sábado, março 10, 2012

A BAIXA DA CIDADE DE LISBOA NUM DOS RAROS DIAS DE NEVOEIRO


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TRÁFEGO AÉREO AO LONGO DE UM DIA


Olhando para isto bem se pode dizer que é o meio de transporte mais seguro de todos

Danny Kaye

Passaram mais de 55 anos quando, em rapaz, estudante no Colégio Nuno Álvares, em Tomar, fui ver um filme cómico com Danny Kaye. cujo título infelizmente já não recordo. A graça que lhe achei foi tanta que o riso transbordou e tive que deixar de olhar para o ecrã tendo voltado mais tarde a uma outra sessão para, finalmente, conseguir ver o filme.

O que me lembro dessa representação é que ela constituiu a maior demonstração da arte de fazer rir, indescritível a sua capacidade cómica que a maioria das pessoas da minha geração conheceram perfeitamente.

O que talvez não saibam, e eu não sabia, era o "coração" que se escondia atrás deste grande artista.


Ganhou milhões com os seus dotes de actor e cantor e morreu sem um tostão porque tudo quanto recebia dava aos mais necessitados. Ajudou muitos colegas que estavam na miséria e distribuía o resto por instituições de Assistência.

Morreu em Los Angeles, em 1987 e a UNESCO considerou-o Cidadão Mundial - mais uma vez foi preciso morrer…
Para além de actor e cantor era também um excelente intérprete de Jazz e clarinetista embora quase só tocasse para os amigos.
O vídeo que se segue em que ele canta com Louis Armstrong, é um exemplo do seu grande virtuosismo e, da minha parte, um sinal de agradecimento e aplauso por aquilo que ele foi como actor e como homem bom.


Louis Armstrong - Danny Kaye


Conta-se que Bocage, ao chegar a casa um certo dia, ouviu um barulho estranho vindo do quintal.
Chegando lá, constatou que um ladrão tentava levar os seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com os seus amados patos, disse-lhe:


-Oh, bucéfalo anácrono! Não te interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo acto vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo... mas se é para zombares da minha elevada prosopopeia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com a minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada.

E o ladrão, confuso, diz:

-Doutor, afinal levo ou deixo os patos?

GABRIELA

CRAVO
E

CANELA

Episódio Nº 44


Com sua recusa botara de vez uma pedra em cima da ideia. Foi o que disse a Tonico quando este, à noite, veio lhe falar do caso relatando as queixas de Clóvis:

- Tu precisa de jornal diário? Eu também não. Então Ilhéus não precisa. – E falou de outra coisa.

Qual não foi sua surpresa ao ver, nos postas da praça e nas paredes, dias depois, anúncios do próximo aparecimento do jornal. Mandou chamar Tonico:

- Que história é essa de jornal?

- De Clóvis?

- Sim, tem uns papéis dizendo que vai sair. As máquinas já chegaram e estão sendo montadas.

- Como é isso? Neguei meu apoio. Onde ele achou dinheiro? Na Baía?

- Aqui mesmo, pai, Mundinho Falcão…

E quem animara a fundação do Clube Progresso, quem dera dinheiro aos rapazes do comércio para fundar os clubes de futebol? A sombra de Mundinho Falcão projectava-se por toda a parte. Seu nome soava cada vez mais insistentemente aos ouvidos do coronel. Ainda agora, o árabe Nacib falara nele em sua chegada a anunciar a vinda de engenheiros do Ministério da Viação para estudar o caso da barra.

Quem lhe encomendara engenheiros, quem lhe entregara a solução dos problemas da cidade? Desde quando ele era autoridade?

- Quem deu essa comissão a ele? – A voz brusca do velho interrogava Nacib como se este tivesse alguma responsabilidade.

- Ah, isso lá não sei… Estou vendendo o peixe pelo preço que comprei…

As flores coloridas do jardim brilham à luz do dia esplêndido, pássaros trinam nas árvores em torno. O coronel fecha a cara, Nacib não tem coragem de despedir-se. O velho está zangado, de repente começa a falar. Se pensam que ele está acabado, estão enganados. Ainda não morreu nem é um inútil. Querem luta? Pois vamos lutar, que outra coisa ele fez na vida? Como plantou suas roças, marcou os amplos limites das suas fazendas, construiu seu poder?

Não foi herdando de parentes, crescendo à sombra de irmãos, nas grandes capitais como esse de Mundinho Falcão… Como liquidara os adversários políticos? Foi rompendo a mata, a Parabellum na mão, os jagunços a segui-lo. Qualquer ilheense de mais idade poderá contar. Ninguém esqueceu ainda essas histórias. Esse Mundinho Falcão está muito enganado, veio de fora, não conhece as histórias, era melhor primeiro informar.

O coronel bate com o bico da bengala no cimento do passeio. Nacib escuta em silêncio.

A voz cordial do professor Josué o interrompe:

- Bom dia, coronel. Tomando sol?

O coronel sorri, estende a mão ao jovem:

- Conversando aqui com o amigo Nacib. Sente-se.

Faz lugar no banco – Na minha idade tudo o que resta é tomar sol…

Ora, coronel, poucos moços valem o senhor.

Pois eu estava dizendo a Nacib que ainda não estou enterrado. Tem quem pense por aí que não valho mais nada…


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INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES

À ENTREVISTA Nº 41 SOBRE O TEMA:




"A QUEM CONFESSAMOS?" (2)



É na Comunidade onde nós nos Perdoamos



A prática da Igreja primitiva via a confissão individual e o perdão relacionados com a comunidade, enquanto a teologia medieval focava o perdão dos pecados através da mediação do sacerdote.


A prática da confissão individual (o penitente com o sacerdote, o segredo, e enumeração detalhada de todos os pecados) sempre foi questionada como uma prática intimidatória. Então, depois do Concílio Vaticano II, apareceram muitas comunidades cristãs católicas com novas formas de celebrar este sacramento, evitando publicitar os pecados mas mantendo o espírito de arrependimento e o padre absolvia a comunidade onde se reuniam, motivada por atitudes de humildade e reconhecimento dos erros cometidos. Estas manifestações penitenciais da comunidade representaram um avanço importante. No entanto, ainda era o sacerdote que "perdoava". A involução anti-conciliar organizado pelo Papa João Paulo II reforçou a prática da confissão individual.


As outras igrejas cristãs sempre foram mais abertas. Por exemplo, no "Livro de Oração Comum" da Igreja Episcopal, são oferecidas duas opções: a reconciliação da comunidade em adoração e confissão privada, que não é obrigatória e que é regida pela seguinte fórmula: Todos podem, alguns deverão, nenhum é necessário.


O irmão de Jesus, Tiago, em sua carta (5:16) diz: “Confessem mutuamente os seus pecados e rezem uns para os outros para serem absolvidos”. Alguns vêem nesta citação um convite à confissão "em comunidade" e portanto, perdoando em comunidade, não necessariamente através da mediação de um sacerdote como “perdoador” oficial. Na sua primeira carta, João fala em reconhecer e confessar os nossos pecados perante Deus e não perante o padre: “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 João 1,9).


O espírito da mensagem de Jesus nos diz para sermos perdoados, devemos ir a Deus, à comunidade, e especialmente àqueles a quem ofendemos. Nos perdoamos uns aos outros ao confessarmos reciprocamente os danos que provocámos. Em alguns casos, não são necessárias palavras, mas gestos, às vezes mais eloquentes do que as palavras. O que "perdoa" os pecados é o arrependimento e a mediação da comunidade. O que perdoa os pecados é a "conversão", a mudança de vida, a reparação dos danos causados.

sexta-feira, março 09, 2012

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ROBERTO CARLOS - MULHER DE 40

VÍDEO


Infelizmente, na hora, cães e polícias nunca lá estão...

Origem do Conto do Vigário
(Contado por Fernando Pessoa)

Um dia, certo fabricante ilegal de notas falsas chegou à fala com um lavrador e negociante de gado, chamado Manuel Peres Vigário e disse-lhe:

- «Sr. Vigário, tenho aqui umas notazinhas de cem mil réis que me falta passar. O senhor quer? Largo-lhas por vinte mil réis cada uma.»

- «Deixa ver», disse o Vigário; e depois, reparando logo que eram imperfeitíssimas, rejeitou-as:

- «Para que quero eu isso?», disse; «isso nem a cegos se passa.»

O outro, porém, insistiu; Vigário cedeu um pouco regateando; por fim fez-se negócio de vinte notas, a dez mil réis cada uma.

Sucedeu que dali a dias tinha o Vigário que pagar a uns irmãos negociantes de gado como ele a diferença de uma conta, no valor certo de um conto de réis. No primeiro dia da feira, na qual se deveria efectuar o pagamento, estavam os dois irmãos jantando numa taberna escura da localidade, quando surgiu pela porta, cambaleando de bêbado, o Manuel Peres Vigário. Sentou-se à mesa deles, e pediu vinho. Daí a um tempo, depois de vária conversa, pouco inteligível da sua parte, lembrou que tinha que pagar-lhes. E, puxando da carteira, perguntou se, se importavam de receber tudo em notas de cinquenta mil réis. Eles disseram que não, e, como a carteira nesse momento se entreabrisse, o mais vigilante dos dois chamou, com um olhar rápido, a atenção do irmão para as notas, que se via que eram de cem. Houve então a troca de outro olhar.
O Manuel Peres Vigário, com lentidão, contou tremulamente vinte notas, que entregou. Um dos irmãos guardou-as logo, tendo-as visto contar, nem se perdeu em olhar mais para elas. O vigário continuou a conversa, e, várias vezes, pediu e bebeu mais vinho. Depois, por natural efeito da bebedeira progressiva, disse que queria ter um recibo. Não era uso, mas nenhum dos irmãos fez questão. Ditava ele o recibo, disse, pois queria as coisas todas certas. E ditou o recibo – um recibo de bêbedo, redundante e absurdo: de como em tal dia, a tais horas, na taberna de fulano, e
«estando nós a jantar (e por ali fora com toda a prolixidade frouxa do bêbedo...), tinham eles recebido de Manuel Peres Vigário, do lugar de qualquer coisa, em pagamento de não sei quê, a quantia de um conto de réis em notas de cinquenta mil réis. O recibo foi datado, foi selado, foi assinado. O Vigário meteu-o na carteira, demorou-se mais um pouco, bebeu ainda mais vinho, e daí a um tempo foi-se embora.
Quando, no próprio dia ou no outro, houve ocasião de se trocar a primeira nota, o que ia a recebê-la devolveu-a logo, por descaradamente falsa, e o mesmo fez à segunda e à terceira... E os irmãos, olhando então verdadeiramente para as notas, viram que nem a cegos se poderiam passar.
Queixaram-se à polícia, e foi chamado o Manuel Peres, que, ouvindo atónito o caso, ergueu as mãos ao céu em graças da bebedeira providencial que o havia colhido no dia do pagamento. Sem isso, disse, talvez, embora inocente, estivesse perdido.
Se não fosse ela, explicou, nem pediria recibo, nem com certeza o pediria como aquele que tinha, e apresentou, assinado pelos dois irmãos, e que provava bem que tinha feito o pagamento em notas de cinquenta mil réis. «E se eu tivesse pago em notas de cem», rematou o Vigário «nem eu estava tão bêbedo que pagasse vinte, como estes senhores dizem que têm, nem muito menos eles, que são homens honrados, mas receberiam.» E, como era de justiça foi mandado em paz.
O caso, porém, não pôde ficar secreto; pouco a pouco se espalhou. E a história do «conto de réis do Manuel Vigário» passou, abreviada, para a imortalidade quotidiana, esquecida já da sua origem.
Os imperfeitíssimos imitadores, pessoais como políticos, do mestre ribatejano nunca chegaram, que eu saiba, a qualquer simulacro digno do estratagema exemplar. Por isso é com ternura que relembro o feito deste grande português, e me figuro, em devaneio, que, se há um céu para os hábeis, como constou que o havia para os bons, ali lhe não deve ter faltado o acolhimento dos próprios grandes mestres da Realidade – nem um leve brilho de olhos de Macchiavelli ou Guicciardini, nem um sorriso momentâneo de George Savile, Marquês de Halifax.

GABRIELA

CRAVO
E
CANELA





Episódio Nº 43



O que não entendia era clube para rapazes e moças conversarem até altas horas, dançarem essas tais danças modernas, onde até mulheres casadas iam rodopiar em outros braços que não os de seus maridos, uma indecência!

Mulher é para viver dentro de casa, cuidando dos filhos e do lar. Moça solteira é para esperar marido, sabendo cozer, tocar piano, dirigir a cozinha. Não pudera impedir a fundação do clube, bem se esforçara. Esse Mundinho Falcão, vindo do Rio, escapava ao seu controle, não vinha visitá-lo nem consultá-lo, decidia por sua própria conta, ia fazendo o que bem entendia.

O coronel sentia obscuramente ser o exportador um inimigo, ainda lhe daria dor de cabeça. Na aparência mantinham óptimas relações. Quando se encontravam, o que sucedia raramente, trocavam palavras gentis, protestos de amizade, punham-se à disposição um do outro.

Mas esse tal Mundinho começava a meter o bico em todas as coisas, era cada vez maior o número de pessoas a cercá-lo, ele falava de Ilhéus, sua vida, seu progresso, como se aquilo fosse assunto seu, de sua alçada, como se tivesse alguma autoridade.

Era homem de família acostumado a mandar no Sul do país, seus irmãos tinham prestígio e dinheiro. Para ele era como se o coronel Ramiro não existisse. Não fora assim quando resolvera abrir a avenida na praia.

Aparecera de súbito na Intendência com as plantas, dono dos terrenos, os planos completos. Nacib lhe dava as notícias mais recentes, o coronel já tinha sabido do encalhe do Ita.

- Mundinho Falcão chegou nele. Disse que o caso da barra…

- Forasteiro… - atalhou o coronel. – Que diabo veio buscar a Ilhéus, onde não perdeu nada? – Era aquela voz dura do homem que tocara fogo em fazendas, invadira povoados, liquidara gente, sem piedade. Nacib estremeceu.

- Forasteiro…

Como se Ilhéus não fosse uma terra de forasteiros, de gente vinda de toda a parte. Mas era diferente. Os outros chegavam modestamente, curvavam-se logo à autoridade dos Bastos, queriam apenas ganhar dinheiro, estabelecer-se, entrar nas matas. Não se metiam a cuidar do “progresso da cidade e da região”, a decidir sobre as necessidades de Ilhéus.

Uns meses antes, o coronel Ramiro Bastos fora procurado por Clóvis Costa, dono de um semanário. Queria organizar uma sociedade para lançar um jornal diário.

Já tinha máquinas em vista, na Baía, precisava de capital. Dera-lhe longas explicações: um jornal diário significava um novo passo para o progresso de Ilhéus, seria o primeiro do interior do Estado. Pretendia o jornalista levantar dinheiro, entre os fazendeiros, seriam todos sócios do jornal, órgão ao serviço dos interesses da região cacaueira. A Ramiro Bastos a ideia não agradou. Defesa contra quem ou contra quê? Quem ameaçava Ilhéus? O Governo, por acaso? A oposição era coisa à toa, desprezível. Jornal diário parecia-lhe luxo supérfluo. Se precisasse dele para qualquer outra coisa, às ordens. Para jornal diário, não…

Clóvis saíra desanimado, queixara-se a Tonico Bastos, o outro filho do coronel, tabelião da cidade. Poderia obter um pouco de dinheiro com um outro fazendeiro. Mas a recusa de Ramiro significava a da maioria. Iriam perguntar-lhe quando ele lhes falasse:

- O coronel Ramiro quanto assinou?

O coronel não pensou mais no assunto. Essa coisa de jornal diário era um perigo. Bastava não satisfazer um dia um pedido de Clóvis e ter o jornal a fazendo oposição, metendo-se nos negócios municipais, esmiuçando, arrastando reputações na lama.


(Click na imagem do actor Paulo Gracindo, (1911/1995) o Coronel Ramiro Bastos)

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES

À ENTREVISTA Nº 41 SOBRE O TEMA:
“CONFESSAR A QUEM?” (1)

"Setenta Vezes Sete "





Jesus lembra a Raquel uma discussão que teve com Pedro, Tiago e João (Mateus 18:21-35), e que terminou por dizer a Pedro que devemos perdoar "setenta vezes sete."


Na cultura de Israel, o número sete foi especialmente significativo. A origem de sua importância foi a observação das quatro fases da lua, com duração de sete dias. Daí terem passado os israelitas a associarem o número sete com um mandato completo.


Sete, em Israel, significava uma totalidade querida por Deus. A ordem do tempo estava baseada em sete: o sábado, dia sagrado, vinha a cada sete dias. Perdoar sete vezes era perdoar completamente. Setenta é uma combinação de 7 e 10. Se o sete era a plenitude, a totalidade, o dez, tinha também o carácter de número pleno ligado aos dez dedos da mão. Tinha o carácter de número total, embora a um nível inferior. "Setenta vezes sete" significava sempre, sem excepção, independentemente de tudo o resto.

quinta-feira, março 08, 2012

A Brincar também se faz música...

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Um pormenor da Lisboa antiga


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FERNANDO PEREIRA - UMA VOZ PORTUGUESA

Uma voz com esta capacidade "camaleónica" é absolutamente invulgar... ouçam!


VÍDEO


Afinal o tamanho sempre importa...

Encontram-se dois amigos. Um diz pro outro:
- Você está com aspecto horrível! Está doente?
- Sim, estive no médico e ele diagnosticou deslocamento de órgão.
- Deslocamento de órgão? Nunca ouvi falar. O que é isso?
- Meu fígado foi pró caralho!!!!!!

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 42


Desfilavam dezenas de pessoas diariamente. Mas quando fazia sol, às dez horas, estivesse quem estivesse, ele se levantava, desculpava-se, tomava da bengala, vinha para a praça. Sentava-se num banco do jardim, não tardava a aparecer alguém para fazer-lhe companhia.

Seus olhos passeavam pela praça, pousavam no edifício da Intendência. O coronel Ramiro Bastos contemplava tudo aquilo como se fosse propriedade sua. E assim o era um pouco, pois ele e os seus governavam Ilhéus desde muitos anos.

Era um velho seco, resistente à idade. Seus olhos pequenos conservavam um brilho de comando, de homem acostumado a dar ordens. Sendo um dos grandes fazendeiros da região, fizera-se chefe político respeitado e temido. O poder viera às suas mãos, durante as lutas pela posse da terra, quando o poderio de Cazuza Oliveira desmoronou-se. Apoiara o velho Seabra, esse entregou-lhe a região. Fora duas vezes Intendente, era agora senador estadual.

De dois em dois anos mudava o Intendente em eleições a bico de pena, mas nada mudava em realidade, pois quem continuava a mandar era mesmo o coronel Ramiro, cujo retrato de corpo inteiro se podia ver no salão nobre da Intendência, onde se realizavam conferências e festas.

Amigos incondicionais ou parentes seus revezavam-se no cargo, não moviam uma palha sem sua aprovação. Seu filho, médico de crianças e deputado estadual deixara fama de bom administrador. Abrira ruas e praças. Plantara jardins, durante sua gestão a cidade começara a mudar de fisionomia.

Falava-se ter assim sucedido para facilitar a eleição do rapaz à Câmara Estadual. A verdade porém é que o coronel Ramiro amava a cidade à sua maneira, como amava o jardim de sua casa, o pomar de macieiras e pereiras, muitas vindas da Europa. Gostava de ver a cidade limpa (e para isso fizera a Intendência adquirir caminhões), calçada ajardinada, com bom serviço de esgotos. Animava as construções de boas casas, alegrava-se quando os forasteiros falavam da graça de Ilhéus com suas praças e jardins.

Mantinha-se, por outro lado obstinadamente surdo a certos problemas, a reclamações diversas: criação de hospitais, fundação de um ginásio de campos de desportos. Torcia o nariz ao Clube Progresso e nem queria ouvir falar da dragagem da barra. Cuidava de tais coisas quando não tinha jeito, quando sentia abalar-se o seu prestígio. Assim fora com a estrada de rodagem, obra das duas Intendências, a de Ilhéus e a de Itabuna.

Olhava com desconfiança certos empreendimentos e, sobretudo, certos hábitos novos. E como a oposição estava reduzida a um pequeno grupo de descontentes sem força e sem maior expressão, o coronel fazia quase sempre o que queria, com um supremo desprezo pela opinião pública.

No entanto, apesar de sua teimosia, nos últimos tempos sentia o seu indiscutível prestígio, sua palavra como lei, um tanto ou quanto abalados. Não pela oposição, gente sem conceito. Mas pelo próprio crescimento da cidade e da região que às vezes parecia querer fugir das suas mãos agora trémulas.

Suas próprias netas não o criticavam porque ele fizera a Intendência negar uma ajuda de custo ao Clube progresso? E o jornal de Clóvis Costa não ousara discutir o problema do ginásio? Ele ouvira a conversa das netas: “Vovô é um retrógrado!”

Ele compreendia, aceitava os cabarés, as casas de mulheres da vida, a orgia desenfreada das noites de Ilhéus.

Os homens precisavam daquilo, ele também fora jovem.



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ENTREVISTA FICCIONADA
COM JESUS CRISTO


Nº 41 SOBRE O TEMA:
“A QUEM CONFESSAR"





VIZINHO - Pague-me ou eu mato-te, seu ladrão! Desavergonhado!

JOVEM
– Agora é que vais saber…!

RAQUEL
– Continuamos junto da igreja do Redentor, em Jerusalém. Depois deste incidente inesperado, a rua volta ao normal e a nossa Estação retoma a sua transmissão.

JESUS - Por que lutam aqueles, Raquel?

RAQUEL - Não faço ideia. Talvez por dívidas atrasadas. Mas é um bom momento para pedir a Jesus Cristo, que está connosco novamente, qual é a sua opinião sobre o que vimos. Certamente que no seu tempo não era assim, não se viam destas coisas…

JESUS
– No meu tempo também vi lutas por dívidas e conheci gente violenta… Mas lembras-te, Raquel, estávamos falando ali dentro daquela igreja da confissão de pecados?

RAQUEL
– Sim, falávamos disso …

JESUS – Diz-me, o que vão fazer esses dois desordeiros para se reconciliarem com Deus? Irão confessar-se a um padre que não sabe nada e está escondido em numa gaiola dentro da igreja?

RAQUEL – Embora eu não seja o entrevistado, mas sim o senhor vou dizer -lhe … que ... acho que deveria ser resolvido entre eles.

JESUS
- Tu o disseste.. Não faz sentido que eu ofenda Matatias e me confesse a Zacarias.

RAQUEL - E não seria melhor que pedissem perdão directamente de Deus?

JESUS – É que se não pedes desculpas a teu irmão, a quem vês, como podes pedir desculpas a Deus, que não vês? Se não devolves a quem roubaste, a quem vais devolver?

RAQUEL - Defina-se, Jesus Cristo. Que fazemos com o chamado sacramento da confissão?

JESUS - Essa confissão, como explicou o teu amigo a quem telefonaste, está cheia de medos e culpas de muitas pessoas. Tens que esquecê-la.

RAQUEL - Assim, de acordo com o senhor, o que deve ser feito para conciliar as duas pessoas que andam inimigos?

JESUS – Que dialoguem os dois, sozinhos. Que se perdoem entre si.

RAQUEL - E se não chegarem a acordo?

JESUS – Que procurem um terceiro e conversem.

RAQUEL - E se tão pouco entre os três resolverem o problema?

JESUS - Bem, nesse caso, submetam-no à comunidade. Era assim que fazíamos no nosso movimento. Lembro que uma vez Pedro estava zangado com Tiago e o João, por algo que disseram. Esquece isso agora, Pedro, disse eu. Não é a primeira vez que estão conspirando, disse-me ele. Perdoa-lhes, Pedro. Quantas vezes devo perdoar esses dois zaragateiros? Duas, quatro, sete vezes?

RAQUEL - E o que disse o senhor?

JESUS - Não até sete, mas setenta vezes sete, Pedro. Essa é a confissão que tem valor, o perdão entre irmãos.

RAQUEL - Mas senhor Jesus Cristo, eu consultei os Evangelhos e aqui, no de João, diz claramente para os sacerdotes: "Se perdoarem os pecados eles ficam perdoados." E em Mateus também diz: “O que ligares na terra continuará ligado no céu" Então?

JESUS - Então, nada. Eu disse isso, mas não a um padre. Eu disse para a comunidade. A comunidade é que perdoa e não os sacerdotes. É na comunidade onde nós nos perdoamos, não nos cantos escuros dos templos.

RAQUEL - Nem nesses cultos de oração e de milagres, onde os pastores, pregadores, cantam, gritam e perdoam a multidões?

JESUS - É que não precisamos de sacerdotes, pastores ou pregadores para perdoar pecados. O que eu disse foi simples. Se tu ofenderes alguém, pede-lhe perdão e não repitas a ofensa. Se alguém te ofender perdoa-lhe. E Deus, que vive na comunidade sabe o que está no teu coração e também te perdoará a ti. Setenta vezes sete te perdoará… sempre.

RAQUEL - Com estas novas afirmações de Jesus Cristo, nós concluímos por hoje a nossa transmissão. Raquel Perez, Emissoras Latinas, Jerusalém.

quarta-feira, março 07, 2012

TRIBUTO A AYRTON SENA

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VICTOR ESPADINHA - RECORDAR É VIVER

O grande sucesso da carreira de Victor Espadinha.


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Perfeitamente inconformada...

Estiveram casados quarenta e cinco anos até que um dia ela morreu e foi para o céu. Ele, passado meses, morreu também e lá se encontraram. Ela correu para ele gritando de alegria:

- Que bom, meu querido, outra vez juntos!

- Não me lixe, Cristina, o contrato era bem explícito. –“Até que a morte nos separe…”

GABRIELA

CRAVO
E
CANELA


Episódio Nº 41




- Depois vou pró bar…

A velha morrera há mais de seis meses, a filha quis-lhe contar a história da doença, Nacib não tinha tempo de ouvir. Um desânimo o invadia. Se pudesse ia era para a cama dormir.

Entrou pela Praça Seabra onde ficava o prédio da Intendência e a sede do Clube Progresso. Ia ruminando suas tristezas quando se lhe deparou o coronel Ramiro Bastos sentado num banco, tomando sol, bem em frente do palácio municipal.

Parou para cumprimentá-lo, o coronel fê-lo sentar-se ao seu lado.

Faz tempo que não lhe vejo, Nacib. E como vai o bar? Prosperando sempre? Assim desejo, pelo menos.

- Hoje me aconteceu uma, coronel… Minha cozinheira foi embora. Já corri Ilhéus inteiro, fui até ao Pontal e não se arranja quem saiba cozinhar…

- Fácil não é. Só mandando buscar fora ou nas roças…

- E com um jantar amanhã do russo Jacob…

- É verdade estou convidado, talvez vá.

O coronel sorria, contente do sol que brincava nos vidros das janelas da Intendência e lhe esquentava o corpo fatigado.

Do Dono da Terra Esquentando Sol

Nacib não conseguiu despedir-se, o coronel Ramiro Bastos não deixou. E quem iria discutir uma ordem do coronel mesmo quando ele a dava sorrindo como a solicitar:

- Muito cedo. Vamos conversar um pouco.

Nos dias de sol, invariavelmente às dez horas, apoiando-se numa bengala de castão de ouro, o passo vagaroso mas ainda firme, o coronel Ramiro Bastos atravessava a rua vindo de sua casa, entrava na Praça da Intendência, sentava-se num banco.

- A cobra já veio esquentar sol… - dizia o Capitão ao vê-lo da porta da Colectoria, em frente à Papelaria Modelo.

O coronel também o via, tirava o chapéu-panamá, balançando a cabeça de cabelos brancos. O Capitão respondia ao cumprimento, bem outro era o seu desejo.

Aquele era o mais lindo jardim da cidade. As más-línguas diziam ter a Intendência atenções especiais para com aquele logradouro devido à vizinhança da casa do coronel Ramiro. Mas a verdade é que na Praça Seabra elevavam-se também o edifício da Intendência, a sede do Progresso e o cinema Vitória, em cujo segundo andar residiam rapazes solteiros e funcionava, numa sala de frente, o Grémio Rui Barbosa.

Além de sobrados e casas das melhores da cidade. È natural que os poderes públicos cuidassem com especial carinho da Praça. Fora ela ajardinada durante um dos períodos do governo do coronel Ramiro.

Naquele dia o velho estava satisfeito, conversador. Finalmente o sol havia reaparecido, o coronel Ramiro o sentia nas costas curvadas, nas mãos ossudas, dentro do coração também. Aos oitenta e dois anos de idade, aquele sol da manhã era a sua diversão, seu luxo, sua melhor alegria.

Por ocasião das chuvas sentia-se infeliz, ficava na sala de visitas, na sua cadeira austríaca, atendendo gente, ouvindo pedidos, prometendo soluções. Desfilavam dezenas de pessoas diariamente
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INFORMAÇÕES ADICIONAIS


À ENTREVISTA Nº 40 SOBRE O LEMA:


“O SACRAMENTO DA CONFISSÃO” (3)

O Confessionário


O móvel chamado de confessionário, ainda usado hoje, principalmente em igrejas antigas, apareceu pela primeira vez no Concílio de Trento (1542-1562). Até então, o costume de "solicitação" tinha chegado a tal ponto que havia padres que confessavam os penitentes sentados nos seus joelhos. Estima-se que sem uma separação estrita entre confessor e penitente o assédio sexual e as práticas sexuais não parariam.

O edital da Inquisição, em 1713, desenvolveu uma norma sobre a forma de projectar o confessionário, que já estava sendo usado há mais de um século. Eles foram instalados em locais iluminados e não isolado e não deviam ter portas ou cortinas entre o confessor e penitente, mas grades com pequenos furos suficientes para evitar que os dedos fossem inseridos "acariciar".

terça-feira, março 06, 2012

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O Tejo em tons de prata...

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CARMINHO - MEU AMOR MARINHEIRO

Carminho tem uma característica única: consegue ser simultâneamente popular e contida, tão visceral quanto lúdica.

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CARNAVAL DA BICHARADA...


"Grandes frases" ditas por jogadores de futebol...






- Chegarei de surpresa dia 15, às duas da tarde, vôo 619 da VARIG. (Mengálvio, ex-meia do Santos, em telegrama à família quando em excursão à Europa)

- "Tanto na minha vida futebolística quanto com a minha vida ser humano".
(Nunes, ex-atacante do Flamengo, em uma entrevista antes do jogo de despedida do Zico)

- "Que interessante, aqui no Japão só tem carro importado."
(Jardel, ex-atacante do Grêmio)

- "As pessoas querem que o Brasil vença e ganhe." (Dunga, em entrevista ao programa Terceiro Tempo)

- "Eu, o Paulo Nunes e o Dinho vamos fazer uma dupla sertaneja."
(Jardel, ex-atacante do Grêmio)

- "O novo apelido do Aloísio é CB, Sangue Bom."
(Souza, meio-campo do São Paulo, em uma entrevista ao Jogo Duro)

- "A partir de agora o meu coração só tem uma cor: vermelho e preto."
(Jogador Fabão, assim que chegou no Flamengo)

- "Eu peguei a bola no meio de campo e fui fondo, fui fondo, fui fondo e chutei pro gol." (Jardel, ex- jogador do Grêmio, ao relatar ao repórter o gol que tinha feito)

- "A bola ia indo, indo, indo... e iu!' (Nunes, jogador do Flamengo da década de 80)

- "Tenho o maior orgulho de jogar na terra onde Cristo nasceu."
(Claudiomiro, ex-meia do Inter de Porto Alegre, ao chegar em Belém do Pará para disputar uma partida contra o Paysandu, pelo Brasileirão de 72)

- "Nem que eu tivesse dois pulmões eu alcançava essa bola."
(Bradock, amigo de Romário, reclamando de um passe longo)

- "No México que é bom. Lá a gente recebe semanalmente de 15 em 15 dias." (Ferreira, ex-ponta esquerda do Santos)

- "Quando o jogo está a mil, minha naftalina sobe." (Jardel, ex-atacante do Grêmio e da Seleção)

- "O meu clube estava a beira do precipício, mas tomou a decisão correta, deu um passo a frente..." (João Pinto, jogador do Benfica de Portugal)

- "Na Bahia é todo mundo muito simpático. É um povo muito hospitalar."
(Zanata, baiano, ex-lateral do Fluminense, ao comentar sobre a hospitalidade do povo baiano)

- "Jogador tem que ser completo como o pato, que é um bicho aquático e gramático." (Vicente Matheus, eterno presidente do Corinthians)

- "O difícil, como vocês sabem, não é fácil." (Vicente Matheus)

- "Haja o que hajar, o Corinthians vai ser campeão." (Vicente Matheus)

- "O Sócrates é invendável, inegociável e imprestável." (Vicente Matheus, ao recusar a oferta dos franceses)

AGORA SENTA E CHORA.....COMPARE O SALÁRIO DELES COM O SEU.....
Vão se preparando: o próximo acordo ortográfico já vai contemplar estas expressões!...

GABRIELA

CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 40





- Nacib interrompia a discussão dos preços; alguém sabia de uma boa cozinheira? Existia uma, muito boa, de forno e fogão, mas era empregada do comendador Domingos Ferreira, sim senhor. E vivia num trato, nem parecia empregada…

O Mascate estendia uns brincos a Nacib:

- Compra patrício, presente pra mulher, pra noiva, pra rapariga.

Nacib continuava seu caminho, indiferente a toda a tentação. As negrinhas compravam por metade do preço, pelo duplo do valor.

Um camelot com uma cobra mansa e um pequeno jacaré, anunciava a cura de todas as moléstias para um grupo a cercá-lo. Exibia um vidro contendo um remédio milagroso, descoberta dos índios nas selvas mais além dos cacauais.

- Cura tosse, resfriados, tísica, perebas, catapora, sarampo, bexiga brava, paludismo, dor de cabeça, íngua, tudo quanto é doença feia, cura espinhela caída e reumatismo…

Por uma ninharia, mil e quinhentos réis, cedia aquele vidro de saúde. A cobra subia pelo braço do camelot, o jacaré no chão imóvel como uma pedra estranha, Nacib perguntava a uns e outros.

- Cozinheira, sei não sinhor. Um bom pedreiro, eu sei…

Bilhas de barro, moringas, potes para água fresca, panelas, cuscuzeiros e cavalos, bois, cachorros, galos, jagunços com suas repetições, homens montados, soldados de polícia e cenas de tocaia, de enterro e casamento, valendo um tostão, dois, um cruzado, obra das mãos toscas e sábias dos artesãos. Um negro quase tão alto quanto Nacib virava um copo de cachaça de um trago, cuspia grosso no chão:

- Pinga de primeira, Nosso Senhor Jesus Cristo seja louvado.

Respondia à cansada pergunta:

- Não sei, não senhor. Tu sabe de alguma cozinheira, Pedro Paca? Aqui para o coronel…

O outro não sabia. Talvez no “mercado de escravos” só que agora não tinha mesmo ninguém, nenhuma leva de sertanejos recém-chegados.

Nacib nem se deu ao trabalho de ir ao “mercado de escravos” por detrás da Estrada de Ferro, onde se amontoavam os retirantes vindos do sertão, fugitivos da seca, em busca de trabalho. Ali os coronéis iam contratar trabalhadores e jagunços, as famílias procuravam empregadas.

Mas não havia ninguém naqueles dias. Aconselharam-no a dar uma busca no pontal. Pelo menos não tinha de subir ladeira. Tomou canoa, atravessou o ancoradouro. Andou pelas poucas ruas de areia, sob o sol, aonde crianças pobres jogavam futebol com bola de meia. Euclides, dono de uma padaria tirou-lhe as esperanças.

Cozinheira? Nem pense… Nem boa nem ruim. Na fábrica de chocolate ganham mais. nem adianta procurar.

Voltou a Ilhéus, cansado e sonolento. A estas horas o bar já devia estar aberto e, com o dia da feira, movimentado. Necessitando de sua presença, de suas atenções para com os fregueses, sua animação, sua prosa, sua simpatia. Os dois empregados - uns palermas – sozinhos não davam conta. Mas no Pombal lhes haviam falado de uma velha que fora cozinheira apreciada, trabalhara em várias casas e vivia com uma filha casada, perto da Praça Seabra. Decidiu tentar a sorte.

(click na Imagem)

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES


À ENTREVISTA Nº 40 SOBRE O TEMA:


“O SACRAMENTO DA CONFISSÃO” (2)

O “Delito de Solicitação”



Ao longo da sua história, a confissão conduziu a práticas duvidosas e desonestas, que expressam bem a natureza deste ritual pouco ou nada evangélico. Em 1713 os tribunais da Inquisição emitiram um Édicto para travar em Espanha, na Nova España (México), Honduras, Nicarágua, Guatemala e Filipinas, ao que chamaram “delito de solicitação”, contra o qual havia advertido a bula do Papa Gregorio XV “Universi Dominici Gregis” de 1641.


Consistia o delito em que o confessor “solicitava” ao penitente que lhe prestasse favores sexuais a troco da absolvição dos pecados. Segundo Jorge René González Marmolejo, investigador do Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH) do México e autor do livro “Sexo e Confissão” (INAH-Plaza y Janés, 2002), quinhentos (500) documentos dos Arquivos da Nação e da Inquisição no México, provam com os testemunhos de 348 mulheres que se auto-denunciaram à Inquisição sentindo-se culpadas por acederem à “solicitude”, que a prática da “solicitação” era habitual, especialmente nos séculos XVIII e XIX. No século XVIII era um dos três delitos mais perseguidos pela Inquisição, juntamente com a literatura proibida e a bigamia.


Nos documentos arquivados descreve-se o delito: o sacerdote pedia durante a confissão a seu filho ou filha espiritual para realizarem “actos torpes e desonestos com ele ou com terceiras pessoas”: palavras picantes, toques, incluindo o coito. Em certas ocasiões, a “solicitação” tinha como base um amor clandestino entre o confessor e a penitente. O Édito de 1713 proibia que a penitente se confessasse ajoelhada em frente do sacerdote porque a cabeça ficava a uma altura “comprometedora” e “debaixo da sotaina podiam-se fazer e ocultar muitas coisas”. Estabeleceu que, no caso do sacerdote ter que deslocar-se a casa de uma doente, devia fazer-se acompanhar de outro religioso e confessar com as portas abertas. Também se proibia ao confessor e à penitente terem conversas antes e depois da confissão.


Nota - Como se vê, os crimes de natureza sexual dos sacerdotes "contra o povo eleito de Deus" vêm de longe. Os da pedofilia foram apenas os mais recentes...

segunda-feira, março 05, 2012

VÍDEO

Antigamente chamavam-lhes de "sombras chinesas"


IMAGEM

(Click na imagem)

VÍDEO


Nunca fale atravéz de portas entre-abertas...

JUCA CHAVES - CAIXINHA, OBRIGADO!

Mais de 40 anos passaram sobre esta canção. Será que mudou muita coisa?


EUGÉNIO DE ANDRADE






ADEUS

Já gastamos as palavras pela rua, meu amor,
E o que nos ficou não chega
Para afastar o frio de quatro paredes.

Gastamos tudo menos o silêncio.
Gastamos os olhos com o sal das lágrimas,
Gastamos as mãos à força de as apertarmos,
Gastamos o relógio e as pedras das esquinas
Em esperas inúteis.


Meto as mãos nas algibeiras
E não encontro nada.
Antigamente
Tínhamos tanto para dar um ao outro;
Era como se todas as coisas fossem minhas:
Quanto mais te dava mais tinha para te dar.


Mas isso era no tempo dos segredos,
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário
Era no tempo em que os meus olhos
Eram realmente peixes verdes.

Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
Uns olhos como todos os outros.


Já gastamos as palavras.
Quando agora digo: meu amor
Já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
Tenho a certeza
Que todas as coisas estremeciam
Só de murmurar o teu nome
No silêncio do meu coração.


Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
Não há nada que me peça água
O passado é inútil como um trapo
E já te disse: as palavras estão gastas

Um cego foi a um restaurante e pediu a ementa em braile.
O empregado, desculpando-se, disse que não tinha.
O cego disse então:
- Não faz mal, traga-me uma colher suja da cozinha para eu provar a comida.
O empregado achou estranho, mas atendeu o pedido. Pegou numa colher usada na cozinha e deu-a ao cego. Este lambeu a colher e comentou:
- Hummm, óptimo tempero. Camarão com arroz à grega, pode-me trazer esse prato.
No dia seguinte, a mesma coisa:
- Hummm, strogonof de frango, batata frita, pode-me trazer esse prato.
Passou-se uma semana e sempre a mesma coisa, o cego pedia a colher, lambia e adivinhava o prato.
O empregado, que queria pregar uma partida ao cego, resolveu aprontar-lhe uma das grandes. No dia seguinte, quando o cego chegou e pediu a colher, o empregado foi buscar a colher e disse à cozinheira, que aliás era a sua mulher:
- Guidinha, eu tô numa de praxar o cego que vem cá todos os dias e adivinha o prato do dia. Pega aí nessa colher e passa-a aí na "desejada"...

A cozinheira atendeu o pedido e o empregado levou a colher ao cego.
Este meteu a colher na boca, pensou um pouco e disse:

-É pá... não posso crer, a Margarida trabalha aqui !!!

GABRIELA

CRAVO

E

CANELA



Episódio Nº 39


Nacib desceu pela Ladeira da Vitória, passou pelo cemitério. Lá em baixo a cidade brilhava ao sol, movimentada. O Ita, chegado de manhãzinha, descarregava. Desgraça de terra, falava-se tanto em progresso e não se podia conseguir nem mesmo uma cozinheira.

- Por isso mesmo – explicava-lhe João Fulgêncio quando o árabe parara na Papelaria Modelo para descansar – a mão-de-obra torna-se difícil e cara com a procura. Quem sabe se na feira?

A feira semanal era uma festa. Ruidosa e colorida. Um vasto descampado em frente do ancoradouro estendendo-se até às proximidades da Estrada de Ferro. Postas de carne seca, de sol, de fumeiro, porcos, ovelhas, veados, pacas e cotias, caça diversa.

Sacos de alva farinha de mandioca. Bananas cor de ouro, abóboras amarelas, verdes, jilós, quiabos, laranjas. Nas barracas serviam, em pratos de frandes, sarapatel, feijoada, moqueca de peixe. Camponeses comiam, o copo de cachaça ao lado. Nacib informou-se ali. Uma negra gorda, um torso na cabeça, colares e pulseiras, torceu o nariz:

- Trabalhar para patrão? Deus que me livre…

Pássaros de incrível plumagem, papagaios faladores.

- Quanto quer pelo louro, sinhá-dona?

- Oito mil réis porque é para vosmicê…

- Tão caro não pode ser.

- Mas é falador de verdade. Sabe cada palavrão…

O papagaio, como a provar, se esganiçava, cantava ai, seu Mé. Nacib passou entre montanhas de requeijão, o sol brilhava sobre o amarelo das jacas maduras. O papagaio gritava: “Tabaréu! Tabaréu!” Ninguém sabia de cozinheira.

Um cego, a cuia no Chão, contava na viola histórias dos tempos das lutas:

Amâncio, homem valente,
Atirador de primeira
Mais valente do que ele
Só mesmo Juca Ferreira.
Em noite de escuridão
Se encontravam na clareira.
“Quem vem lá?” – disse Ferreira.
É homem. Não é bicho não”
Seu Amâncio respondera
Com a mão na repetição.
Tremeram até os macacos
na noite de escuridão.

Os cegos às vezes eram bem informados. Não souberam dar notícias. Um deles, vindo do sertão, disse pestes da comida de Ilhéus. Não sabiam cozinhar, comida era de Pernambuco, não aquela porcaria dali, ninguém sabia o que era bom. Árabes pobres, mascates das estradas, exibiam as suas malas abertas, berliques e berloques, cortes baratos de chita, colares falsos e vistosos, anéis brilhantes de vidro, perfumes com nomes estrangeiros, fabricados em São Paulo. Mulatas e negras empregadas nas casas ricas, amontoavam-se ante as malas abertas:

- Compra, freguesa, compra. É baratinho… - a pronúncia cómica, a voz sedutora.

Longas negociações. Os colares sobre os peitos negros, as pulseiras sobre os braços mulatos, uma tentação! O vidro dos anéis faiscava ao sol que nem diamante.

- Tudo verdadeiro, tudo do melhor.

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES

À ENTREVISTA Nº 40 SOBRE O TEMA:

“O SACRAMENTO DA CONFISSÂO” (1)

Um Pouco de História


Rafael Martinez é um cristão que há muito deixou de se confessar. Participa nestas Entrevistas fornecendo dados históricos para entendermos como "nasceu" este "sacramento", que nada tem a ver com a mensagem libertadora de Jesus e agora é já uma prática antiquada para muitos outros cristãos ao redor do mundo.

No cristianismo primitivo, entendeu-se que com as águas do baptismo começava uma nova vida e que este ritual era o suficiente para se ser limpo do pecado.

Esta "limpeza" foi compreendida nas primeiras comunidades como uma "conversão", uma "mudança de vida." É no século III que "o sacramento da penitência" pelos pecados cometidos depois do baptismo começa a organizar-se e praticar-se regularmente. Durante séculos, quem perdoava os pecados eram somente os bispos. A prática da penitência (a "confissão" era feita ao Bispo e este foi o primeiro passo no rito) era pública: começando com a exclusão do pecador da celebração da Eucaristia durante uns tempos, mais ou menos, em função da maior ou menor gravidade dos pecados. E só havia penitência pelos pecados graves. O "penitente" devia usar um crachá para dar a conhecer a todo mundo que se reconhecia como pecador.

A penitência "privada" que conhecemos hoje e a que geralmente chamamos de "confissão" - começa no século VI, sob a influência dos monges irlandeses, como foi explicado na Entrevista com Jesus por Rafael Martinez. A partir do século IX, os livros litúrgicos ensinam como praticar a penitência privada. E assim, o que nos primeiros séculos era um processo que levava dias, semanas ou meses, foi reduzida para apenas um pouco de conversa entre o penitente e o confessor, que já não tinha que ser o Bispo e poderia ser um qualquer sacerdote. Desde então, este ritual é extensivo a todas as igrejas cristãs. O quarto Concílio de Latrão (1215) estabeleceu a obrigação de confessar os pecados a um sacerdote, pelo menos uma vez por ano.

No século XVI a Reforma Protestante negou a confissão, alegando que não é preciso nenhum intermediário entre Deus e os homens.

domingo, março 04, 2012

Uma História
de
Domingo

"Na minha Aldeia - A casa da Lenha "



"Rapaz", disse-me o meu pai quando o sol começou a baixar no horizonte: "a partir de hoje, começa a ser Inverno nesta casa, vai ao chaveiro, leva a chave da casa da lenha e uma cesta e trás cavacas para debaixo da chaminé."

Peguei num candeeiro a petróleo e segurando a chave na mão direita, lá fui andando na direcção da casa da lenha, a última do corrupio, já encostada ao muro que separava a propriedade do vizinho.

Não era fácil abrir a porta da casa da lenha, fechada desde o Inverno anterior, para além de que a chave, de ferro, demasiado grande para a minha mão que ainda não era de homem tornava difícil manipulá-la.

Depois, havia o trinco, a aldraba e por fim a lingueta e todos aqueles sons metálicos a fazerem de acompanhamento sonoro que emprestava solenidade à abertura de uma porta nas casas antigas.

Empurrei-a com dificuldade empecilhada que estava pelos gravetos da lenha que alguém se tinha esquecido de varrer como era de obrigação. Lentamente, levantei o candeeiro um pouco acima dos olhos e dei tempo a que a luz definisse os contornos do amontoado da lenha contra as paredes caiadas de branco, mais amarelas que brancas, convenhamos.

Finalmente, olhei para o chão e bem na minha frente, a uns três metros de distância, esperava-me um pequeno exército de ratinhos. À frente, aquele que deveria ser o chefe, cabecita levantada na minha direcção, bigodes espetados de um lado e de outro numa pose, toda ela, de desafio.

Atrás dele, em formação militar, filas de ratinhos, uns a seguir aos outros, todos eles, à imagem do chefe, cabecitas levantadas na minha direcção, bigodes eriçados, ar desafiador e hostil não deixando dúvidas de que eu não era bem recebido.

Não estavam ali por acaso, há muito que de certo me esperavam. Os mais velhos, aqueles que pela idade já não teriam forças para estarem na primeira linha, teriam avisado que um dia, que eles não saberiam qual, viria um humano estragar o seu belo castelo de cavacas e mais grave, levá-las, umas após outras… as suas belas cavacas

Naquele momento, aguardando o desfecho da situação, lá atrás, escondidos com medo mas dispostos ao sacrifício, estariam com certeza, os familiares daqueles ratinhos-soldados, orgulhosos pela coragem e determinação dos que assumiram heroicamente a responsabilidade de uma luta tão desigual.

Eu estava perplexo, não sabia o que pensar. Talvez se saltasse para cima deles com as minhas botas de cano alto e pulasse e voltasse a pular com certeza que sairia vencedor esmagando-os a todos mas, algo me tolhia os movimentos e inibia a decisão… e se eles tivessem uma poção mágica, como a do Obelix?

Se assim fosse estaria explicada tanta coragem e ousadia que roçavam a loucura e o suicídio.

Defrontarem-me a mim, um humano? e eles simples ratinhos, tão pequeninos… hum!, teria que haver uma qualquer arma secreta!

Resolvi dar um passo em frente, seriam eles ou eu, aquela situação de impasse não podia continuar.

Avancei um passo, nem rápido nem lento, determinado, não deveria demonstrar medo, a vantagem era toda minha, essa era a minha convicção, era isso que eu tinha de lhes dar a entender.

Eles fizeram um recuo que percebi que era estratégico e como eram muito pequeninos, ao meu passo eles fizeram uma pequena corrida atrás sem alterarem entre si as posições e muito menos a atitude de hostilidade e desafio.

Depois, foi a minha vez de dar um passo atrás e eles, acto contínuo, uma corridinha à frente e tudo voltou à situação inicial.

Continuavam a olhar-me com os seus olhos muito pequeninos mas que irradiavam a enorme força e convicção dos seus propósitos, não era um desafio qualquer… para eles era a conquista do seu espaço, do seu território, o tudo ou nada, a vida ou a morte.

O meu olhar é que já não era o mesmo, a surpresa e perplexidade tinham desaparecido, tal como o meu natural instinto de esmagar o mais fraco.

Caí em mim, desinteressei-me das cavacas e percebi que estava perante a decisão suprema de um grupo que face ao direito à vida no seu espaço e no seu território, tinha decidido morrer com honra lutando sem hipóteses de vencer.

Eu seria um adversário imbatível, as minhas botas de cano alto arma demasiado poderosa, a poção mágica apenas um produto da minha imaginação, o destino daquela luta estava traçado à partida.

O massacre seria o desfecho inevitável e eu não estava preparado para ele. Sentia, no fundo, que a razão lhes assistia e o simples exercício da lei do mais forte deixou de fazer sentido.

Fortes, eram eles que morreriam corajosamente enquanto que eu não passaria de um simples executor sem honra nem glória.

Voltei-lhes as costas e regressei com a cesta vazia, não sem antes ouvir atrás de mim a porta da casa da lenha fechar-se com fragor.

Sentei-me na chaminé, à lareira, ao pé de meu pai que olhou para a cesta e perguntou-me pelas cavacas da casa da lenha.

Deixei passar tempo sem responder, ele insistiu na pergunta: disse-lhe que já não tínhamos casa da lenha… pertencia, por direito próprio, a uma comunidade de heróicos ratinhos.

Não sei o que o meu pai respondeu, tão pouco se disse alguma coisa… entretanto acordei!


(click na imagem, no centro da didade de Santarém, com uma das antigas torres das muralhas engolida pelo casario)

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