e do Caribe, em Aparecida, no Brasil, se referiu ao processo de Cristianização da América sem incluir uma única palavra de crítica a esses factos históricos.

Nesse discurso, ele expressou a visão oficial insensível da Igreja Católica daquele sangrento processo histórico.



Uma passagem desse discurso:

- “Que significou a aceitação da fé cristã para os povos da América Latina e do Caribe? Para eles significou conhecer e acolher Cristo, o Deus desconhecido que os seus antepassados, sem o saberem, buscavam nas suas ricas tradições religiosas. Cristo era o Salvador que ansiavam silenciosamente. O Espírito Santo veio fecundar as suas culturas, purificando-as e desenvolvendo os numerosos germens e sementes que o Verbo encarnado havia posto nelas, orientando-as assim pelos caminhos dos Evangelhos. O anúncio de Jesus e do seu Evangelho não supôs, em nenhum momento, a alienação das culturas pré-colombianas, nem foi uma imposição de uma cultura estranha…”
Por falta de humildade, Bento XVI pensou que basta a obediência e o respeito para que a palavra do Papa seja aceite como mais um dogma, como se os destinatários dessas palavras fossem ignorantes, insensíveis, sem capacidade crítica… quando esse processo histórico foi um dos genocídios mais horrorosos em que a Igreja esteve implicada. 

Entre as muitas expressões de repúdio ao discurso do Papa destacamos uma, a da “Posição da Confederação dos Povos de Nacionalidade Kichwa do Equador” emitido dois dias apenas após as palavras provocadoras do pontífice.

Eis uma passagem desse texto:



- “Se analisarmos com uma elementar sensibilidade humana, sem fanatismos de nenhuma espécie, a história da invasão a Abya Yala (nome dado ao Continente Americano) realizado pelos espanhóis com a cumplicidade da igreja católica, só nos podemos indignar.

Seguramente que o Papa desconhece que os representantes da igreja católica desse tempo, com honrosas excepções, foram cúmplices, encobridores e beneficiários de um dos genocídios mais horrorosos que a humanidade podia presenciar.

Mais de 70 milhões de mortos em campos de concentração de minas (a actividade de mineração foi a mais importante da América Espanhola). Nações e povos inteiros foram arrasados e para substituir os mortos trouxeram povos do continente africano que sofreram a mesma desgraçada sorte.

Usurparam as riquezas dos nossos territórios para salvar economicamente o sistema feudal. As mulheres foram cobardemente violadas e milhares de crianças morreram por desnutrição e doenças desconhecidas. Tudo isto foi feito debaixo do pressuposto filosófico e teológico que os nossos antepassados “não tinham alma”.

Junto dos assassinos dos nossos heróicos dirigentes estava sempre um sacerdote ou um bispo para doutrinar o condenado ou condenada à morte, baptizando-os antes de morrer, renunciando, assim, às suas concepções filosóficas e teológicas…

Não é concebível que em pleno Séc. XXI se acredite na Europa que só pode ser concebido como Deus um ser definido com tal na Europa. O Papa devia saber que antes de chegarem aos nossos territórios os sacerdotes católicos com a Bíblia, nos nossos povos já existia deus e a sua Palavra é aquela que sempre sustentou a vida dos nossos povos e a da Mãe Terra. A palavra de Deus não pode estar contida num só livro e muito menos se pode acreditar que uma religião possa privatizar um Deus.

Os nossos povos originários eram civilizações que tinham governos e organizações sociais estruturadas de acordo com os nossos princípios. Naturalmente, também tínhamos religiões com livros sagrados, ritos, sacerdotes e sacerdotisas que foram os primeiros a serem assassinados pelos que se afirmavam ser servidores do Deus do Amor de que falava Jesus Cristo mas não passaram de servidores do “deus da codícia”.

É importante comunicar ao Papa que as nossas religiões jamais morreram. Aprendemos a sincretizar nossas crenças e símbolos com as dos invasores e opressores. Continuamos assistindo nos nossos templos porque sabemos que debaixo dos principais templos católicos estão os cimentos dos nossos templos sagrados que foram destruídos no pressuposto de que as novas construções sepultariam as nossas crenças."




Que dizer mais?

Notável este texto pela sabedoria e humildade inteligente em resposta à sobranceria das palavras do pontífice.

O Papa Francisco bem pode mudar este rumo porque o mundo precisa da sua ajuda, da sua palavra humilde, mas forte e acusadora do que por aí vai…

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